Cadus na Casa de Nieto, Boas Surpresas na Taça

Cadus Brut NaturePara quem não conhece, a Casa de Nieto Senetiner, onde em companhia de outros colegas blogueiros fomos recebidos com muita hospitalidade pelo “gerente” da casa e sommelier Mauricio Marcondes, é a base deste importante produtor argentino em São Paulo. Para a maioria de nós, a Nieto é sinônimo de vinhos simples e baratos, fama feita em cima de muitos anos de Benjamim e outros vinhos similares. Quem nesta vida de enófilo pode dizer que nunca provou um desses vinhos? Eu, por exemplo, sempre gostei de seu Benjamin Chardonnay, um vinho gostoso, fresco e fácil. Mas esta vinícola em atividade desde 1888 e desde 1998 nas mãos do grupo alimentício argentino, Molinos tem bem mais a oferecer e o ícone dos Bonardas, o Edicion Limitada, é um exemplo do que podem fazer e revolucionou a produção de vinhos com essa uva em terras argentinas. O que poucos conhecem, no entanto,  é sua linha top, a Cadus (ânfora no dialeto local), e eu também não, então deixa eu compartilhar com vocês essa experiência.

Fomos recebidos por um espumante Cadus Champenoise Brut Nature, um  Blanc de Noir elaborado com Pinot Noir  (70%) e Malbec. Como a maioria dos Blanc de Blanc, sua cor nos remete a um rosado claro no estilo casca de cebola. Os vinhos base passam por um período de 3 a 6 meses de barrica e a segunda fermentação é de 18 meses sur lie e uma peculiaridade (nunca vi antes) que faz a diferença, um leve toque de grappa  no degorgement em vez de licor de expedição. Muito interessante, não é fácil, mas é muito interessante para os que curtem bons e diferente espumantes. Marcante de personalidade muito própria e inconfundível, harmonizou muito bem com os diversos canapés, especialmente com os de salmão e kani. Tomamos a garrafa 65 das poucas 7.000 produzidas.

Posteriormente fomos apresentados a três tintos e mais uma surpresa para lá de agradável ao final. Falemos dos tintos:

Cadus Grand Vin 08, elaborado pela primeira vez em 94, é um blend muito equilibrado de Malbec (50%) com Cabernet Sauvignon e Bonarda que passam por 24 meses de barricas novas francesas e pelo menos 12 meses de afinamento em garrafa antes de sair ao mercado. Um belo vinho que só vem confirmar o que venho falando já faz um tempo sobre os vinhos argentinos, os blends estão melhores, mais elegantes e complexos que os varietais por lá produzidos, ojo! O corpo e estrutura estão lá, o álcool mais comedido e bem integrado também, mas é cavalheiro de fino trato como demonstra na taça. Muito bem harmonizado com o filé com shiitake, é um vinho com preço ao redor dos R$170.

Cadus Blend of Vineyards Malbec 08, a primeira safra deste vinho que é composto de uvas de diversas sub-regiões de Lujan de Cuyo; Agrelo/Vistalba e Vistaflores, todos terroirs privilegiados! Doze meses de barrica e doze de garrafa, é um vinho franco de grande impacto na entra de boca, “amansa “ no meio de boca e temina com taninos fino e sutis com um frescor agradável e supreendente. Ótima fraldinha com legumes e um preço por farrafa ao redor dos R$150,00.

Cadus Single Vineyard 07, de Agrelo, foi elaborado pela primeira vez em 2000 com vinhas de mais de 35 anos de idade. Vinho premium, com 24 meses de barrica nova francesa e 24 messes de garrafa, é um vinho de guarda e mostrou isso na taça. Escuro, potente, grande estrutura, boca densa, álcool na casa dos 15,5% bem integrados no conjunto, um  bom vinho para os amantes deste estilo tomarem agora e quem aprecia mais elegância, como eu, terá um grande vinho em mãos dentro de três ou quatro anos. Bom já, mas certamente valerá a pena esperar um pouco mais. Aliás, já diz o ditado, o apressado come cru! Vinho já na casa dos R$200 que ficou divino com o ragu de cordeiro sobre polenta cremosa com que foi harmonizado. Uma bela “maridaje”!

Por falar em ditado, best things for last, como dizem os gringos! O Mauricio saiu e voltou com um vinho que decantava fazia 4 horas e nos ofereceu uma prova às cegas. Malbec, sem duvida! Cor rubi, escuro e denso, aromáticamente muito complexo com a tradicional fruta peculiar á casta, mas também notas animais e sutil floral. Muito estruturado, rico, vivo, poderoso, notas de frutos negros, final com chocolate, cacau, taninos aveludados muito presentes e longo, muito longo. Certamente um vinho TOP ainda muito jovem, acreditamos todos nós. Ledo engano!! Cadus Estiba 39, safra, pasmem, 2000!!!!!!!!!! Um vinho também single Vineyard (Agrelo) de vinhedos com idade superior a 45 anos de rendimento médio com fermentação e maceração prolongada por 25 dias a 28-32ºC em pileta (tanques de cimento) de pequeno volume (entre 3000 e 5000L) com amadurecimento por 24 meses em barricas de carvalho francês de primeiro uso e dois anos de amadurecimento em garrafas.  Uma prova de que os vinhos argentinos podem sim ser longevos e envelhecer muito bem, pois a não ser alguns indicativos no nariz, só identificados após a divulgação da safra, não havia nada marcante que denotasse a idade avançada do vinho. Os privilegiados presente tiveram a possibilidade de tomar uma das últimas doze garrafas disponíveis com o produtor. Na importadora (Flora) o estoque está zerado e na maior parte das lojas também, mas na pesquisa (google) vi que essa raridade ainda existe em alguns poucos lugares a preço ao redor de R$280,00! Adoraria ter uma grana para comprar umas três garrafas e acompanhar seu amadurecimento nos próximos quatro a cinco anos, certamente deverá ser uma experiência e tanto para quem pode.

Noite extremamente agradável, ótimos vinhos e comida impecável (chef Lula está de parabéns) e muito bem harmonizada. São momentos preciosos  destes que nos fazem ver o quão pouco conhecemos de nossa vinosfera e do quanto ainda há por aprender. Aos amigos que tão bem nos receberam, meu muito obrigado pela oportunidade, salute e um kanimambo muito especial. As fotos, essas adicionarei em breve, meu celular está em recuperação!! rs