Decero Petit Verdot

Um Domingo em Mendoza!

Dia complicado de visitas a bodegas em Mendoza, pois tem gente por lá que também precisa de descansar! Afora isso era dia de eleições locais, mas mesmo assim, dois grandes momentos; a visita á Decero e à O. Fournier onde também almoçamos. No dia anterior tínhamos iniciado nossas atividades com uma visita para lá de especial, à Michelini Bros então estávamos ávidos por mais neste lindo dia de Domingo e as surpesas que ele nos traria.

finca-decero-logo-rgbA Decero é uma Bodega muito jovem começada do zero em 1999 por um casal de Suiços que tinham em mente um projeto especifico a executar e por isso mesmo queriam algo que eles mesmos pudessem moldar ao seu jeito e forma. É linda, perfeitamente integrada a uma paisagem encantadora. Uma voltinha rápida para uma visita às instalações da bodega, prova de barricas com o enólogo residente Tomás Hughes e chegamos numa linda sala de degustações com uma vista que faz com que qualquer vinho tenha um gosto para lá de especial, imagina quando os vinhos possuem esta qualidade!

Os vinhedos chamados de Remolinos, em função dos redemoinhos (foto no slide show abaixo) que se formam no campo, começaram a ser plantados em 2000 e as primeiras colheitas experimentais realizadas em 2004 e 05. Finalmente em 2006 as primeiras colheitas comerciais foram realizadas, lançadas ao mercado dois anos depois e o sucesso veio rapidamente. Hoje se produzem cerca de 420 mil garrafas anuais e os troféus e medalhas começam a se amontoar. Para quem não conhece, recomendo a visita, o lugar e os vinhos merecem atenção sem desmerecer o atendimento muito simpático e eficiente, porque isso é essencial!

Já esteve presente no Brasil, porém em função do fechamento da importadora, busca outro representante para nossas terras e eu espero que achem logo, pois seus vinhos valem muito a pena, dois deles em especial são grandes destaques e vinhos inesquecíveis. Localizada em Lujan de Cuyo em uma de suas principais sub-regiões; Agrelo, só produz vinhos tintos. Você pode ver mais da bodega clicando aqui, mas agora deixa eu compartilhar com vocês os vinhos que lá provamos e nos foram apresentados pela simpática Daiana.

Decero Malbec 2012 – Boa tipicidade, floral, taninos finos bem presentes, boa persistência e harmônico, acidez bastante equilibrada. Bom vinho

Decero Cabernet Sauvignon 2013 – Frutos negros bem presentes, especiarias, jovem, taninos firmes e elegantes, gostei muito e, a meu ver, entre os três desta gama o vinho mais vibrante que mais me entusiasmou mostrando que estas terras de Agrelo realmente dão ótimos Cabernets!

Decero Syrah 2012 – Taninos doces, especiarias, boa intensidade e textura, amável na boca, um vinho bastante agradável, bem feito e fácil de tomar.

Decero Mini Ediciones Petit Verdot 2011 – somente cerca de 12.000 garrafas produzidas e um vinho surpreendente para a maioria que o prova pela primeira vez. Não é a toa que na safra 2012 levou o Troféu de melhor Vinho de Mendoza na Wines of Argentina Awards e Melhor Vinho Argentino entre USD30 a 50! Absolutamente sedutor, na contramão de tudo o que, a principio, se espera de um varietal 100% desta uva. Sem excessos, fino, nariz intenso e boca extremamente elegante com taninos de grande finesse. Uma garrafa é pouco!!

Decero Amano 2011 – baita vinho, encantador, conheci pela primeira vez na degustação Premium da Wines of Argentina em Setembro/14 (veja aqui meus destaques) e depois voltei a prová-lo em Novembro quando em Mendoza e agora novamente. Em todas as vezes senti enorme prazer ao tomá-lo, um grande vinho, um assemblage de primeira linha em que o viés velho mundista mais tradicional de perfeito equilíbrio, elegância, daqueles vinhos que já nos seduz na primeira fungada! Blend de Malbec, Cabernet Sauvignon, Tannat e Petit Verdot é um grande vinho, complexo e sedoso na boca, fruta exuberante um vinho que me encanta e não é à toa que foi o único vinho argentino a ganhar por três vezes o troféu de Melhor Red Blend acima USD50 na Wines of Argentina Awards!!

Clique na imagem abaixo para ver o slide show da visita à Decero. Dia lindo e a imagem é a vista que tínhamos da mesa de degustações, não é deslumbrante?!

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O. Fournier – saímos da Decero e rodamos pouco mais de uma hora até chegarmos à incrível O. Fournier com seu O Fournier logoprojeto arquitetônico ímpar, moderno e marcante. Conheci a O. Fournier e o José Manuel Ortega Fournier, em uma degustação aqui em Sampa no ano passado (relatado aqui) e me encantei por seus vinhos e diversidade de uvas trazendo um pouco da cultura ibérica para este longínquo recanto de Mendoza no extremo sul do Vale do Uco. Em função do atraso, a visita á bodega e suas instalações foi algo corrido, porém sua estrutura e design, das torres de concreto que são tanques, á enorme e incrível sala de barricas e coleção de arte, um momento realmente marcante que nos deu sede e abriu o apetite para o que estava por vir, um delicioso almoço harmonizado no restaurante Urban capitaneado pela Chef Nadia, esposa do José Manuel.

Deles, no entanto, falo em um post em separado porque este já tá longo demais. Inté, saúde, kanimambo e seguimos nos encontrando por aqui ou em qualquer outro lugar de nossa vinosfera. Uma ótima semana para todos.

Argentina sem Malbec e Cabernet Sauvignon.

A cada viagem que faço gosto de trazer na mala algumas garrafas de vinhos provados que se destacaram na minha taça e que gosto de compartilhar com 12 de meus amigos apreciadores de vinhos, clientes e leitores do blog, são as degustações Vinhos da Mala. Desta feita o tema que escolhi é Argentina sem Malbecs e Cabernet Sauvignon e se realizará na Vino & Sapore no próximo dia 19 de Maio (Terça-feira) a partir das 20 horas. Ainda não encontrei o lugar para montar estes eventos em Sampa, então por enquanto só por aqui na Granja Viana mesmo, porém espero já em Junho ter solucionado isso, aguardem! Os vinhos provados não estão disponíveis no Brasil, salvo uma ou outra exceção e o foco, como sempre, é no inusitado e na diversidade, principal objetivo de todo o meu trabalho em nossa Vinosfera. Eis a seleção que fiz para este evento.

Ramanegra Espumante Extra-brut – os hermanos adoram espumantes extra-brut e este elaborado pela Casarena com Chardonnay, Viognier e Sauvignon Blanc , um blend inusitado, me chamou a atenção. Espero que também vos surpreendam.

Montesco Água de Roca Sauvignon Blanc– como a água que nasce entre rochas, a mineralidade é seu principal chamariz, mas tem muito mais neste vinho que mostra uma Sauvignon Blanc argentina diferente e tratada com esmero pelo Matías Michelini um enólogo revolucionário que anda na contramão das modas na busca pela pureza.

Cara Sur Criolla – poucos conhecem a uva Criolla e muito menos haverão de ter tomado um vinho elaborado com ela. Este descobri jantando no delicioso Siete Cocinas do amigo Pablo del Rio que também gosta de “viajar”! Com apenas 900 garrafas produzidas, este é um projeto dos enólogos Sebastian Zuccardi e Francisco Bugallo no vale de Calingasta em San Juan com uvas de vinhedo com mais de 80 anos de idade. Um pinot autóctone?! Só provando para tirar conclusões.

Decero Petit Verdot – Um clássico vinho que recentemente ganhou em sua safra mais nova o Troféu de Melhor Vinho Tinto de Mendoza escolhido na Wines of Argentina Awards. Divino é pouco para falar deste que mostra uma Petit Verdot mais cordata e extremamente elegante, porém sem perder sua tipicidade. Soy un incha deste vino!

Zaha Cabernet Franc – a uva da vez na Argentina e este exemplar nos vem pelas mãos de mais um enólogo importante da nova geração, Alejandro Sejanovich com uvas da sub-região de Altamira no Vale do Uco, Mendoza. Um vinho em que as uvas são colhidas em três diferentes momentos de maturação para compor uma sinfonia engarrafada. Provei e gostei, muiiito.

*Calcáreo Bonarda – mais um vinho marcante do amigo e enólogo Matías Michelini em sua nova empreitada com seus irmãos na Michelini Bros. Somente 6.000 garrafas produzidas num vinhedo de apenas 2 hectares todo cultivado de forma biodinâmica. Uma obra de arte que desperta emoções especiais com uma uva não tão nobre, mas que gera alguns grandes vinhos quando bem trabalhada. Para você conferir.

Decero Tannat – Para finalizar, deste vinho a Decero produz apenas 700 garrafas e neste caso vamos provar juntos, pois ainda não o conheço, porém não resisti e tive que trazer uma garrafa para compartilhar com os amigos presentes. Este só se compra na bodega ou na Suíça para onde os proprietários (suíços) levam o restante. Conheço ótimos Tannats argentinos de Salta, porém por Mendoza não abundam, então vamos curtir juntos esta experiência?

Sorry sold OutEsses serão os protagonistas da noite e se você, como eu, gosta de provar coisas diferentes sentir novas emoções e se deixar levar pelo desconhecido, então não deixe de participar. As vagas estarão limitadas aos primeiros 12 amigos que efetivarem suas reservas, seis ja tomadas, então não dê mole! O valor a ser pago no ato da reserva é de R$120,00 por pessoa e inclui os vinhos, água, pãozinho, queijo e chorizo espanhol, café e na Vino & Sapore o estacionamento é gratuito. O *Cálcareo virá direto da Argentina e ficamos sujeitos a que ele chegue a tempo, caso não aconteça, este será substituído por um outro grande Bonarda, o El Enemigo de Alejando Vigil, só que este já tem por aqui.

Fico no aguardo de sua confirmação, Kanimambo e amanhã tem mais. Cheers!

Roberto de la Mota e a Diversidade Argentina

Dando sequência a nossa maratona de mais de 3.800 kms e 4 regiões produtoras argentinas a convite da Wines of Argentina (WofA), chegamos a Mendoza por volta das 7:30 de la matina depois de 10 intermináveis horas de bus e o corpo todo quebrado. Direto para o hotel e um belo e merecido café da amanhã seguido de uma ducha e uma horinha de descanso enquanto colocava meus mails em dia para às 11 horas já voltarmos CAM00869aos trabalhos num dos melhores momentos desta viajem, um encontro com Roberto de la Mota com quem poderíamos charlar por uma eternidade sorvendo de sua experência e vasto conhecimento. Papo fácil e sedutor, falou da diversidade vitivinícola enquanto provávamos alguns exemplares provando na prática a teoria apresentada, divino!

Vou compartilhar algumas notas do que escutei e também dos vinhos provados, porém, para quem não conhece, deixem-me antes apresentar o Roberto de la Mota. Enólogo dos mais conceituados, começou sua carreira aos 19 anos ajudando o pai (o lendário Raul de la Mota) na Weinert. Depois foi estudar e trabalhar em Bordeaux sob a batuta de Émile Peynaud retornando ao país quando, entre outras, andou pelo projeto Terrazas da Chandon. Hoje dá consultoria para diversas bodegas em várias regiões produtoras assim como tem seu projeto pessoal, a Mendel Wines. Um craque, simpático, sabe tudo do vinho e da vitivinicultura, sua charla (sem pompa nem soberba) é uma aula para quem quiser ouvir!

Até os anos 80 o foco de Mendoza era quantidade! Eram 350 mil hectares de muita uva mas tão somente 15% era de uvas e vinhos finos. Esta situação hoje se inverteu e novas fronteiras se abrem para novas uvas na busca de diversidade pois a região se mostra propicia para muitas mais castas do que a Malbec. Por sinal, foi Roberto que trouxe as primeiras mudas de Cabernet Franc e Petit Verdot para a região, acreditando que se dariam bem e hoje os resultados mostram o quão acertado ele estava.

Mendel Semillón 2013– mais uma aposta do Roberto, desta feita com uma uva branca e quantidades de produção limitadas a cerca de 4 mil garrafas que ele comercializa em quantidades iguais nos Estados Unidos e no Reino Unido com algumas poucas reservadas para seu estoque na bodega. Vinte porcento passam em barrica por uns seis meses, que é o que lhe dá a untuosidade porém sem cobrir o frescor e a fruta muito presentes. Floral (frutos secos) nos aromas, boga rica e fresca de boa persistência, gostei bastante! Para comprar lá na bodega em uma próxima visita.

Dona Paula Estate Sauvignon Blanc 2014 – Só inox, nariz muito intenso, na boca é mineral, ótimo final, fino e fresco. Um SB muito bem feito e agradável. Bela surpresa.

Bodega Colomé Torrontés 2013 – para mim segue sendo um dos melhores torrontés hoje no mercado mostrando todo o potencial desta uva quando bem trabalhada nos vinhedos. De Salta, 2600 metros de altitude, é um vinho clássico, floral com cítrico no nariz, encantador, faz a minha cabeça!

Durigutti Reserva Bonarda 2010 – não conhecia o produtor até uma recente viagem e agora comprovo sua aptidão para vinhos de muita qualidade. Com 18 meses de barrica, apresenta na entrada uma framboesa marcante, meio de boca com grande volume, denso e carnoso apresentando um final fresco com nuances minerais. Sai um pouco fora do padrão de vinhos mais leves e mostrou ter estrutura para guarda. Na linha do Nieto Partida Limitada que é um marco nos vinhos elaborados com esta uva e que necessita de bastante tempo de garrafa para mostrar todo seu valor.

Rutini Cabernet Sauvignon 2011 – com 12 meses de barrica, mostrou-se extremamente equilibrado, madeira muito bem integrada, terroso, rico, boa estrutura, taninos aveludados, um belo vinho bem no estilo da casa de vinhos bem feitos que agradam fácil. Belo vinho!

Andeluna Pasionado Cabernet Franc 2010 – este produtor tem uma característica que a nível geral não me agrada, revi isso posteriormente numa outra cata, pois seus vinhos costumam ser algo excessivos, seja no álcool, na extração ou corpo. Denso, taninos marcantes, para mim faltou deixar a uva se expressar melhor, porém há quem goste.

Finca Decero Mini Ediciones Petit Verdot 2011 – delicia na taça, trouxe para minha Degustação de Vinhos da Mala e todos se apaixonaram. Este produtor já andou por aqui, porém com o encerramento das atividades de seu importador, anda negociando sua volta. São 16 meses de barrica francesa, das quais 50% novas, e o resultado é um vinho muito expressivo tanto no nariz quanto na boca, classudo, gordo, taninos finos e sedosos, ótima textura e longo. Queria beber caixas!

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Grandes vinhos, grande charla, um momento inesquecível, um tremendo privilégio! Depois, visita a uma bodega com almoço e mini-feira com mais 8 produtores, mas isso é papo para outro post! Salute, kanimambo e nos vemos por aqui, na Vino & sapore ou juntos na viagem a Mendoza com a Wine & Food Travel Experience em Janeiro.