Na Prática – Fondue de Queijo com que Vinho?

Já escrevi diversas vezes sobre o tema, porém desta vez a Confraria Saca Rolha decidiu fazer o teste para valer! Fondue de queijos e 4 vinhos nas taças para testar as diversas opções de harmonização. Sim, já sei, essa coisa de harmonização é uma frescura, pois bem, pode até ser e não precisa fazer disso uma obsessão, mas convenhamos que quando dá certo é bem legal, fica melhor e, quanto a isso, não acredito que haja alguém que possa negar, né?

Três opções de vinhos brancos e um tinto como contraponto, pois há os que não abrem mão mesmo que tudo indique que com a maioria dos queijos sejam os brancos que se dão melhor, mas gosto não se discute! Seguindo minhas próprias recomendações, o tinto deveria ser de taninos macios e pouco presentes para não brigar, assim fiz.

Servimos os quatro vinhos juntos e o “estudo de campo” (rs) ficou bastante interessante; dois franceses, um alemão e um chileno na taça. eis minha opinião sobre a experiência.

Gries Gewurztraminer, alemão da região de Pfalz um delicioso vinho que mostra bem as características da uva com um floral bem presente no nariz. Na prática não rolou, ressaltou o dulçor do vinho e o floral não chegando no resultado esperado, mesmo o vinho sendo muito bom, a harmonização não decolou. Acho que com um curry de camarão (huumm, acho que vou ter que experimentar!) deve ficar da hora! Vinho na casa dos 130 Reais

Gustav Lorentz Riesling Reserva , francês da Alsácia, uma das melhores se não a melhor combinação da noite. Sua mineralidade, frescor e bom corpo, serviram como suporte para a untuosidade do fondue. Muito equilíbrio entre o vinho e o prato o que catapultou os sabores de ambos, tudo o que queremos quando buscamos harmonizar, faltou garrafa à harmonização! Vinho na casa dos 150 reais

Boya Chardonnay, o participante chileno. Do mesmo produtor do Amayna (célebre chardonnay chilenos), esta linha exclui a madeira da equação e, a meu ver, produz um vinho muito mais equilibrado e gostoso de beber. As características da uva seguem lá, amanteigado com notas abaunilhadas e amendoadas, porém sem a turbinação da madeira que acaba encobrindo sua delicadeza. Um vinho que me agrada bastante e que se mostrou muito capaz de acompanhar o Fondue rivalizando com o Riesling alsaciano. Vinho na casa dos 120 reais.

Chinon Couly-Dutheil Baronnie Madeleine, um belo e nobre representante dos Cabernet Franc desta região do Loire na França e nosso representante dos vinhos tintos nesta experiência sensorial. Bastante floral no nariz, taninos sedosos e ótima textura, rico meio de boca, boa acidez, é um vinho daqueles para tomar muitas taças em boa companhia, digno da região mostrando bem a tipicidade da uva. Foi bem, mas não empolgou os confrades presentes não! Todos deixaram claro, pelo menos que me lembre, que a harmonização com os brancos é superior agora, se é um tinto que você busca, esta pode ser uma boa opção assim como um Pinot, Gammay, Barbera ou similar, todos preferencialmente sem estágio em barricas. Vinho na casa dos R$180,00.

SR Agosto - Fondue & Vinho

Bem, o encontro foi ótimo e, como sempre,aberto com um bom espumante que desta vez teve como protagonista um cremant de Limoux, o Collin Cuvée Prestige Brut, que realmente estava delicioso, lamentando que não tivesse levado mais uma garrafa para usar como quinto vinho em nossa experiência! Caso prefira vinhos mais baratos, siga o perfil sugerido, porém seguem algumas dicas de vinhos mais acessíveis, abaixo das 60 pratas:

Apaltagua Riesling e VSE Classic Chardonnay sem madeira ou ainda o VSE family reserve com madeira bem sutil (todos chilenos) ou o Casarena Chardonnay mendocino sem madeira mas de bom corpo.

Outras dicas sobre o que tomar com as diversas opções de Fondue podem ser vistas aqui. Por hoje é só, kanimambo pela visita e nos vemos por aí ou por aqui num próximo dia, saúde!!

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Região Vinícola do Vale do Loire

O Vale do Loire, melhor conhecido como o Vale dos Reis ou, ainda, o Jardim da França, tendo sido designado como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, é uma região única repleta de castelos, cerca de mil, e paisagens deslumbrantes. É uma vasta região produtora de vinhos de cerca de 600kms ao longo do Rio Loire, o maior da França, em que os vinhos brancos exalam qualidade e excelência. São 185 mil hectares de vinhedos distribuídos, como na Borgonha, por um monte de pequenos produtores de estrutura familiar. Mas não é só de brancos que a região vive. Aqui se encontram, também, vinhos tintos, espumantes, vinhos doces, todos de muito boa qualidade. O Cremant de Loire é um espumante de grande aceitação na França, os tintos á base de Cabernet Franc, são joviais e frutados, num estilo meio Beaujolais, para serem tomados jovens e refrescados enquanto seus brancos são, efetivamente, excepcionais.

Assim como a região de Champagne, o Vale do Loire situa-se no limite de temperaturas baixas para produção de vinhos. Nos anos quentes, e variação de temperaturas (quente/frio), dá aos vinhos essa elegância e acidez cortante que tanto encanta os apreciadores. Nos anos demasiado frios, todavia, devido à falta de insolação, as uvas não amadurecem adequadamente e tendem a gerar vinhos magros e sem estrutura o que é uma grande preocupação para os produtores. Nesses anos, cresce exponencialmente, a produção de espumantes Cremant de Loire, que se beneficia dessas condições climáticas. O Cremant de Loire é elaborado pelo método tradicional, tendo a Chenin Blanc como protagonista e, como coadjuvantes, a Chardonnay e Cabernet Franc, eventualmente as uvas Gamay e Pinot, da região de Touraine e Anjou-Saumur. Uma bela, e bem mais econômica, opção aos caros Champagnes.

No total, são mais de 70 AOCs gerando vinhos dos mais diversos, mas mantendo um traço característico da região que é a boa acidez dos vinhos. A região divide-se em três ou quatro sub-regiões, dependendo do autor consultado. Eu adotei a teoria das quatro sub-regiões, Leste, Touraine, Anjou-Saumur e Paix Nantais ou Oeste por achá-la mais detalhada. Os que adotam três, na verdade, só juntam as regiões de Touraine e Anjou-Saumur em uma só.

 

 

 

Cada região produz um estilo de vinhos próprios em que uvas diferentes protagonizam produtos bem distintos, com características de envelhecimento muito peculiares. Para facilitar o entendimento, optei por colocar essas principais diferenças e informações numa tabela:

 

Sub-Região

Principais Apelações

Uvas e Estilo de Vinhos

Idade Ideal de Consumo e Características

Paix Nantais (Oeste ou Loire Atlantique)

Sévre-et-Maine, Cotes de Grand Lieu, Coteaux de la Loire.

Branco seco à base de Muscadet, não confundir com Moscatel que é doce. 

Vinhos alegres, fáceis de tomar,muitas vezes vinificados “Sur Lie”. Perfeito com frutos do mar. Para tomar jovem até dois, máximo três anos.

Touraine

Bourgueil

Tintos de Cabernet Franc eventualmente com corte de Cabernet Sauvignon.

Vinhos para serem tomados jovens, com até dois anos de idade, eventualmente três.

Chinon

Tinsos elaborados, quase que exclusivamente, com Cabernet Franc.

Dos melhores tintos da região para serem tomados entre 3 a 5 anos e, os melhores, podem envelhecer por até 10 anos.

Vouvray

Chenin Blanc, vinhos brancos secos, demi-sec e doces.

De 5 a 6 anos os mais simples e, os melhores, até 20 anos.

Anjou-Saumur

Coteaux du Layon, Bennezaux e Quarts de Chaume

Chenin Blanc, básicamente vinhos brancos doces.

Podem ser tomados jovens, mas crescem em complexidade após cinco ou seis anos podendo durar décadas. Divinos vinhos de grande qualidade e excelente relação acidez x doçura.

Savenniéres

Chenin Blanc, vinhos brancos secos, austeros, de grande frescor e complexidade.

Vinhos que necessitam de 2 a 3 anos para começar a mostrar todo o seu potencial e qualidades. Guarda por volta de 10 anos, mais nos grandes vinhos.

Rosé d’Anjou

Vinhos Rosés elaborados principalmente com Grolleau e cortes com Cabernet Franc e Gamay.

Vinhos rosados, normalmente fracos, ralos e ligeiros para serem tomados em 1 ou 2 anos de engarrafado.

Centro (ou Leste)

Sancerre

Sauvignon Blanc

Vinhos francos e diretos, muito frutados e perfumados. Para ser tomado jovem, até 2 anos, eventualmente 3, do engarrafamento.

Pouilly-Fumée

Sauvignon Blanc

Vinhos delicados de grande intensidade aromática, acidez e mineralidade. Bastante complexo na boca. Melhor se tomado entre 1 a 3 anos da safra.

Falando de Vinhos  07/2008

 

Em sendo as safras um importante fator na qualidade dos vinhos da região, como na Borgonha, achei que seria interessante listar as grandes safras a serem procuradas. Excepcionais foram as de 1996, 2002 e 2005, mas a natureza tem  sido bastante pródiga e as safras de 1994, 1995, 1997, 2000, 2001, 2003 e 2004 também foram boas. Se forem vinhos de bons produtores, então não tem erro, aproveite e delicie-se. Como exemplo, cito a diferença de preço e pontuação do Quarts de Chaume de Baumard na Mistral. A safra de 2000 com 93 pontos na Wine Spectator está por cerca de R$147,00 enquanto a de 2005 com 98 pontos está por R$230,00 e o de 2006 por R$260,00. De resto, só me resta recomendar aos amigos a navegação e garimpo por vinhos brancos desta região. São, efetivamente, vinhos de grande qualidade e sedutores que merecem ser conhecidos. Eu me encantei pelo frescor e mineralidade destes vinhos assim como por sua complexidade e intensidade aromática.

Salute e kanimambo.