Os Grandes da Patagônia

CAM00797Depois de um dia intenso em que terminamos jantando no La Toscana, um belo restaurante em Neuquen, com Julio Viola e os vinhos da Fin del Mundo, tínhamos mais um dia de muitas descobertas pela frente. Antes porém, preciso falar desse jantar onde pela primeira vez comi rinones por indicação do amigo Didu. Muito bom!! Uma consistência diferente (me pareceu moelas), e o prato dava para três, sem chance de terminar.
Para acompanhar o jantar tivemos a companhia do Julio que nos apresentou alguns vinhos da Fin del Mundo e da NQN (Malma) bodega recentemente comprada por eles e que iríamos visitar no dia seguinte.

Muito bom espumante extra-brut á base de chardonnay com Pinot Noir para nos preparar o palato para o que estava por vir. Vinhos potentes e o famoso Fin del Mundo Blend segue não me encantando mesmo fazendo a cabeça de muitos, sei bem disso. Sigo preferindo vinhos menos excessivos e a este há que se lhe dar tempo para que encontre seu equilíbrio, coisa nem sempre fácil de executar. Dos vinhos que tomamos nessa noite; Fin del Mundo Reserva Chardonnay, Malma Finca La Papay Pinot, Fin del Mundo Single Vineyard, Fin del Mundo Single Vineyard Pinot 2010 e o Special Blend, tenho que confessar que meu coração bateu mais forte com o Sinlgle Vineyard Pinot e o Cabernet Franc que “maridou” perfeitamente com os rinones! Cansados, nos arrastamos para a van que nos esperava para nos levar ao hotel e um merecido repouso.

Temprano, saímos para visitar as bodegas Fin del Mundo e NQN, uma do lado da outra, e me deparei com algo que nunca tinha visto, escondidos atrás de uma cortina de alamos 800 hectares de vinhas e cerca de 9 milhões de litros de vinho de todas as gamas. O verdadeiro significado de “indústria do vinho”. Adorei a coleção de barricas antigas pintadas por diversos artistas plásticos, prática que posteriormente vimos em outras bodegas, porém sem a mesma quantidade e foco.

CAM00810Na Fin del Mundo, cerca de 2.200 barricas e a maior produção, cerca de 7.5 milhões de litros (9 milhões o com a NQN) com diversas linhas de produtos das quais as linhas de entrada Ventus e Postales representam cerca de 50% da produção. Fomos recebidos com uma taça de espumante que me encantou ao ponto de o trazer na mala para a minha já tradicional Degustação da Mala quando tenho a oportunidade de compartilhar com quem não foi, alguns frutos de meu garimpo.
Espumante Nature de Pinot Noir – Não vem ao Brasil e somente são produzidas cerca de 15.000 garrafas ano. A primeira fermentação é feita em cubas de carvalho francês e 10557272_932568523421519_1302182506060255175_npassa 36 meses sur lie. Um vinho complexo, estruturado, ótima perlage e personalidade própria, daquelas que você não esquece.
Postales Rosé – simples, saboroso, sem compromisso.
Newen Sauvignon Blanc – fácil, pouca expressão da casta
Postales Malbec – na linha do Rosé, sem compromisso
Newen Malbec – 12 meses de barrica ainda por integrar, comercial, boa extração.
Fin del Mundo Reserva Malbec – de 12 a 14 meses de barrica francesa, ainda muito jovem (2013), madeira bem presente, fruta madura, feito para agradar uma fatia de mercado interessante que consome malbec deste estilo, mas a meu ver faltou a tipicidade regional.
Fin del Mundo Gran Reserva – para mim, junto com o Cabernet Franc provado na noite anterior, o melhor vinho da casa. De 12 a 14 meses de barrica francesa (70%) e americana, um delicioso e muito harmônico blend de Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Malbec e Merlot cheio de fruta vibrante, especiarias, meio de boca muito rico, taninos de muita qualidade, fino e elegante mostrando um estilo mais patagônico de ser!

CAM00838Na “camioneta”, rapidamente até ao outro lado da estrada e já estávamos na NQN (Malma) onde iríamos almoçar e também fomos recebidos com um espumante, um extra-brut meio estranho já que deixava um retrogosto doce mostrando um residual de açúcar bem acima do esperado num extra-brut. O prédio e esculturas em ferro velho são marcantes e fiquei impressionado com as esculturas que podem ser vistas no slide show que vou colocar aqui abaixo daqui a mais uns momentos já que não quis atrasar o texto. Fomos á sala de degustação onde nos foram dados à prova cinco vinhos com a mão, importante frisar, de Roberto de la Motta o enólogo consultor da bodega.
Finca Papay Malbec – 30% do vinho passa em barrica por seis meses. Um vinho agradável, não chega a encantar porém é bem feito, fresco, sem arestas nem excessos, gostoso de beber.
Reserva da Familia Pinot Noir – misto de roble francês e americano, mais deste último, CAM00845muito fresco, equilibrado, boa fruta e elegante, taninos suaves muito bem trabalhados, um pinot que me agradou bastante.
Reserva da Familia Malbec – mais um bom vinho repleto de fruta viva, fresco, taninos sedosos e madeira muito bem integrada. Aqui uma ressalva, o Merlot deles da Reserva da Familia, que conhecia de outros carnavais mas que não provamos no dia, é também de muito boa qualidade. Esta gama de produtos é toda de qualidade muito boa.
Universo Malbec , a gama top da casa – 100% de roble francês por 15 meses e um teor alcoólico alto, 14.6% perfeitamente integrado não deixando marcas. Pelo menos na prova, não sei depois da terceira taça! rs Fruta bem presente,, fresco, taninos finos,um vinho de classe e este 2010 ainda está jovem devendo evoluir bem na garrafa por mais uma meia dúzia de anos.
Universo Blend – um grande vinho com muito futuro pela frente e, na minha opnião, algo melhor que o Malbec. Blend e Malbec (60%) com Cabernet Sauvignon, apresenta-se muito bem equilibrado, untuoso, especiado e com notas mais tostadas mostrando a madeira que ainda precisa de tempo para uma maior integração pois o vinho era 2012, uma criança engatinhando!

Esse foi nosso passeio pela patagônia e ficou a vontade de voltar uma outra vez, quem sabe com a Wine and Food Travel Experience, para conhecer algumas outras bodegas como a Noemia, Chacras e Patritti entre outras. Hora de voltar ao hotel para um breve descanso e encarar dez horas de ônibus até Mendoza, confesso que estava preocupado!

Finalizei o slide show e para vê-lo basta clicar na imagem abaixo que ela te levará lá! Uma ótima semana para todos e não deixem de estudar a possibilidade de vir comigo a Mendoza dia 21 de Janeiro, um roteiro para enófilo nenhum botar defeito! Saúde, kanimambo e seguimos nos encontrando por aqui.

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Mandela (o vinho) na Taça, Uma Experiência Africana

Há algumas semanas tive a oportunidade de participar de mais um saboroso evento do Winebrar, uma degustação virtual, com os amigos Alexandre Frias, Daniel Perches e o Rogério da Ravin. Nessa oportunidade, provamos dois vinhos que recém chegaram ao mercado pelas mãos dessa importadora.

Os vinhos da House of Mandela têm por trás de si, toda a experiência e sabedoria do grupo Fairview na produção o que por si só já é uma boa razão para nos aventurarmos por seus aromas e sabores. Dois vinhos de gama de entrada que a importadora estava vendendo com desconto promocional de lançamento, não sei se ainda está, e saía por R$39 em vez do preço de tabela que é de R$49,00. Vieram três varietais, um Sauvignon Blanc, um Pinotage e um Syrah, porém nessa noite provamos somente os primeiros dois:

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Sauvignon Blanc – Gostei bastante pela ausência dos aromas e sabores fortes de aspargos no vinho, algo que não me agrada nos vinhos desta cepa. Este se apresenta bem fresco, mais citrino com grama molhada bem presente numa presença de boca toda ela mais sutil e elegante e balanceada terminando com uma certa mineralidade. Um vinho muito agradável de se tomar e certamente uma bela companhia para os queijos de cabra e frutos do mar grelhados ou fritos.

Pinotage – a meu ver mui agradável e cativante  no olfato, apresentando-se  franco e bem integrado, final saboroso e surpreendente persistência. Nada daquela típica borracha queimada mais presente nos vinhos de entrada de gama, aparecendo uma fruta pouco comum e um final com alguma especiaria.

Pessoalmente creio que o Sauvignon Blanc é mais harmonioso e vibrante com um potencial mais interessante para ser tomado solo, sem comida, enquanto o Pinotage tende a cansar um pouco depois da segunda taça o que poderia mudar com pizza de, peperoni , linguiça de javali e coisas do gênero. Pensei até num belo X-Picanha! Vale a prova e é uma boa introdução aos bons vinhos sul-africanos. Salute e kanimambo!

Cadus na Casa de Nieto, Boas Surpresas na Taça

Cadus Brut NaturePara quem não conhece, a Casa de Nieto Senetiner, onde em companhia de outros colegas blogueiros fomos recebidos com muita hospitalidade pelo “gerente” da casa e sommelier Mauricio Marcondes, é a base deste importante produtor argentino em São Paulo. Para a maioria de nós, a Nieto é sinônimo de vinhos simples e baratos, fama feita em cima de muitos anos de Benjamim e outros vinhos similares. Quem nesta vida de enófilo pode dizer que nunca provou um desses vinhos? Eu, por exemplo, sempre gostei de seu Benjamin Chardonnay, um vinho gostoso, fresco e fácil. Mas esta vinícola em atividade desde 1888 e desde 1998 nas mãos do grupo alimentício argentino, Molinos tem bem mais a oferecer e o ícone dos Bonardas, o Edicion Limitada, é um exemplo do que podem fazer e revolucionou a produção de vinhos com essa uva em terras argentinas. O que poucos conhecem, no entanto,  é sua linha top, a Cadus (ânfora no dialeto local), e eu também não, então deixa eu compartilhar com vocês essa experiência.

Fomos recebidos por um espumante Cadus Champenoise Brut Nature, um  Blanc de Noir elaborado com Pinot Noir  (70%) e Malbec. Como a maioria dos Blanc de Blanc, sua cor nos remete a um rosado claro no estilo casca de cebola. Os vinhos base passam por um período de 3 a 6 meses de barrica e a segunda fermentação é de 18 meses sur lie e uma peculiaridade (nunca vi antes) que faz a diferença, um leve toque de grappa  no degorgement em vez de licor de expedição. Muito interessante, não é fácil, mas é muito interessante para os que curtem bons e diferente espumantes. Marcante de personalidade muito própria e inconfundível, harmonizou muito bem com os diversos canapés, especialmente com os de salmão e kani. Tomamos a garrafa 65 das poucas 7.000 produzidas.

Posteriormente fomos apresentados a três tintos e mais uma surpresa para lá de agradável ao final. Falemos dos tintos:

Cadus Grand Vin 08, elaborado pela primeira vez em 94, é um blend muito equilibrado de Malbec (50%) com Cabernet Sauvignon e Bonarda que passam por 24 meses de barricas novas francesas e pelo menos 12 meses de afinamento em garrafa antes de sair ao mercado. Um belo vinho que só vem confirmar o que venho falando já faz um tempo sobre os vinhos argentinos, os blends estão melhores, mais elegantes e complexos que os varietais por lá produzidos, ojo! O corpo e estrutura estão lá, o álcool mais comedido e bem integrado também, mas é cavalheiro de fino trato como demonstra na taça. Muito bem harmonizado com o filé com shiitake, é um vinho com preço ao redor dos R$170.

Cadus Blend of Vineyards Malbec 08, a primeira safra deste vinho que é composto de uvas de diversas sub-regiões de Lujan de Cuyo; Agrelo/Vistalba e Vistaflores, todos terroirs privilegiados! Doze meses de barrica e doze de garrafa, é um vinho franco de grande impacto na entra de boca, “amansa “ no meio de boca e temina com taninos fino e sutis com um frescor agradável e supreendente. Ótima fraldinha com legumes e um preço por farrafa ao redor dos R$150,00.

Cadus Single Vineyard 07, de Agrelo, foi elaborado pela primeira vez em 2000 com vinhas de mais de 35 anos de idade. Vinho premium, com 24 meses de barrica nova francesa e 24 messes de garrafa, é um vinho de guarda e mostrou isso na taça. Escuro, potente, grande estrutura, boca densa, álcool na casa dos 15,5% bem integrados no conjunto, um  bom vinho para os amantes deste estilo tomarem agora e quem aprecia mais elegância, como eu, terá um grande vinho em mãos dentro de três ou quatro anos. Bom já, mas certamente valerá a pena esperar um pouco mais. Aliás, já diz o ditado, o apressado come cru! Vinho já na casa dos R$200 que ficou divino com o ragu de cordeiro sobre polenta cremosa com que foi harmonizado. Uma bela “maridaje”!

Por falar em ditado, best things for last, como dizem os gringos! O Mauricio saiu e voltou com um vinho que decantava fazia 4 horas e nos ofereceu uma prova às cegas. Malbec, sem duvida! Cor rubi, escuro e denso, aromáticamente muito complexo com a tradicional fruta peculiar á casta, mas também notas animais e sutil floral. Muito estruturado, rico, vivo, poderoso, notas de frutos negros, final com chocolate, cacau, taninos aveludados muito presentes e longo, muito longo. Certamente um vinho TOP ainda muito jovem, acreditamos todos nós. Ledo engano!! Cadus Estiba 39, safra, pasmem, 2000!!!!!!!!!! Um vinho também single Vineyard (Agrelo) de vinhedos com idade superior a 45 anos de rendimento médio com fermentação e maceração prolongada por 25 dias a 28-32ºC em pileta (tanques de cimento) de pequeno volume (entre 3000 e 5000L) com amadurecimento por 24 meses em barricas de carvalho francês de primeiro uso e dois anos de amadurecimento em garrafas.  Uma prova de que os vinhos argentinos podem sim ser longevos e envelhecer muito bem, pois a não ser alguns indicativos no nariz, só identificados após a divulgação da safra, não havia nada marcante que denotasse a idade avançada do vinho. Os privilegiados presente tiveram a possibilidade de tomar uma das últimas doze garrafas disponíveis com o produtor. Na importadora (Flora) o estoque está zerado e na maior parte das lojas também, mas na pesquisa (google) vi que essa raridade ainda existe em alguns poucos lugares a preço ao redor de R$280,00! Adoraria ter uma grana para comprar umas três garrafas e acompanhar seu amadurecimento nos próximos quatro a cinco anos, certamente deverá ser uma experiência e tanto para quem pode.

Noite extremamente agradável, ótimos vinhos e comida impecável (chef Lula está de parabéns) e muito bem harmonizada. São momentos preciosos  destes que nos fazem ver o quão pouco conhecemos de nossa vinosfera e do quanto ainda há por aprender. Aos amigos que tão bem nos receberam, meu muito obrigado pela oportunidade, salute e um kanimambo muito especial. As fotos, essas adicionarei em breve, meu celular está em recuperação!! rs

 

 

De Volta à Argentina – os Vinhos de Cafayate

      Em função do “paro” em Buenos Aires nosso voo para Mendoza rodou então ficamos uma dia a mais no pedaço, mas aproveitamos bem. Algumas surpresas, uma revisão de avaliação, quebra de preconceitos e vinhos de qualidade (mais de 65)  na taça, boas experiências vividas nestes últimos momentos de presença na região de Salta.

El Porvenir  – Enquanto estávamos na Felix Lavaque, tivemos a felicidade de receber a visita do Mariano Quiroga Adamo, jovem e talentoso enólogo da El Porvenir (recente nesta casa) um produtor de médio porte elaborando cerca de 400 mil litros anuais dos quais 85% se exportam. Provamos três de seus vinhos, e muitos mais nos dias seguintes, porém vou deixar aqui minhas impressões sobre os que mais me chamaram a atenção entre os diversos bons caldos que habitaram minha taça nestes últimos dias na região de Salta.

Laborum Torrontés 2012 – já mencionei antes de que me surpreendi com a enorme evolução qualitativa dos Torrontés e este vinho só veio confirmar a regra. Uvas colhidas em três fases diferente de maturação resultam num vinho fino e elegante, fresco, frutado com toques cítricos e muito, mas muito saboroso.

Laborum Malbec 2011 – Nariz bem intenso e linda cor purpura, nos convidam a levar a taça á boca onde mostra um meio de boca muito bom e frutado, boa acidez e final bem longo e muito apetitoso! Vinho para curtir nas calmas, sem pressa para dar-lhe tempo de se expressar na sua plenitude. Um belo vinho.

clique para ver slide show II

San Pedro de Yacochuya – Confesso que fui com um pé atrás. Sei que é um marco da região, mas essa potência toda e super extração “Rollandistica “ não faz minha cabeça e numa degustação de há tempos já tinha me decepcionado com ele. Confesso que revi posição, mesmo não sendo meu estilo de vinho. Apenas 21 hectares aqui (+ seis em Tolombon  ), dos quais 8 hectares com mais de 100 anos. Michel Rolland é sócio comercial sendo responsável pela elaboração dos vinhos, porém não pelo estilo já que isso é uma filosofia dos irmãos  Marcos e Arnaldo Etchart. Maceração longa de 30/40 dias, uvas supermaduras, tudo busca o perfil superlativo que fez a marca deste produtor e projetou a região de Cafayate internacionalmente.

Coquena Tannat – provamos amostra de tanque deste vinho que vem do vinhedo de Tolombon e que deve estar por ser engarrafado. Mesmo não pronto, já mostrou qualidade e creio que deveremos estar diante de mais um bom tannat desta região e espero que chegue logo ao Brasil.

Coquena Malbec 2011 – na hora não me encantou, porém recentemente tomei uma garrafa que trouxe e me surpreendeu. Dependendo do preço a que chegar ao Brasil, pretende ser uma alternativa low budget da marca, vale a pena pois está muito equilibrado e as notas vegetais mais agressivas que senti na prova na bodega, deram espaço para notas mais frutadas bem saboroso e de bom volume de boca que é a assinatura da casa.

Yacochuya 2009 – 24 meses de barrica, especiarias bem presentes. Potente em boca, taninos ainda algo “amarrantes” na boca (muito jovem), untuoso, carnudo, para tomar de garfo e faca! Tenho, todavia, que rever minha posição sobre este vinho que me confirmou que tudo na vida merece uma segunda chance. Vinho potente sim, porém muito rico também e demonstra uma complexidade que não tinha conhecido na minha prova anterior. Para os amantes deste estilo de vinho, certamente um grande vinho com enorme capacidade de guarda.

El Transito – com uma capacidade de produção de cerca de 150 mil garrafas  produz uma linha algo mais comercial e um pouco rustica no estilo. Sua linha básica é bastante interessante, me atraiu mais, e fácil de gostar com especial destaque para o Cabernet Sauvignon 2009 com bom volume de boca, especiarias, frutas negras no nariz, taninos finos sem passagem por madeira.

Etchart – um gigante e um dos primeiros a estar presente por aqui. Comprado em 96 pelo grupo Pinot Ricard, esperava uma visita sem grandes surpresas, de vinhos fáceis sem grandes emoções e………me enganei redondamente. Vivendo e aprendendo que preconceito é uma …..! Enfim, são 450 hectares de vinhas e mais de 9 milhões de garrafas ano porém do que provei, muitas e boas surpresas, sem contar a hospitalidade e simpatia numa prova em baixo das árvores do lado da casa de hóspedes. Lugar lindo.

Torrontés, provamos três. O Privado é simples e fácil, o Reserva já mostra ao que vem, mas é o Etchart Gran Reserva Tinaje 2012 que mexe com a gente ou, pelo menos, comigo. Um dos melhores provados nesta viagem. Todo ele muito sutil e fino, leve floral com notas de pêssego no nariz. Na boca é delicioso e sedutor com notas de grama molhada recém cortada, alguma lima mostrando um frescor muito gostoso e de final longo.

Arnaldo B, um dos melhores custo x beneficio dos vinhos provados em todos os sete dias de viagem á Argentina. Caiu nosso queixo quando nos disseram que este vinho custa algo ao redor de R$50 a 60 no mercado brasileiro já que nossa percepção de valor foi bem superior a isso! É o vinho principal deles e provamos o 2008 que é um blend essencialmente de Malbec/Cabernet Sauvignon e Tannat, mas que no futuro próximo pode vir a receber o aporte de outras cepas. Elegante, fino, de bom corpo e ótima textura, untuoso e rico, daqueles vinhos que acaba muito rapidamente e uma garrafa sobre a mesa será certamente pouco, ainda mais a esse preço!

Amostras de barrica. O anfitrião e enólogo da casa, Ignacio Lopez, se entusiasmou e quis nos mostrar algumas de suas criações em processo de desenvolvimento. Eles estão experimentando coisas novas e nos deram o privilégio de provar algumas amostras. Das quatro variedades provadas (CS, Tannat, Bonarda e Ancelotta) curti muito o Tannat que apresentou um frescor e fruta muito interessante prometendo um futuro bem interessante tanto em blends como solo. Gamei no Ancelotta!! Fino, denso, notas achocolatadas, uma aposta do enólogo em algo novo na região (sugeri que ele visitasse alguns de nossos produtores no Sul) que vai dar o que falar, aguardemos. Em principio estes caldos devem vir para enriquecer ainda mais o Arnaldo B, porém não me surpreenderia se viesse também uma linha de varietais de alta gama.

      Por hoje é só, mas ainda tem a Vertical de Mas la Plana, mais posts sobre a viagem á Argentina que fiz a convite da Wines of Argentina, otras cositas más! Devagarinho retomo o ritmo do blog então kanimambo pela paciência e não se esqueçam, dia 17/04 é o Dia Mundial do Malbec, aguardem surpresas! Salute.

Finalmente – Os Vinhos de Colomé!

 JFC em Colomé    Demorou mas cheguei à segunda parte dessa epopeia que foi a visita a este lugar mágico. Já falei um pouco da vinícola, do local e dos vinhos Amalaya, porém hoje quero falar sobre os vinhos Colomé . As uvas vêm de vinhedos de três diferentes altitudes; 2300 (Calchaqui), 2700 (El Arenal) e 3100  (Payogasta – os vinhedos mais altos do mundo) e geram vinhos realmente surpreendentes, porém há também algo do vinhedo San Isidro situado a 1700 metros de altitude em Cafayate.

       Após visita ás instalações e ao incrível museu, fomos brindados por uma degustação muito especial em que quase todos seus vinhos passaram por nossas taças. Tecerei alguns breves comentários sobre estes vinhos, porém alguns deles me marcaram muito positivamente e esmo recomendando a todos, estes, a meu ver, são imperdíveis havendo a oportunidade!

Colomé Torrontés 2012 – divino exemplar de Torrontés, nariz sedutor e enorme equilíbrio de boca, fresco e amplo. As uvas são colhidas em duas etapas, uma mais cedo para garantir uma maior acidez e a segunda para uma maior complexidade de aromas e peso em boca. Um belo parceiro para as famosas empanadas salteñas e cozinhas especiadas como a Tailandesa e Mexicana. No Brasil por cerca de R$52,00 é uma bela pedida!

Malbec Lote Especial 2010 – Na verdade são três, um de cada vinhedo; Cafayate – Calchaqui e El Arenal, todos com 10 meses de barrica ½ a ½ francesas e americanas.  Foi da opinião de todos presentes que o de San Isidro é mais sedutor em tudo, tanto no olfato como no palato. Todos muito bons, porém o equilíbrio encontrado no San Isidro faz toda a diferença, um vinho delicioso que terei que encomendar já que por aqui não tem e eu esqueci, vejam só, de trazer umas duas ou três garrafas!.

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Colomé Estate Malbec 2010 – leva 85% de Malbec de El Arenal, porém os restantes 15% tem um pouco de tannat, Syrah e Petit Verdot c 20% do vinho passando por barricas francesas de 1º uso e o restante de segundo uso. Um belo vinho, muito marcante com personalidade própria, ótima textura, bom corpo mas repleto de finesse. Na linha de seus vinhos considerados top, me pareceu o de melhor relação qualidade x preço x prazer. Custa por aqui em terras brasilis, algo ao redor de R$98,00 e vale!

Autentico Malbec 2011 – Sem passagem por madeira, advindo de cepas oriundas dos vinhedos mais antigos (1854) e clones destes, consequentemente, caro e de baixa produção! Vinho para guarda devendo estar pronto daqui a três ou quatro anos, bebê-lo agora é puro infanticídio.

Colomé Reserva Malbec 2009 – Só 7000 garrafas produzidas, 90% malbec e o restante um tempero de Syrah e Petit Verdot. Potente, denso, untuoso, 24 meses de barricas novas francesas, boca quente com toques mentolados. Vinho para guardar e beber com calma, está muito novo ainda, porém demonstra muita complexidade e  capacidade de evolução. R$ 270 por aqui.

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Lote Especial Sauvignon Blanc – ao estilo neo zelandês , nariz de muito boa intensidade, fresco e equilibrado. Me surpreendeu!

Lote Especial Tannat 2010 – apenas 1430 garrafas produzidas, 14 meses de barrica e 14.9% de teor alcoólico. O DSC03397Vinho! Trouxe uma garrafa para cá (aqui no Brasil não há) e todos adoraram. Álcool perfeitamente enquadrado e imperceptível, macio, frutos negros, algum tabaco, extremamente rico e absolutamente sedutor. Meu primeiro contato com os tannats de Salta que posteriormente tiveram sua qualidade confirmada por rótulos provados de outros produtores. OJO na Tannat de Salta!

Syrah Lote Especial – não tem a mesma pegada do tannat, álcool mais aparente e algo disperso. Correto, mas não deixa marcas!

DSC03390Colomé Lote Especial Misterioso branco – um field blend em que até agora foram identificadas cinco cepas; chardonnay/semillon/sauvignon blanc/riesling e torrontés porém há mais! Complexo, muito aromático e vibrante na boca, delicioso, uma pena que só tem por lá. Produção de somente 1600 garrafas e as duas que trouxe já foram! Sniff….

       Uma das coisas que mais me surpreenderam nos vinhos foi o álcool bem integrado e moderado mostrando enorme elegância. Essa coisa de vinhos muito potentes, álcool desacerbado e de grande extração mostra ser muito mais a marca de um produtor da região, do que uma marca de Salta como somos erroneamente levados a crer, conforme pude sentir e comprovar nas visitas subsequentes realizadas. Enfim, hora de partir e a certeza de que este lugar vai deixar saudades. Alguns de seus vinhos estão no Brasil, ótimo, mas voltar aqui vai ser um projeto de médio prazo e, quem sabe, porquê não com um pequeno grupo?

Colomé, Um Oásis no Meio do Deserto

       Chegar em Colomé já é por si só uma odisseia! Vilarejo de cerca de 700 habitantes espalhados por pequenas casas de terracota (com aquecimento solar), fica situada no vale de Calchaqui a cerca de  250kms e cinco horas de carro (melhor SUV) da cidade de Salta no norte da Argentina.  Boa parte da estrada é asfaltada, mas os últimos 80kms são de estrada de areia de uma pista só (boa parte) subindo a mais de 3450 metros de altitude (Piedra del Molino) para depois chegar a cerca de 2300 metros após passar por um altiplano com uma reta de 10kms cercada de cactos por todos os lados e um paredão que cresce no horizonte.

Caminho de Colomé

        Não é um passeio para quem não tenha um mínimo de espirito de aventura! A região é linda, agreste, rios secos atravessam a estrada e a cidadezinha (que separa o asfalto da areia) de Cachi é uma graça com sua praça central em estilo colonial espanhol onde nos salta aos olhos a limpeza do local. De repente chegamos á Bodega, um espetáculo á parte pois aqui, entre o cinza/bege da areia, aparece o verde das vinhedos e alfazemas em flor, um verdadeiro oásis no meio do deserto.

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       A estância cheia de história circunda a primeira bodega argentina datada de 1831, repleta de obras de arte espalhadas pelos mais diversos cômodos (outra das paixões de Donald Hess proprietário da vinícola), decoração lindíssima, árvores centenárias, jardins delicados e algo minimalistas é um lugar que a vinícola hoje somente usa para receber convidados e mostra um certo toque místico comprovado pelo Buda que nos recebe logo no primeiro pátio. Acreditem ou não, no meio do vinhedo experimental e próximo à bodega, um museu construído para mostra das obras de um só artista, é o James Turrel Museum, uma experiência sensorial única!  O lugar em si, mesmo que não tivesse vinho, já valeria as longas horas da viagem, com vinho então……! Sou, decididamente, um privilegiado e não podería ter melhor forma de iniciar este tour pelos diversos terroirs argentinos, mas tinha mais ………….tinha vinho e do bom!

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       A sala de jantar que nos recebeu para a primeira parte de nossa degustação é por si só, já uma obra de arte que nos seduz por completo ao entrar. Acompanhando um jantar delicioso que pouparei os amigos dos detalhes, provamos a linha de vinhos Amalaya (á espera de um milagre) que vem de vinhedos mais próximo a Cafayate a capital do vinho em Salta.

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Amalaya Branco – Este já conhecia e me agrada sobremaneira pois o Riesling adicionado ao Torrontés, transfere um frescor delicioso a este vinho.

Amalaya Rosé –  de malbec que leva uma pequena parte de Torrontés possui uma cor lindíssima e convidativa. O Torrontés dá um toque diferenciado a este vinho que surpreendeu a todos por seu frescor e final seco de boa persistência. Uma pena que o importador não traz este vinho para o Brasil.

Amalya tinto – sempre muito bom e consistente ano após ano, um velho e conhecido parceiro de taça. Redondo, saboroso, untuoso, taninos sedosos e um final muito apetecível é daqueles vinhos pouco midiáticos mas que satisfaz e surpreende mais ainda em função do preço, por volta dos R$40 aqui no Brasil, o mesmo do branco.

Amalaya Gran Corte –um vinho que surpreendeu, mais um, por diversos motivos; teor alcoólico de 14% o que para um vinho argentino desta região é mais do que educado e muito bem integrado, preço no Brasil ao redor dos R$70,00 e muito fino. Blend de Malbec, Tannat e Cabernet Franc com 12 meses de passagem por barrica é um vinho guloso com notas tostadas e fruta madura em abundância. Taninos aveludados e macios, bom volume de boca e um final muito saboroso.

     Começamos assim nosso primeiro dia de viagem a Salta e certamente não o poderíamos fazer de forma mais saborosa e para tanto vale aqui a mão e atenção que nos dedicou Pedro Aquino sommelier nascido e criado na região que foi nosso anfitrião. Os vinhos da Bodega Amalaya primam pela bela relação Qualidade x Preço x Prazer o que bate em cheio com minha visão de nossa Vinosfera e, portanto, merecem minha recomendação. O lugar tem muito mais a mostrar e no dia seguinte muitos mais vinhos foram provados, mas isso é papo para outro dia e outro post.

Salute, kanimambo e nos vemos por aqui.

Ps. para dar zoom nas fotos clique duas vezes sobre elas.

 

 

 

 

Nem Todo o Vinho Argentino é Igual!

         Para quem adora sistematizar e generalizar as coisas do vinho, eis aqui mais uma oportunidade de descobrir o porquê dessa prática não ser viável em nossa vinosfera. Rutini,  um produtor com uma grande diversidade de rótulos com uma vasta gama de produtos para todos os níveis e bolsos e um dos principais produtores argentinos, trazida ao Brasil pela Zahil. A linha dos Trumpeter talvez seja a mais conhecida, gosto muito do Syrah/Malbec e do Reserva, e daí subimos uma longa escada. Dessa vasta linha de produtos, a Zahil nos convidou a provar sete exemplares com maior ênfase nos Cabernets e me surpreendi.

         Começamos pelo Chardonnay que é um vinho que sempre me agrada pois, dentro do estilo mais amadeirado, é um vinho equilibrado, sem exageros e sempre traz um frescor de final de boca muito saboroso, não negou o que já conhecia dele e que já me acostumei a recomendar como um dos vinhos desta cepa elaborados na Argentina.

Todos vinhos muito bem feitos, me surpreendi com o grande equilibrio do saboroso Cabernet/Merlot que, em minha opinião se mostrou melhor que o já tradicional e amplamente conhecido Cabernet/Malbec, porém dois rótulos me chamaram a atenção e foram o destaque entre os que nos apresentaram:

      Rutini Cabernet – num estilo diferenciado mais para velho mundo do que novo mundo, puxando para a delicadeza e elegância, rico mas sem excessos com tudo no lugar. Bem aromático, nos convida a levar a taça à boca onde ele nos seduz. Rico, complexo, boa estrutura, taninos finos, com um final longo fazia tempo que não provava um cabernet deste naipe vindo da terra dos Hermanos. Muito bom e custa ao redor dos 135 Reais.

     Antologia – fazia muito tempo que queria provar este vinho, mas nunca tive a oportunidade que finalmente se fez presente. Valeu a pena esperar, um grande vinho na taça e pena que era só uma prova, pois a vontade era me apoderar da garrafa! Que beleza meus amigos, um senhor vinho que consegue unir potência, sem exageros, com elegância. Um vinho repleto de finesse, dos aromas complexos e bem integrados a uma sensação de prazer na boca que me entusiasmou. Um prova que derruba preconceitos de que argentino só faz vinhos potentes e excessivos em tudo, inclusive no álcool. Há de tudo por lá como em qualquer outro importante país produtor e este  vinho deixa isso muito claro. Este deveria vir á mesa de fraque e cartola!

Bons vinhos que valem ser conferidos pelos amigos. Salute, kanimambo e seguimos nos vendo por aqui.

La Calandria, a Busca pela Pura Garnacha

Dois rapazes (Javier e Luis) e um sonho, o de recuperar a essência da cepa Granacha em sua terra natal, Navarra no norte da Espanha. Amigos de infância, cada um traçou seu próprio caminho vindo a se juntar mais recentemente para desenvolver um projeto que denominaram “Pura Garnacha”, um projeto lúdico, algo poético que de cara já mexe com a gente de uma forma diferente. A busca por preservar as raízes de uma região.

Já faz um tempinho que os amigos Wilton e Martin da Dominio Cassis, importadora que também se integrou no projeto aqui no Brasil, me convidaram para seu “quincho” onde, num churrasco em que uma saborosa e macia paleta de cordeiro foi servida, nos foi apresentado o projeto, seus autores e seus vinhos.

Tudo é poesia, tudo é paixão e o resultado só poderia dar nisso, vinhos muito bem feitos, diferenciados e marcantes. Baixa produção significa cuidados especiais tanto com a uva no vinhedo como na cantina e os vinhos refletem bem esses cuidados pois são muito bem feitos deixando a cepa dizer a que veio. Rapidamente, um pequeno apanhado desses bons vinhos provados:

  • Sanrojo um rosé elaborado pelo processo de sangria com somente 6000 unidades engarrafadas – nariz muito fresco, tuti fruti, seco, bom corpo para um rosado e acidez acentuada, um vinho típico de verão, mas com um algo mais!
  • Volandera, o vinho “básico” deles elaborado por maceração carbônica que surpreende muito positivamente inclusive pela falta das agulhas que costumam ser peculiares a vinhos elaborados desta forma. O Luiz, enólogo, me explicou que o que costuma gerar isso é a cepa Viura (branca) que costuma ser adicionado ao vinho e no caso deles o vinho é 100% Garnacha o que faz uma enorme diferença. Nariz frutado e sedutor, na boca é muito fresco, taninos suaves, equilibrado e se levemente refrescado, 14º, mostra-se em toda sua plenitude. Um vinho com uma personalidade, sim vinho também tem, vibrante e jovial. Me parece que poderá ser bom companheiro para acompanhar  Peru à Califórnia.
  • Cientrueños, um vinho do qual, como o Volantera acima, somente se produzem 11.000 garrafas. Parte do vinho (50%) passa por barricas de 500 litros por cerca de 4 meses e parte passará, creio que este lote ainda não, por um estágio em ânforas. Ótima companhia ao cordeiro servido, mostrou-se de médio corpo, taninos sedosos, finos e bem equilibrado com um final saboroso onde despontam notas de especiarias. Um belo vinho!
  • Tierga, o topo de gama e um senhor vinho! No nariz, sente-se um pouco do que está por vir com seus 16% de teor álcoolico dando o ar de sua graça, mas sem atrapalhar a fruta bem presente e algumas notas florais . Produção ínfima, coisa de 4000 garrafas de uma região inóspita onde alguns poucos hectares de vinhedos geram cerca de 700 grs de uva por planta em parreiras com mais de 60 anos de vida.  No visual é escuro, opaco mostrando boa concentração que tinge a boca ao primeiro gole. Aqueles 16% de álcool passam despercebidos na boca pois possuem uma estrutura que ancora perfeitamente essa potência de forma muito equilibrada com taninos firmes porém de muita qualidade. Encorpado, riquíssimo, final longo um vinho que deixa marcas na memória e saudades na taça.

A garnacha é uma cepa que surpreende os mais incautos e a maioria das pessoas a desconhece mal sabendo que é originária da Espanha e não da França onde ela é conhecida como garnache. Em breve falarei um pouco mais da cepa, mas por enquanto curtamos os deliciosos caldos elaborados com ela.

Salute, kanimambo e espero vocês para uma taça lá na Vino & Sapore onde dou plantão  todo o final de dia!

Andresen Porto Colheita 1910, o Melhor Vinho de Minha Vida – PURA EMOÇÃO!

Bem, depois de tanto suspense finalmente citarei o nome do elixir que me seduziu e me levou ao nirvana. Me considero um degustador experiente com alguns milhares de rótulos na bagagem, de tudo o que é estilo, cor e origem, mas mesmo com esse “calo” me emocionei como nunca dantes perante um vinho. Como disse, a degustação se deu na Expovinis e foi algo fora deste universo, pois se tratava de uma prova vertical em que estavam presentes nada menos nada mais do que 13 vinhos de 13 safras diferentes, sendo a primeira de 1998 e a última a de 1900 tomados nessa ordem. Sim você leu corretamente, 1900! É até provável que você já tenha lido sobre elas em posts publicados por outros privilegiados participantes desse evento promovido pela  J.H. Andresen de Vila Nova de Gaia, onde história e grandes vinhos se misturam em perfeita harmonia. Hoje capitaneada por Carlos Flores, a empresa foi fundada por um jovem dinamarquês de apenas 19 anos de idade em 1845, Jann Hinrich Andresen nome que até hoje prevalece na porta desta casa produtora portuense mostrando que mesmo com as mudanças de proprietário a história e tradição foram mantidas.

Foi Carlos Flores que nos recebeu nesta magnifica degustação comentada com louvor pelo conceituado critico português e jornalista do vinho Rui Falcão – Revista Wine a Essência do Vinho, e os divertidos pitacos de quem hoje comanda as caves, o enólogo Álvaro van Zeller. Show de bolae uma tremenda sinergia entre os três só batida pela excelência deste Portos Colheita na taça e na boca. A maioria dos vinhos é mantida nos cascos (600 litros) sendo engarrafados aos poucos e de todos os vinhos provados, somente um já não existe no casco e está totalmente engarrafado, o de 1937 engarrafado em 1980, uma joia rara que meu amigo César tem o privilégio de ter em sua rica adega (me aguarde César! rs).

Carlos Flores teve o privilégio de seu antecessor ter sido um “colecionador” de Portos já que ao longo de sua vida só comprou e fez vinho sem vender, estocando e envelhecendo esses caldos com toda a paciência do mundo. Da mesma forma, Carlos já trabalha nos vinhos da próxima geração que provavelmente não verá saírem ao mercado, estranho não? Começam a entender a razão de tanta emoção na taça? É pura historia, tradição e cultura engarrafadas!!  Para elaboração desses Tawnies Colheita Velhos, Álvaro de Castro separa os melhores caldos em 50  cascos para envelhecimento nas caves da empresa. O restante dos vinhos é colocado no mercado com uma média de doze anos de idade e nunca menos de oito! Uma característica importante destes vinhos é que, depois de engarrafar, ele permanece dormente por cerca de 10 anos e só depois desse período é que se inicia um novo processo de evolução, agora na garrafa. Estes vinhos com mais de 40 anos em casco, ganham cor e taninos que tiram da madeira em que sencontram e devem ser servidos por voltas dos 10 a 12ºC.

Afora 0 1937, esgotado na adega, que está engarrafado e consequentemente com “packaging” final e comercial, todos os outros são amostra de cascos sem rótulos comerciais.  Iniciamos a degustação com o muito bom 1998 e eu tomando minhas anotações. Na sequência os 97 / 95 / 92 (divino) / 91 (excelente) a essa altura e já entrando em êxtase me perguntei, que diabos faço eu aqui tentando explicar o inexplicável, analisando estes elixires que são impossíveis de ser descritos? Parei de tomar notas, relaxei e curti a viagem pois chegaram á mesa o; 82 (grande!) / 81 (genial) / 75 (dá para ficar melhor?) / 68 (maravilha, uma obra de arte) / 63 (para tomar de joelhos) / 37 (impressionante) /10 (obrigado meu Deus por ter me dado este privilégio!) / 00 (acabaram-se os adjetivos qualitativos e os vinhos)!!!!!

Andresen Porto Tawny Colheita 1910 o Vinho da Minha Vida

 Se você esperava que eu ficasse aqui descrevendo este vinho com sua riqueza e complexidade, sua elegância, incrível textura e sofisticados aromas, acidez impressionante para um vinho de mais de 100 anos e um final interminável, esqueça pois o vinho é muito mais que isso! É indescritível, vai fundo, passa do olfato e palato mexendo com todas as nossa emoções, um vinho que beira a perfeição, se é que ela existe, e nos alcança a alma. Um ancião vibrante e cheio de vida!

Soberbo seria dizer pouco desse incrível elixir de Baco que, vi na Revista de Vinhos portuguesa, custa algo ao redor de 2.500 Euros a garrafa. Quem tiver essa grana eu sugiro ver com a vinícola se pode engarrafar em garrafas de 200ml (rs) e comprar umas duas dúzias para ir tomando ao longo da vida no escurinho do quarto, uma boa musica instrumental de fundo , olhos fechados deixando a emoção tomar conta e viajar no tempo! De chorar de felicidade e emoção á flor da pele ainda hoje quando escrevo estas linhas na tentativa de compartilhar com os amigos esta experiência que espero não venha a ser única em minha vida. Uma pena que não consegui uma garrafa dessas para meu altar de baco, mas vinho de excelência é assim mesmo, a persistência é interminável, na mente!

Hoje, um kanimambo muito especial ao pessoal da Essência do Vinho e ao Rui especialmente por sua apresentação, ao Carlos Flores por sua generosidade ao Álvaro de Castro pelo que está a fazer na adega, ao Jann Hinrich, ao Albino Pereira dos Santos que fundou esta nova fase da vinícola em 1942, a todos aqueles que contribuíram com estes incríveis caldos. pelo que sei ainda não enontraram o parceiro certo aqui no Brasil, então não sei quem o revende e tão pouco quanto custará por terras brasilis. Interessante que a grande parte dos vinhos que deixaram marcas na minha mente tenham sido doces; Pendits Tokaji Essenzia 2000, Porto Dalva Branco 63, S. Leonardo Porto Twany 20 anos, Moscatel Roxo 1971, Quinta do Vesuvio Vintage 2007, entre outros.  Não sei o que me espera amanhã, quanto mais o resto da minha vida, mas até hoje, nada melhor que o Andresen Colheita 1910 preencheu a minha taça!

Salute e que baco lhe proporcione a mesma experiência que tive num futuro não tão distante, seja com este rótulo ou com qualquer outro, pois sentir essas sensações é pura emoção, algo tão marcante que se torna inesquecível. Um vinho de reflexão e meditação para ser aplaudido de pé, e foi!

Portugueses e Argentinos Juntos Numa Casa Brasileira

                A Familia Valduga tem uma visão diferenciada do mercado e sabe que a soma é sempre muito mais saudável ao mundo do business do que a divisão. Em vez de lutar contra os importados decidiu integrá-los a seu portfolio através de uma empresa do grupo mais conhecida por seus bons espumantes, a Domno que produz e comercializa com sucesso a marca Ponto Nero. Na lista de produtores, o grupo Enoport (português) e Vistalba (argentino) assim como Yalis (chileno). Este último ainda não tive oportunidade de conhecer, porém os argentinos e portugueses andaram por minha taça então compartilho com os amigos minha opinião e os destaques que me mais me chamaram a atenção.

Bodega Vistalba – é um produtor familiar tendo Carlos Pulenta como seu comandante   produzindo vinhos de muita qualidade em Lujan de Cuyo, especialmente seus cortes A, B e C assim como seu Tomero Reserva Petit Verdot. Duas linhas, a Tomero e a Vistalba. Neste degustação provamos os Tomeros Malbec  e Cabernet Sauvignon, Reservas Pinot e Petit Verdot assim como os três cortes.

  • Na linha dos Tomero “básicos” varietais, os vinhos se mostram bastante honestos vis-a-vis os preços cobrados, em torno de R$48,00, ficando o destaque, na minha opinião, para o Cabernet Sauvignon, um vinho mais equilibrado do que o Malbec que é assim, digamos, mais padrão da cepa sem traços marcantes. O Cabernet não,  este já é mais marcante e sedutor capaz de mudar o curso de uma refeição com seus taninos sedosos e corpo médio mostrando-se  mais gastronômico.
  • Na linha dos Tomero Reservas que estão no mercado paulista por volta dos R$120,00, o Pinot Noir me surpreendeu bastante para esta casta nesta região mostrando um teor alcoólico bem equacionado e equilibrado, de taninos macios e muito saboroso. Já o Petit Verdot é para mim o melhor e mais marcante vinho desta família Tomero. Fruta madura de boa intensidade com sutis nuances de baunilha, mostrando-se com ótimo volume de boca e boa textura. Os taninos estão sedosos, muito boa acidez, rico, com um final muito saboroso e mineral onde aparece também um toque cítrico muito interessante e cativante. Muito consistente com minhas experiências anteriores, um belo vinho que mostra bem as caracteristicas desta nobre cepa que segue sendo uma grande desconhecida para a maioria!

 

 

A linha Vistalba é composta de três cortes (blends) em diversas faixas de preço e talvez seja a mais premiada e conhecida desta bodega. São três os cortes, todos com uma maior presença da Malbec, cepa ícone da região, com tempos diversos de estágio em barricas. Já os tomei em diversas oportunidades e a melhor relação PQP (não é o que estão pensando!!) – Preço x Qualidade x Prazer segue sendo o Corte B, porém fui surpreendido pelo C e A, sendo que este último confirma que as safras de 2006 e 2007 foram realmente safras superiores em Lujan de Cuyo. De destacar que tanto o B quanto o A são vinhos de longa guarda.

  • Corte C 2008 – 80% Malbec e 20% de merlot. Vinte porcento do lote passa por barricas de carvalho por um período de 12 meses e afinam em adega por seis meses após engarrafamento. N a minha opinião está no seu auge, um vinho muito apetecível por um preço idem, em torno dos R$58,00, com boa paleta olfativa onde se destacam as frutas vermelhas como ameixa. Na boca está cativante, taninos macios, boa acidez, redondo com um final de boca muito agradável e de boa persistência. Bom vinho que não tinha me encantado antes, mas que nesta safra se mostrou mais equilibrado tendo chamado minha atenção.
  • Corte B 2005 – Presença majoritária de duas cepas que são as grandes bandeiras deste país, Malbec e Bonarda. São exatos 60% Malbec, 30% Bonarda e o restante de Cabernet Sauvignon que juntos nos trazem um grande vinho. Com 100% de passagem por barricas de carvalho francês por um período de 12 meses mais 10 de afinamento após engarrafamento, estamos diante de um vinho de alto teor alcoólico (14.5%) e poderoso que consegue enorme equilíbrio e mescla muito bem a força com um final de boca bastante elegante. Uma conjunção de características que tende a me seduzir. Aqui  a cassis, especiarias e nuances de café compõem uma paleta olfativa bastante complexa que se confirma na boca. Taninos sedosos ainda bem presentes, de muita qualidade, pedem algum tempo de aeração que facilmente encontram seu equilíbrio com 30 a 45 minutos de decanter. Um vinho que vale muito a pena por R$115 a 120,00.
  • Corte A 2007 – O top da linha, pelo menos dos que temos por aqui, é este viril corte de 87% Malbec, o que tecnicamente lhe dá as condições legais de ser denominado um varietal da cepa, com 8% de Bonarda e 5% de Cabernet Sauvignon. Cem porcento envelhecido por 18 meses em barricas francesas e mais 12 de afinamento em garrafa. Tenho que confessar que sempre foi para mim o que menos me entusiasmou pois o álcool de praticamente 15% sempre me incomodou achando que ele não se integrava de forma harmoniosa ao todo pulando ao nariz e incomodando no palato. Desta feita tenho que dar o braço a torcer, este 2007 está soberbo e pela primeira vez reconheço nele o grande vinho que outros aclamavam. Chega a ser mais equilibrado e balanceado que o Corte B, muito rico, denso, untuoso e complexo, é um vinho viril porém muito elegante com taninos muito finos num final longo e sedutor que merece uma harmonização com carnes de sabores fortes e bem temperada, uma bela costela de ripa? Um baita vinho, o melhor que já provei desta bodega! Está na linha dos super vinhos argentinos na faixa dos R$200 (mais ou menos 10%) o que não é para qualquer  um e cabe a você fazer a prova e fazer juízo de valor!

        Bem, este já se estendeu demais, então os vinhos portugueses ficarão para outra ocasião, porém fica claro que não há que brigar com os importados.  Sabendo trabalhar, a união com os importados só vem otimizar os projetos nacionais.  Um brinde à Domno e Valduga pela visão inteligente de mercado que espero outros possam seguir. Ah, ia-me esquecendo! Para quem gosta de pontuações: Corte A 2007 – 95 pontos da Wine Enthusiast /Corte B 2005 – 92 pontos da Wine Spectator / Corte C (2004) – 88 pontos na Wine Spectator

Kanimambo pela visita e seguimos nos encontrando por aqui ou na Vino & Sapore.