A Tannat e o Uruguai

O berço nativo da Tannat é Madiran, no centro da região sudoeste da França. ao pé dos Pirineus, mas é considerada, de fato, um patrimônio nacional do Uruguai!

No século 19, um francês chamado Pascual Harriague introduziu essa cepa no Uruguai, onde ela se adaptou perfeitamente, ganhando força e prestígio, ao proporcionar vinhos de sabor único, cor concentrada e complexidade intensa. Durante muito tempo a uva no Uruguai foi conhecida por Harriague e existe o vinho Don Pascual que é uma homenagem a este homem e sua contribuição à vitivinicultura uruguaia.

Apesar de ainda ser cultivada na França, o Uruguai é hoje o produtor dessa uva que mais se destaca. Cerca de 45% de seus vinhedos são ocupados pela variedade. A Tannat, especialmente rica em polifenóis, tendo o maior contéudo de Resveratrol (forte poder antioxidante) entre todas as cepas Vitís Viniferas conhecidas, devido à espessura grossa da casca e ao elevado número de sementes dessa uva. Cada bago de Tannat costuma ter 5 sementes, sendo que o mais comum, nas outras variedades, é a presença de somente 2 ou 3 sementes por bago de uva.

O alto nível de taninos, em contrapartida, fez com que a Tannat ganhasse fama de selvagem, rústica e até mesmo agressiva na França o que fez com que produtores buscassem amenizar essa característica com a adição de outras castas mais “suaves” para reduzir esse impacto como a Cabernet Franc e a Merlot.  Já no Texas, onde existem bastantes vinhedos da uva, os produtores fazem exatamente o oposto, com maceração prolongada para destacar o alto teor tânico de seus vinhos. Já no Uruguai, os cortes mais comuns são com Merlot, predominantemente, mas também com a Pinot Noir, Cabernet Franc, Tempranillo Viognier e Syrah.

Os melhores Tannat serão sempre intensos, muito elegantes, com final longo e memorável. A harmonização da Tannat agrada em cheio os apreciadores de churrasco daqui do Brasil, da Argentina e do Uruguai. Os taninos dessa uva combinam muito bem com carnes mais gordurosas sendo parceiro fiel do famoso cordeiro uruguaio e leitão pururuca, porco no rolete e até feijoada.

Apesar de produzirem vinho a mais de 250 anos, foi realmente a partir de 1874 com a aposta na uva Tannat por parte de Pascual Harriage, que o a vinicultura começa a ganhar importância. A moderna vinicultura, todavia, somente começa a ganhar corpo a partir do início dos anos de 1980 culminando com a criação do INAVI (Instituto Nacional de Vitivinicultura), uma entidade publica que vem regendo o presente e o futuro do vinho Uruguaio.

 Em 1992 foi feito um estudo de regionalização da produção do vinho em que se definiram oito grandes regiões de potencial de desenvolvimento baseado em parâmetros climáticos assim como da geologia encontrada. Canelones/Montevideo ao Sul, ainda representam 76% dos vinhedos plantados. Sua marca registrada é o Tannat e sua chegada ao cenário mundial é bem recente, mas ganhando espaço com alguma velocidade apesar dos números ainda relativamente pequenos de exportação face o alto consumo interno versus a pequena produção. Dos cerca de 74.5 milhões de litros produzidos, 59.5 ficam no país (grande consumo per capita) e 18 se destinam à exportação sendo a venda a granel ainda o grande volume (76%) e dos 4.6 envazados a grande maioria, cerca de 65%, é destinada ao Brasil.

Algumas importantes normas foram definidas para a indústria. Começando pelo fato de que qualquer varietal declarado no rótulo deverá ter, obrigatoriamente, um mínimo de 85% dessa variedade. Por outro, se instituiu a VCP (Vino de Calidad Preferente) que é o verdadeiro vinho fino como nós o conhecemos. Ter a chancela VCP impressa no rótulo significa dizer que o vinho foi produzido dentro das normas, região e condições estabelecidas.  Não é chancela de qualidade ou seja, pode-se ter um bom vinho sem VCP como ter um péssimo com VCP. Na verdade, ter VCP é uma indicação de que o vinho deve ter qualidade, mas não uma verdade absoluta. Aliás, como todos AOCs e DOCs do mundo.

             Os vinhos Uruguaios apresentam características bem diferentes dos vinhos a que estamos habituados a tomar de origem Argentina e Chilena. Pelas próprias diferenças climáticas com temperaturas mais amenas e condições geológicas bem distintas às encontradas nestes outros países. São vinhos com personalidade própria, elaborados por gente que tem um jeito diferente de fazer vinho e que, neste sentido, nos parecem vinhos mais parecidos ao estilo do Velho Mundo, com menos potência, teores alcoólicos mais controlados, boa estrutura e mais elegância.

         Para a alegria dos produtores e dos consumidores em geral, Patrick Ducournau, em 1991, na região vinícola francesa de Madiran, desenvolveu um processo de micro-oxigenação com a finalidade de “domar” o alto nível dos taninos da variedade Tannat. Esta técnica consiste na adição artificial de finíssimas bolhas de oxigênio no mosto através de um dispositivo mecânico anexado ao fundo do recipiente onde a fermentação é realizada seja ela em tanques de inox, cimento ou até barricas. A dosagem é controlada e pode variar de 0,75 a 3 centímetros cúbicos por litro de vinho. O oxigênio é um importante elemento durante o processo da redução (polimerização) dos taninos imaturos, que se transformam em taninos macios e agradáveis, e das antocianinas presentes nas cascas das uvas tintas. Este processo de micro oxigenação foi também um “alavancador” comercial por ter domado boa parte da tanicidade destes vinhos tornando-os mais palatáveis e mais rapidamente acessíveis ao consumidor.

Afortunadamente, a maioria do que vem sendo exportado para o Brasil são de vinhos de qualidade, bem elaborados e de boa estrutura. Mesmo assim, é aconselhável dar aos varietais desta cepa, especialmente quando 100% e de mais alta gama, um pouco de tempo em garrafa para que se possa usufruir de toda a sua complexidade de aromas e sabores e para que os taninos se integrem.

Agora, como na Argentina, onde há muito mais a se explorar do que sua Malbec, o Uruguai está passando por uma grande transformação e há uma diversidade de uvas sendo cultivadas com resultados ótimos, então que tal explorar? Eis alguns produtores a explorar; Pizzorno, Gimenez Mendez, Bouza, Pisano, Familia Deicas, Carrau, Dominio Cassis, Alto de Ballenas, Los Vientos, Narbona, Irurtia, Garzon, Viña Progreso. Com esses treze produtores a viagem será longa e proveitosa, aproveite!

Saúde, kanimambo pela visita e seguimos nos encontrando por aqui ou em qualquer uma das muitas curvas de nossa vinosfera!

Abraxas Tannat 2011

Abraxas Tannat* de novo na taça depois do incrível e memorável 2002 que deixou saudades com a moçada que o conheceu, veio o 2007 que foi a confirmação de que a Dominio Cassis veio falando grosso com seu vinho ícone, mesmo que menos pujante que o 2002, mais pronto,aparentemente menos longevo. Agora chegou o 2011, para mostrar que o papo é sério, um tremendo Tannat que mostra toda a sua estrutura e densidade digna dos tannats topo de gama uruguaios, mas que se reveste de uma elegância velho mundista que já se tornou marca deste vinho.

A paleta olfativa dele nos atrai como um imã, sedutora e intensa com seus frutos negros, madeira ainda bem presente pedindo tempo para se integrar mas nada agressiva. Na boca estrutura, denso, taninos aveludados ainda bem presentes mas finos mostrando que mesmo se desfrutando bem agora tem ainda alguns bons anos pela frente, fruta, couro, cacau, rico meio de boca com um final de boa persistência e acidez equilibrada. Um Tannat clássico, sem arestas, robusto, elegante, para beber mais que uma taça sem medo de ser feliz, assim sinto este vinho que me agrada sobremaneira e já encontrou um berço em minha adega para abrir daqui a uns dois anos. Quer harmonizar? Leitão pururuca é dos deuses, os amigos lusos podem acompanhá-lo com o famoso leitão à Bairrada e até fazer uma comparação com um bom baga regional!

Abraxas (2)

Do 2002 que foram apenas umas 600 garrafas já a partir de 2007 creio que já foram cerca de 2500 que é o que a parcela do vinhedo (sobre rochas e com um clone especial) pode produzir. Todos com 18 meses de barrica todavia em 2002 foi de 300 litros de primeiro uso francesa e a partir de 2007 se mudou um pouco com a maior parte passando por barricas usadas de 2º e 3º uso de 300 litros e parte em barricas novas de 225 litros todas francesas. Penso que a mudança amansou um pouco a fera! rs

Tenho um amigo leitor que ainda tem uma garrafa 2002. tenho uma confreira que sei ter uma 2007, eu ainda tenho uma de 2011 e a importadora me informa que recebeu a de 2015, acho que pode pintar uma bela degustação vertical aí!! rs Os vinhos do Uruguai, na sua maioria, são realmente diferenciados e vale explorar os bons vinhos de lá, mesmo que estejam algo caros por aqui, para desmistificar um pouco daquele ranço de vinhos toscos, brutos, excessivamente tânicos que ficou por aqui de tempos passados. Como um vinho ícone, o preço está em linha variando entre R$230 a 250,00 em Sampa.

São muitos os produtores, pequenos, artesanais, médios e grandes a serem explorados, aventure-se você também! Um último toque, a safra de 2015 na Uruguai foi considerada excelente, igual ou melhor que a de 2002, então “ojo”! Saúde, kanimambo e seguimos nos encontrando por aqui, na Vino & Sapore ou qualquer lugar que o vinho nos levar. Fui!

 

* Importação Dominio Cassis e disponível nas boas casas do ramo como a Vino & Sapore (rs).

 

 

Tannat, Mais que Uma Uva, Uma Marca de Um País!

Não é de hoje que falo do Uruguai e seus vinhos. Minha relação com esse país nasceu antes do vinho com diversas viagens a seu pólo de moda com ótimos agasalhos e casacos de preços em conta, falo de cerca de 18 anos atrás. Daí comecei a descobrir o lugar e sua gente, especialmente sua gente!

O vinho e a Tannat vieram parar aqui no blog em Abril de 2008, já lá se vão mais de sete anos, quando pouco se falava dessa casta e menos ainda da região, a não ser CAM02344pelos eternos Luis Horta e Didu que já naquela época falavam da revolução vitivinícola que ocorria por lá. O post, clique aqui para ver, está um pouco desatualizado e precisa de uma revisão, mas as informações ali contidas dão uma boa mostra do que acontece por lá nesse mundo regido por Baco. Todo esse preâmbulo para chegar no Tannat Tour que recém visitei, lamentavelmente com pouco tempo para exploração da diversidade de produtores presentes.

Antes de falar do que vi e provei, quero ressaltar o fato de que o Uruguai não é só Tannat, assim como a Argentina não é só Malbec e o Chile só Carmenére e Cabernet Sauvignon! Vale explorar a Petit Verdot, Sangiovese, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Sauvignon Blanc, Torrontés, Albariño e Viognier entre outras castas gerando belos vinhos num estilo mais velho mundista que novo mundo, mais elegantes e finos, de menor teor alcoólico. Tão perto, mas tão diferentes! Tenho montado algumas degustações de vinhos uruguaios em diversas confrarias e a surpresa tem sido enorme, abra a mente e explore esta região vale muito a pena!

Bem, como já disse participei do Tannat Tour e da Master Class onde tive a oportunidade de conhecer alguns grandes vinhos e, como tal, com preços algo altos. Para quem, todavia, só exporta cerca de 5% da pequena produção, é entendível mesmo que não desejada. Alguns destaques:

Bodega Artesana Reserva Blend de Tannat com Zinfandel e Merlot safra 2013 – o braço importador da Enoeventos do Oscar Daudt trás este vinho, o mais em conta entre estes destaques. Pequena produção (1.300 gfas), 22 meses de barrica francesa de nova imperceptíveis e muito bem usada. Blend muito bem bolado e único com a presença surpreendente da Zinfandel, de nariz muito agradável, na boca prima pelo equilíbrio, macio e algo cremoso, muito agradável. R$110,00

Pizzorno Family Estates Primo 2008, Tannat com Cabernet Sauvignon, Merlot e um CAM02346toque de Petit Verdot que sempre faz uma bela diferença, com 24 meses de barrica francesa. Me encantou desde sua atraente e sedutora paleta olfativa e na boca explode em complexidade e riqueza de sabores. Um dos melhores, mas o preço na casa das 400 pratas desanima! Só 2.000 gfas e quando engarrafado já está quase todo vendido, oferta x demanda! Vem pelas mãos da Grand Cru.

CAM02348De Lucca Rio Colorado 2008, mais um blend (não adianta sempre me chamam mais a atenção), desta feita de Tannat com Cabernet Sauvignon e Merlot com 18 meses de barrica sendo 60% francesa e o restante americana. Mais um grande vinho que no nariz me pareceu mais sutil, porém ao primeiro gole mostra a que veio! Muito vivo, marcante entrada de boca, taninos muito finos, elegante, rico, longo um vinho que mostra uma personalidade diferente e se destaca. Preço na casa dos R$280,00 trazido pela Premium.

Prelude Barrel Select 2009 da Familia Deicas, um clássico entre nós já faz anos. Nunca me entusiasmou nem entendia do porquê de tanto auê sobre este vinho. Humm, mudei de ideia! Este 2009, não sei se já tinha antes, leva Petit Verdot e se tem esta casta no corte, pode esperar por coisa boa. Tannat, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Petit Verdot e Marselan passando 24 meses em barrica e uma produção algo maior, já na casa das 24 mil unidades. Nariz potente e complexo, excelente na boca onde mostra uma textura e riqueza de meio de boca marcantes, taninos aveludados, longo, que grata surpresa. Na casa dos 290 Reais e é trazido pela Interfood.

Deixei por último dois puros tannats, um é Clássico e o outro Inovador. De um se produzem cerca de 15 mil garrafas do outro umas 3 mil. Ambos muito bons, mas muito diferentes entre si.

Carrau Amat 2011, de Rivera (morro Chapéu) fronteira com o Brasil, 24 meses de carvalho e mais um em garrafa antes de sair ao mercado, o Clássico, dos quais se produzem algo ao redor de 15 mil garrafas anuais. Sempre um vinho bem feito, irrepreensível , de nariz agradável que convida a taça à boca onde ele se mostra elegante, muito equilibrado, acidez muito bem colocada, gastronômico, como um clássico tem que ser, grande sem ostentação! Trazido pela Zahil, custa ao redor de R$200,00.

Viña Progreso Sueños de Elisa Tannat 2011 do jovem Gabriel Pisano, um inovador emCAM02347 sua bodega experimental. Fermentado em barrica aberta, maceração a frio usando garrafas geladas (!), estágio nas próprias barricas em que fermentou porém agora fechadas, explorando limites! Somente seis meses de estágio em barrica e 3000 garrafas produzidas, gamei e se pudesse …..!! Nariz complexo e intrigante, boca excepcionalmente sedutora com taninos muito bem trabalhados, fino, elegante, sedoso, ótimo volume de boca, um tannat encantandor onde afora os frutos negros típicos da casta aparecem notas terrosas, um vinho inebriante que custa algo em torno de R$270,00 na Vinci que é quem traz essa belezura!

Houve um comentário sobre a dureza dos taninos destes Tannats e a pergunta quanto ao tempo que eles necessitavam para se integrarem e se tornarem algo mais palatáveis? Na verdade creio que esta pergunta paira sobre a cabeça da maioria e aqui vai minha opinião em cima do que o Gabriel respondeu, depende de como você gosta de seus vinhos. Tenho um gosto pessoal por vinhos de bom corpo e estrutura tânica, porém com elegância e taninos sedosos, primando pelo equilíbrio do conjunto fugindo dos vinhos de maior extração e teor alcoólico mais altos, no entanto gostei de todos os vinhos acima mencionados, cada um em seu estilo. Óbvio que se for acompanhar algum prato, aí há que se ter mais cuidado na harmonização, mas achei os taninos, a nível geral, muito bem trabalhados e integrados ao conjunto. Aliás, essa constatação ficou clara nas degustações que promovi com vinhos uruguaios onde até quem tinha resistências se dobrou à prova na taça!

Tendo dito isso, sobrou o vinho mais velho para comentar, o Antologia 2004 de Juan Toscanini que está sem importadora no Sudeste, mas presente em alguns supermercados da região Sul do Brasil. Deste vinho não vem nenhuma garrafa das apenas 2.000 produzidas, então não adianta procurar. De todos os vinhos provados, o mais pesado de todos e, se fosse tomado às cegas, provavelmente seria indicado pela maioria com um dos mais novos em prova. Aqui sim, taninos poderosos, robustos, denso e mastigável, para comprar, se achar, e jogar na adega por mais uma meia dúzia de anos. O mais Madiran de todos.

Cacilda, falei demais! Não que isso seja uma surpresa para a maioria dos amigos leitores,rs, mas é que tinha muita coisa que merecia meus comentários e olha que ainda faltou. Kanimambo e não deixe de se cadastrar na Confraria Frutos do Garimpo clicando no banner aqui do lado. Leia mais sobre esse novo projeto meu no post de ontem.

Sacando Rolhas de Vinhos Uruguaios

Mais uma vez a Confraria Saca Rolha viajou por águas desconhecidas para a maioria, os vinhos do Uruguai. Gosto bastante do estilo dos vinhos deste simpático país, algo mais tradicionais com uma tocada mais europeia do que novo mundista já tendo escrito aqui sobre ele, já faz um par de anos! Não é só de Tannat que o mundo vitivínicola uruguaio é composto, porém nossa experiência deste encontro se debruçou sobre ela e alguns blends onde ela é protagonista. Ainda faremos outras incursões por estas terras, mas hoje a surpresa foi grande, pois ninguém botava muita fé não! Eis o que nossa porta-voz, confreira e amiga tem a compartilhar conosco sobre mais esta gostosa noite!

Quando decidimos escolher os vinhos do Uruguai como tema do nosso encontro, confesso que senti pouco entusiasmo geral da turma, ou mesmo uma postura “burocrática”, como quem pensa: Afinal, temos que conhecer de tudo!

O Uruguai é um país pequeno, que faz fronteira com o Brasil e Argentina. Tem sido destaque na mídia, seja pelo estilo de governo implementado por seu ex-presidente, José Mujica, ou como a nova rota turística que tem atraído muitos visitantes, que agora não mais procuram só cassinos ou praias. Entre polêmicas e excentricidades que caminham na contra mão das altas performances, tecnologia de ponta, consumo sem freios, via-se uma ação mais voltada ao humano, simples e verdadeiro. O fato é que o Uruguai está na moda e o franco desenvolvimento do enoturismo faz parte de tudo isso.

A historia da vitivínicultura no Uruguai começa em 1870, quando os imigrantes bascos trouxeram mudas da cepa Tannat. O clima temperado com influência marítima do Atlântico e do rio da Prata, o solo argiloso e calcário, garantindo a drenagem, os ventos das correntes marítimas dissipando o alto índice de umidade, favoreceram o desenvolvimento das vinhas. Atualmente a Tannat que tem como berço o sudoeste francês (Madiran), é sua uva ícone. Sua principal característica é a tanicidade, por isso o nome, muito presente. Pode-se comparar até com a Baga portuguesa, cuja vinificação exige muito trabalho para domá-la. É sempre um desafio transformá-la em vinhos dóceis e macios.

Chegada a data, já com a seleção dos vinhos feita, partimos para desvendar essa terra ainda desconhecida.
Para preparar as papilas, tivemos o elegante espumante italiano Contessa Borghel Rosé Dry. Sua delicadeza com aromas de rosas e frutas de bosque nos colocou no ponto inicial do que vinha pela frente.

Saca Rolha Uruguai

A principal região produtora, Canelones, fica ao sul do país, próximo à Montevideo. E o primeiro vinho veio de lá: Pisano – Rio de los Pájaros – Tannat 2011.
Sutil no nariz demonstrando alguma fruta e traços defumados. Na boca é bem equilibrado, com boa acidez, taninos macios e bom corpo. Evolui bastante na taça. Fácil de beber.

A região de Carmelo, à sudoeste, tem se desenvolvido muito nos últimos tempos por conta do turismo nos arredores de Colônia do Sacramento. Com pequenos produtores investindo no local, apareceram novas vinícolas e entre elas está a Narbona que tem a assessoria do enólogo Michel Rolland. Narbona Blend I 2013 é um vinho assinado por ele, cujas variedades e safras não são divulgadas (faz parte do marketing). A cor intensa e aromas complexos reforça esse mistério. A princípio aparecem aromas de tabaco e cacau. Depois vai se abrindo num leque intenso e bem amalgamados de frutas em compota, defumados e algo mineral. Na boca tudo isso se confirma com um toque alcoólico que se evidencia, sem atrapalhar o equilíbrio. Muito aromático e longo.

A família Carrau tem grande tradição na produção de vinhos na região de Rivera e em Canelones (39 kms de Montevideo) onde se encontram seus primeiros vinhedos. Rivera, por outro lado, está localizada no centro-norte do país, quase na divisa com o Brasil. Bodegas Carrau – Grand Tradicion 1752 foi uma edição comemorativa aos 250 anos de existência da vinícola. Essa safra, de 2010 mescla as melhores uvas Tannat, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc obtidas no ano. O resultado foi um vinho delicado, com elegância e sutileza. Mostra equilíbrio com taninos muito finos, acidez e corpo médios. Vale ressaltar que durante a degustação ficou a impressão de tratar-se de um vinho inferior. Mas a meu ver ele ficou prejudicado pela forte presença e opulência do anterior. Isso acontece quando comparamos vinhos e mostra que a interferência da situação deve ser levada em conta.

A região de Maldonado, já em direção às praias banhadas pelo Atlântico, bem conhecida pelo turismo próximo à Punta del Leste, também tem se desenvolvido na área vitivínicola. A Alto de la Ballena é uma nova bodega, estabelecida nos anos 2000 nessa área, e teve sua primeira colheita em 2005. Um dos destaques da sua produção nos foi apresentado: Alto de la Ballena – Reserva Tannat/Viognier 2010.
Muito aromático, cheio de flores e frutas. Leve tostado e frescor mineral. Na boca mostrou-se bem equilibrado, com taninos presentes, corpo com muita fruta e acidez que fez salivar. Evolui bem na taça realçando a madeira bem colocada, com especiarias e final herbáceo.

Também da região de Canelones, a Bouza Bodega Boutique se destaca como produtora familiar que investe numa pequena escala de produção em prol de qualidade. Elaborado com 100% Tannat, provenientes de uma única parcela dos vinhedos:Tannat A8 Parcela única 2011.A cor muito escura e a densidade quase sem transparência já chamou a nossa atenção de imediato! Nariz complexo, mostrando sua passagem por madeira, onde os aromas tostados e de especiarias dão abertura para os vários que ainda vieram na sequencia. Quando provamos dava até a sensação de viscosidade, pelo grande volume que apresentava em boca. Os taninos bem presentes, equilibravam-se na mesma proporção com a acidez. Um vinho “musculoso”, potente, que sustentaria muito bem uma refeição com carnes gordurosas, defumados, queijos maturados, etc. Muito bem feito e agradável, apesar da sua robustez, que mostra à que veio.

Definitivamente, acho que aquela pré- disposição de pouco interesse em conhecer os vinhos do Uruguai, caiu por terra com tanta qualidade na taça! O clima propício, continental de influência marítima(que vai desde ao norte do país com verões quentes e invernos muito frios, até à beira do estuário do rio da Prata), já foi até comparada com a mesma situação geográfica existente em Bordeaux. E apesar das comparações, sua história é única, assim como seus vinhos. Seja pela simplicidade de seu povo de alma camponesa, espírito de luta, ou pelas paisagens pampas com horizontes a perder de vista. O desejo de conhecer muito mais esse país que tem nos surpreendido tornou-se maior. E tudo isso por conta do que vimos refletido dentro daquelas garrafas.

Harmonizando Carnes & Vinho ás Cegas – Resultado Surpreendente

          Adoro desafios ás cegas! Nessas horas, sem influência de preço ou rótulo mergulhando no desconhecido é que se quebram paradigmas e preconceitos enraizados em nosso consciente. Num grupo de dez pessoas muito “fixes”, nos dirigimos à Cabana del Assado Granja Viana para um prova que, aparentemente de resultado mais ou menos previsível, não nos induzia a esperar grandes surpresas. No mesmo prato, um corte de bife de chorizo, um de bife ancho e dois carrés de cordeiro, muito bem feitos, que confirmam a fama que as carnes deste simpático restaurante de inspiração argentina ganharam em tão pouco espaço de tempo. Na frente, três taças com três vinhos diferentes, um Melipal Malbec 2006, um Menendez Mendez Tannat  Reserva Alta 2008 e um vinho surpresa que prometi colocar na prova. Qual o melhor vinho? Qual a melhor harmonização?

              Bem, antes de falarmos dessa  prova falemos da introdução desse agradável encontro promovido pela Vino & Sapore. Para começar, nos reunimos na loja, a cinquenta metros do restaurante, para um brinde com o gostoso e fresco Norton Brut Cosecha Especial. De garrafa muito bonita, um verdadeiro charme, e caldo muito fresco, este espumante mostra que mesmo a preços bem camaradas os argentinos estão chegando e os produtores nacionais que abram os olhos! Chegando ao restaurante, onde fomos muito bem recebidos por toda a equipe do salão com destaque para o Esmeraldo com um serviço muito atencioso e eficiente, iniciamos com um “aquecimento” para o Desafio que estava por vir, nos deliciando com costelinhas de porco na brasa acompanhadas de um vinho que faz a minha felicidade nestes momentos, o Varanda do Conde, vinho verde português elaborado com um corte de Alvarinho e Trajadura, harmonização esta que aparentemente foi bem sucedida e aprovada pelos presentes, mesmo não sendo lá muito costumeira. Aliás, apesar de achar que feijoada casa mesmo é com caipirinha, tentem harmonizá-la com este mesmo vinho, o resultado, mais uma vez, surpreende. A foto esqueci de tirar na hora, mas esta é de um domingo em casa, delicia!

          Voltemos ao Desafio. Não vou aqui ficar descrevendo o Malbec (este 2006 ainda melhor que o 2005) e o Tannat , pois ambos já foram por mim comentados aqui no blog  (siga os links) e, mais uma vez, demonstraram ser vinhos de grande qualidade que, ao preço de R$65,00, demonstram claramente de que não se necessita gastar rios de dinheiro para beber bons vinhos. O que foi muito interessante foi ver o resultado do grupo que deu ao vinho 3, o surpresa, a liderança como melhor vinho numa análise solo, sem comida, mesmo havendo um certo equilíbrio entre os três. Cinco pessoas preferiram o 3, três pessoas o 1 e duas pessoas o 2.

            Quando colocamos os vinhos junto com as carnes, o vinho 3 mais uma vez se destacou apresentando-se mais versátil harmonizando melhor com a maioria das carnes. Frutado, taninos finos presentes, corpo médio, boa estrutura com acidez no ponto, equilibrado e muito rico combinou bem com a untuosidade das carnes em geral sem se sobrepor ás carnes mais suaves e encarando de frente o bife de chorizo. Pessoalmente achei que cada vinho se deu melhor com uma carne especifica; vinho 3 com bife ancho, 1 com carré e 2 com o bife de chorizo, mas tenho que concordar que na média o 3 acabou se dando melhor. Agora, imagino que você já esteja curioso para saber que vinhos são o um e dois então aqui vai; o 1 foi o Tannat e o 2 o Malbec, por sinal dois vinhos de muita qualidade a preço bem razoável. O vinho 3, consequentemente, foi nosso surpresa, o Dom Rafael 2008, vinho alentejano produzido pela conceituadíssima Herdade do Mouchão, pisa a pé e um blend de Alicante Bouschet, Trincadeira e Aragonez que custa apenas R$53,00.

        Mais uma vez um monte de paradigmas quebrados; boa harmonização de carne com um vinho branco, gente que não compraria um Tannat surpresa porque foi o vinho que mais lhe agradou, o vinho de menor preço foi o ganhador e …..nem Malbec nem Tannat, deu Alentejano na cabeça! Gostoso exercício de harmonização com carnes que mostrou que nem tudo o que aparenta ser óbvio, efetivamente o é.

         Melhor de tudo, a harmonização perfeita entre os participantes deste gostoso evento. Como sempre digo e insisto, a perfeita harmonização ocorre quando vinho, prato, momento e pessoas conseguem se  unir e criar entre elas um forte elo propulsor que faz com que a aritmética seja colocada de lado e a soma das partes seja exponencial. Neste sentido, sucesso total e os nossos agradecimentos a todos que transformaram um mero exercício de degustação num momento muito especial.

Salute e kanimambo.

Ps. Sugestão para o próximo sábado; almoço na Cabana del Asado e compra de vinhos na Vino & sapore , eh/eh!

Malbec ou Tannat no Churrasco?

            Para quem está menos embrenhado nos segredos de nossa vinosfera, fica a impressão de que a Malbec é uma uva argentina e a Tannat uruguaia. Ledo engano, pois as duas se originam na França e daí saíram para o mundo tendo se tornado ícones da vinicultura nestes dois países. A Malbec é originária da região de Cahors sendo também uma das cepas autorizadas a fazer parte do corte bordalês, apesar de pouco usada, tendo encontrado em seu novo habitat, Mendoza/Argentina, sua Shangrila! A Tannat, por outro lado, nasceu no Madiran onde ainda se elaboram potentes vinhos de longa guarda, para mostrar-se em toda a sua plenitude no nosso vizinho Uruguai. Os vinhos tannat do Uruguai ainda são meio desconhecidos do grande publico, mas estes varietais ou blends com merlot, vêm gradativamente ganhando destaque na mídia especializada e espero que façam rapidamente a transposição para sua taça.

        Pergunte para um uruguaio e ele certamente lhe dirá que não tem nada como tannat para fazer companhia a uma boa carne. Já os argentinos, estes juram que a Malbec gera vinhos que têm tudo a ver com sua carne! Achei que estava na hora de conferir isso e no fim de semana fui a um churrasco na casa de um amigo com duas garrafas de baixo de braço; um Alta Reserva Tannat da Gimenez Mendez e um  Malbec  Reserva Tomero da bodega Vistalba.  Na churrrasqueira, os amigos Márcio e Raffa preparavam alguns cortes deliciosos que faziam antever um grande embate entre esses dois vinhos. Tinha costela de cordeiro, maminha, costela de porco com mostarda, picanha, enfim um verdadeiro pitéu que prometia! Sem bairrismos, somos neutros (um português e dois brasileiros), abrimos as duas garrafas e nos deixamos levar nas ondas dos mais intensos sabores.

           Com o cordeiro não teve nem graça, o Gimenez Mendez literalmente arrasou seu adversário combinando taninos firmes, mas elegantes com nuances terrosas e riqueza de sabores que harmonizou muito bem com a carne de gosto mais forte. O Tomero com seus 14.6% de álcool, taninos macios, doces e fruta compotada, não foi páreo. Porém, ainda tínhamos outras carnes a provar e vinho a tomar, a batalha mal começava!  Com a maminha, de sabores mais delicados, o Tomero mostrou suas armas mostrando-se mais equilibrado, mas na picanha e costela dançou de novo. Neste encontro, com estas carnes e estas pessoas, deu Gimenez Mendez na cabeça, mas faça você seu próprio juízo. No próximo churrasco, leve seu Malbec, mas não esqueça de colocar um Tannat na bagagem, você pode se surpreender!

Salute e kanimambo pela visita

Um Tinto Uruguaio de Respeito, Abraxas 2007.

                 É, nesta última Quarta fiz um suspense para falar deste vinho, porém aqui estou para o comentar, um senhor vinho. Daqueles que vestem fraque e cartola com eximia destreza e elegância apesar de um porte musculoso e viril. Abraxas, um vinho elaborado com 100% do melhor tannat plantado em Rocha, no norte do Uruguai já próximo de Punta Del Este.

Encorpado, grande estrutura, teor de álcool aquém do esperado com somente educados 12,5% que nos permitem passar da terceira taça! E olha que dá fácil para isso, uma pena que não tivesse um belo pedaço de bife ancho para acompanhar, pois seria divino. Frutos negros no olfato, como a cor que insiste em tingir a taça com laivos violeta, e terroso. Na boca explode numa complexa sinfonia em que prevalece o equilíbrio. Taninos aveludados de muito boa qualidade, rico, untuoso e sedutor com a madeira já bem integrada, denso, final longo em que aparece algum moka com toques de especiarias. Talvez não possua a mesma capacidade de guarda do 2002 que ainda está pujante, porém talvez seja mais rico em sabores e mais harmonioso, um conjunto mais cativante e apetitoso para ser curtido e apreciado sem pressa, mais do que meramente bebido.

              Realmente é de tirar o chapéu para o que os enólogos fazem por lá com essa uva.  Seus vinhos premium estão num patamar de grande qualidade e este não nega a raça. Um dos bons rótulos nesta gama de qualidade a um preço abaixo da média o que o faz saber ainda melhor, eheh! Acha-se por aí na faixa dos R$100,00 e este eu recomendo como um belo custo x beneficio que certamente faria alguns dos bons vinhos do Mandiran enrubescerem. Importado pela Dominio Cassis, sei que na Portal dos Vinhos tinha e também terá na Vino & Sapore, uma no Morumbi em Sampa e a outra na Granja Viana em Cotia. Ah, ia-me esquecendo, a garrafa é poderosa e, nas mãos erradas, pode virar uma arma letal. A bichinha deve pesar uns 5 kgs!!!!!!!

Salute e kanimambo

Carrau na Zahil

                 Andei participando de algumas interessantes degustações as quais gostaria de compartilhar com os amigos. Para dar inicio a Carrau0001esta seqüência, quero começar pela Carrau, um dos bons produtores uruguaios que recentemente nomeou como seu exclusivo importador a Zahil. A Carrau é repleta de história sendo fundada em 1930 por emigrantes catalães vindos de Barcelona onde a família já produzia vinhos desde 1752. No Uruguai, produzem em duas regiões; Em Canelones (Lãs Violetas) e em Cerro Chapéu (fronteira com o Brasil) de onde vem um dos mais conhecidos e laureados rótulos de tannat uruguaio, o Amat; elaborado com cepas vindas de vinhas de baixo rendimento com apenas 5.000kgs por hectare. Dos cerca de um milhão de garrafas produzidas, 75% é de tannat. Alguns projetos interessantes são; o da nova bodega em Cerro Chapéu com um eventual novo vinho binacional e um Merlot Reserva.

         Da linha Cepas Nobles, gama de entrada, são vinhos simples fáceis de beber sem grande complexidade, nem se propõem a isso. Melhor o Tannat 2006 que passa 9 meses em barril, e é uma boa introdução aos outros rótulos do produtor. Saboroso, equilibrado, amistoso um vinho correto sem arestas e fácil de gostar.

         O Tannat de Reserva 2006 é um vinho que passa por 18 meses de carvalho e ainda se mostra um pouco fechado, de boa estrutura mostrando a tipicidade muito característica dos bons tannats da região. Para quem não quiser gastar muito e tomar um bom tannat uruguaio, esta é uma das boas opções no mercado por cerca de R$52,00. Eles não estão trazendo o Cabernet Sauvignon, mas tive o prazer de o tomar em viagem que fiz a Colônia de Sacramento e  também foi um vinho que me agradou bastante.

         O Amat 2004 é um vinho ainda criança apesar de seus já cinco anos e não é a toa que é um dos mais premiados vinhos uruguaios. Um grande vinho que mostra bem a qualidade da tannat assim como a capacidade dos produtores uruguaios em trabalhar esta uva. Foi, no entanto, pelo Carrau carrau pujolPujol Grand Tradicción 2004, um soberbo corte de tannat/cabernet sauvignon e cabernet franc, que me encantei. Algo resinoso no nariz é na boca que mostra todo o seu esplendor e elegância. Complexo, equilibrado, taninos finos e boa acidez compõem um dos melhores assemblage elaborados no Uruguai e, a partir de agora, sério candidato à minha lista de melhores deste ano. Ainda por cima possui uma tremenda relação Qualidade x Preço x Satisfação. Grande pedida por R$82,00 e a minha principal recomendação dos vinhos da Carrau. Quer conhecer mais da história deste grupo familiar (10º geração), acesse seu site clicando aqui.

Salute e kanimambo.

Comemorando (mais um) Aniversário.

Cisplatino Torrontés 07, Chateauneuf-du-Pape 01 e para finalizar um Etchart Torrontés Late Harvest, eis os acompanhamentos de meu jantar de celebração de um ano do primeiro post deste blog, dia 17 de Dezembro. O bom é que não faltam desculpas nem momentos para me tratar bem. Ao longo do ano tenho o aniversário da coluna, do primeiro post, do blog, o meu (tá chegando), de casamento, dos filhos, Páscoa, Natal , Reveillon …. e por aí vai!

Um dos pratos que mais curto é Strogonoff de Filé ao qual agregamos meio cálice de aguardente velha, pode ser conhaque, quase ao final do preparo, antes de acrescentar o creme de leite. Fica divino e é um prato relativamente fácil de harmonizar como mais uma vez ficou comprovado neste gostoso jantar. Mas falemos dos vinhos que é por isso que você clicou aqui.

 

niver-blog-081 Cisplatino Torrontés 2007, um belo achado pelo preço. Um vinho de qualidade produzido pela Pisano/Uruguay e, em se tratando de uma gama de introdução á boa e extensa linha de rótulos desta vinícola. Vinho direto, franco de grande frescor e tipicidade da casta, um pouco quente o que sugere um teor de álcool um pouco alto. Não de grande complexidade, nem se propõe a isto, porém é muito agradável e com um saboroso final de boca, um vinho honesto e correto. Acompanhou bem a lula à doré com molho tártaro que servi para abrir o apetite. Quando o comprei por R$19,00 era uma grande pedida, hoje está por R$33,00 na Mistral. Uma pena!

 

 

Chateauneufu-du-Pape Domaine de La Charbonniere Cuvée Vieilles Vignes 2001. Fazia tempo que não apreciava um Chateauneuf-du-Pape em todo o seu esplendor. Tomei uns goles de um muito bom Chateau La Nerthe, lá na Vinoteca Santa Maria, e um Vieux Telègraphe Telegramme mas é diferente você tomar a garrafa. Calma, éramos três! Um belíssimo vinho que comprei nos Estados Unidos há uns três anos por cerca de USD30. Ótima estrutura, muito bem  equilibrado, grande complexidade aromática que se confirma na boca. Vinho carnoso, denso, boa fruta madura com toques de especiarias, muito boa estrutura e acidez, taninos macios e aveludados. É um clássico que demonstra muita classe e um final de boca algo mineral e muito longo. Quando perdeu temperatura o seu alto teor de álcool apareceu um pouco mas não chegou a incomodar. Pelo que vi não é importado, o que provavelmente o inviabilizaria á minha mesa, e já deixou saudade! Engrandeceu o prato tendo me deixado imensamente feliz.

 

 

Etchart Torrontés Late Harvest 2005, foi uma agradável companhia para uma salada de frutas com sorvete de creme, porém não chega a encantar. Para o meu gosto pessoal, carece de acidez o que o deixa um pouco doce demais, porém é bem feito, saboroso e fácil de tomar, boa intensidade aromática com forte presença floral e boa tipicidade da casta. Preço no mercado (Sampa) por volta de R$35 a 40,00.

 

Salute e kanimambo.

Me Dei Bem, Muuuiiiiito Bem!

È, não é sempre que a gente tem o prazer de só tomar belos vinhos durante a semana que, neste caso, foi de dez dias! Realmente me dei bem, os vinhos tomados me encheram de prazer e satisfação e tenho que compartilhar esse prazer com os amigos de Falando de Vinhos.

 

  • Quinta de Giesta Rosé 2006, lá se foi minha última garrafa e, lamentavelmente, a Lusitana não trará mais este vinho. Uma delícia refrescante elaborada com Touriga Nacional, a emblemática cepa Portuguesa que nos presenteia com aromas inesquecíveis de flores do campo e frutas vermelhas frescas, framboesas, morangos. Cor linda meio rosa puxando para salmão escuro, macio na boca com toques acentuados de groselha, levemente adocicado, mas seco. Normalmente um belo aperitivo, este acompanhou divinamente um lombo de porco agridoce. Vai deixar saudades e, quem achar por aí, pode comprar. É satisfação garantida. Já tenho dois candidatos a substituir esta preciosidade, Fausto Rosé de Merlot e o Goats do Roam Sul Africano. O preço deve estar por volta de R$30,00. $
  • Melipal Malbec 2005, tinha dado um tempo nos Malbecs e voltei em grande estilo. O vinho estava absolutamente redondo, com taninos finos e aveludados, carnoso, médio corpo, boa textura, muito equilibrado e um longo, macio e saboroso final de boca com alguma mineralidade. Num nariz de média intensidade, a tipicidade da Malbec com boa fruta, e nuances de especiarias. Um vinho literalmente suculento por cerca de R$53,00 na Wine Company ,que é quem importa os vinhos desta Bodega relativamente nova no mercado. Certamente um vinho que, também pelo preço,  voltará a freqüentar minha mesa muito em breve. Belo e imperdível exemplar de Malbec $
  • Bouza Tannat/Merlot 2006, um vinho que é um porto seguro e, na minha opinião, um dos melhores Tannat/Merlot do mercado. Começamos o almoço de Dia dos Pais com esta garrafa que um amigo me trouxe do Uruguai, mas que é trazida pela Decanter, e não podia haver início melhor. Com uma pequena produção de somente 14.000 garrafas e 9 meses de barrica, é um vinho extremamente agradável de bouquet complexo em que aparecem frutas silvestres, algo de baunilha. De corpo médio, apresenta a exuberância do Tannat Uruguaio devidamente temperado com a maciez do Merlot, muito harmônico e redondo com taninos doces e muito saboroso. Na Decanter, que traz toda a boa linha da Bodega Bouza, por cerca de R$74,00.
  • Duas Quintas Reserva 2001, um grande vinho do Douro elaborado com cerca de 70% de Touriga Nacional, um bom sinal, e Tinta Barroca passando seis meses em pipas de carvalho novo e dois anos descansando na adega. Divino! Este foi meu segundo vinho do almoço de Dia dos Pais, e me deixou nas nuvens. Tirei-o da adega, tinha trazido de uma viagem, e confirmou todas as impressões de um 99 que tinha tomado há uns dois anos. Um vinho que encanta no nariz, em que aparece uma fruta bem dosada com toques florais que encantam, e se confirma na boca com nuances de baunilha em grande elegância,com taninos redondos, fruta madura, bom frescor, final de boca aveludada, saborosa e longa persistência. Se existe um vinho sedutor, este é certamente um desses belos e fabulosos exemplares que literalmente encanta quem o toma. Não sei o preço, mas deve rondar os R$200,00 e a importadora é a Épice.
  • Quinta Nova LBV 2003, o ápice de meu almoço e um Graaande LBV! Já estava aberto há uns três ou quatro dias e matamos a metade que sobrara. Talvez o Vinho do Porto mais próximo de um Vintage, que eu já tenha tomado. Perfeitamente equilibrado, denso, rico, cremoso, amplo, absolutamente redondo com taninos macios e aveludados, bom frescor e muito, mas muito saboroso. Na cor e no nariz mostra boa intensidade com forte presença de fruta vermelha madura e nuances de chocolate muito bem harmonizado. Um LBV de primeiríssima, cativante e encantador! Na Vinea Store por R$122,00 e vale cada gota do doce néctar! 

A partir de amanhã, se iniciam os posts de Boas Compras disponibilizadas por nossos parceiros. Bas dicas para aproveitar com seu pai, neste mês especial de Dia dos Pais. Salute e kanimambo.

 

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