Retrospectiva 10 anos

Que Vinhos Guardar?

Desde seu começo, Falando de Vinhos teve como seu propósito não só compartilhar experiências como também difundir conhecimento, quebrar alguns paradigmas, desmistificar a  nossa vinosfera de forma simples numa linguagem coloquial, sem frescuras. Parte desse “trabalho” está contido na categoria ABC do Vinho aqui do lado, porém alguns posts se tornaram campeões de acesso, um deles, por sinal, mencionei há dias em meu post sobre as falácias do mundo do vinho, o tempo de guarda de um vinho, que escolhi para repostar hoje em mais uma passagem por minha Retrospectiva 10 anos de Falando de Vinhos.

Nesse sentido, uma dica baseado em minha experiência é usar o preço como parâmetro lembrando que sempre haverão exceções.  Está em dúvida quanto ao vinho que você tem no armário ou na adega, joga no google e veja a faixa de preço, compare com a lista abaixo e tire suas próprias conclusões sobre o tempo de guarda que se pode esperar deles. É uma forma bem simplista de análise, mas funciona bem, vai por mim. Este post teve os valores revisados em Junho de 2023.

  • Vinhos até uns  80Reais, dois a três anos está de bom tamanho, tome logo não enrola não! rs
  • Vinhos de 80 a 120 Reais, até quatro/cinco anos há bastante segurança
  • Vinhos de 120 a 180 Reais, certamente um degrau acima, entre cinco a seis anos numa boa.
  • Vinhos de 180 a 300 Reais, falar de seis a 10 anos é uma aposta bastante segura.
  • Vinhos de 300 a 500 Reais deverão chegar fácil nos 12 anos
  • Vinhos acima de 500 Reais, aí já embarcamos num outro patamar e se você já está nessa fase acho que seguir lendo este post não deverá lhe agregar nada! rs Mais de 12 anos, obviamente, e o quanto depende de um monte de outras variáveis, entre elas as condições de guarda.

Abaixo o post publicado em 2008 com mais algumas dicas genéricas que podem lhe ajudar na compra e na avaliação do que você tenha na adega. Ao final, seguem alguns outros links que valem ser explorados.

Tempo de Guarda – Vinho, quanto mais velho melhor

Uma das mais emblemáticas, e falsas, crendices do universo do vinho, é de que “quanto mais velho  melhor”. O conceito é, comprovadamente, furado! O vinho passa por vários estágios de evolução. O vinho tem infância, passa pela juventude e maturidade, alcança a velhice e morre. Idealmente, o vinho se deveria tomar no auge de sua maturidade quando o vinho adquire um equilíbrio perfeito entre taninos e o buquê de aromas adquirido com o tempo. Como nós seres humanos, todavia, cada vinho tem seu ponto de maturidade, cada um apresenta caráter e personalidades únicos o que torna esta definição de tempo de guarda ainda mais difícil. É neste aspecto que a avaliação da idade de um vinho se complica pois, um vinho leve, feito para ser tomado jovem, pode estar decrépito aos três anos e um outro clássico, estar extremamente jovem e duro aos dez!

Apesar de alguns, muito poucos, vinhos já trazerem, no rótulo do verso, uma indicação de validade ou ponto de maturação, este serviço ao consumidor ainda não é comum. Para os apreciadores de vinho e enófilos de plantão, este é realmente um dilema a ser encarado especialmente quando de grandes ofertas feitas pelas lojas. Será que ainda estão bebíveis? Será que não passaram do ponto? Cuidado, sempre repito isto, com grandes ofertas. Nesta época em que importadores e lojas começam suas grandes liquidações, há que se prestar bem atenção quanto à idade dos vinhos oferecidos.

De qualquer forma, enquanto os produtores, que são quem melhor conhecem as características de seu produto, não nos brindarem com esta gentileza, seguem algumas dicas genéricas, mesmo que falíveis pois sempre há exceções, que acho podem ajudar nesta definição.

Até 4 anos – Vinhos mais jovens, normalmente mais baratos, não ganham nada com a guarda e perdem bastante qualidade ao serem guardados por tempo excessivo. Os vinhos brancos jovens e leves, assim como os rosés, não se devem tomar após três anos quando já perdem muito de seu frescor e estão em fase declinante, melhor nos primeiros dois. Já os tintos, eventualmente podem ter alguma evolução no primeiro e segundo anos, alguns podem chegar nos 4 anos. Vinhos baratos são vinhos para serem tomados jovens, não têm estrutura para guarda, entre eles os famosos “reservados” da vida.

. Vinhos Verdes

. Vinhos varietais básicos de Sauvignon Blanc, Torrontés, etc.

. Espumantes comuns, Proseccos e Cavas. Como não são safrados, muito cuidado onde se compram e se estiverem muito baratos cuidado, podem estar mortos.

. Beaujolais. Se for Beaujolais Noveau não tome com mais de um ano, este vinho é elaborado para consumo rápido, idealmente 6 meses.

. Tintos leves e jovens, especialmente os do Novo Mundo, quase todos os tintos Brasileiros, Chiantis e Valpolicellas básicos.

4/8 anos – Apesar da maioria dos vinhos brancos deverem ser tomados jovens, alguns melhoram com o tempo. Existem tintos que devem ser tomados jovens, dependendo da variedade das uvas ou se passaram por carvalho, dando-lhes uma estrutura diferenciada. No caso dos tintos, quanto mais elaborados mais podemos aumentar o tempo de guarda com a certeza da evolução do mesmo.

. Bordeaux brancos e Chardonnays de qualidade.

. Vinhos tintos do Sul da França.

. Topo de gama dos tintos Brasileiros.

. Varietais de Sangiovese, Cabernet Sauvignon, Malbec  e Pinot Noirs mais simples.

. Vinhos tintos de gama média, da regiões do Alentejo, Dão, Tejo, Lisboa e Setubal em Portugal

. Champagnes não safrados, muito cuidado onde se compram e se estiverem muito baratos cuidado, podem estar mortos.

. Vinhos genéricos (básicos) de Bordeaux e Bourgogne.

8/12 anos – Aqui já entramos num nível superior de vinhos, tanto em qualidade como preço, e a maioria dos vinhos top de qualquer região do planeta, produtora de vinhos, estará presente nesta lista.

. Tintos reservas da Espanha e Portugal.

. Champagnes safrados, Chablis 1er Cru

. Varietais de Syrah, Merlot e Cabernet Sauvignon de produtores de primeira linha.

. Vinhos de Bordeaux  e Bourgogne com denominação de origem

. Vinhos top do novo mundo; Argentina, Chile, África do Sul, Austrália, Nova Zelândia, Uruguai

12 anos e acima – Vinhos fortificados, tintos elaborados e até alguns brancos especiais aparecem nesta lista. Neste nível encontramos o “Crém de la Crém” da produção mundial e normalmente a preços inacessíveis para a maioria dos mortais. Certamente são, na sua imensa maioria, grandes vinhos que requerem imenso cuidado na sua guarda. Neste caso uma boa adega climatizada é essencial. Não compre vinho antigo sem histórico de guarda, prefira uma loja especializada de confiança sua. Vinhos de guarda são como animais de raça pura, precisam de cuidados especiais já que são mais delicados, há que serem guardados em adegas climatizadas para garantir uma evolução adequada e saúde do vinho.

. Vinhos superiores e de safras excepcionais da região de Bordeuax e Bourgogne na França.

. Vinhos Gran Reserva.

. Vinhos fortificados como Madeira, Porto e Jerez.

. Os grandes Italianos; Super Toscanos, Barolos e Brunello de Montalcino entre outros.

. Grandes vinhos Portugueses em especial os da região do Douro

. Grandes vinhos do Velho mundo.

. Grandes vinhos do Novo Mundo

Eis alguns links para outros interessantes temas a rever e que estão entre os mais lidos. Kanimambo pela visita e aproveite a viagem!

A importância da temperatura de serviço dos vinhos

Decantar ou Aerar vinho – o que é, quando e porquê faze-lo

A Importância, ou não, das safras.

A Importância das Taças

O que é Filoxera?

Sur Lie, que bicho é esse?

Melhores Degustações dos Últimos 10 anos!

Eleger uma fica complicado, mas algumas me saltam à mente quando puxo pela memória. Entre elas três se destacam, uma de Portos Antigos da Andresen quando provei o melhor vinho de minha vida até agora, um magnifico Tawny 1910 que já postei aqui por duas vezes e que foi uma experiência mística! rs A do Conzorzio di Montalcino quando finalmente pude entender a razão de tanto auê sobre a região, com uma diversidade de estilos em que descobri este aqui, talvez o melhor Brunello que já tomei, um vinho que transcende os conceitos de elegância, sofisticação e complexidade, um deleite hedonístico, o Poggio di Sotto!

Houveram grandes degustações da Mistral, da Decanter, de diversos outros produtores, do Wines of Argentina Premium Tasting, quando confirmei a existência de uma outra Argentina, enfim o que não faltou ao longo destes últimos dez anos foi degustação marcante e grandes eventos. Uma no entanto faço questão de repostar aqui hoje, foi a apresentação que a associação de produtores Grand Cru fez aqui em 2012 promovendo a grande safra de 2009! Até hoje sinto os aromas e sabores de três vinhos que me colocaram de joelhos agradecendo a Baco por tamanho privilégio! O Chateau Figeac de Saint-Emilion, o Malescot Saint-Exupery de Margaux e o Chateau Coutet de Sautern/Barsac entre outras preciosidades. Veja mais aqui abaixo no post que intitulei como:

As Portas do Céu se Abriram e eu Entrei ou, Bordeaux Extasy!

Postado em Setembro de 2015, demorou três anos para conseguir decifrar minhas emoções. A experiência foi tamanha que fiquei sem palavras e sigo sem as encontrar, já que descrever emoções é sempre um exercício dos mais difíceis. Todos ou pelo menos a maior parte dos aficionados por vinho, sabe que 2009 foi um graaande ano para os vinhos de Bordeaux e em 2012 os produtores de Grand Crus estiveram em São Paulo para dar a provar alguns néctares da região. Grandes produtores, vinhos com pontuações perfeitas (100 pontos), brancos, tintos, doces, um festival hedonístico difícil de ser esquecido, daqueles que ficam na memória ad eternum.

A grande maioria, para não dizer todos, está longe dos bolsos de nós pobres mortais então minha sugestão é, tem interesse, vai viajar, traga de fora! São esses grandes vinhos que, em minha opinião, devem ser aproveitados nas viagens e, neste caso, mesmo assim precisa ter um bolso algo gordo! Para não dizer que nunca falo das estrelas, ganhei coragem e decidi compartilhar com vocês alguns destaques do que provei e que comporiam maravilhosamente uma grande degustação com uma visão regional deveras interessante, vamos lá!

Bordeaux Pessac

Pessac- Léognan – esta AOC, mesmo tendo uma maior produção de tintos, gera os melhores e mais importantes brancos de Bordeaux. Três grandes vinhos de muita classe, Chateau Carbonnieux, Chateau Pape Clement e, para mim o destaque entre eles, o incrível Chateau Larrivet Haut-Brion, uma grande forma de se iniciar uma degustação deste porte.

Bordeauxs Tintos – mesmo não sendo um expert nas apelações (AOCs) de Bordeaux, tenho as minhas regiões preferidas e na prova confirmaram na taça as razões de minhas preferências. Destas AOCs, escolhi alguns vinhos (tinha mais de 50 não dava para ver tudo) para provar e destes alguns destaques que certamente colocaria na mesa dessa imaginária degustação, caso houvesse “cascalho” o bastante para tal.

Bordeaux Saint Emilion
Saint-Émilion – Por aqui reinam a Cabernet Franc e Merlot, vinhos teoricamente mais suaves (na prática nem sempre), de menor estrutura porém de boa guarda, profundo equilíbrio com fruta mais presente e macios. Alguns grandes vinhos como os; Chateau Troplong Mondot, Chateau Pavie Macquin, Chateau Angélus e meu preferido, um dos melhores, se não o melhor, vinho do evento. O Chateau Figeac! ABSOLUTAMENTE ESPETACULAR, um daqueles vinhos que figuram entre meus TOP 10 de todos os tempos e não dá para descrever, tem que lhe sacar a rolha e desfrutar com um outro grande apaixonado por este néctares. Este já estava divino, imagino daqui a mais uns cinco ou seis anos!

Bordeaux Pomerol

Pomerol – Terra do famoso Chateau Petrus e por isso muito valorizada, gera vinhos elegantes e finos porém de maior estrutura que os de St Émilion, idade média de maturação entre 6 a 8 anos com alguns grandes vinhos de guarda. Daqui se destacaram o Chateau Clinet a quem Robert Parker deu 100 pontos. Provei, não mudou minha vida (rs), não vale a nota perfeita (que não dou a nada nem ninguém), mas é um grande vinho. Com ele, mais dois destaques, o Chateau L’Évangile e meu xodó deste AOC, o Chateau Gazin do qual tomaria garrafas se a grana permitisse. Rico, delicado e complexo, absolutamente sedutor.

Bordeaux margaux
Margaux – Nas grandes safras estes vinhos costumam se superar e é, certamente uma das mais emblemáticas apelações de Bordeaux. Mesmo tendo a Cabernet Sauvignon como protagonista, são conhecidos como os vinhos mais elegantes, perfumados e sedosos de Bordeaux, especialmente da margem esquerda. Curto os vinhos desta parte de Bordeaux! Provei algumas preciosidades, entre elas os; Chateau Angludet, Chateau du Tertre e Chateau Giscours foram destaque e são todos grandes representantes da AOC, mas o Chateau Malescot Saint-Exupery está, em minha modesta opinião, um degrau acima dos outros escolhidos e é o que eu colocaria para representar a região nesta verdadeira seleção de craques. Pura poesia engarrafada, nada a falar, só beber!!

Bordeaux Pauillac

Pauillac – Três dos cinco Premier Crus de Bordeaux, vêm desta região, vinhos algo mais potentes e muito estruturados com enorme potencial de guarda, décadas! Aqui provei menos e só dois rótulos ambos muito parelhos; o Chateau Lynch-Bages e por nariz, ficaria com o Chateau Pichon-Longueville mesmo sabendo que o melhor seria guarda-lo por mais uns 15 anos antes de abrir. O problema é que já fiz 60, então guardar vinhos ficou meio relativo! rs Graaande e complexo vinho que mostra bem todo seu potencial de guarda.

Bordeaux Sautern
Sautern et Barsac – Mais que uma apelação (AOC), uma marca mundial de excelência em vinhos doces que harmoniza maravilhosamente bem com Foie Gras (ops é proibido! rs) e queijos azuis e frutas frescas, mais que com sobremesas. Dizem que um Sautern deve ser tomado com mais de quatro anos e os bons (como estes baixo) precisando de tempo para mostrarem todo seu esplendor. Os “velhos” com trinta ou quarenta anos nas costas, dizem ser verdadeiros elixires, não sei, nunca provei, mas topo convites! rs Para encerrar em grande estilo dois grandes representantes e um que extrapola e nos deixa boquiabertos com tanto esplendor. Chateai Doisy Daëne e Chateau Guiraud, ambos excelentes, mas o Chateau Coutet é verdadeiramente um vinho classe I, de Inesquecível e Incuspível! DIVINO, um conjunto de emoções na taça indescritível, e a uma fração do preço dos mais famosos, muito próximo da perfeição!

O que pode causar estranheza é como vinhos que são de longa guarda como estes podem já despertar tais emoções e prazer hedonístico. Pois bem, o que tenho verificado ao longo destes longos anos de provas, é que a grande safra costuma apresentar esse perfil, vinhos com grande capacidade de guarda, porém já muito palatáveis desde cedo! Só para citar alguns; Safra 2007 e 2011 em Portugal, 2006 na Itália, 2005 no Chile, 2015 no Uruguai entre outros, e agora 2009 em Bordeaux. Enfim, mais uma grande experiência e as características de cada uma dessas regiões foram colhidas no livro de meu saudoso mestre e mentor, Tintos & Brancos de Saul Galvão, que segue sendo meu principal socorro em momentos de dúvida sobre nossa vinosfera.

Fui, espero que tenham curtido e semana que vem tem mais. Um ótimo fim de semana e kanimambo pela visita, saúde!