Tomei e Recomendo

Belo Pinot Noir na Taça, Domaine Bousquet Reserva.

Domaine Bousquet é um projeto francês na altitude de Gualtallery, Tupungato, Vale do Uco, Mendoza. O compromisso com a agricultura orgânica impulsiona o melhoramento da biodiversidade dos vinhedos. Quanto mais saudáveis os vinhedos, melhor a uva e consequentemente (na maioria das vezes) o vinho elaborado sendo esse o principal objetivo desta família francesa que chegou a Tupungato em 1997 depois de 4 gerações produzindo vinhos na terra natal, Carcassonne no sul da França. As raízes de vinhedos cultivados de forma orgânica tendem a ser mais profundas permitindo que as plantas absorvam e distribuam melhor os minerais e intensifiquem sabores já que o rendimento das vinhas tende a ser menor. O uso de leveduras selvagens, compactuam com o trabalho nos vinhedos de forma a trazer o melhor retrato do terroir. O resultado são vinhos menos industrializados, mais verdadeiros, mas que, obviamente, têm que ser bons antes de qualquer coisa e isso eu conferi, só assim para estar aqui!

    A altitude de Gualtallary, 1200 metros de altitude, permite uma melhor e mais tardia maturação da uva e uma acidez mais presente nos vinhos por lá produzidos devido à amplitude térmica bem acentuada na região. Resultado; vinhos mais frescos, fruta madura no ponto (sem sobremadurez), taninos mais finos e tudo isso se confirma neste delicioso e equilibrado Pinot Noir.

Um misto de elegância e finesse francesa com a generosidade típica de fruta que esta região aporta aos vinhos. Sem excessos, sem aparas, um meio caminho entre os tânicos e excessivamente escuros super extraídos Pinots que abundam o Novo Mundo, um perfeito equilíbrio entre o velho e novo mundo. Dez meses de barrica francesa muito bem usada, penso que deve ser de segundo uso com talvez um pequeno porcentual de novas, já que se nota essa presença, porém de forma bem sutil com algumas notas tostadas. Seco, boa acidez, muita fruta fresca (cerejas, framboesa?), alguma especiaria, corpo médio, taninos sedosos, ótima textura, álcool muito bem integrado, um vinho que precisa de tempo em taça onde vai se abrindo com a taça seguinte sempre apresentando algo a mais e diferente da anterior, vinho que deve evoluir muito nos próximos dois anos já que tem pouco mais de ano de engarrafamento. Muito boa persistência, fresco, vivo e cativante, um tremendo prazer de tomar e uma grande surpresa que me encantou inclusive pelo preço.

Preço bom, característica da SYS Importadora do amigo Juan Rodrigues, abaixo das 100 pratas o que aporta em minha avaliação um ponto extra e o faz uma das melhores relações PQP (Preco, Qualidade, Prazer) que tive o prazer de provar este ano. Por falar em pontos e para quem aprecia o quesito, Wine Magazine 90 / Tim Atkins 90 / James Suckling 92 e eu fico entre eles! rs

Esse é o teaser da semana, pois há mais alguns posts programados compartilhando algumas de minhas mais recentes provas. Que seja uma bela semana para todos, kanimambo e saúde!

cheers!

Sauvignon Blanc de Classe

A primeira vez que me deparei com este vinho foi nos idos de 2014 numa Expovinis. Fuçava rótulos na época abaixo dos 50 Reais para uma degustação às cegas que elegeria os melhores brancos e tintos nessa faixa. Escolhi dois rótulos, um deles este, o Villaggio Bassetti Sauvignon Blanc 2016!

Sim é de Santa Catarina, São Joaquim para ser mais preciso e segue sendo um vinho que me encanta pelo simples fato de pouco parecer os Sauvignon Blanc a que estamos acostumados; menos intensidade de notas herbáceas, acidez mais balanceada e mais cremoso na boca. Este exemplar de 2016 que encerrou um encontro de amigos após dois tintos, veio mostrar aos amigos que as surpresas vínicas seguem ocorrendo mesmo para gente com avançada litragem. Até na cor ele é diferente, algo mais amarelo menos palha, estávamos diante de um dilema que comprova a máxima de que o enólogo frente ao vinho toma decisões e o enófilo frente a decisões toma o vinho, nós tomamos e nos deliciamos, teve até “alguém” que não é chegado na casta que teve que rever sua posição e tomou bem! rs

Este Sauvignon Blanc mostra-se mais untuoso e estruturado na boca, cremoso com acidez muito bem balanceada, frutos tropicais maduros se misturam a algumas notas cítricas, final de boca algo mineral que desponta mais quando a temperatura é menor (8º C), formando um conjunto de bastante complexidade em função de seu tempo sur lie. Um Sauvignon Blanc fora da curva que me seduz a cada vez que o tomo e na casa dos 85/90 Reais é uma opção para lá de honesta. O Guia Adega o apontou como o melhor desta casta no Brasil em 2018 assim como melhor branco nacional com 92 pontos e Jorge Lucki o apontou como o melhor branco nacional que provou em 2017 o que, comigo, já faz três referências de respeito! rs Brincadeiras á parte, um belo vinho para quem gosta de navegar por mares diferentes e que me deu um enorme prazer tomar.

Mais um branco, sei, mas fazer o quê? Ainda são os vinhos que mais me têm dado prazer de provar e beber, então sigo compartilhando com os amigos essas experiências. Tomar acompanhando o quê? Bem, os óbvios frutos do mar em geral mas desta feita eu adicionaria carnes brancas como peito de peru à Califórnia por exemplo. É isso, kanimambo pela visita, saúde e nos vemos por aí, quem sabe no Encontro Mistral semana que vem?

 

Mais de Um Século na Taça, Pireko Malbec.

Soa meio estranho, mas o Pireko é bom! rs O nome de origem indígena significa “água do degelo das montanhas” e vem de Perdriel, sub região conceituada de Lujan de Cuyo em Mendoza, onde Rodolfo Spielmann se deparou com esta propriedade na Calle Cobos com 17 hectares de vinhas de Malbec plantadas até 1910 em pé franco. Porquê comprá-lo, porquê não comprá-lo, foi lá e comprou-o em 2009 como investimento de retorno a sua terra natal. Para tocar enologicamente o projeto, ninguém mais ninguém menos que Pepe Galante que para os aficionados dos vinhos argentinos dispensa maiores apresentações.  Hoje provei meu primeiro vinho, o de entrada deles, que me deixou muito boa impressão, o vinho não tem 100 anos, mas as vinhas que geram o caldo são e fazem diferença!

Vinhedos velhos neste nível, cerca de 109 anos, são poucos produzindo comercialmente e possuem algumas características bastante valorizadas porque transmitem ao vinho particularidades diferentes. Apesar de alguns projetos mais apressados, um vinhedo novo começa a produzir alguma coisa aceitável por volta de 3 anos e atinge um patamar de produtividade/qualidade comercial adequada a partir de 5 anos, aqui falamos de 109 anos! A produtividade foi para a glória, o número de cachos por planta é pequeno, porém a concentração, intensidade e acidez se acentuam e os taninos se tornam mais amistosos. Tudo isto me pareceu muito presente neste vinho de entrada e me aguçou a curiosidade para conhecer seus outros rótulos. Da linha Pireko só provei este Malbec centenário, mas ainda há o Cabernet Sauvignon e o Pedro Gimenez.

Pireko Malbec Centenário 2016, (primeira safra lançada) é um single vineyard sem passagem por madeira somente inox, traz uma textura e volume de meio de boca deliciosos. Cor de rubi intenso, aromas de frutos vermelhos frescos, levemente encorpado sem pesar, taninos firmes mas sedosos, fruta abundante  sem excessos de madurez, acidez balanceada, longa persistência algo apimentada que deixa um retrogosto de quero mais na boca. Um vinho que vai se abrindo na taça e melhorando a cada gole, vinho para derrubar qualquer eventual preconceito para com os vinhos Malbec e que se beneficiará de uma meia horinha de aeração. Para um vinho de entrada, de pequena produção (750 caixas), surpreende duplamente começando pela qualidade mas também no preço, na casa das 100 pratas hoje de acordo com o importador que é o próprio produtor.

Como curioso que sou, agora quero descobrir o resto e quero conferir se meu conceito de que quem faz um vinho bom de entrada não nega fogo conforme subimos a escada se confirma mais uma vez. Tem um corte que leva Petit Verdot, já esfregando as mãos! rs Kanimambo pela visita, saúde e uma ótima semana para todos.

Explorando o Portfolio da Berkmann.

Vou falar um pouco sobre este gostoso evento promovido pela importadora Berkmann Wine Cellars de origem inglesa no sentido de mostrar a seus potenciais clientes e alguns formadores de opinião, blogueiros, sommeliers etc. um pouco de seu portfolio, tinha vinho para dedéu!! rs Consegui provar 50 dos quais 27 se destacaram, entre eles selecionei alguns que fizeram minha cabeça tendo descartado os que não cabem no bolso da maioria como o incrível Querciabella Batár 2013 um incrível blend de Chardonnay com Pinot Blanc, biodinâmico, vinho para bocas mais treinadas e bolsos cheios porque custa no mercado algo entre 800 a 900 pratas, mas se tiver mergulhe de cabeça, divino.

 

Áustria e Alemanha : Gosto bastante da uva austríaca Gruner Veltliner, sempre muito fresca porém algo cara para o que entrega, o Zero-G é uma grata exceção apresentando a notas típicas da casta com um uma textura bem gostosa e um preço estimado entre 120 a 125 pratas, o que mesmo não sendo barato, é um bom preço comparado ao mercado e outros rótulos disponíveis. Gostei bastante também do Riesling alemão White Rabbit em que nem o nome nem o rótulo ajudam muito (rs), mas o que interessa é o conteúdo e esse mostrou a boa mineralidade e tipicidade da casta, sem exageros, bem balanceado. Para vinho alemão de qualidade, os 150 a 160 Reais está de bom tamanho porque a maioria começa a partir de 180, gostei, apesar do rótulo. rs

 

Argentina. – De la Rioja a bodega San Humberto apresentou alguns bons vinhos entre eles um baita Petit Verdot raçudo e potente o Nina Gran Reserva, mas o que mais me seduziu foi o Nina Gold Torrontés. Tem gente que vira a cara para a Torrontés, eu não sou um deles, e há ótimos produtos no mercado entre muita zurrapa, tenho que reconhecer e estes não têm ajudado em nada na divulgação dos vinhos dessa cepa, mas estamos diante de um exemplar primoroso desta uva. De mais corpo, ótima intensidade aromática sem exageros que muitas vezes prevalecem nestes vinhos, boca de ótima textura, vivaz um vinho para quebrar preconceitos, pena que o preço seja algo puxado na casa dos 200 Reais.

 

Brasil: Vinhetica, franceses fazendo vinhos no Brasil e trabalhando com uvas dos dois melhores terroirs brasileiros, Campanha Gaúcha e Serra Catarinense. Dois vinhos me surpreenderam, um mais tradicional mas de corte fora dos padrões regionais e um blend de brancas não filtrado. O branco é o Terroir de Blanc, blend das uvas Sauvignon Blanc, Fiano de Avelino e Robolla Gialla da Serra catarinense, que poderá assustar os mais incautos por não ser filtrado sendo bem turvo, estilo visual Shweppes Citrus! rs Me fez lembrar os espumantes sem degorgment hoje disponíveis mercado, muito interessante, vinho a se descobrir com notas cítricas bem acentuadas e um toque vegetal que lhe aporta a Sauvignon Blanc que é mais presente no corte e boa textura de boca. Provei o filtrado também, bom, mas este me despertou mais a atenção e o preço na casa dos 75 a 80 Reais. O tinto Terroir d’Elegance é o, a princípio, mas tradicional com passagem em barricas por 12 meses porém um corte algo diferente; Cabernet franc, Teroldego, Cabernet Sauvignon, Ancellota e Tannat da Campanha com boa pegada, corpo médio, bom volume e taninos sedosos bom vinho com preço entre 80 a 85 Reais, bem honesto para o que entrega.

 

Chile – o produtor presente foi a J. Bouchon que depois de uma fase mais “popular” volta a presentar vinhos de muito bom nível que me agradaram bastante. Gostei bastante dos Canto Sur e Canto Norte, dois cortes muito bem feitos, O Norte bem bordalês com Merlot, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, porém foi o Sur que mais me seduziu com um corte diferenciado de Carmenére, Carignan e País bastante complexo, fresco, de taninos muito elegantes ambos na faixa de 130 Reais. A linha Block Series é um nível acima, vinhos mais robustos e estruturados, tanto o Malbec quanto o Cabernet Sauvignon, porém foi este último que mais me chamou a atenção. Belíssimo Cabernet de boa tipicidade sem aquela marca que me incomoda (coisas do Tuga! rs) de pimentão e goiaba que faz a cabeça de alguns. As notas vegetais são suaves, a fruta se mostra mais presente, notas tostadas um vinho de 2015 com ainda muitos anos pela frente de evolução, gostei muito e aqui já chegamos na casa dos 150 a 160 Reais que já começa a ser para poucos, mas vale a pena. A linha Granito é soberba, especialmente o branco de Semillon com 12 meses de passagem por barrica, tremendo vinho e o preço acompanha (talvez um pouco exagerado) chegando já na casa dos 350 Reais, mas tendo disponibilidade, compre logo a dupla! rs Seduzido mesmo fui pelo vinho mais barato desta leva provada o J. Bouchon Reserva Rosé de País 2018 que merece um post separado num futuro breve, o primeiro País (uva regional também conhecida como Criolla Chica por aqui e Criolla Grande na Argentina) 100% que realmente gosto, o resto não rolou nenhum até agora, e que é para tomar de caixa, delícia com preço de cerca de 89 Reais.

 

Espanha – Aqui separei dois vinhos que valem muito a pena, um bem barato o outro já na gama mais alta de preços porém condizente com seu status. O primeiro é um Tempranillo de Rioja o Casa Roja Tempranillo que possui um preço algo abaixo das 60 pratas e que nesta faixa mostrou que entrega algo a mais, muito bem feito, corpo mais leve mas cheio de sabor, bem bom! Já a Finca del Marquesado apresentou três vinhos também de Rioja, dos quais dois me chamaram a atenção, o Crianza com bons  135 Reais de custo ao consumidor o que o torna muito competitivo nessa classificação e é um vinho muito bem feito e rico, mas o Gran Reserva 2009 é da hora e o preço condizente com este nível de qualidade, idade e classificação, tremendo de um vinho que pode tranquilamente evoluir por mais uma meia dúzia de anos e fez minha cabeça. Preço beirando as 300 pratas. A grande surpresa e uma delicia de vinho, com uma acidez no nível dos Vinhos Verdes e vinhos da Galícia, estilo que me agrada muito, um vinho Basco, o Mendraka Bizkaiko Txacolina. Este vinho, como o Rosé de País da J. Buchon, vai merecer um post solo pois é deveras interessante. Txacoli é o estilo, Bizkaico é região demarcada na área rural de Biscaia e as uvas Hondarrabi Zuri e Zerretua, simples assim! rs Na boca explode em sensações vibrantes e frescas, acidez lá em cima, limão, maçã verde, adorei e tudo a ver com nossas regiões costeiras, frutos do mar, adorei! Vinho na casa dos 110 Reais e vale.

 

França – não me dediquei muito a este país e três foram os vinhos que achei bastante interessantes com preços idem, porque a busca é por qualidade com preço. Vinho bom e caro tem de monte, tem que garimpar por “acessibilidade vínica” rs! Guy Allion é o produtor de dois deles, o Les Quattre Pierres Cabernet Franc do Loire de boa tipicidade e preço razoável (130 a 140 pratas) e um belo Cremant do Loire Blanc de Blancs Brut 2016 na mesma faixa de preço e elaborado com um blend de Chenin Blanc (80%) e Chardonnay com autólise de 18 a 24 meses, método champenoise, mousse incrível, ótima perlage, fresco porém complexo, brioche, cítrico, o mais perto de champagne que provei nos últimos anos e por cerca de 140 pratas, menos de metade do preço destes!

 

Da Hungria – Produtor Sauska. Não sou chegado em Furmint seco, tomei poucos que me agradaram e este é certamente um deles, saboroso, ótima boca, aromas sedutores, por um preço de 110 pratas é uma boa pedida para quem gosta de brancos diferentes e explorar uvas menos conhecidas. Seu Tokaji Late Harvest Cuvée Sauska na faixa dos 350 Reais é muito bom, mas me parece que o 5 Puttonyos é bem mais negócio por cerca de 60 pratas a mais.

 

Portugal – Ermelinda de Freitas da região Setúbal é o protagonista e vi para minha alegria, mesmo não estando lá para prova, que os vinhos Terras do Pó Branco, tinto e Reserva estão de volta ao mercado pelas mão desta importadora com preços bem competitivos. Do que provei se destacaram dois rótulos da linha Casa do Rosário Branco e em especial o Rosé elaborado com Castelão cortado com Syrah e Touriga Nacional de cor mais intensa, bela pedida para companhar Paella Mista e a um preço bem moderado na casa dos 75 conto.

 

Itália – Alguns bons vinhos de produtores renomados como Fenocchio (Barbera d’Alba duro e muito jovem) e Maculan (delicia de Vespaiolo) de preços algo mais salgados. Na linha mais acessível, o Villa Rossi Sangiovese,  ligeiro e gostoso, da Emilia Romagna por 59 Reais é um belo companheiro para o macarrão da mámma ou a pizza de Sábado e o Visconti della Rocca Primitivo de Salento, um primitivo fácil de gostar na casa dos 75 Reais, preço bem honesto para vinhos dessas uva no mercado

Fazia tempo que não dava essas saídas de garimpo, pena que tirei poucas fotos, estava com saudades e foi muito bom rever alguns amigos presentes. Diversos vinhos interessantes, outros nem tanto e isso faz parte do jogo, mas “overall” uma seleção que deixou algumas (diversas, rs) pulgas atrás da orelha e certamente esses acima destacados são para os amigos marcarem no caderninho na próxima visita a um restaurante ou loja preferida.

Um ótimo fim de semana, kanimambo pela visita e seguimos nos encontrando por aqui ou na Vino & Sapore, onde dou plantão de Quarta a Sexta das 14 às 20h ou aos Sábados das 10 às 19h dia em que sempre tenho algo aberto para receber os amigos. Fui, saúde

 

 

Bella Quinta Song & Risoto de Funghi

Mais um vinho muito agradável brasileiro que tive a oportunidade de provar e harmonizar. Como gosto sempre de salientar, se a companhia é boa, o vinho e comida idem, não tem erro mas quando orna é um plus, é da hora! Foi o caso aqui, gostei do vinho, que ganhou um ponto extra em função do preço, o risoto ficou muito bom e nem a loira faltou, bão demais da conta. rs

O vinho é daqueles que é difícil não gostar e nessa faixa de preço vale muito a pena pelo que oferece. Apesar da Bella Quinta ser aqui pertinho, na estrada do vinho em São Roque, este vinho o Gustavo faz num parceiro em Flores da Cunha e as uvas são de lá e de Caxias do Sul. O Cabernet Sauvignon, protagonista com 70%, é cortado com 20% de Merlot e completado com Tannat. Passa oito meses em barricas usadas, imagino que de quarto ou quinto uso, para integrar o vinho num processo que visa mais a micro oxigenação do vinho do que lhe aportar qualquer outro eventual beneficio tanto de aromas como de taninos ou sabores. Esse tempo integrou o vinho muito bem, domando os taninos e deixando-o mais pronto a beber.

Bem frutado no nariz com leve toque vegetal e sutil baunilha comprovando que houve alguma passagem por barrica. Na boca a fruta escura está mais presente, alguma nota terrosa, acidez balanceada, médio corpo, textura gostosa, especiarias, taninos macios e aveludados que não agridem e que o tornam fácil de beber e gostar, mesmo que sem grandes complexidades o que, de qualquer forma, não é de se esperar em vinhos desta faixa de preços. Final de média persistência que deixa um gostinho de quero mais na boca e que, em função do preço, não é tão difícil de ocorrer! rs

Com preço entre 55 a 60 Reais, um vinho que entra na minha lista de Best Buys, inclusive por sua versatilidade de harmonizações seja com pratos seja com pessoas. Neste caso, num almoço com a loira em casa, preparei um Risotto de Funghi Secchi no qual usei um vinho branco, e deu um belo samba enredo! rs Poderia também acompanhar um bom hamburger, pizza de peperoni ou calabreza, carnes grelhadas, aquele picadinho mineiro, gente com litragem ou pessoal iniciante, enfim, dá para viajar sem medo de ser feliz mostrando que em todas as faixas de preço há coisa boa a ser garimpada, gostei.

Gente, por hoje é só, kanimambo pela visita, uma boa semana e seguimos nos encontrando por aqui. Saúde

 

Um Chardonnay Abaixo dos 50 Conto!

É, tem sim e bem legal, do jeito que meu amigo Didu gosta (rs)! Como em todos os tipos e estilos de vinhos, há momentos para tudo e ninguém nega, especialmente quem tenha alguma litragem na taça, que os grandes vinhos são experiências únicas, mas também não são para todos e muito menos para toda a hora! Grandes vinhos, grandes preços, não tem como fugir disso e não são para a maioria de nós meros mortais, seguidores de Baco que somos. Esses grandes vinhos ficam restritos a poucos ou, pelo menos, a poucos e raros momentos de nossa vida terrena, mas o bom é que há bons e saborosos vinhos em todas as gamas de preço guardadas as devidas limitações, obviamente, e dentro do contexto em que se encaixam.

Há vinhos descompromissados que não abrem mão de qualidade e eu garimpo esses rótulos, vinhos que tomo regularmente de forma informal. Um desses rótulos que agora compartilho com os amigos é o VSE Classic Chardonnay, vinho chileno elaborado sem passagem por madeira e que já acompanhou com gallardia uma tainha no forno recheada com farofa. A Vina San Esteban, é localizada no Vale de Aconcagua onde a família Vicente possui cerca de 150 hectares de vinhedos acompanhando o rio do mesmo nome encostado nos pés da Cordilheira. Nessa terras elabora, vinhos com três marcas diferentes; a VSE, a In Situ e a Rio Alto. Costumo dizer que a melhor forma de conhecer um produtor é provando sua linha básica, se aí são bons, pode apostar seu rico dinheirinho em seus vinhos de alta gama sem erro! Problema é que tem muito gente produzindo vinhos “Ícones” mas que deixam muito a desejar em suas linhas mais básicas, ainda bem que este não é o caso.

Há momentos para aquele grande Chardonnay e há momentos, vários por sinal, para este pois com preço entre R$45 e 50,00 é um vinho que pode sim visitar nossas taças de forma mais regular. Um vinho que busca a essência da uva sem mascará-la, buscando o frescor da fruta só com fermentação em inox sem qualquer passagem por barrica. Um vinho leve, saboroso, toque de frutas tropicais típicos da casta, sutil, fresco, final algo cítrico, um vinho com cara de verão, muito agradável de se tomar. Para beber solo, só com boa companhia e bom papo, petiscando queijos, frutos do mar grelhados, lula à doré, até um peixe no forno com farofa como esse na foto acima.

É um grande vinho? Não, nem se propõe a isso, porém é bem feito, honesto, vale bem o que custa, dá conta do recado e nessa faixa difícil de achar igual, gosto e pronto. Ainda Sábado passado acompanhou um Penne ao Pesto com amigos, mato a cobra e mostro o pau (rs), vale muito a pena e certamente combinará também com pratos de bacalhau mais ligeiros, um vinho bastante versátil nesta faixa de preço e eimportação de meu amigo Juan da Almeria Vinhos. Kamimambo pela visita, saúde e feliz Páscoa, retomo meus escritos na Segunda.

 

Tem Vinhos Que me Deixam Triste!

Quando acabam, vamos deixar claro!! rs Ontem viajei e como já dizia Sócrates, o filósofo grego não o jogador, “só sei que nada sei”. Nesta vinosfera desconfie de quem diz que sabe tudo porque estamos sempre nos deparando com coisas novas na taça sejam elas; uma casta desconhecida, um processo de vinificação, uma origem desconhecida ou até novidades nos vinhedos porque o mundo não pára, hora desenterrando coisas antigas desconhecidas hora fazendo novas descobertas resultado de novos experimentos.

Três amigos, só isso já dá um boost em qualquer momento, em volta de pasta ao pesto e vinho! Depois do vinho que acompanhou a pasta, abrimos uma garrafa da qual tão rapidamente não esquecerei, um tremendo néctar chileno que ás cegas diria ser francês, O Bodega RE Doble Garnacha / Carignan 2015. Bem, mas e daí? O corte não tem nada de diferente, não não tem, a não ser que olhemos suas origens! Um blend chileno formado na parreira e algo que diferencia os gênios da criatividade enológica dos outros, Pablo Morandé extrapolou com este blend de parreira! É, isso mesmo, um blend que se inicia na própria planta.

Já tive a oportunidade de provar outros ótimos vinhos deles, mas este realmente me tirou o fôlego e ai descobri o inusitado, as duas castas são enxertadas num cavalo (raiz) de uva País, naturalmente resistente à Phyloxera, um blend na parreira, não sei se existe no mundo processo igual, para mim é inusitado. A planta gera cachos de uvas de ambas as castas enxertadas que são colhidas e vinificadas junto numa co-fermentação com leveduras selvagens, show, o resultado é um vinho absolutamente sedutor, que você pede para não terminar nunca! Tentei achar uma ficha técnica na internet, o vinho não consta do site do produtor, e o pouco que consegui foi num site americano em que consta que a uvas vêm do Maule (Bodega em Casablanca) é fermentado em barricas e matura por 3 anos antes de ser engarrafado, vindo de uma região de solo granítico o que, creio, responde muito pela boa acidez e frescor que o vinho nos entrega.

Nariz cativante de frutos vermelhos frescos, fruta abundante na boca com uma acidez marcante, educados 13% de teor alcoólico, médio corpo, longa persistência deixando na boca um gostinho de quero mais, madrecita, bom demais!! Tem comentários na rede sobre uma suposta rusticidade dos taninos, não consegui encontrar isto, muito pelo contrário os encontrei REfinados e sedosos, muito bem feito, perfeitamente equilibrado e sedutor. Gosta de vinhos power, de grande extração? Bem, nesse caso este não é seu vinho, aqui a finesse e elegância imperam.

Aparentemente este rótulo não vem ao Brasil, então se estiver lá por terras chilenas “no se olvide” compre umas duas ou três garrafas porque uma é muito pouco, VIU Fábio, e pode me trazer uma de presente só pela dica! rs Preço por lá anda na casa dos 20 a 25 Dólares, vale e muito, se pudesse compraria uma caixa, porque é puro prazer hedonístico!

Kanimambo pela visita, saúde, boa semana e bons vinhos

Três Vinhos Que Fazem a Minha Cabeça

Recentemente num gostoso, sempre, Domingo em família aqui em casa tive o privilégio de abrir estes três vinhos que fazem a minha cabeça.

Vallontano L H Zanini Extra Brut safrado, neste caso um 2015. Certamente um dos melhores espumantes nacionais que não faz feio, como a maioria por sinal, perante a concorrência estrangeira nesta faixa de preços. Limitado a pouco mais de 4 mil garrafas e só algumas poucas safras (08,10,11,12,13,15 e 16) no mercado até agora, é um corte clássico de Chardonnay (75%) com Pinot Noir elaborado pelo método tradicional/champenoise. Dois anos de autólise (contato com as leveduras) antes do degorgement (colocação da rolha). Incrível perlage e espuma abundante formam um bonito colar na taça, aromas de brioche compõem com frutos cítricos uma sedutora combinação que nos fazem querer levar a taça à boca sem muita delonga! rs Na boca uma textura deliciosa, cítrico com toque de frutas brancas, as borbulhas intensas “penicam” o céu da boca, como diriam meus colegas e amigos lusos, um verdadeiro gozo que perdura na boca e na memória! Preço na casa das 100 pratas em Sampa, vale cada centavo.

Montesco Água de Roca Sauvignon Blanc já é um habitué por aqui e na minha mesa, sempre que posso peço para alguém me trazer umas garrafas. Clicando aqui dá para ler alguns comentários já realizados, mas este 2017 estava diferente, mais peso e estrutura, álcool bem mais alto do que os primeiros tomados que variavam entre 9,5 a 11% e este, ao que me lembre, bateu os 12%. Continua ótimo, imagino que tenha sido algo a ver com a safra, porém prefiro os de teor alcoólico mais baixo, acho que tem mais a ver com a proposta.

Cara Sur Criolla é mais um daqueles que sempre que posso encomendo com amigos. Não provei até agora qualquer outro vinho elaborado com esta uva que me desse tanto prazer de tomar e é um porto seguro. Também já o comentei diversas vezes então clique aqui para ler mais, porém esta uva está presente toda a costa leste das américas sendo conhecida como Criolla Grande na Argentina, leva o nome de País (Criolla chica) no Chile de onde ainda não consegui gostar de nenhum vinho provado e Mission que é seu nome original trazido pelos colonizadores espanhóis e também encontrada no México e região do Texas nos Estados Unidos. Este Cara Sur é um fetiche vínico para mim, rs, gosto demais. Não é um grande vinho, mas me dá prazer como poucos.

É isso por hoje, achou compra, qualquer um dos três, valem muito a pena e quando lembro deles é que me dou conta do porquê ando por esta vinosfera. Saúde e kanimambo pela visita.

Um Francês no Altiplano Catarinense!

Mais um vinho brasileiro que me impressiona e mais uma grata surpresa na taça, o Elephant Rouge.

Ah, mas esse vinho existe faz tempo podem dizer alguns e sim, existe o nome e o projeto que é do amigo Jean Claude Cara, porém mudou tudo, menos o nome. Há tempos o Jean Claude se aproximou da Larentis em Bento Gonçalves e em parceria produziu um vinho em 2008 e outro em 2011 que levavam esse nome em função de seu restaurante, destino principal do vinho. O primeiro foi elaborado tendo como protagonista a Cabernet Sauvignon associa à merlot e um tico de Pinotage e o segundo seguiu tendo como base a Cabernet Sauvignon porém a Alicante Bouschet  tomou o lugar da Pinotage. Conheci o 2011 e tenho que ser sincero, não fez minha cabeça mesmo sendo um vinho que se deu bem no mercado. Bom, mas a meu ver a fruta muito madura, confitada com taninos algo doces não me entusiasmou, achei um vinho muito tradicional brasileiro, mas que tem seus seguidores. O restaurante foi-se, o Jean Claude foi para Beaune/Borgonha (com períodos por aqui), mas o nome do vinho ficou.

Ao longo do tempo conheci melhor o perfil vínico do Jean Claude, de seu trabalho na Borgonha e achei que este Elephant Rouge 2014 sim, é a cara dele e o novo terroir ajudou muito. Desta feita o parceiro escolhido foi a Villaggio Grando com vinhedos a 1300 metros de altitude no altiplano catarinense em Água Doce, poucos quilômetros de Caçador. Desta feita a coluna dorsal do vinho é a Merlot (70%) associada à Cabernet Sauvignon e 20% de uvas que são o segredo dele e que aguçaram minha curiosidade. Cabernet Franc, Pinot e Marselan me veem à mente como possíveis coadjuvantes nesse blend, será?? Se o Jean fosse João, eu acreditaria em todas essas e mais ainda ou Petit Verdot ou Alicante Bouschet, mas como é Jean … sei lá! rs

Aquela elegância, finesse, equilíbrio e sofisticação que tanto marcam os bons vinhos da Borgonha estão claramente presentes neste vinho, é a marca que Jean Claude quis trazer a este vinho e o terroir da Villaggio Grando ajudou. A fruta presente é fresca, teor alcoólico com  educados 12,5%, a acidez pede a segunda taça e comida, um vinho que foi se abrindo na taça com o tempo e com isso novas sensações, meia hora de aeração é certamente algo que eu recomendaria neste momento de sua vida ou, se não tiver pressa, deixa ir abrindo com calma na segunda e terceira taça. Frutos silvestres frescos, corpo médio, paleta olfativa bem frutada e viva com sutis notas terrosas e algo tostadas, taninos finos e aveludados, final de boca algo apimentado de média persistência, rico, um vinho que me deu enorme prazer tomar e certamente abrirei outras pois mostrou estrutura com potencial de evolução.

De acordo com o Jean é vinho para dez  a quinze anos de guarda e guardarei algumas para checar isso. Não mais dez anos, mas uma a cada 2 por mais seis acho que rola porque depois dos 70 não vou é guardar mais nada! rs O vinho passou por 24 meses de barrica, mas pela sutileza acredito que devam ter sido de segundo ou terceiro uso, com eventual pequeno porcentual de novas, madeira bem trabalhada esta.

Tomado com amigos com quem gosto de fazer o teste de percepção de valor, pessoal chutou entre 90 a 110 pratas. Bem perto da realidade que é entre 100 a 110 Reais em São Paulo e acho que vale.

Bem, por hoje é só, boa semana e bons vinhos. Se não tiver na adega passa pela Vino & Sapore que sempre tenho boas garrafas por onde escolher e com preços camaradas. Saúde

Pinot Bom de Preço e Bom de Taça!

Pinot Noir bom abaixo das 60 pratas não é fácil de encontrar em terras brasilis seja lá de que origem for. Ou é ralo demais ou extraído demais difícil encontrar vinhos equilibrados. Normalmente quando é barato não possui qualquer característica da casta e já me perguntei algumas vezes o que diabo colocam na garrafa, porque Pinot tinha a certeza que não era. Gostava bastante do Maycas Sumaq que era fora da curva, mas não está vindo mais para o Brasil ou mudou de importador não sei ao certo, só sei que fiquei sem! rs Bom e abaixo das 60 pratas, valia muito a pena e tinha que encontrar um substituto à altura, porque barato e ruim tem de montão.

Depois de um bom período sem garimpar nada que valesse a pena, eis que me chega o Nancul Elegant Reserva Pinot Noir que veio atender a meus anseios. Os vinhos da Nancul têm como seu ponto forte uma boa relação Qualidade x Preço e não tem nenhum que eu tenha provado que negasse fogo dentro de sua faixa de preço, este não nega a marca que carrega.

O produtor é Hugo Casanova, uma vinícola do Maule que produz diversas marcas e está presente em todas as faixas de preço com vinhos sempre sempre bem feitos e agradáveis, especialmente nas gamas de entrada. Este Pinot segue essa receita, sendo muito balanceado sem extrações excessivas para que as características de cor e taninos fossem mantidos. Apenas 60% do vinho passa por barricas francesas, que imagino sejam de segundo ou terceiro uso, por cerca de 4 meses o resto em tanques de cimento para preservar a fruta. Não pretende ser um grande vinho, mas é “cumplidor” nesta faixa de preços, fruta abundante, paleta aromática viva, algum floral, mas é na boca que ele mostra ao que veio. Muito agradável de tomar, com taninos sedosos bem típicos da casta, algo de framboesa/cereja madura, boa textura com rico meio de boca, leve sem ser ralo, finalizando com um certo frescor e alguma especiaria.

Gostei, acompanhou muito bem o risoto de calabresa e chouriço português com um toque de pimenta biquinho e finalizado com parmesão ralado que improvisei neste último Domingo. Era para ser de funghi, mas as formigas chegaram antes de mim! rs Enfim, deu certo e certamente será um vinho que frequentará mais minha taça e minha mesa. Preço na casa dos 55 a 60 Reais, aqui em São Paulo, nas boas casas do ramo e restaurantes, recomendo.