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Branco Italiano na Taça, APROVADO!

Sigo na minha saga de sempre, intensificada pela atual conjuntura, da busca de de vinhos PQP, ou seja, de boa relação Preço x Qualidade x Prazer. Hoje em dia a busca é por vinhos que surpreendam num preço entre 50 a 150 Reais, melhor ainda se abaixo das 100 pratas, como este.

Gosto muito de vinhos brancos então não me fiz de rogado quando este me foi apresentado. Um branco de boa estrutura e fresco elaborado com as castas Grechetto e Trebbiano, um blend típico de Soave, não confundir com os nossos “suaves” (!), no Veneto porém este vem da Úmbria mais ao sul da Itália.

As uvas são cultivadas no município de Torrececcona, a 350 metros acima do nível do mar; o solo é de textura média e argiloso, vinhas de 12 anos gerando um vinho de cor amarelo palha com belos reflexos dourados sem passagem por madeira e sem maloláctica. No nariz é possível perceber notas de florais, frutas cítricas, pêssego, damasco e frutas tropicais como abacaxi, um nariz bastante interessante de média intensidade.

Na boca, onde mais aprecio os vinhos (rs), o Terre de la Custodia Desiata Duca Odoardo Bianco Umbria IGT,  revela-se fresco, seco, frutado, equilibrado e de corpo médio, apresenta uma certa untuosidade e cremosidade, um final de boa persistência com notas amendoadas.

Experimentei o vinho acompanhando uma pasta (fetuccine) ao pesto de rúcula coberto por uma boa porção de parmesão ralado fresco e grosso, harmonizou bem demais e, obviamente, deverá acompanhar bem tudo o que é frutos do mar, peixe e até carnes brancas. A experiência foi boa e a safra 2018 está no ponto de sua complexidade não devendo evoluir muito mais, tops mais um ano. Vinho na casa dos 80 Reais, mais ou menos 5 o que acho bastante justo para a qualidade oferecida o que o torna um bom exemplo de vinho PQP.

É isso, Kanimambo pela visita e em breve tem mais coisa por aqui, começo a ter gosto por escrever novamente! rs Saúde

Famille Perrin, O Rhône Engarrafado!

Os vinhos da Famille Perrin estão entre nós já faz um tempinho, mas agora mudaram de casa e aportaram na Mistral. Eu sou fã desde que tive a oportunidade de desfrutar seu incrível Chateau de Beaucastel, um tremendo Chateauneuf-du-pape que com seus 12 a 15 anos é um verdadeiro néctar que nos seduz, um vinho que precisa de tempo para se expressar e mostrar todo seu esplendor, um tremendo prazer hedonístico. A linha de vinhos deles, no entanto, não se restringe a esse grande vinho entre os melhores da região e a Mistral nos convidou para conhecer um pouco mais desse portfolio.

Tristemente não pude comparecer em função de um problema particular que demandou minha atenção no dia, mas minha amiga e fiel escudeira e confreira Raquel Santos me representou com fidalguia e descreveu assim esse momento em que, mais que provar vinhos, teve uma aula sobre a região que ela agora compartilha conosco. Uma verdadeira viagem, valeu Raquel.

“Recentemente tive o privilégio de participar de uma degustação oficial de lançamento dos vinhos da Família Perrin, promovida pela Mistral, com a participação de Jacques Perrin, 4ª geração no comando da bela história do Château de Beaucastel que começou em 1909.

Foram pioneiros na agricultura orgânica e biodinâmica desde o princípio e tem expandido suas propriedades nas melhores regiões do Vale do Sul do Rhône, dentre elas em Gigondas, Vinsobres, Cairanne, Vacqueyras, Rasteau e Beaumes de Venise. Recentemente iniciou um projeto, com parceiros locais, no norte do Rhône, a Domaine et Maisons Les Alexandrins. Além do Rhône a família tem parceria no Château de Miraval, na Provence.

Quero aqui compartilhar com vocês essa viagem que percorre o Vale do Rhône do norte ao sul.

Os vinhos apresentados foram: 1. Maison Les Alexandrins Condrier AOC Blanc 2019. 2. Châteauneuf-du-Pape AOC Château de Beaucastel Blanc 2019. 3. Château Miraval Côtes de Provence AOC Rosé 2020. 4. Les Alexandrins Crozes Hermitage AOC Rouge 2018. 5. Château de Beaucastel Côte-du Rhône AOC Coudoulet de Beaucastel Rouge 2018. 6. Famille Perrin Vinsobres AOC Les Hauts de Julien Vieilles Vignes 2018. 7. Famille Perrin Gigondas AOC L’Argnée VieillesVignes Rouge 2018.8. Châteauneuf du Pape AOC Château de Beaucastel Rouge 2018. 

O Vale do Rhône está localizado entre os Alpes Suíços e o mar Mediterrâneo. Ao norte está a cidade de Lyon , que além de ser um polo industrial, também possui um entorno rural que abastece toda a região com uma produção agrícola de excelente qualidade. 

Ao sul está a cidade de Avignon que se desenvolveu quando no século XIV o papado mudou o castelo de Roma para a região e começaram a cultivar as primeiras videiras.

Se percorrermos os vinhedos que margeiam o rio Rhône de norte a sul, pode-se perceber uma grande diferença de clima, solo, e variedades de uvas.

Ao norte o clima é continental (Rhône Setentrional) com verões bem quentes e invernos frios. As videiras são plantadas em penhascos pedregosos de granito, entremeados de florestas de carvalho que refrescam o ar pela neblina fria ao amanhecer. A uva predominante é a Syrah. Resultam em vinhos robustos, de cor escura e longevos. Para os brancos, destacam-se a Marsanne, Roussanne e Vionier.

MAISON LES ALEXANDRINS CONDRIEU AOC BLANC 2019

Condrieu é considerada a melhor AOC do mundo para a uva Vionier e esse vinho é feito com 100% dela. Incrivelmente perfumado e mineralidade que reflete o solo de granito. Parcialmente fermentado e maturado em barricas de carvalho que aportam um ótimo corpo, enchendo a boca, com final longo e sensação de cremosidade.

LES ALEXANDRINS CROZES HERMITAGE AOC ROUGE2018

Esse vinho, feito com 100% de uvas Syrah, é praticamente uma aula da tipicidade desta casta. Ótima estrutura e equilíbrio entre o álcool, acidez e taninos bem finos. Suculento e cheio de frutas negras, evolui muito na taça, cheio de complexidade em boca e nariz.

Em direção ao sul (Rhône Meridional) podemos notar que à partir de Montélimar as características da região se transformam. O clima passa a ser mediterrâneo, com influências do mar. Os verões são quentes e o inverno ameno, mas às vezes chega a zero grau. Os ventos frios que vêm do sul (Mistral) fazem as chuvas serem fortes e rápidas, baixando a temperatura rapidamente à noite. Os vinhedos se expõem ao sol forte durante o dia, que também aquecem as pedras que cobrem todo o solo, protegendo as videiras do frio à noite. Outra característica importante é a diversidade do relevo que proporciona grandes variações mesmo em pequenas distâncias. Aqui predomina a uva Grenache que se junta com outras variedades, como as Mouvèdre, Cinsault e a Syrah. Das variedades brancas, encontra-se a Marsanne, Roussanne, Viognier, Clairette, Bourboulenc, entre outras, que são vinificadas para tintos, brancos e rosés.

Além das diversidades de solo e clima, a região do Rhône meridional, é mais recortada no que diz respeito às apelações de origem controlada. A mais conhecida delas é a Côtes du Rhône, usada genericamente. As denominações que indicam o nome das comunas provenientes agregam um fator de maior qualificação. É o que acontece no caso do Côtes du Rhône-Village, que representa 95 comunas (départament) com 22 podendo aparecer no rótulo e outras como Châteauneuf-du-Pape, Gigondas,Vinsobres, Rasteau, etc…

CHÂTEAUNEUF-DU-PAPE AOC CHÂTEAU DE BEAUCASTEL BLANC 2019

Um vinho branco proveniente desta AOC, é sinônimo de alta qualidade. Elaborado com 80% de uvas Roussanne, e poucas porções de outras brancas autorizadas da região, resulta num vinho particular. Quando jovem (entre 3 a 4 anos), mostra notas aromáticas, suaves e florais com um toque salino. Em boca é bem encorpado, e potente. Depois desse tempo foi-nos aconselhado guardar em adega e só consumir depois de 10 a 12 anos. Esse tempo faz com que ganhe profundidade e complexidade.  

CHÂTEAUNEUF-DU-PAPE AOC CHÂTEAU DE BEAUCASTEL ROUGE 2018

A comuna do  Châteauneuf-de-Pape é considerada umas das melhores parcelas de produção de uvas em todo Vale do Rhône. Aqui são permitidas 13 variedades de uvas para elaboração do vinho e o Château de Beaucastel está entre os produtores que utilizam todas elas, cultivadas organicamente desde 1960, por tradição. O resultado disso pode ser comprovado na taça, onde a qualidade excepcional, é reconhecida mundialmente. A elegância, o equilíbrio e a capacidade de envelhecimento, fez dele um ícone que nos convida para uma viagem  longa, cheia de capítulos emocionantes, marcando para sempre a vida de quem teve essa oportunidade. Um clássico!

FAMILLE PERRIN GIGONDAS AOC L’ARGNÉE VV ROUGE 2018

Elaborado com uvas de vinhedo com mais de 110 anos de idade, plantado em pé franco em terreno arenoso, é uma raridade e faz parte da linha “Séletions Parcellaires” da família Perrin. O corte da Grenache em maior proporção com a Syrah resulta num vinho único, potente e corpulento com muita elegância, taninos finíssimos e grande complexidade. Um vinho raro!

FAMILLE PERRIN VINSOBRES AOC LES HAUTS DE JULIAN VIEILLES VIGNES 2018

Outro vinho raro, de uma parcela minúscula, vinhedos com mais de 90 anos e o mesmo corte em proporções diferentes (50%Grenache 50% Syrah). Muito aromático, cheio de frutas e taninos aveludados. Mostra muito bem as características de cada casta, alternadamente, resultando num vinho de personalidade

CÔTES-DU-RHÔNE AOC COUDOULET DE BEAUCASTEL ROUGE 2018

Esse vinho possui uma particularidade interessante. Os vinhedos pertencem ao Château de Beaucastel, situado na AOC Côtes-du-Rhône (considerada mais genérica), separado pela estrada A7. Ou seja , do outro lado da via está a AOC Châteauneuf-de-Pape (considerada mais importante).

O vinho porém, mostra muito pedigree, com muita capacidade de envelhecimento. Um vinho enigmático que quebra paradigmas e não é raro causar controvérsias entre especialistas. Eu particularmente achei um vinho muito envolvente.

Ao sul do vale do rio Rhône chegamos ao mar Mediterrâneo onde ele desemboca. Em direção leste, debruçado no litoral, encontra-se a região da Provence. O clima ensolarado predomina e as temperaturas no verão podem ser altas. O vento  Mistral também tem forte influência no clima. Pode ser muito frio no inverno, vindo das neves alpinas e no verão refresca e seca o ar, protegendo as videiras da umidade marítima.

MIRAVAL CÔTES DE PROVENCE AOC ROSÉ 202

O Chateau Miraval se destacou na mídia pela sua ligação com celebridades da música e cinema. Em 1978 seu proprietário foi o pianista de jazz Jacques Loussier, onde montou seu proprio estúdio de gravação (Studio Miraval). Gravou com músicos como Pink Floyd, Elton John, Sting entre outros. Posteriormente, Tom Bove, empresário americano adquiriu a propriedade degradada, convertendo as vinhas lá existentes em produção biológica e ganhando reconhecimento internacional. Em 1993 lança o Pink Floyd Cuvée. Mais tarde se associou com o casal Pitt-Jollie e atualmente pertence apenas ao Brad Pitt que produz o Miraval Rosé juntamente com a família Perrin. Esse apelo mediático fez com que esse vinho fosse muito procurado em todo mundo, impulsionando positivamente o consumo do vinho rosé. Mas como só a mídia não se sustenta sozinha, a qualidade pode ser atestada nesse caso. Trata-se de um rosé bem ao estilo provençal, bem clarinho, delicado, discreto, com ótima acidez, boa estrutura, equilibrado e com um inconfundível aroma de lavandas que nos leva àqueles campos perfumados e ensolarados da região. Um show de vinho que nasceu para ser celebridade!”

Espero que tenham gostado, eu curti essa viagem junto com a Raquel apesar de minha tristeza por não ter podido participar. Kanimambo e nos vemos por aqui, saúde.

Meu Primeiro Bequignol

Já conhecia essa uva? Eu não! rs Sempre aprendendo, esta nossa vinosfera não pára de nos apresentar novidades, mesmo que de origem antiga. Novidades, antigas? Que contra senso é esse?? rs De tão esquecidas pelos produtores, passam a novidade por meio das mãos de jovens buscando na história e tradição novos sabores para nos surpreenderem, este foi mais uma grata surpresa, “Aqui Estamos Todos Locos Bequignol”.

A Bequignol é uma uva de origem francesa usada em Bordeaux até o ano de 1777. Hoje em dia existe pouco mais de  um hectare de vinhedos na França e um pouco mais de 900 na Argentina, normalmente de vinhedos antigos como neste caso, de 1940. De corpo ligeiro, dá cor e aporta acidez aos blends e quando elaborado como varietal tende a dar vinhos ligeiros, de poucos taninos, para serem tomados jovens. Também é conhecida como Red Chenin e possui uma relação parental com a Savignin da região francesa do Jura. Leva uma parcela de Buonamico (também conhecida como Sangioveto de origem italiana) que é cofermentada com a Bequignol.

A Bodega é Viñedos Niven em Mendoza, produtor que trabalha com conceito de vinhos orgânicos. Este “Estamos Todos Locos” tem fermentação semi carbônica em ovos de cimento e uma leve passagem por barricas usadas, sendo produzidas somente cerca de 1700 garrafas ano. E o vinho, que tal?

Na minha opinião um típico vinho de verão que ao ser refrescado fez com que seus taninos quase inexistentes aparecessem equilibrando o conjunto. Fruta vermelha, fresca, um vinho jovial, fresco e vibrante com ótima acidez e alguma especiaria de final de boca. Para acompanhar pratos leves, carpaccio, quibe cru, salmão, gostei bastante. Não é um blockbuster, mas é uma experiência super agradável que certamente se dará bem como companheiro da Primavera e do Verão, lembrando de o servir por volta dos 12 graus quando creio que ele mostra toda a sua vivacidade.

Apesar de ser bastante usado em blends, creio que só tem mais um produtor elaborando varietal de Bequignol, vale pesquisar outros produtores caso não encontre este e espero que tenha uma experiência tão gostosa quanto a minha, puro prazer e é para isso que o vinho existe! Saúde e Kanimambo!

Um Senhor Vinho, Bassetti Sauvignon Blanc

O Brasil é mais conhecido por seus espumantes e nos vinhos brancos tranquilos a chardonnay reina, já na serra catarinense e seus vinhos de altitude, a Sauvignon Blanc dá suas caras com maior assiduidade e diversidade com diversos estilos.

Pessoalmente, sou fã dos Sauvignon Blanc da Villaggio Bassetti que possuem características muito próprias. Seja pelo terroir como pela mão do produtor, a verdade é que os três Sauvignon Blanc deles são de tirar o chapéu. Tem o de “entrada” que abri hoje, tem o Donna Enny que é fermentado em madeira, uma verdadeira ousadia que deu muito certo, e o último a entrar para esse rol que é o Selvaggio D’Manny que é macerado com suas cascas e usa leveduras naturais, mas não é um laranja, um tremendo trio que faz com que a vinícola se destaque como um dos melhores produtores nacionais desta uva, se não o melhor, em minha humilde opinião logicamente. rs Controvérsias certamente haverão e isso faz parte, mas deixa eu falar deste vinho que tomei.

A safra 2020 já está disponível, mas hoje abri uma garrafa que estava em minha adega, safra 2017, quatro anos de vida. O vinho que, já por característica, não possui aquela acidez marcante e corpo leve, é um vinho que preza pelo equilíbrio, por um melhor volume de boca e maior complexidade que apenas aquela pegada unicamente cítrica com toques herbáceos de menor ou maior intendidade. Muito diferente do 2020, que possui esses predicados todos, este 2017 apresentou uma cor mais amarela mostrando sinais de sua idade, maior volume de boca, uma cremosidade incrível e notas de frutos amarelos como damasco e pêssego, notas de maracujá, acidez presente e equilibrada, complexo, algumas notas de evolução que não afetaram o todo, difícil de descrever mas um enorme prazer de o tomar e ainda tenho um na loja que acho que vou “roubar”. rs

Um Sauvignon Blanc que evoluiu muito bem, mas que virou um outro vinho e eu gostei dos dois. Pensando bem, legal seria abrir o 2020 junto com o 2017 e comparar, acho que vou colocar é numa confraria. Duas dicas, se tiverem oportunidade comprem de duas safras diferente, preferencialmente com dois ou três anos entre elas, para fazer essa comparação e avaliação e a outra dica é de harmonização sobre a qual não vou falar! rs Afinal a foto fala por si só!

É isso, kanimambo e cá vou postando, saúde!

Tardana, uma uva que não conhecia!

Faz pelo menos uns 15 anos que iniciei minha viagem por nossa vinosfera, mas incrível como sigo me surpreendendo e me deparando com uvas desconhecidas gerando vinhos gulosos, vibrantes, marcantes cada um à sua maneira. Desta feita a uva foi a Tardana, o vinho Sol e a vinícola a Bodegas Gratia.

Da Bodega Gratias já falei aqui quando do vinho “Y Tu de Quién Eres”, porém não falei do projeto da família que é exatamente a de trabalhar tão somente com uvas autóctones da região, muitas delas em risco de extinção. Elaboram um ótimo encorpado e negro vinho chamado GOT, um varietal 100% de Bobal e agora me deparei com este belíssimo Sol, um vinho vibrante que me seduziu. Antes de falar do vinho, no entanto, deixa eu antes falar desta uva.

O atributo alt desta imagem está vazio. O nome do arquivo é tardana-grape-Gratias.jpg

A Tardana, uma cepa branca de pele grossa, é natural da região de Manchuela e Utiel-Requena próximo a Valência na Espanha, tendo esse nome pois amadurece muito tardiamente, depois dos tintos. Também é conhecida por Planta Nova. Apesar de ser uma vinífera, boa parte dela era colhida antecipadamente e vendida no mercado como uva de mesa comestível, algo que caiu em desuso devido ao aparecimento de uvas sem semente que tomou conta do mercado. Devido a não atingir níveis de álcool altos, demorar muito a amadurecer ficando propensa a sofrer com chuvas de granizo e apresentar relativa baixa produtividade, os grandes produtores a abandonaram e hoje a produção é mínima, beirando a extinção. O conceito por trás da “família” Gratias é exatamente esse, o de recuperar vinhedos e uvas da região e em extinção com o mínimo de intervenção, pequenas produções e vinhos únicos. Estão inclusive produzindo já um vinho laranja com a Tardana, mas esse só me deixou curioso, ainda não provei.

Sol de Tardana é levemente prensada e 1/3 termina de fermentar em talhas de barro passando posteriormente por um período de três meses sur lie. Aromas de boa intensidade apresentando um leve floral no nariz, notas de pêssego e damasco, fresco, talvez algo de maçã verde 🤔, na boca um toque mineral em função do solo calcário, boa textura, leve para médio corpo com equilibrados 12,5 de álcool, meio de boca marcante e vibrante com boa acidez e ótimo equilíbrio, um vinho sedutor que deixa um retrogosto de quero mais! rs  Falam de frutos brancos melão e pera, não achei não, mas isso vai de cada um. 😊 Gostei muito e tomaria várias! Do ponto de vista de harmonização, acho que é uma grande opção para pratos asiáticos bem condimentados. Tomei acompanhando um Bifum de Camarão ao Curry e foi divina a harmonização, mas quaisquer pratos de frutos do mar certamente serão boa escolta ao vino. Produção limitada, não chega cinco mil garrafas anuais, algo a se colocar numa wish list e vale a pena porque o preço é bem razoável, na casa das 130 pratas.

Enfim, mais um post, quem sabe na base de um por semana eu consiga criar novamente um ritmo de publicações. É isso, abraço e kanimambo pelos gentis comentários que venho recebendo, saúde e cuidem-se!

Provando Novidades Chilenas I

Recentemente tive a oportunidade de participar de duas degustações virtuais com representantes da importadora e direto do Chile, de seus produtores. Hoje venho compartilhar com vocês a primeira delas, vinhos da Casa Viva radicada em Casablanca e recém chegados ao Brasil pelas mãos da BWC, braço brasileiro da Berkmann Wine Cellars inglesa.

Recebi três vinhos para provar, um Sauvignon Blanc, um Varietal e Pinot Noir e um Syrah que me tirou o fôlego! rs

Sauvignon Blanc Reserva 2019, fruto do blend de três vinhedos diferentes de clones igualmente diferente plantados em cerca de 100 hectares nesse vale que é berço de grandes vinhos brancos. Cada lote é vinificado em separado e posteriormente feito o blend. Sem passagem de madeira, porém com seis meses sur lie que lhe aporta uma certa cremosidade e complexidade sem, com isso, afetar sua vibrante acidez. SB clássico da região com grande intensidade aromática, frutos tropicais, maracujá, limão siciliano, toque herbáceo da famosa grama molhada, um vinho repleto de energia e certamente um grande companheiro para frutos do mar em geral e culinária japonesa. Gostei bastante e o preço deve rondar as 110 pratas.

Casa Viva Pinot Noir 2018, um varietal (linha de entrada) deste produtor. Para uma gama de entrada o volume produzido nem é tão grande assim, pelo que entendi algo ao redor de 10 mil litros. Bem claro de baixa extração, fruta fresca, vinificado somente em inox, equilibrado, fino e elegante com um final fresco em que apareceram algumas notas terrosas. Na casa dos 90 Reais, atende um segmento de mercado que busca um Pinot de baixo custo e bem feito, porém tenho que confessar que não me seduziu, talvez falte uma personalidade mais marcante, mas talvez eu esteja sendo algo exigente ainda por cima depois desse muito bom e marcante Sauvignon Blanc.

Casa Viva Grand Syrah 2017, uau! Gosto muito de Syrahs de clima frio e esse não negou fogo, muito pelo contrário, me seduziu por completo. Apenas 16 hectares, produção de 4.5 Toneladas por hectare, face norte protegida parcialmente por uma colina que protege os vinhedos do frio oceânico que atinge a região deixando o clima algo mais ameno. São dez meses de barrica francesa (construída no Chile) sendo parte de segundo e terceiro usos. Os aromas são verdadeiramente inebriantes, daqueles que te deixam na dúvida de você bebe ou funga! rs A boca é cheia, de grande volume, estruturado, ótima textura, frutos escuros, rico meio de boca, algum defumado, taninos firmes porém finos e elegantes, final fresco e persistente que pede bis. Preço ao redor de 230 Reais, creio que vale, e foram produzidos somente 11 mil garrafas sendo que para o Brasil vieram só 265!

Bons vinhos, interessante gama com preços diversos, creio que pelo gostinho que tive com estes três, vale a pena explorar a linha que já está disponível nas boas casas do ramo. É isso, saúde e Kanimambo pela visita!

Y Tú, de Quién Eres?

Senta que lá vem história, meu primeiro vinho glu-glu, termo muito usado pelos amantes dos vinhos naturebas para descrever um vinho fácil de tomar, de golão! Vinho para tomar refrescado, até em copo de requeijão (heresia? rs) num bar qualquer de beira de estrada ou num Pueblo qualquer sem enochatisses, porque cada um é cada um. Por lá, um vinho de mesa, de “Pueblo”, mas deixa eu contar essa história vai?

O nome nasce de uma indagação dos anciões antigos de pequenos pueblos espanhóis quando um jovem que não conheciam aparecia, “Y tu de quien eres?”, e tu a que família pertences? Neste caso, do vinho, a resposta é, a um Pueblo! O local, Casas Ibañez, Albacete, a cerca de 100kms de Valencia, o produtor Bodega Gratias que trabalha com foco na elaboração de vinhos com uvas autóctones locais, mínima intervenção, adoção de processos artesanais e ancestrais, produzindo vinhos como antigamente. Jovens, resgatando a história local de fazer vinho e preservando castas autóctones.

Este vinho tinto, possuem um branco também de produção ainda menor e que ainda não provei, foi viabilizado através de um sistema de “crowdfunding” pois o projeto é muito pouco rentável em função da baixa produtividade dos vinhedos antigos com castas plantadas todas misturadas, neste caso todas autóctones e boa parte delas em risco de extinção. Entre as muitas castas que compõem este multivarietal ou field blend como gosto de chamar (no Douro as Vinhas Velhas costumam ser plantadas assim) castas como bobal, marisancho, teta devaca, pedro juan, morávia agra, morávia dulce, pintaillo, cegivera, rojal, valencín, albillo, etc..

A seleção de cachos é feita no vinhedo e os cachos colocados inteiros em tanques de 5 hectolitros onde fermentam de forma natural. Posteriormente, passam por um processo de “crianza”, tempo de afinamento, parte em inox, parte em barricas e parte em ânforas de barro. Com apenas 5300 garrafas produzidas, é um vinho para tomar de golão, o tal do glu-glu como mencionei no inicio deste post. Se você ficou interessado, sugiro entrar no site deles (www.bodegasgratias.com) e pesquisar um pouco mais.

Bem, ainda não falei do vinho! rs Esse estilo de vinhos pode e a maioria possui, aromas algo diferenciados que nos fazem remeter mais a cantina, taberna (estou viajando mas me permitam isso!) e alguns chegam ao exagero, este não, essa marca está lá, mas de forma sutil e sedutora. Tem uma bela cor vermelho cereja, com aromas de cantina, de frutas vermelhas e algo de mirtilos, especiarias, notas herbáceas de temperos verdes, e leve lembrança de kirch. Corpo médio, a adstringência na entrada da boca lhe confere um ar rústico que não tira seu charme, algo de salumeria, boa sensação frutada que lembra frutos negros e mostra um frescor muito interessante de final de boca que deixa uma sensação de quero mais na boca e um sorriso no rosto.  Eu curti demais, melhor se levemente refrescado a 14/15ºC, e me deixou curioso de conhecer esta bodega in loco!

Eu que não sou exatamente um apoiador dos vinhos naturais, tenho que me render ao fato de que há sim vinhos bem feitos que merecem ser conhecidos e este é um deles. Minha posição sobre isso é muito clara, o vinho tem primeiramente ser bom e palatável, depois se for orgânico melhor e bio ainda mais, questão que me parece lógica. Aceitar vinhos pouco palatáveis, de aromas esquisitos e pouco convidativos porque são naturais, não faz minha praia, mas cada um é cada um.

Como disse, gostei e recomendo. Para acompanhar, boa companhia para começar!! rs Depois, se estiver a fins, uns tapas, salames, queijo manchego e uma boa prosa. Ufa, falei um monte hoje, fazia tempo que um texto não fluía assim. Kanimambo pela visita, saúde, cheers, salute, salud, prosit, …

Rosé com Good Vibrations

Casa do Lago Rosé é o nome deste exemplar de rosé português que tem tudo a ver com nosso verão. Realmente um vinho delicioso, muito fresco, frutado, cerejas frescas, leve mas não ligeiro! Cem porcento Touriga Nacional da região Lisboa, só passagem por inox, um mês em garrafa e já sai para o mercado, pronto a beber e a seduzir. Vinho para ser tomado jovem em seus primeiros três anos de vida, mas quanto mais jovem melhor. Vinho de verão, para acompanhar frutos do mar, comida japa, para bebericar com os amigos sem compromisso, mas com qualidade que é uma marca da DFJ que o produz. Cheio das medalhas, rs, foi apontado como o melhor rosé de 2016 pela revista portuguesa Grandes Escolhas. Para mim um vinho alto astral, vibrante que não me cansa e me faz feliz, sem frescuras, sem complexidades, que deixa a emoção tomar conta da razão, vinho para curtir sem parcimônia.

Se fosse uma música seria Good Vibrations dos Beach Boys e daí a chamada! rs Abra a garrafa, clique no link abaixo e depois me diga se estou errado! Preço de mercado em torno de R$80 uma boa pedida para este verão e férias de final de ano, eu curto e recomendo. Kanimambo e aos poucos retomarei o ritmo por aqui, tem coisa demais represada, saúde!

Castas Italianas em Santa Catarina

Deixa eu ver; Sangiovese, Teroldego, Grechetto, Ribolla Gialla, Montepulciano, Aglianico, Rebo, Refosco dal Peduncolo Rosso, Pignolo, Vermentino, Garganega, Verdello, Nero d’Avola, Rondinella, Pinot Nero, Malvasia e deve ainda ter mais. A cada viagem à região, cresce meu entusiasmo e desta vez quis focar nestas castas e compartilhar isto com os amigos com uma degustação seguida de jantar. A região, no entanto, não é só de castas italianas que vive produzindo ótimos Sauvignon Blanc e Chardonnays, bons Cabernet Sauvignon, ótimos blends e até Touriga Nacional e Tinta Roriz sendo, na minha modesta opinião, o futuro dos vinhos finos brasileiros junto com a Campanha Gaúcha. Na Páscoa/2020 virá mais um Tour por la, aguarde e já deixe seu registro para não ficar de fora!

Lamentavelmente, talvez não para mim (rs), esta degustação já nasce esgotada, mas se tiver interesse em estar presente numa próxima ou tiver uma confraria em que deseje que eu faça essa mesma apresentação me diga que entro em contato. De qualquer forma, eis o que vai rolar neste próximo dia 9 de Dezembro no Gola Solta, a duas quadras do Metrô Hospital São Paulo na Vila Clementino/SP.

Degustação de 6 vinhos (50ml cada), entre eles um espumante para iniciarmos os trabalhos, seguido de jantar acompanhado de mais um vinho harmonizando o prato escolhido.

Vinhos

Abreu Garcia Geo Brut 2015 – 100% uva Vermentino 1650 gfas produzidas

Villaggio Bassetti Roberto 2016 – 100% Sangiovese. 1860 gfas produzidas

San Michele Barone 2017 (outsider) – 100% Nebbiolo 2000 gfas produzidas

Leone de Venezia Refosco dal Pedunculo Rosso 2017 – 100% Refosco 1300 gfas produzidas

Villaggio Conti Pignolo 2017 – 100% Pignolo 1500 gfas produzidas

Villaggio Conti Real d’Altezza 2017 – Blend de Sangiovese, Montepulciano e Teroldego. 2700 gfas produzidas

Para acompanhar o jantar (taça de 100ml), Leone di Venezzia Montepulciano 2017 (2600 gfas produzidas) para quem escolher carne ou pasta e um branco à minha escolha (rs), porém também de castas italianas produzidas por lá,  para quem pedir o peixe.

Jantar:

Durante a degustação. Couvert (manteiga temperada, mussarela de búfala, patê, tomate cereja com manjericão, pão de calabresa da casa e pão de queijo)

Pratos, escolha de um destes.

Medalhões grelhados molho funghi e risoto parmesão ou Tortelli recheado de Alcachofra molho pomodoro ou Robalo gratinado com crosta de siri e risoto de arroz negro. Preço desta esbórnia enogastronômica que inclui águas e café, apenas R$220,00 pagos no ato da reserva e vagas limitadas a 12 amantes do vinho e da boa gastronomia. ESGOTADO

Kanimambo e logo, logo início a série de posts sobre o último tour realizado nos Vinhedos de Altitude de Santa Catarina, 1200 a 1400 metros de altitude.

Crianzas na Confraria

Com Z mesmo porque falo de vinhos espanhóis que compuseram o kit do mês de Outubro da Confraria Frutos do Garimpo. Na Espanha para um vinho ser Crianza (conceito que vem de criar, de maturação e não de jovem) ele tem que passar um período mínimo de maturação de 24 meses antes de ser colocado no mercado sendo que com um mínimo de 6 meses em barricas, sendo que em Rioja, como em Ribera del Duero e algumas outras regiões, o Concelho Regulador determina nada menos do que 12 meses e o restante em garrafas.

Com o apoio dos amigos Juan e Alexandre da SYS (importadora dos vinhos), escolhi dois rótulos de vinhos Crianza para a confraria, bem diferentes um do outro, mas dois vinhos que certamente têm seu espaço na minha taça dependendo do momento e da proposta gastrônomica.

Marqués de la Carrasca Crianza 2014 é um corte de Tempranillo com Cabernet Sauvignon e Syrah que é algo incomum, mas dentro das normas da DO La Mancha, a maior região produtora de Espanha. Afora o equilíbrio, o que mais me chamou a atenção neste vinho foi sua acidez marcante. Sua “crianza” em barricas é de 8 meses, sendo 25% francesa e 75% americana, certamente usadas. No nariz, possui uma intensa presença de fruta muito bem integrados às sutis notas de carvalho. Na boca, mostra boa textura, corpo médio, com um final de boca de persistência média e fresca, deixando na boca aquele gostinho de quero mais. Fácil de agradar, pronto, a garrafa tende a durar pouco! rs Preço médio em São Paulo entre R$90 a 95,00.

Montes de Leza Crianza 2015, que belo Rioja com muito anos pela frente de garrafa. Possui, para quem ache importante, 90 pontos de James Suckling, medalha de prata no concurso de Bruxelas, vem de Alavesa a parte mais ao norte da DOC Rioja e é 100% Tempranillo com passagem de 12 meses por barrica nova que lhe dá aquele toque amadeirado típico dos vinhos desta região. Apesar de jovem já se mostra bastante integrado e equilibrado com a madeira presente, porém sem ser agressiva. Frutos intensos com destaque para ameixa escura fresca, a acidez é outro ponto que me chamou a atenção, bom volume de meio de boca, rico e complexo, encorpado mas não pesado e com grande persistência. Um vinho de outro patamar de qualidade, para outros momentos mais gastronômicos. No mercado (SP) por volta dos 170 Reais.

Dois bons vinhos Crianza, cada um com seu estilo e propostas próprias porém um só objetivo, nos dar prazer e isso eles fazem bem. Como sempre, você é o juiz, prove e tire suas próprias conclusões, certamente os confrades que levaram os kits do mês o farão.

Kanimambo pela visita e seguimos nos encontrando por aqui sempre que der. Saúde!