A Rioja Classica, a Rioja dos Viña Tondonia!

        Mais uma grande noite na Confraria Saca Rolha que se reúne mensalmente na Vino & Sapore, para explorar alguns dos muitos mistérios por trás de alguns rótulos de grande renome e prestigio em nossa vinosfera. Explorar vinhos de mais idade então, essa é uma experiência que me encanta e seduz, especialmente quando falamos de um vinho branco de 20 anos. Daqueles vinhos únicos que revertem regras e mudam conceitos, mas deixemos nossa porta voz, a amiga, confreira e sommelier Raquel Santos, falar por nós:          

         Em nosso encontro anterior, tentamos desbravar a região de Rioja na Espanha. Digo “tentamos” porque nesse mundo, dos vinhos, isso é uma tarefa quase que impossível de se conseguir em apenas uma vez.

         Passamos pelas principais regiões e conhecemos produtores importantes. Vimos também que uma das características desses vinhos é sem dúvida a arte do envelhecimento em barricas, e posteriormente, o tempo de maturação nas caves, inclusive para seus vinhos brancos. Foi Tondonia cemitérioexatamente aí que ficou faltando uma dose maior de investigação. Alguém lembrou do mítico Tondonia que tem um dos brancos mais originais dessa nossa vinosfera. Esse vinho é produzido pela família López de Heredia desde 1877 na cidade de Haro, capital de La Rioja. Combinamos então uma degustação dos  branco e tinto Reserva que passam 6 anos em barricas de carvalho. Além desse longo tempo que ficam em contato com a madeira, são vinhos de vida extremamente longa. Suas caves de crianza (envelhecimento) com seus nichos peculiares lhes deram fama e o nome sugerido de “o cemitério”, enfim, estamos diante de mitos a serem venerados e desfrutados.

         Confesso que a oportunidade de conhecer o famoso Tondonia me deixou bem ansiosa alguns dias antes. Era como ficar cara a cara com um ídolo, ou alguém que só se conhece de ouvir falar, e de repente todo aquele imaginário que vivia em minha cabeça pudesse se tornar realidade, ou não! São vinhos caríssimos e a ideia de compartilhar uma garrafa dessa nos permite por à prova esses mitos, uma das inúmeras vantagens de fazer parte de uma confraria.

         Como de costume, sempre iniciamos com um espumante, que nos ajuda a preparar as papilas, enquanto esperamos a presença de todos e vamos colocando a conversa em dia. Brindamos com o espumante Campos de Cima Extra Brut da vinícola do mesmo nome. Da região da Campanha Gaúcha, quase na fronteira com o Uruguay. Bem refrescante, frutado e seco. Para quem não conhece, vale a pena experimentar. Mais um exemplar entre muitos outros bons espumantes brasileiros.

         O próximo vinho, veio para acalmar os ânimos e concentrar a atenção do que teríamos pela frente: Vilarino 2012, da região de Vinho Verde – Portugal – elaborado com a casta Azal. Leve, floral, com um toque vegetal, porém com presença marcante. Boa acidez e bastante frescor.

         Enfim chegamos, era a hora do Viña Tondonia Blanco Reserva 1993.

Tondonia Branco 93         Na taça mostrava-se de um amarelo âmbar dourado, típico de vinhos envelhecidos. Afinal estávamos falando de um vinho branco de 20 anos!  Enquanto era servido, já podia-se sentir os aromas que invadiram o ambiente. Todos tentavam decifrar aqueles aromas e expressavam ao mesmo tempo, admiração, espanto e um certo olhar desconcertante de uns para os outros. Realmente era algo diferente! Revelava-se em camadas sucessivas que iam nos distraindo e faziam adiar o primeiro gole a cada aproximação da taça. Na boca, o primeiro ataque nos traz a boa acidez da Viura muito bem incorporada com uma untuosidade cremosa, rica em sabores cítricos, florais, minerais, etc….O tempo na taça só fazia aumentar a riqueza de aromas e sabores que evoluíram para especiarias (erva doce, anis), palha, flores secas, frutas cítricas. Tudo isso sem perder a vivacidade e o frescor, e evidenciando  mais ainda os seus coadjuvantes (presunto de Parma, azeite e pão). Verdadeiramente um vinho único que todos desejavam repetir a dose. Resolvemos então dar sequencia na degustação enquanto outra garrafa era providenciada e colocada na temperatura ideal de serviço.

                  Viña Tondonia Tinto Reserva 2001.

         Um típico Riojano, feito com as típicas castas: Tempranillo, Garnacha, Graciano e Mazuelo.Tondonia tinto 2001 Como  o branco, passa 6 anos por barrica de carvalho , o que torna seus taninos finíssimos e muito elegantes. Mostra grande evolução de aromas e sabores de especiarias, frutas vermelhas em geleia, tabaco, etc. Muito bem estruturado, com ótimo corpo e carácter austero, ainda mostra-se com muito frescor. Apesar dos seus 12 anos, ainda é uma criança com muita vida pela frente. Eu já ouvi por aí que esse vinho não envelhece nunca!

        Depois dessa dupla, acho que todos precisavam de um tempo para digerir  essa experiência com vinhos tão ricos e poderosos. Foi então sugerido colocar à prova mais dois vinhos intrusos, de regiões diferentes.

        

O primeiro foi o italiano Gianni Rosso di Montalcino 2010.

         Bem equilibrado, com presença de madeira, cerejas e muito aromático.

O segundo foi o francês Perrin & Fils Vinsobres Les Cornuds 2009 da região do Rhône. 

         Um vinho bem típico daquela região. Notas de frutas vermelhas (cerejas), algo picante, como uma pimenta do reino, e álcool aparente, mas não incômodo.

         Dois ótimos vinhos, dentro de suas características. Com certeza quero dar mais atenção a eles outro dia.

Clipboard Saca rolhas Rosso e Cornuds

          Voltamos no Blanco! Eu, que sempre fui defensora dos “branquinhos”, estava adorando ver aquele riquíssimo exemplar afrontar qualquer tinto que pusessem na sua frente!

         Foi bom ter reservado um tempo para os vinhos da Tondonia. Aliás, tempo é a palavra mágica quando se fala de vinhos evoluídos, elegantes e com personalidade forte como estes, é o mínimo sinal de respeito que devemos a eles. Afinal demoram tanto tempo presos naqueles tonéis ou nas garrafas para atingir seu apogeu, que quando chega o momento de libertá-los, precisamos ter calma, paciência e também elegância pois assim como nas mil e uma noites, o gênio tinha poderes ilimitados. Garanto que eles retribuem em dobro. E com alegria, compartilham conosco toda a sabedoria que adquiriram em sua longa jornada.