Vinhos da patagônia

Feriado da República na Patagônia??

Porquê não? Juntando com o feriado (em algumas cidades) do Dia da Consciência Negra, programei uma viagem especial para os enófilos de plantão explorarem as vinícolas e vinhos da região começando já em Buenos Aires na primeira noite! Bodegas del Desierto, Schroeder, Humberto Canale, Chacras, Fin del Mundo, Malma e Miras numa viagem de descobertas vínicas, novos sabores e novas fronteiras porque a Argentina vitivinícola não é só Mendoza mesmo que esta represente 75 a 80% da produção local.

Para quem já foi a Mendoza, algo bem diferente! Estamos a mais de 2.000 kms da ponta sul da Argentina, que se diferencia das outras regiões produtoras pois aqui, pasmem, os rios têm água!! Os rios de degelo, Neuquen e Limay se juntam para formar o Rio Negro e através de um sistema de grandes diques a água é gerenciada tornando a região num polo frutífero onde a Pera e a Maçã possuem um destaque especial afora o petróleo e gás que são as principais atividades econômicas.

Uma outra característica que o difere de Mendoza é que por aqui não temos montanhas, mas sim planícies (entre 300 a 500metros de altitude) ou vales entre rios, então os vinhos de altitude não aparecem por aqui, no entanto o clima possui uma influência grande sobre o resultado dos vinhos, é uma região mais fria de fortes ventos e grande amplitude térmica o que gera vinhos de menor teor alcoólico e maior acidez, vinhos mais elegantes.

Terroir diferente, paisagem diferente, clima diferente que geram vinhos diferentes e, portanto, experiências diferentes! Na Segunda-feira já terei os detalhes do roteiro, preços e condições financeiras para que 12 privilegiados amigos possam vir a se unir a mim nesse tour Patagônico dos dias 15 a 20 de Novembro próximo em parceria com a Stelltour. Estive por lá há exatos 3 anos, eis um pequeno slide show (clique na imagem abaixo) para lhe abrir o apetite! rs Consultas via comentários abaixo.

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Kanimambo e um ótimo fim de semana!

 

 

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Os Grandes da Patagônia

CAM00797Depois de um dia intenso em que terminamos jantando no La Toscana, um belo restaurante em Neuquen, com Julio Viola e os vinhos da Fin del Mundo, tínhamos mais um dia de muitas descobertas pela frente. Antes porém, preciso falar desse jantar onde pela primeira vez comi rinones por indicação do amigo Didu. Muito bom!! Uma consistência diferente (me pareceu moelas), e o prato dava para três, sem chance de terminar.
Para acompanhar o jantar tivemos a companhia do Julio que nos apresentou alguns vinhos da Fin del Mundo e da NQN (Malma) bodega recentemente comprada por eles e que iríamos visitar no dia seguinte.

Muito bom espumante extra-brut á base de chardonnay com Pinot Noir para nos preparar o palato para o que estava por vir. Vinhos potentes e o famoso Fin del Mundo Blend segue não me encantando mesmo fazendo a cabeça de muitos, sei bem disso. Sigo preferindo vinhos menos excessivos e a este há que se lhe dar tempo para que encontre seu equilíbrio, coisa nem sempre fácil de executar. Dos vinhos que tomamos nessa noite; Fin del Mundo Reserva Chardonnay, Malma Finca La Papay Pinot, Fin del Mundo Single Vineyard, Fin del Mundo Single Vineyard Pinot 2010 e o Special Blend, tenho que confessar que meu coração bateu mais forte com o Sinlgle Vineyard Pinot e o Cabernet Franc que “maridou” perfeitamente com os rinones! Cansados, nos arrastamos para a van que nos esperava para nos levar ao hotel e um merecido repouso.

Temprano, saímos para visitar as bodegas Fin del Mundo e NQN, uma do lado da outra, e me deparei com algo que nunca tinha visto, escondidos atrás de uma cortina de alamos 800 hectares de vinhas e cerca de 9 milhões de litros de vinho de todas as gamas. O verdadeiro significado de “indústria do vinho”. Adorei a coleção de barricas antigas pintadas por diversos artistas plásticos, prática que posteriormente vimos em outras bodegas, porém sem a mesma quantidade e foco.

CAM00810Na Fin del Mundo, cerca de 2.200 barricas e a maior produção, cerca de 7.5 milhões de litros (9 milhões o com a NQN) com diversas linhas de produtos das quais as linhas de entrada Ventus e Postales representam cerca de 50% da produção. Fomos recebidos com uma taça de espumante que me encantou ao ponto de o trazer na mala para a minha já tradicional Degustação da Mala quando tenho a oportunidade de compartilhar com quem não foi, alguns frutos de meu garimpo.
Espumante Nature de Pinot Noir – Não vem ao Brasil e somente são produzidas cerca de 15.000 garrafas ano. A primeira fermentação é feita em cubas de carvalho francês e 10557272_932568523421519_1302182506060255175_npassa 36 meses sur lie. Um vinho complexo, estruturado, ótima perlage e personalidade própria, daquelas que você não esquece.
Postales Rosé – simples, saboroso, sem compromisso.
Newen Sauvignon Blanc – fácil, pouca expressão da casta
Postales Malbec – na linha do Rosé, sem compromisso
Newen Malbec – 12 meses de barrica ainda por integrar, comercial, boa extração.
Fin del Mundo Reserva Malbec – de 12 a 14 meses de barrica francesa, ainda muito jovem (2013), madeira bem presente, fruta madura, feito para agradar uma fatia de mercado interessante que consome malbec deste estilo, mas a meu ver faltou a tipicidade regional.
Fin del Mundo Gran Reserva – para mim, junto com o Cabernet Franc provado na noite anterior, o melhor vinho da casa. De 12 a 14 meses de barrica francesa (70%) e americana, um delicioso e muito harmônico blend de Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Malbec e Merlot cheio de fruta vibrante, especiarias, meio de boca muito rico, taninos de muita qualidade, fino e elegante mostrando um estilo mais patagônico de ser!

CAM00838Na “camioneta”, rapidamente até ao outro lado da estrada e já estávamos na NQN (Malma) onde iríamos almoçar e também fomos recebidos com um espumante, um extra-brut meio estranho já que deixava um retrogosto doce mostrando um residual de açúcar bem acima do esperado num extra-brut. O prédio e esculturas em ferro velho são marcantes e fiquei impressionado com as esculturas que podem ser vistas no slide show que vou colocar aqui abaixo daqui a mais uns momentos já que não quis atrasar o texto. Fomos á sala de degustação onde nos foram dados à prova cinco vinhos com a mão, importante frisar, de Roberto de la Motta o enólogo consultor da bodega.
Finca Papay Malbec – 30% do vinho passa em barrica por seis meses. Um vinho agradável, não chega a encantar porém é bem feito, fresco, sem arestas nem excessos, gostoso de beber.
Reserva da Familia Pinot Noir – misto de roble francês e americano, mais deste último, CAM00845muito fresco, equilibrado, boa fruta e elegante, taninos suaves muito bem trabalhados, um pinot que me agradou bastante.
Reserva da Familia Malbec – mais um bom vinho repleto de fruta viva, fresco, taninos sedosos e madeira muito bem integrada. Aqui uma ressalva, o Merlot deles da Reserva da Familia, que conhecia de outros carnavais mas que não provamos no dia, é também de muito boa qualidade. Esta gama de produtos é toda de qualidade muito boa.
Universo Malbec , a gama top da casa – 100% de roble francês por 15 meses e um teor alcoólico alto, 14.6% perfeitamente integrado não deixando marcas. Pelo menos na prova, não sei depois da terceira taça! rs Fruta bem presente,, fresco, taninos finos,um vinho de classe e este 2010 ainda está jovem devendo evoluir bem na garrafa por mais uma meia dúzia de anos.
Universo Blend – um grande vinho com muito futuro pela frente e, na minha opnião, algo melhor que o Malbec. Blend e Malbec (60%) com Cabernet Sauvignon, apresenta-se muito bem equilibrado, untuoso, especiado e com notas mais tostadas mostrando a madeira que ainda precisa de tempo para uma maior integração pois o vinho era 2012, uma criança engatinhando!

Esse foi nosso passeio pela patagônia e ficou a vontade de voltar uma outra vez, quem sabe com a Wine and Food Travel Experience, para conhecer algumas outras bodegas como a Noemia, Chacras e Patritti entre outras. Hora de voltar ao hotel para um breve descanso e encarar dez horas de ônibus até Mendoza, confesso que estava preocupado!

Finalizei o slide show e para vê-lo basta clicar na imagem abaixo que ela te levará lá! Uma ótima semana para todos e não deixem de estudar a possibilidade de vir comigo a Mendoza dia 21 de Janeiro, um roteiro para enófilo nenhum botar defeito! Saúde, kanimambo e seguimos nos encontrando por aqui.

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Patagônia, Chegamos!

Entramos no terceiro dia de nosso “recorrido” pelos terroirs, vinhos e vinícolas argentinos e que grande dia foi! Voo para Neuquen que fica na Patagônia, mas longe dos glaciares! Estamos a mais de 2.000 kms da ponta sul da Argentina, que se diferencia das outras regiões produtoras pois aqui, pasmem, os rios têm água!! Os rios de degelo, Neuquen e Limay se juntam para formar o Rio Negro e através de um sistema de grandes diques a água é gerenciada tornando a região num polo frutífero onde a Pera e a Maçã possuem um destaque especial afora o petróleo e gás que são as principais atividades econômicas.

Uma outra característica que o difere de outras regiões é que por aqui não temos montanhas, é uma planície (entre 300 a 500metros de altitude) ou vales entre rios, então os vinhos de altitude não aparecem por aqui, no entanto o clima possui uma influência grande sobre o resultado dos vinhos, é uma região mais fria de fortes ventos e grande amplitude térmica o que gera vinhos de menor teor alcoólico e maior acidez, vinhos mais elegantes.

Uma outra diferença grande é o pequeno numero de produtores, não consegui obter o numero exato, porém a informação que recebi de uma delas é de quem devem ser umas 26 no total. Essa quantidade de vinícolas tem numa rua de Lujan de Cuyo/Mendoza! rs Bem, brincadeiras á parte, é uma região sem grandes atrativos paisagísticos porém há por aqui grandes vinhos e produtores. Os vinhos brancos mais a Pinot Noir e Merlot, que são mais chegadas num frio, adoram o pedaço e tenho que reconhecer que foram os vinhos que mais me entusiasmaram nesse trecho da viagem. Não que não haja outros belos vinhos e bons malbecs, num estilo diferenciado, mas o destaque para mim são essas uvas.

No avião viemos com o Guillermo Barzi , diretor da Humberto Canale, nossa primeira parada, e um cara muito gente fina a quem demos carona até á bodega pois estávamos indo direto para lá. Confesso, me apaixonei, pela bodega vamos deixar claro! Tudo a ver comigo; lugar histórico com sua cultura preservada, vinhos incríveis, simpatia, um almoço de fogo de chão de lamber os beiços, melhor chegada impossível, que forma de começar essa visita a Patagônia, inesquecível.

A Humberto Canale existe desde 1909 e é não só pioneira na região, já passou daquela fase mais difícil que são os primeiros 100 anos (rs), mas é também uma das mais antigas vinícolas argentinas preservando muito bem sua história, se modernizando porém sem perder o contato com suas raízes. Há tempos que tinha curiosidade de conhecer seus vinhos e me encantei com o que provei e olha que foram bastantes!

Sem querer vos chatear com muitos detalhes, vou destacar alguns desses vinhos, os que mais me marcaram, porém todos os provados mostraram um nível de qualidade muito alto e para nos acompanhar nessa empreitada de dez vinhos o enólogo da casa, Horacio Bibiloni.

Intimo Sauvignon Blanc/Semillon – da gama de entrada, fermenta em separado para posterior blend em que a Sauvignon Blanc é majoritária (cerca de 60%) e parte passa levemente (3 meses) por madeira. De boa estrutura, foi um vinho que me surpreendeu por seu frescor, equilíbrio e complexidade coisas não muito comuns em vinhos de entrada.

Riesling Old Vineyard – uma enorme surpresa esse vinho que é elaborado com uvas de vinhedos muito antigos (1937) . Macio, fresco (particularidade dos vinhos desta zona), uma leve agulha, longo e muito elegante com notas sutis minerais e algo de limonada e maçã verde. Pena que por estas bandas custa o mesmo, quando não mais alto, do que alguns vinhos da Alsácia e Alemanha porque senão certamente apareceria de forma amiúde em minha taça. Gostei muito e não só do vinho, vejam se descobrem porquê?

Canale Riesling Old Vineyard

Os dois Pinots provados foram bem interessantes. O Canale Estate Pinot Noir mostrou boa tipicidade com um leve toque de barrica de segundo uso, boa fruta e muito equilibrado com alguma especiaria de final de boca. Já o Canale Gran Reserva é um belo Pinot com muita expressividade e deixou marcas.

Seus Gran Reservas Cabernet Franc e o Merlot são grandes vinhos que precisam ser conhecidos. Os dois são muito bons, mas o Merlot ganha um destaque especial, pois é muito marcante e fino, o melhor que eu já provei na Argentina. Certamente o Miles, do filme Sideways, não conhecia este vinho quando detonou a Merlot!!

Para não dizer que não falei de malbecs, a minha surpresa ficou com o Canale Estate Malbec (linha intermediária), que possui aromas pouco comuns á cepa, muita fruta fresca e especiarias, elegante com uma passagem de somente 20% em barricas que lhe dá suporte sem marcar o vinho. Muito bom, fino e mais uma bela surpresa.

Bem terminada a prova dos vinhos, lunch time! Parte dos vinhos provados vieram para a mesa, o papo corria solto e a comida de-li-ci-o-sa! Saladas e legumes irretocáveis, morcilla (adoro) muito boa, mas o cordeiro patagônico, meus amigos!!!! Tudo ótimo, gooood wines, e aí o Guillermo nos presenteia com uma das últimas 100 garrafas magnum comemorativas aos 100 anos da bodega, o Centenium. Um tremendo privilégio, um grande vinho digno do momento e uma nova paixão na minha vida, a Humberto Canale. Que bom que sou um homem de coração grande onde cabem muitas paixões!!

Só isso já era um dia cheio, mas lá vamos nós na van de novo, uma soneca de meia hora e chegamos em mais uma grande surpresa da viagem e ainda estamos no terceiro dia!! Del Rio Elorza, guarde esse nome e em especial, busque os vinhos de depois de 2012, porque neles há a mão de um jovem enólogo chamado Agustín Lombroni que possui uma filosofia diferenciada baseado na menor interferência possível, deixando os vinhos contarem suas histórias tal qual são., nem parece que tem 29 aninhos!

Nascida há dez anos, a bodega é boutique com uma produção variando entre 65.000 a 90.000 garrafas ano. Gostei bastante do Cabernet Franc ainda em barrica, bons malbec e Sauvignon Blanc com sur lie de 8 meses, mas caí de quatro mesmo, como a maioria dos presentes, por seu Verum Pinot Noir! O 2013 está divino, complexo, num estilo puro mais puxado para borgonha com menos extração e fruta mais fresca, mas o 2014 que provamos de tanque com uma leve maceração carbônica, foi uma experiência única a conferir depois que engarrafar. Busque no mercado a marca Verum (de verdadeiro) estampada em seus rótulos, vale a pena conhecer.

Ok, back to the van, e lá vamos nós a caminho de Neuquen e do hotel. Acha que acabou, acabou não!! Ainda tinha jantar com a Fin del Mundo. Isso, no entanto eu falo no próximo post quando compartilharei minhas impressões sobre essa vinícola e a NQN. Por enquanto, cliquem na imagem abaixo (para ver o slide show) e viajem comigo, mesmo que virtualmente, por mais essa etapa concluída.

Salute, kanimambo e sigo vos encontrando por aqui.

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