Mendel semillon

Semillon e Risoto de Camarão

Me dando bem! Ando na fase de harmonizar, não que seja uma fobia, mas como gosto de tomar vinho ás refeições (especialmente aos Domingos) tento sempre fazer com que haja uma certa harmonia entre prato e taça! rs Ás vezes dá certo, outras não, mas  me divirto sempre até porque a companhia é sempre muito boa e valoriza o todo, mas que quando acerto me divirto mais, isso não posso negar.

Eu e minha loira estávamos só e decidimos nos tratar. Achei uns camarõezinhos de bom preço, o vinho já estava na geladeira, e optei por por um singelo risoto com um leve toque de brie na finalização. Ficou bom o danado do prato e quase não sobra para meu almoço de Segunda! Ainda bem que exagerei na dose, porque quase que me ferro!! rs

A esta altura os amigos já estão perguntando, mas esse tuga não vai falar do vinho?? Calma, vou sim, mas como diz o ditado, ” o apressado come cru”! Gente, tinha na geadeira aguardadno um momento destes um Mendel Semillon, do qual somente umas 10 mil garrafas são produzidas por safra e que é uma obra prima do Roberto de La Mota, um dos grandes enólogos argentinos. Já o destaquei aqui no blog como um dos melhores vinhos brancos argentinos e, mais uma vez, não negou fogo não, um vinho marcante de personalidade própria que a Expand traz ao Brasil.

mendel-semillon-e-risotoA Semillon já foi mais presente na Argentina,de acordo com a Wines of Argentina, “a casta é amante dos climas frescos e moderados, existindo somente dois lugares no país onde dá bons resultados: no Valle de Uco (Mendoza) e no Valle de Río Negro (Patagônia). Trata-se de um vinho seco, equilibrado, de bom corpo e sabor de notas frutadas. Em Cuyo adquire nuances aromáticos de frutas brancas com um interessante toque de mel, ao passo que na Patagônia aparecem toques de maçãs e terra. Em ambos os casos, evolui muito bem em garrafa até formar complexos nuances olfativos”. Roberto de la Mota explica assim do porquê ter elaborado este vinho; “lo primero que destaco es el valor histórico del varietal para la vitivinicultura local. El Semillón llegó al país junto con el Malbec de la mano de Michel Pouget y no tardó en convertirse en una de las cepas más cultivadas. su principal virtud son sus aromas y sabores sutiles ideales para definir equilibrio. Si bien en Argentina la historia la ubicó en el mismo lugar y más tarde como componente vital para los espumosos locales, hoy la apuesta es por varietales tranquilos.”

Neste caso falamos de uvas do Valle do Uco, vinhedos de mais de 70 anos plantados em pé franco, sendo que de quinze a vinte porcento do vinho passa em barrica por uns seis meses, que é o que lhe dá a untuosidade porém sem cobrir o frescor e a fruta muito presentes. Floral (frutos secos) nos aromas, meio de boca rica, fresco, médio corpo e muito boa persistência com uma acidez muito bem balanceada. A untuosidade do vinho bateu muito bem com o toque de brie do risoto enquanto seu frescor “maridou” perfeitamente com os camarões grelhados.

Enfim, mais um dia de privilégios apesar da fase difícil que atravessamos e são estes momentos que fazem a vida valer a pena depois dos sessenta!! rs Abastecido para mais um tempinho, vamos tocar porque se pararmos o bicho pega e assim, talvez, consigamos escapar. Amigos um ótimo fim de semana, kanimambo pela visita e muita sabedoria na hora de votar. Não lave as mão, nem que seja para escolher o menos ruim, porém não deixe de comparecer nas urnas e fazer valer sua cidadania neste próximo Domingo. Que Baco lhe dê serenidade e sabedoria nesta hora!

 

Salvar

Argentina Rica em Vinhos Brancos, Sabia?

É gente, a maioria quando pensa na Argentina como produtora de vinhos de qualidade só vê tintos pela frente, mas em minhas andanças por aquelas bandas as descobertas têm sido muitas. Já falei aqui sobre a Argentina sem Malbec, sobre Malbecs com perfis diferentes sem excessos, mas não me lembro de ter louvado os brancos então estava na hora!

Que sou um amante de vinhos brancos não é segredo para a maioria que me lê chegando ao ponto de cunhar a frase de que os brancos são a pós graduação dos vinhos e acredito piamente nisso. Cheios de sutilezas, são vinhos que mostram grande diferenciação entre as uvas usadas, vinhos vibrantes e alguns extremamente complexos quebrando um monte de paradigmas como os conceitos de longevidade e até do uso de decanteres para aerar algumas preciosidades, é um outro mundo que, em minha opinião, deveria ser mais explorado por todos. Mais, não tem clima apropriado, tanto faz no inverno como no verão, depende muito mais do que você vai comer e com quem vai estar, o resto é o resto! rs

Tendo dito isso, vamos falar dos vinhos brancos argentinos com dez sugestões de rótulos que eu provei e recomendo como excepcionais em sua categoria, porém há um grande número de belos vinhos a explorar bastando baixar a guarda e sacar rolhas sem preconceitos pois pode-se viver grandes momentos e descobrir enormes surpresas tente! Entre as uvas brancas, a Torrontés segue liderando com cerca de 27% da produção total seguida da Chardonnay com aproximadamente 16%, Chenin Blanc e Sauvignon Blanc com cerca de 6% cada e depois a Semillon e Viognier com 2% cada e a Riesling com menos de 0,5%.

A Torrontés, que representa para os vinhos brancos o que a Malbec representa para os tintos, já produziu vinhos de pouca qualidade, algo enjoativos e de difícil aceitação por aqui, mas em recente viagem provei alguns vinhos incríveis, a maioria de Salta. Os Viticultores aprenderam a trabalhar melhor a uva nos vinhedos e os enólogos a extrair dessas uvas um vinho de qualidade superior, vinhos a serem explorados pelos mais céticos e preconceituosos seguidores de Baco.

Argentinian Wine Grapes Clipboard by JFC

Eis então, uma seleção de vinhos excecpionais que eu adoraria ter em casa sendo que alguns dos rótulos, lamentavelmente, só comprando por lá mesmo.

Susana Balbo Signature Torrontés Barrel Fermented (Mendoza)- apesar de eu destacar os vinhos de Salta, para mim este exemplar é o melhor Torrontés do país com uvas de Altamira no Vale do Uco e leve passagem por madeira. Sublime e, a meu ver, um dos melhores brancos argentinos!

Montesco Água de Roca Sauvignon Blanc, Passionate Wines, Matias Michelini – Uma mineralidade incrível e marcante, um vinho inesquecível e uma experiência única. Vem da região mais alta mendocina, Gualtallary em Tupungato. Bebendo da fonte nas montanhas, demais!

Mendel Semillon (Mendoza) – Este vem pelas mãos do lendário Roberto de la Mota, vinhedos do Vale do Uco em pé franco com mais de 70 anos de idade, vinte porcento passa em barrica por uns seis meses, que é o que lhe dá a untuosidade porém sem cobrir o frescor e a fruta muito presentes. Floral (frutos secos) nos aromas, boga rica e fresca de boa persistência, gostei muito! Vem de Mendoza

Humberto Canale La Morita Riesling Old Vineyard (Patagônia)- uma enorme surpresa esse vinho que é elaborado com uvas de vinhedos muito antigos (1937). Macio, fresco (particularidade dos vinhos desta zona), uma leve agulha, longo e muito elegante com notas sutis minerais e algo de limonada e maçã verde, gostei muito e me surpreendeu!

Alma Negra Viognier de Ernesto Catena (Mendoza) – predominantemente Viognier, leva um tempero de Chardonnay e Gewurztraminer que fazem diferença. Provei este vinho comendo em Puerto Madero num restaurante de culinária peruana, e foi dos deuses! Um vinho que surpreende e um dos melhores Viognier que já tomei. Fermentado em barricas francesas de 2º uso com posterior estágio de seis meses em barricas novas e usadas (2º e 3º uso) francesas e americanas, show!

Bressia Lagrima Canela (Mendoza) – Chardonnay com Semillon elaborado com uvas da região de Tupungato com vinificação e estágio em barricas novas americanas e francesas por 14 meses. Um branco de grande estrutura, complexo e longevo, pede tempo e é um crime tomá-lo jovem, melhor com uns quatro a cinco anos de vida, vinhaço!

Viña Alicia Tiara (Mendoza) – demais este vinho, em linha com o anterior, um vinhaço de grande complexidade. Vem de Luján de Cuyo, vinhedo em Lulunta, e é um blend de Riesling, Albariño e Savignin que prima pelo vigor e frescor, um vinho que há tempos me encanta,só inox, só fruta!

El Enemigo Chardonnay (Bodega Aleanna) – existem diversos ótimos Chardonnays argentinos, mas este sob a regência de Alejandro Vigil, está uns pontos acima em minha modesta opinião. O vinhedo está em Gualtallary o que já é um plus em função da altitude que lhe aporta excelente acidez e boa dose de mineralidade. Doze meses em barricas francesas só 35% novas, sem battonage deixando as leveduras criar “flor” (um tipo de véu sobre o mosto) resultando em complexidade de aromas, bom corpo, um chardonnay diferenciado e cativante.

Para finalizar esta curta lista de destaques, quero falar de dois vinhos brancos doces que acho muiiito especiais:

Tukma Torrontés Tardío (Salta) – me encantou e me arrependo amargamente de na hora da prova não ter dado um jeito de comprar umas garrafas! A Torrontés produz muito bons late harvests especialmente quando temperada com uvas tipo Riesling ou até Sauvignon Blanc aportando acidez, mas este está perfeito solo! Vinhedos com mais de 50 anos a 1900 metros de altitude, sutis notas florais típicas da casta, citrico, muito bem balanceado, me encantou.

Saint Felicien Semillon Doux (Mendoza) – Luján de Cuyo, colheita tardia com Botrytis, um “sautern” com um jeito argentino de ser! Somente 20% passam por barricas francesas novas por 12 meses e o restante do vinho fica em tanques de inox sobre borras (Sur Lie) para posterior blend e engarrafamento. Recomendo, uma delicia de notas amendoadas, baunilha, muito bem balanceado por uma acidez muito bem colocada, delicia! Mais um vinho com a mão do amigo Alejandro Vigil.

Enfim amigos, é isso e sei que muitos terão outras escolhas e sugestões, pode comentar e acrescentar, há muita coisa boa por aquelas bandas eu só listei alguns destaques entre os que eu tomei pois só falo de minhas próprias experiências. O post hoje foi mesmo para desmistificar o mundo vitivinícola argentino para alguns e para outros instigá-los a “viajar” por um mundo de cores e sabores diferentes. Se quiser, pode também entrar na seara dos vinhos laranjas, o que não é para todos os paladares, explorando mais um vinho do amigo Matias Michelini da Passionate Wines, o Inéditos Brutal Torrontés, uma experiência marcante! Salud, kanimambo, uma ótima semana e seguimos nos encontrando por aqui ou por aí, na diversidade dos caminhos de nossa vinosfera!

 

 

 

 

Roberto de la Mota e a Diversidade Argentina

Dando sequência a nossa maratona de mais de 3.800 kms e 4 regiões produtoras argentinas a convite da Wines of Argentina (WofA), chegamos a Mendoza por volta das 7:30 de la matina depois de 10 intermináveis horas de bus e o corpo todo quebrado. Direto para o hotel e um belo e merecido café da amanhã seguido de uma ducha e uma horinha de descanso enquanto colocava meus mails em dia para às 11 horas já voltarmos CAM00869aos trabalhos num dos melhores momentos desta viajem, um encontro com Roberto de la Mota com quem poderíamos charlar por uma eternidade sorvendo de sua experência e vasto conhecimento. Papo fácil e sedutor, falou da diversidade vitivinícola enquanto provávamos alguns exemplares provando na prática a teoria apresentada, divino!

Vou compartilhar algumas notas do que escutei e também dos vinhos provados, porém, para quem não conhece, deixem-me antes apresentar o Roberto de la Mota. Enólogo dos mais conceituados, começou sua carreira aos 19 anos ajudando o pai (o lendário Raul de la Mota) na Weinert. Depois foi estudar e trabalhar em Bordeaux sob a batuta de Émile Peynaud retornando ao país quando, entre outras, andou pelo projeto Terrazas da Chandon. Hoje dá consultoria para diversas bodegas em várias regiões produtoras assim como tem seu projeto pessoal, a Mendel Wines. Um craque, simpático, sabe tudo do vinho e da vitivinicultura, sua charla (sem pompa nem soberba) é uma aula para quem quiser ouvir!

Até os anos 80 o foco de Mendoza era quantidade! Eram 350 mil hectares de muita uva mas tão somente 15% era de uvas e vinhos finos. Esta situação hoje se inverteu e novas fronteiras se abrem para novas uvas na busca de diversidade pois a região se mostra propicia para muitas mais castas do que a Malbec. Por sinal, foi Roberto que trouxe as primeiras mudas de Cabernet Franc e Petit Verdot para a região, acreditando que se dariam bem e hoje os resultados mostram o quão acertado ele estava.

Mendel Semillón 2013– mais uma aposta do Roberto, desta feita com uma uva branca e quantidades de produção limitadas a cerca de 4 mil garrafas que ele comercializa em quantidades iguais nos Estados Unidos e no Reino Unido com algumas poucas reservadas para seu estoque na bodega. Vinte porcento passam em barrica por uns seis meses, que é o que lhe dá a untuosidade porém sem cobrir o frescor e a fruta muito presentes. Floral (frutos secos) nos aromas, boga rica e fresca de boa persistência, gostei bastante! Para comprar lá na bodega em uma próxima visita.

Dona Paula Estate Sauvignon Blanc 2014 – Só inox, nariz muito intenso, na boca é mineral, ótimo final, fino e fresco. Um SB muito bem feito e agradável. Bela surpresa.

Bodega Colomé Torrontés 2013 – para mim segue sendo um dos melhores torrontés hoje no mercado mostrando todo o potencial desta uva quando bem trabalhada nos vinhedos. De Salta, 2600 metros de altitude, é um vinho clássico, floral com cítrico no nariz, encantador, faz a minha cabeça!

Durigutti Reserva Bonarda 2010 – não conhecia o produtor até uma recente viagem e agora comprovo sua aptidão para vinhos de muita qualidade. Com 18 meses de barrica, apresenta na entrada uma framboesa marcante, meio de boca com grande volume, denso e carnoso apresentando um final fresco com nuances minerais. Sai um pouco fora do padrão de vinhos mais leves e mostrou ter estrutura para guarda. Na linha do Nieto Partida Limitada que é um marco nos vinhos elaborados com esta uva e que necessita de bastante tempo de garrafa para mostrar todo seu valor.

Rutini Cabernet Sauvignon 2011 – com 12 meses de barrica, mostrou-se extremamente equilibrado, madeira muito bem integrada, terroso, rico, boa estrutura, taninos aveludados, um belo vinho bem no estilo da casa de vinhos bem feitos que agradam fácil. Belo vinho!

Andeluna Pasionado Cabernet Franc 2010 – este produtor tem uma característica que a nível geral não me agrada, revi isso posteriormente numa outra cata, pois seus vinhos costumam ser algo excessivos, seja no álcool, na extração ou corpo. Denso, taninos marcantes, para mim faltou deixar a uva se expressar melhor, porém há quem goste.

Finca Decero Mini Ediciones Petit Verdot 2011 – delicia na taça, trouxe para minha Degustação de Vinhos da Mala e todos se apaixonaram. Este produtor já andou por aqui, porém com o encerramento das atividades de seu importador, anda negociando sua volta. São 16 meses de barrica francesa, das quais 50% novas, e o resultado é um vinho muito expressivo tanto no nariz quanto na boca, classudo, gordo, taninos finos e sedosos, ótima textura e longo. Queria beber caixas!

CAM00867

Grandes vinhos, grande charla, um momento inesquecível, um tremendo privilégio! Depois, visita a uma bodega com almoço e mini-feira com mais 8 produtores, mas isso é papo para outro post! Salute, kanimambo e nos vemos por aqui, na Vino & sapore ou juntos na viagem a Mendoza com a Wine & Food Travel Experience em Janeiro.