Oito Anos Falando de Vinhos e Alguns Destaques – Brasil III

Neste primeiro lote de Destaques destes últimos oito anos dedicados aos vinhos do Brasil, os espumantes teriam que obrigatoriamente estar presentes e com eles termino esta série. Temos bons vinhos tintos, porém é nos espumantes que o vinho brasileiro se projeta internacionalmente como, em minha modesta opinião, a quarta força mundial no quesito Quantidade com Qualidade. São inúmeros os bons rótulos, porém dois vinhos são especiais, o Orus Rosé do Adolfo Lona e o Geisse Terroir Nature do Mário Geisse ambos conceituados enólogos com anos de serviço prestados ao desenvolvimento do espumante nacional.

DSC03152Orus Pas Dose Rosé– O provei pela primeira vez em 2011 num evento promovido pelos amigos de longa data e blogueiros, Evandro e Francisco (2 Panas). Postei o que segue; “um espumante rosé nature apaixonante, de pequena produção e uma incrível delicadeza! Daqueles caldos que deveriam vir, como costumo definir, de fraque e cartola para a mesa. Uma surpreendente criação de alguém que tem história na vinicultura tupiniquim, o Sr. Adolfo Lona, é o ORUS Pas Dose Rosé! A cor já impressiona saindo fora daqueles tradicionais tons rosados e cereja, para algo mais sutil. Visualmente a perlage se mostra muito fina, abundante e consistente nos convidando a levar a taça á boca onde ele se mostra em todo o seu esplendor deixando-nos sentir estrelas no céu da boca. Elegante e fino, rico, equilibrado, complexo e sedutor, um rosé que conseguiu desbancar vinhos de maior renome e preço. Corte de Chardonnay, Pinot Noir, Merlot vinificado em branco e Merlot vinificado em rosé. Doze meses em contato com as leveduras e mais doze descansando em garrafa e somente 608 garrafas produzidas, ou seja, mais uma daquelas raridades para poucos e entusiastas amantes do doce néctar.” De lá para cá já andou por diversas vezes em minha taça e nos meus posts, só confirmando a minha primeira impressão sobre este que se tornou um clássico dos espumantes nacionais e a cada ano estou lá na fila esperando algumas das poucas (não chega a 700) garrafas produzidas.

DSC03123Cave Geisse Terroir Nature 2009 – mais um nature, desta feita branco, e mais uma maravilha engarrafada. Já o conhecia de velhos carnavais, mas sempre achei que o Nature “básico” deles já era muito bom e que este não merecia as glórias que lhe atribuíam. Este da safra 2009 no entanto, me virou a cabeça e mostrou que é realmente um grande espumante que, entre os brancos, é a meu ver o que mais se destaca nacionalmente mesmo havendo alguns fortes concorrentes no mercado. Em Novembro de 2013 o coloquei numa degustação às cegas com mais outros sete concorrentes entre eles alguns grandes espumantes das regiões de; Champagne, Franciacorta, Cava e Trento tendo o Terroir Nature ganho a degustação na opinião de 23 consumidores que estiveram presentes ao evento. A produção não passa das sete mil garrafas e é um corte de meio a meio (varia em função das safras) do melhor Chardonnay e Pinot Noir do vinhedo localizado em Pinto Bandeira. Tremendamente sofisticado, com uma perlagem fina, intensa e de longa duração que explode na boca com notas de macã verde, citrinos e alguma levedura, o famoso brioche, sutil, delicado, fino e sedutor, um grande espumante que deixa muito champagne famoso no chinelo.

            Ambos os vinhos estão na casa dos 125 Reais, metade de alguns importados renomados, porém ainda tem gente insistindo em beber marca, que pena porque estão perdendo preciosos caldos, trocando qualidade e prazer por pretenso glamour! Enfim, hoje é Sexta, “the day after” a abertura da copa e por um mês só se vai falar disso, mas não aqui, porque navegar é preciso. Um ótimo fim de semana para todos e nesta Segunda (16/06) todo mundo de olho em Salvador quando Portugal e Alemanha protagonizam a final antecipada da copa! rs Salute e kanimambo.

Oito Anos Falando de Vinhos e Alguns Destaques – Brasil II

Nesta semana me dediquei a dar os destaques brasileiros destes últimos oito anos de labuta e estudo de nossa vinosfera. Como disse anteriormente, os destaques não tratam necessariamente dos melhores vinhos (esses listo todos os anos), mas sim daqueles que conseguiram me surpreender e deixaram marcas em minha memória. Hoje quero compartilhar com vocês alguns rótulos a mais dos vinhos brasileiros que tive o privilégio de provar; Quinta do Seival Castas Portuguesas – Dal Pizzol Touriga Nacional – Churchill Cabernet Franc e Storia 2005. Esses quatro marcaram bem minha trajetória destes anos de escriba do vinho, porém o Dal Pizzol há muito não provo (2008!) e preciso revê-lo.

Dal Pizzol Touriga      Dal Pizzol Touriga Nacional 200 Anos, Safra 2007 – Em 2008 tive a oportunidade de estar presente no lançamento deste vinho no conceituado restaurante português, Antiquarius aqui em São Paulo. ” Esta foi a primeira colheita desta uva plantada em 2002 pela Dal Pizzol na região de Bento Gonçalves, gerando um vinho muito agradável que chega num momento oportuno já que se estava celebrando 200 anos da vinda da corte Portuguesa para o Brasil, na bagagem de quem, vieram as primeiras garrafas de Touriga Nacional. Com uma produção de 12.000 garrafas, o Dal Pizzol Touriga Nacional não passa por madeira sendo um vinho pronto para beber. No nariz, possui um primeiro ataque frutado e fresco de boa intensidade. Na taça evolui deixando aparecer alguns toques florais bem típicos da casta. Na boca é suave, elegante, com taninos maduros e um teor de álcool bem comportado, 13º. Bastante equilíbrio e harmonia num vinho leve que, certamente, agradará fácil. Mudou o terroir, mas a essência da uva está lá. Gostei; um vinho correto, fácil de beber que recomendo. O rótulo comemorativo aos 200 anos, é um caso á parte, de muito bom gosto, nos convidando a levar a taça á boca.” Na época foi lançado a R$35,00 a hoje, pelo que pude pesquisar, anda na casa dos R$55,00. Provei numa degustação ás cegas em 2011 e foi bem em minha opinião, tendo se colocado entre os top 5 entre 18 concorrentes presentes à prova.

Quinta do Seival Castas Portuguesas – Sai ano entra ano, um vinho confiável, de preço médio que castas 2005surpreende os mais incautos e o meu amigo e enólogo Miguel de Almeida tem grande responsabilidade por isso. O primeiro que me surpreendeu foi o da Safra de 2005, provado em 2009, um corte de Touriga Nacional, Alfrocheiro e Tinta Roriz produzido pela região de Campanha, próximo da fronteira com o Uruguai. Surpreendente e prova inequívoca da melhora de qualidade dos vinhos brasileiros. Frutos negros maduros com algo resinoso no nariz, madeira bem colocada, fruta passa, bem estruturado com taninos finos, equilibrado, saboroso com um final de boca agradável e de boa persistência em que se manifestam nuances herbáceas. De lá para cá o Alfrocheiro ficou fora, mas segue sendo um vinho que agrada sobremaneira e às cegas surpreende muita gente, tendo participado de um Desafio de Vinhos portugueses como intruso e conseguido o 8º lugar entre 14 rótulos na disputa. Meus amigos blogueiros portugueses, Pingas no Copo e Copo de 3, não me deixam mentir, o vinho mais próximo de um Dão feito fora da região! Creio que na época andava na casa dos R$45 e hoje perambula na casa dos 60 Reais.

DSC06414          Churchill Cabernet Franc – este comecei a tomar faz uns três anos e não mais consegui parar. O 2006 (600 gfs) estava divino, o 2008 (1500 gfs) repetiu a dose e o 2011 (3000 gfs) não negou fogo, porém agora temos que aguardar chegar o 2012 pois as outras safras se esgotaram! Ano passado na revista Gowhere Gastronomia o indiquei como o melhor vinho nacional da atualidade, sempre levando em consideração o preço obviamente! Um projeto de Nathan Churchill com a Valmarino, é um “vinho complexo de boa textura e nariz muito interessante em que frutos negros e notas tostadas dão suas caras com grande intensidade formando uma paleta olfativa sedutora. Mais para encorpado, este 2008 está muito jovem e precisa de uma de aeração para mostrar todo seu potencial e uma temperatura mais para alta, em torno dos 19 a 20º C.” Foi isso que disse em Janeiro de 2012 e não mudaria uma palavra sequer ao falar do 2011 que chegou a harmonizar com galhardia um bom Queijo da Serra português! Um belo, complexo e elegante vinho que deve melhorar muito com o tempo, pena que não consigo lhe dar esse tempo(!), e custa por volta dos R$85,00. Aguardo ansioso pelo 2012!

Storia 2005 – O vinho que que me ajudou a quebrar alguns paradigmas com relação aos vinhos brasileiros e, Storiavejo assim, também um marco de mudança mercadológica nos vinhos da Valduga que mudou radicalmente seu marketing e design a partir desse vinho. Foi marcante porque ás cegas levou muitas degustações de porte contra vinhos de igual valor ou superior de várias partes do mundo. De lá para cá degustei mais duas safras, a de 2006 e a de 2008, porém não me pareceram à altura do 2005 que virou cult e objeto de colecionadores que hoje chegam a pagar, pelo menos quem tem é isso que pede, valores entre R$400 a 500 a garrafa. Um grande Merlot que provocou na concorrência uma corrida para produzir similares vinhos premium mostrando que esta uva pode gerar, sim, grandes e longevos vinhos. Em 2009 escrevi sobre ele; “Complexo nos aromas, fruta madura, capucino, algo floral entrada de boca marcante, denso, fruta compotada, taninos doces em total equilíbrio com a boa acidez deixando-o redondo, rico, aliando potência e elegância num final de muito boa persistência com notas achocolatadas e de café.”

Com estes quatro vinhos finalizo os destaques de vinhos tranquilos brasileiros, mas não sem antes ressaltar um rótulo para ficar de olho a despeito do preço, o Pizzato DNA 99 da safra 2005, vinhaço, que é um outro vinho candidato a se tornar um épico e um vinho a ser acompanhado através das safras. Existem outros bons rótulos nacionais e aqueles que se destacam por sua grande qualidade, porém sua política comercial eleva o preço às alturas e esses casos eu exclui, não acho que façam o mínimo sentido! No próximo post sobre estes destaques brasileiros dos últimos 8 anos, dois espumantes que para mim são, na atualidade, o que de melhor se faz por estas terras. Até lá, salute e kanimambo.

Oito Anos Falando de Vinhos e Alguns Destaques – Brasil I

Apesar de há décadas ter sido seduzido pelos mistérios e sabores dos caldos de Baco, faz somente cerca de oito anos que iniciei minhas escritas sobre a nossa vinosfera, uma forma de compartilhar com os amigos leitores os conhecimentos que ia adquirindo com essa experiência. O blog veio um pouco depois, há pouco mais de sete anos, e de lá para cá foram mais de 1.450 posts e, mais importante pois a interatividade me encanta, mas de 7.000 comentários. Tem sido uma viagem muito agradável e espero que os amigos leitores tenham apreciado esse período tanto quanto eu.

Não sou de ficar contando os vinhos provados anualmente, mas ao longo destes anos de maior convívio com o tema certamente mais de 4.000, muito vinho passou em minhas taças e com isso aprendi demais. Entre esses vinhos, alguns ganharam um destaque especial e neste mês de Junho vou compartilhá-los com você. Certamente tomei vinhos melhores, mas para ser destaque para mim há que surpreender de uma série de formas, então estes me marcaram e deixaram profundas marcas na memória independentemente de nome, origem ou preço. Começo pelo Brasil de onde selecionei uma meia dúzia de rótulos e hoje relembro este:

Minimus Anima 001Minimus Anima 2005, vinho de Marco Danielle do projeto Tormentas. Tenho que confessar que quando o comprei movido por mera curiosidade, não tinha idéia do que me esperava. Se soubesse no momento da compra o que sei hoje, posso garantir que minha compra não se teria limitado a só uma garrafa deste doce néctar. Fazia tempo que não tomava um vinho que mexesse com minhas emoções como este mexeu e, ainda mais porque sei que desta safra não há mais e a de 2007 não tem a mesma composição de uvas. Não me lembro quanto paguei há época, creio que uns R$60 e se ainda o encontrasse a esse preço, algumas garrafas compraria, porém lamentavelmente para nós, esse está esgotado como aliás ocorre costumeiramente com as poucas garrafas de cada rótulo produzido por este artesão do vinho. Não é o vinho top do produtor, mas é um vinho surpreendente e apaixonante que me seduziu por completo tomei a garrafa todinha! Tá certo, foi de um dia para o outro e minha esposa deu uns dois ou três goles, mas foi só. Que vinho! Difícil ser muito objetivo ou tentar tecer análises mais técnicas, pois o vinho fez tudo aquilo que um vinho deve fazer com quem o toma, mexer com suas emoções e deixar um rastro de prazer no olfato, na boca e na memória. No nariz, foi abrindo devagar, mostrando aromas complexos de fruta madura, rosas e, talvez, algo de couro, mas foi na boca que ele efetivamente me seduziu. Bom volume, corpo médio, redondo com taninos muito finos e elegantes, grande riqueza de sabores e um final de boca algo herbáceo, extremamente prazeroso e longo. Um vinho diferente com uma personalidade muito própria, daqueles que acabam rápido e deixam uma eterna saudade. Este vinho tem algumas peculiaridades, entre elas o fato de ser elaborado com 70% de Cabernet Sauvignon colhida quase que em processo de passificação na safra de 2005 tendo sido cortado com Alicante Boushet da safra de 2006. Um vinho brasileiro diferenciado que merece um destaque especial e que provei em meados de 2009. Estou com uma garrafa do 2008 guardada na adega que reluto em abrir com medo de quebrar o encanto que foi essa experiência com o 2005, mas em breve tomarei coragem, até lá!

Salute, kanimambo e uma ótima semana para todos.