A Tannat e o Uruguai

O berço nativo da Tannat é Madiran, no centro da região sudoeste da França. ao pé dos Pirineus, mas é considerada, de fato, um patrimônio nacional do Uruguai!

No século 19, um francês chamado Pascual Harriague introduziu essa cepa no Uruguai, onde ela se adaptou perfeitamente, ganhando força e prestígio, ao proporcionar vinhos de sabor único, cor concentrada e complexidade intensa. Durante muito tempo a uva no Uruguai foi conhecida por Harriague e existe o vinho Don Pascual que é uma homenagem a este homem e sua contribuição à vitivinicultura uruguaia.

Apesar de ainda ser cultivada na França, o Uruguai é hoje o produtor dessa uva que mais se destaca. Cerca de 45% de seus vinhedos são ocupados pela variedade. A Tannat, especialmente rica em polifenóis, tendo o maior contéudo de Resveratrol (forte poder antioxidante) entre todas as cepas Vitís Viniferas conhecidas, devido à espessura grossa da casca e ao elevado número de sementes dessa uva. Cada bago de Tannat costuma ter 5 sementes, sendo que o mais comum, nas outras variedades, é a presença de somente 2 ou 3 sementes por bago de uva.

O alto nível de taninos, em contrapartida, fez com que a Tannat ganhasse fama de selvagem, rústica e até mesmo agressiva na França o que fez com que produtores buscassem amenizar essa característica com a adição de outras castas mais “suaves” para reduzir esse impacto como a Cabernet Franc e a Merlot.  Já no Texas, onde existem bastantes vinhedos da uva, os produtores fazem exatamente o oposto, com maceração prolongada para destacar o alto teor tânico de seus vinhos. Já no Uruguai, os cortes mais comuns são com Merlot, predominantemente, mas também com a Pinot Noir, Cabernet Franc, Tempranillo Viognier e Syrah.

Os melhores Tannat serão sempre intensos, muito elegantes, com final longo e memorável. A harmonização da Tannat agrada em cheio os apreciadores de churrasco daqui do Brasil, da Argentina e do Uruguai. Os taninos dessa uva combinam muito bem com carnes mais gordurosas sendo parceiro fiel do famoso cordeiro uruguaio e leitão pururuca, porco no rolete e até feijoada.

Apesar de produzirem vinho a mais de 250 anos, foi realmente a partir de 1874 com a aposta na uva Tannat por parte de Pascual Harriage, que o a vinicultura começa a ganhar importância. A moderna vinicultura, todavia, somente começa a ganhar corpo a partir do início dos anos de 1980 culminando com a criação do INAVI (Instituto Nacional de Vitivinicultura), uma entidade publica que vem regendo o presente e o futuro do vinho Uruguaio.

 Em 1992 foi feito um estudo de regionalização da produção do vinho em que se definiram oito grandes regiões de potencial de desenvolvimento baseado em parâmetros climáticos assim como da geologia encontrada. Canelones/Montevideo ao Sul, ainda representam 76% dos vinhedos plantados. Sua marca registrada é o Tannat e sua chegada ao cenário mundial é bem recente, mas ganhando espaço com alguma velocidade apesar dos números ainda relativamente pequenos de exportação face o alto consumo interno versus a pequena produção. Dos cerca de 74.5 milhões de litros produzidos, 59.5 ficam no país (grande consumo per capita) e 18 se destinam à exportação sendo a venda a granel ainda o grande volume (76%) e dos 4.6 envazados a grande maioria, cerca de 65%, é destinada ao Brasil.

Algumas importantes normas foram definidas para a indústria. Começando pelo fato de que qualquer varietal declarado no rótulo deverá ter, obrigatoriamente, um mínimo de 85% dessa variedade. Por outro, se instituiu a VCP (Vino de Calidad Preferente) que é o verdadeiro vinho fino como nós o conhecemos. Ter a chancela VCP impressa no rótulo significa dizer que o vinho foi produzido dentro das normas, região e condições estabelecidas.  Não é chancela de qualidade ou seja, pode-se ter um bom vinho sem VCP como ter um péssimo com VCP. Na verdade, ter VCP é uma indicação de que o vinho deve ter qualidade, mas não uma verdade absoluta. Aliás, como todos AOCs e DOCs do mundo.

             Os vinhos Uruguaios apresentam características bem diferentes dos vinhos a que estamos habituados a tomar de origem Argentina e Chilena. Pelas próprias diferenças climáticas com temperaturas mais amenas e condições geológicas bem distintas às encontradas nestes outros países. São vinhos com personalidade própria, elaborados por gente que tem um jeito diferente de fazer vinho e que, neste sentido, nos parecem vinhos mais parecidos ao estilo do Velho Mundo, com menos potência, teores alcoólicos mais controlados, boa estrutura e mais elegância.

         Para a alegria dos produtores e dos consumidores em geral, Patrick Ducournau, em 1991, na região vinícola francesa de Madiran, desenvolveu um processo de micro-oxigenação com a finalidade de “domar” o alto nível dos taninos da variedade Tannat. Esta técnica consiste na adição artificial de finíssimas bolhas de oxigênio no mosto através de um dispositivo mecânico anexado ao fundo do recipiente onde a fermentação é realizada seja ela em tanques de inox, cimento ou até barricas. A dosagem é controlada e pode variar de 0,75 a 3 centímetros cúbicos por litro de vinho. O oxigênio é um importante elemento durante o processo da redução (polimerização) dos taninos imaturos, que se transformam em taninos macios e agradáveis, e das antocianinas presentes nas cascas das uvas tintas. Este processo de micro oxigenação foi também um “alavancador” comercial por ter domado boa parte da tanicidade destes vinhos tornando-os mais palatáveis e mais rapidamente acessíveis ao consumidor.

Afortunadamente, a maioria do que vem sendo exportado para o Brasil são de vinhos de qualidade, bem elaborados e de boa estrutura. Mesmo assim, é aconselhável dar aos varietais desta cepa, especialmente quando 100% e de mais alta gama, um pouco de tempo em garrafa para que se possa usufruir de toda a sua complexidade de aromas e sabores e para que os taninos se integrem.

Agora, como na Argentina, onde há muito mais a se explorar do que sua Malbec, o Uruguai está passando por uma grande transformação e há uma diversidade de uvas sendo cultivadas com resultados ótimos, então que tal explorar? Eis alguns produtores a explorar; Pizzorno, Gimenez Mendez, Bouza, Pisano, Familia Deicas, Carrau, Dominio Cassis, Alto de Ballenas, Los Vientos, Narbona, Irurtia, Garzon, Viña Progreso. Com esses treze produtores a viagem será longa e proveitosa, aproveite!

Saúde, kanimambo pela visita e seguimos nos encontrando por aqui ou em qualquer uma das muitas curvas de nossa vinosfera!

Um Sedutor Tannat de Salta

Falo de um vinho de pequena produção e de uma região que poucos conhecem, ainda mais para esta uva. Conheci o vinho pela primeira vez há pouco mais de 4 anos e foi paixão à primeira fungada! rs Colomé Lote Especial Tannat 2014, produzido a 1700 metros de altitude com uvas do vinhedo La Brava, Valle Calchaquí. Quando o conheci tinha uma produção limitada a 1500 garrafas, porém hoje já está na casa das 8300 o que segue sendo bastante limitado, porém com preço acessível por lá, na casa dos 250 a 300 pesos ou em Reais entre os 50 a 60 tops, mas cheguei a ver por 215!! Não chega ao Brasil então quem Colomé Lote Especial tannatandar lá pelas terras de nuestros hermanos coloque em sua lista e aproveita traz duas garrafinhas para mim porque minha última tracei neste último Domingo, sniff! rs

São 12 meses de barrica com a madeira muito bem integrada e imperceptíveis 14,5% de teor alcoólico, O Vinho! Apesar de sua estrutura, cor escura mostrando grande concentração é de corpo médio para encorpado, taninos finos e aveludados, frutos negros presentes na boca e nariz, algum tabaco, extremamente rico e absolutamente sedutor, alguma especiaria no final de boca que mostra boa persistência e um agradável frescor. Gostosa paleta olfativa com notas florais, um vinho que prima pelo equilíbrio e dá enorme prazer tomar, que nos encanta e nos faz pedir bis. Um Tannat para quebrar eventuais preconceitos e paradigmas contra esta uva, sem contar sua tremenda relação PQP (Preço x Qualidade X Prazer). Certamente um Tannat para chamar de meu, um vinho que curto demais!!

Acompanhou maravilhosamente o rico arroz carreteiro elaborado com maestria por meu genro Júlio, um grande almoço esse de Domingo. Da Bodega Colomé em Salta, mas uvas vêm de vinhedo em Cafayate, um vinho de um lugar que me encanta ainda mais que os vinhos, quem sabe um retorno em 2018 e com um grupo bacana?? Por enquanto, a Patagônia está a um mês de distância, vem comigo? Kanimambo pela visita, saúde e um ótimo fim de semana.

Salvar

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Bacalhau Luso-Italiano e Tannat de Salta, Combinação Inusitada

Hoje falo de comida, meu prato de Domingo (rs), e de “prefácio” uso o texto que o Jair Oliveira (Jairzinho para os mais antigos) colocou no cardápio do restaurante de sua mãe aqui na Granja, o Escondidinho, onde em breve realizarei alguns eventos. Adorei, pura poesia de quem entende do riscado.

“Quando a boca torna-se a porta do paraíso,

a alma delicia-se sem juízo e o prazer cresce quase sem medida.

Pois é assim que é bom levar a vida; com o sabor escondidinho num sorriso

e o paraíso escancarado na comida.”

(Jair Oliveira)

Bacalhau Luso-Italiano, a união de Baca & Pasta deu samba em terras brasileiras acompanhado de um Tannat de Salta, é o samba do crioulo doido em véspera de carnaval!. Mais um prato fácil e gostoso para você testar em sua casa, tenho a certeza que o pessoal vai curtir, eu me deliciei. Já o vinho, esse fica a seu gosto, mas como já tinha um Tannat de Salta aberto, imaginem só,  tomei junto e ………….. surprise, “ornou” legal! Tannat com bacalhau, o João pirou? Pirei não minha gente, este Tannat é para lá de especial e deu muito certo! Vamos à receita para 4 pessoas com sobra para a marmita de Segunda! rs

400 grs de bacalhau em lascas ou desfiado Gadus Morhua.

1 cebola média

2 dentes de alho

600grs de spaghetti de grano duro

200grs de tomate cereja bem madurinho

Salsinha, cebolinha, azeitona preta picadinha, pimenta do reino a gosto, muito azeite e três ovos cozidos.

Dessalgue o bacalhau em água gelada na geladeira por 24 horas trocando a água pelo menos duas vezes. Guarde a água da segunda e terceira (derradeira) troca e adicione na panela em que o spaghetti será cozinhado. Como essa água já é salgada, sugiro esquecer o sal nesta receita! Escorra bem o bacalhau e deixe-o descansar por cerca de uma hora bem regado com azeite, um foi feito para o outro, pois realça o sabor do bacalhau. Desfie, lasque bem o bacalhau e guarde.

Bacalhau Luso-Italiano by JFC

Refogue no azeite a cebola, alho, tomate e salsinha finalizando com o bacalhau. Misture bem e quando o bacalhau começar a dourar adicione um pouco de cebolinha e pimenta do reino moída a gosto. Jogue a spaghetti na panela ou frigideira alta, que é a que gosto de usar, e misture bem. Desligue o fogo, termine adicionando o ovo cozido grosseiramente cortado por cima para finalizar o prato. Sirva com um bom azeite do lado, eu adoro regar bastante! Viu, não falei que era fácil!

Quanto ao vinho, recomendo um tinto não muito tânico e redondo, mas harmonize CAM00017como queira, afinal se há 1001 maneiras de fazer bacalhau, há outras tantas para harmonizar. Eu, que não sei cozinhar sem vinho, já tinha aberto um que curto muito e que, lamentavelmente, por aqui não chega, é o Colomé Lote Especial Tannat de Salta comprado no produtor.  Apenas 1430 garrafas produzidas, 14 meses de barrica e imperceptíveis 14.9% de teor alcoólico, juro! Macio, frutos negros típicos da casta, algum tabaco, meio de boca extremamente rico e absolutamente sedutor, sedoso com um final de boca longo e muito saboroso não tendo passado por cima não! Certamente que não é a harmonização clássica, mas ficou muito bom!  Bem, por hoje é só, mas na semana ainda falaremos mais de gastronomia aqui no blog com a participação da Rejane, pois onde há boa comida há sempre a presença de vinho e vice-versa. Salute, kanimambo e seguimos nos encontrando por aqui.

O vinho faz da refeição uma ocasião, torna a mesa mais elegante e cada dia mais civilizado.” Andre Simon, comerciante e wine writer francês.”

Finalmente – Os Vinhos de Colomé!

 JFC em Colomé    Demorou mas cheguei à segunda parte dessa epopeia que foi a visita a este lugar mágico. Já falei um pouco da vinícola, do local e dos vinhos Amalaya, porém hoje quero falar sobre os vinhos Colomé . As uvas vêm de vinhedos de três diferentes altitudes; 2300 (Calchaqui), 2700 (El Arenal) e 3100  (Payogasta – os vinhedos mais altos do mundo) e geram vinhos realmente surpreendentes, porém há também algo do vinhedo San Isidro situado a 1700 metros de altitude em Cafayate.

       Após visita ás instalações e ao incrível museu, fomos brindados por uma degustação muito especial em que quase todos seus vinhos passaram por nossas taças. Tecerei alguns breves comentários sobre estes vinhos, porém alguns deles me marcaram muito positivamente e esmo recomendando a todos, estes, a meu ver, são imperdíveis havendo a oportunidade!

Colomé Torrontés 2012 – divino exemplar de Torrontés, nariz sedutor e enorme equilíbrio de boca, fresco e amplo. As uvas são colhidas em duas etapas, uma mais cedo para garantir uma maior acidez e a segunda para uma maior complexidade de aromas e peso em boca. Um belo parceiro para as famosas empanadas salteñas e cozinhas especiadas como a Tailandesa e Mexicana. No Brasil por cerca de R$52,00 é uma bela pedida!

Malbec Lote Especial 2010 – Na verdade são três, um de cada vinhedo; Cafayate – Calchaqui e El Arenal, todos com 10 meses de barrica ½ a ½ francesas e americanas.  Foi da opinião de todos presentes que o de San Isidro é mais sedutor em tudo, tanto no olfato como no palato. Todos muito bons, porém o equilíbrio encontrado no San Isidro faz toda a diferença, um vinho delicioso que terei que encomendar já que por aqui não tem e eu esqueci, vejam só, de trazer umas duas ou três garrafas!.

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Colomé Estate Malbec 2010 – leva 85% de Malbec de El Arenal, porém os restantes 15% tem um pouco de tannat, Syrah e Petit Verdot c 20% do vinho passando por barricas francesas de 1º uso e o restante de segundo uso. Um belo vinho, muito marcante com personalidade própria, ótima textura, bom corpo mas repleto de finesse. Na linha de seus vinhos considerados top, me pareceu o de melhor relação qualidade x preço x prazer. Custa por aqui em terras brasilis, algo ao redor de R$98,00 e vale!

Autentico Malbec 2011 – Sem passagem por madeira, advindo de cepas oriundas dos vinhedos mais antigos (1854) e clones destes, consequentemente, caro e de baixa produção! Vinho para guarda devendo estar pronto daqui a três ou quatro anos, bebê-lo agora é puro infanticídio.

Colomé Reserva Malbec 2009 – Só 7000 garrafas produzidas, 90% malbec e o restante um tempero de Syrah e Petit Verdot. Potente, denso, untuoso, 24 meses de barricas novas francesas, boca quente com toques mentolados. Vinho para guardar e beber com calma, está muito novo ainda, porém demonstra muita complexidade e  capacidade de evolução. R$ 270 por aqui.

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Lote Especial Sauvignon Blanc – ao estilo neo zelandês , nariz de muito boa intensidade, fresco e equilibrado. Me surpreendeu!

Lote Especial Tannat 2010 – apenas 1430 garrafas produzidas, 14 meses de barrica e 14.9% de teor alcoólico. O DSC03397Vinho! Trouxe uma garrafa para cá (aqui no Brasil não há) e todos adoraram. Álcool perfeitamente enquadrado e imperceptível, macio, frutos negros, algum tabaco, extremamente rico e absolutamente sedutor. Meu primeiro contato com os tannats de Salta que posteriormente tiveram sua qualidade confirmada por rótulos provados de outros produtores. OJO na Tannat de Salta!

Syrah Lote Especial – não tem a mesma pegada do tannat, álcool mais aparente e algo disperso. Correto, mas não deixa marcas!

DSC03390Colomé Lote Especial Misterioso branco – um field blend em que até agora foram identificadas cinco cepas; chardonnay/semillon/sauvignon blanc/riesling e torrontés porém há mais! Complexo, muito aromático e vibrante na boca, delicioso, uma pena que só tem por lá. Produção de somente 1600 garrafas e as duas que trouxe já foram! Sniff….

       Uma das coisas que mais me surpreenderam nos vinhos foi o álcool bem integrado e moderado mostrando enorme elegância. Essa coisa de vinhos muito potentes, álcool desacerbado e de grande extração mostra ser muito mais a marca de um produtor da região, do que uma marca de Salta como somos erroneamente levados a crer, conforme pude sentir e comprovar nas visitas subsequentes realizadas. Enfim, hora de partir e a certeza de que este lugar vai deixar saudades. Alguns de seus vinhos estão no Brasil, ótimo, mas voltar aqui vai ser um projeto de médio prazo e, quem sabe, porquê não com um pequeno grupo?

Harmonizando Carnes & Vinho ás Cegas – Resultado Surpreendente

          Adoro desafios ás cegas! Nessas horas, sem influência de preço ou rótulo mergulhando no desconhecido é que se quebram paradigmas e preconceitos enraizados em nosso consciente. Num grupo de dez pessoas muito “fixes”, nos dirigimos à Cabana del Assado Granja Viana para um prova que, aparentemente de resultado mais ou menos previsível, não nos induzia a esperar grandes surpresas. No mesmo prato, um corte de bife de chorizo, um de bife ancho e dois carrés de cordeiro, muito bem feitos, que confirmam a fama que as carnes deste simpático restaurante de inspiração argentina ganharam em tão pouco espaço de tempo. Na frente, três taças com três vinhos diferentes, um Melipal Malbec 2006, um Menendez Mendez Tannat  Reserva Alta 2008 e um vinho surpresa que prometi colocar na prova. Qual o melhor vinho? Qual a melhor harmonização?

              Bem, antes de falarmos dessa  prova falemos da introdução desse agradável encontro promovido pela Vino & Sapore. Para começar, nos reunimos na loja, a cinquenta metros do restaurante, para um brinde com o gostoso e fresco Norton Brut Cosecha Especial. De garrafa muito bonita, um verdadeiro charme, e caldo muito fresco, este espumante mostra que mesmo a preços bem camaradas os argentinos estão chegando e os produtores nacionais que abram os olhos! Chegando ao restaurante, onde fomos muito bem recebidos por toda a equipe do salão com destaque para o Esmeraldo com um serviço muito atencioso e eficiente, iniciamos com um “aquecimento” para o Desafio que estava por vir, nos deliciando com costelinhas de porco na brasa acompanhadas de um vinho que faz a minha felicidade nestes momentos, o Varanda do Conde, vinho verde português elaborado com um corte de Alvarinho e Trajadura, harmonização esta que aparentemente foi bem sucedida e aprovada pelos presentes, mesmo não sendo lá muito costumeira. Aliás, apesar de achar que feijoada casa mesmo é com caipirinha, tentem harmonizá-la com este mesmo vinho, o resultado, mais uma vez, surpreende. A foto esqueci de tirar na hora, mas esta é de um domingo em casa, delicia!

          Voltemos ao Desafio. Não vou aqui ficar descrevendo o Malbec (este 2006 ainda melhor que o 2005) e o Tannat , pois ambos já foram por mim comentados aqui no blog  (siga os links) e, mais uma vez, demonstraram ser vinhos de grande qualidade que, ao preço de R$65,00, demonstram claramente de que não se necessita gastar rios de dinheiro para beber bons vinhos. O que foi muito interessante foi ver o resultado do grupo que deu ao vinho 3, o surpresa, a liderança como melhor vinho numa análise solo, sem comida, mesmo havendo um certo equilíbrio entre os três. Cinco pessoas preferiram o 3, três pessoas o 1 e duas pessoas o 2.

            Quando colocamos os vinhos junto com as carnes, o vinho 3 mais uma vez se destacou apresentando-se mais versátil harmonizando melhor com a maioria das carnes. Frutado, taninos finos presentes, corpo médio, boa estrutura com acidez no ponto, equilibrado e muito rico combinou bem com a untuosidade das carnes em geral sem se sobrepor ás carnes mais suaves e encarando de frente o bife de chorizo. Pessoalmente achei que cada vinho se deu melhor com uma carne especifica; vinho 3 com bife ancho, 1 com carré e 2 com o bife de chorizo, mas tenho que concordar que na média o 3 acabou se dando melhor. Agora, imagino que você já esteja curioso para saber que vinhos são o um e dois então aqui vai; o 1 foi o Tannat e o 2 o Malbec, por sinal dois vinhos de muita qualidade a preço bem razoável. O vinho 3, consequentemente, foi nosso surpresa, o Dom Rafael 2008, vinho alentejano produzido pela conceituadíssima Herdade do Mouchão, pisa a pé e um blend de Alicante Bouschet, Trincadeira e Aragonez que custa apenas R$53,00.

        Mais uma vez um monte de paradigmas quebrados; boa harmonização de carne com um vinho branco, gente que não compraria um Tannat surpresa porque foi o vinho que mais lhe agradou, o vinho de menor preço foi o ganhador e …..nem Malbec nem Tannat, deu Alentejano na cabeça! Gostoso exercício de harmonização com carnes que mostrou que nem tudo o que aparenta ser óbvio, efetivamente o é.

         Melhor de tudo, a harmonização perfeita entre os participantes deste gostoso evento. Como sempre digo e insisto, a perfeita harmonização ocorre quando vinho, prato, momento e pessoas conseguem se  unir e criar entre elas um forte elo propulsor que faz com que a aritmética seja colocada de lado e a soma das partes seja exponencial. Neste sentido, sucesso total e os nossos agradecimentos a todos que transformaram um mero exercício de degustação num momento muito especial.

Salute e kanimambo.

Ps. Sugestão para o próximo sábado; almoço na Cabana del Asado e compra de vinhos na Vino & sapore , eh/eh!

Malbec ou Tannat no Churrasco?

            Para quem está menos embrenhado nos segredos de nossa vinosfera, fica a impressão de que a Malbec é uma uva argentina e a Tannat uruguaia. Ledo engano, pois as duas se originam na França e daí saíram para o mundo tendo se tornado ícones da vinicultura nestes dois países. A Malbec é originária da região de Cahors sendo também uma das cepas autorizadas a fazer parte do corte bordalês, apesar de pouco usada, tendo encontrado em seu novo habitat, Mendoza/Argentina, sua Shangrila! A Tannat, por outro lado, nasceu no Madiran onde ainda se elaboram potentes vinhos de longa guarda, para mostrar-se em toda a sua plenitude no nosso vizinho Uruguai. Os vinhos tannat do Uruguai ainda são meio desconhecidos do grande publico, mas estes varietais ou blends com merlot, vêm gradativamente ganhando destaque na mídia especializada e espero que façam rapidamente a transposição para sua taça.

        Pergunte para um uruguaio e ele certamente lhe dirá que não tem nada como tannat para fazer companhia a uma boa carne. Já os argentinos, estes juram que a Malbec gera vinhos que têm tudo a ver com sua carne! Achei que estava na hora de conferir isso e no fim de semana fui a um churrasco na casa de um amigo com duas garrafas de baixo de braço; um Alta Reserva Tannat da Gimenez Mendez e um  Malbec  Reserva Tomero da bodega Vistalba.  Na churrrasqueira, os amigos Márcio e Raffa preparavam alguns cortes deliciosos que faziam antever um grande embate entre esses dois vinhos. Tinha costela de cordeiro, maminha, costela de porco com mostarda, picanha, enfim um verdadeiro pitéu que prometia! Sem bairrismos, somos neutros (um português e dois brasileiros), abrimos as duas garrafas e nos deixamos levar nas ondas dos mais intensos sabores.

           Com o cordeiro não teve nem graça, o Gimenez Mendez literalmente arrasou seu adversário combinando taninos firmes, mas elegantes com nuances terrosas e riqueza de sabores que harmonizou muito bem com a carne de gosto mais forte. O Tomero com seus 14.6% de álcool, taninos macios, doces e fruta compotada, não foi páreo. Porém, ainda tínhamos outras carnes a provar e vinho a tomar, a batalha mal começava!  Com a maminha, de sabores mais delicados, o Tomero mostrou suas armas mostrando-se mais equilibrado, mas na picanha e costela dançou de novo. Neste encontro, com estas carnes e estas pessoas, deu Gimenez Mendez na cabeça, mas faça você seu próprio juízo. No próximo churrasco, leve seu Malbec, mas não esqueça de colocar um Tannat na bagagem, você pode se surpreender!

Salute e kanimambo pela visita

Um Tinto Uruguaio de Respeito, Abraxas 2007.

                 É, nesta última Quarta fiz um suspense para falar deste vinho, porém aqui estou para o comentar, um senhor vinho. Daqueles que vestem fraque e cartola com eximia destreza e elegância apesar de um porte musculoso e viril. Abraxas, um vinho elaborado com 100% do melhor tannat plantado em Rocha, no norte do Uruguai já próximo de Punta Del Este.

Encorpado, grande estrutura, teor de álcool aquém do esperado com somente educados 12,5% que nos permitem passar da terceira taça! E olha que dá fácil para isso, uma pena que não tivesse um belo pedaço de bife ancho para acompanhar, pois seria divino. Frutos negros no olfato, como a cor que insiste em tingir a taça com laivos violeta, e terroso. Na boca explode numa complexa sinfonia em que prevalece o equilíbrio. Taninos aveludados de muito boa qualidade, rico, untuoso e sedutor com a madeira já bem integrada, denso, final longo em que aparece algum moka com toques de especiarias. Talvez não possua a mesma capacidade de guarda do 2002 que ainda está pujante, porém talvez seja mais rico em sabores e mais harmonioso, um conjunto mais cativante e apetitoso para ser curtido e apreciado sem pressa, mais do que meramente bebido.

              Realmente é de tirar o chapéu para o que os enólogos fazem por lá com essa uva.  Seus vinhos premium estão num patamar de grande qualidade e este não nega a raça. Um dos bons rótulos nesta gama de qualidade a um preço abaixo da média o que o faz saber ainda melhor, eheh! Acha-se por aí na faixa dos R$100,00 e este eu recomendo como um belo custo x beneficio que certamente faria alguns dos bons vinhos do Mandiran enrubescerem. Importado pela Dominio Cassis, sei que na Portal dos Vinhos tinha e também terá na Vino & Sapore, uma no Morumbi em Sampa e a outra na Granja Viana em Cotia. Ah, ia-me esquecendo, a garrafa é poderosa e, nas mãos erradas, pode virar uma arma letal. A bichinha deve pesar uns 5 kgs!!!!!!!

Salute e kanimambo

Juanicó

                É, por este nome do produtor, poucos saberão de que vinhos falarei hoje. Juanicó é nome da vinícola que produz os famosos vinhos Don Pascual, Prelude e Família Deicas, agora está mais fácil não? Já deu para se situar? Pois bem, a Juanicó talvez seja o maior produtor Uruguaio de vinhos finos, exportando cerca de 20% de sua produção e detendo algo ao redor de 35% do mercado Uruguaio com uma produção total de cerca de cinco milhões de garrafas anuais. Apesar de já conhecer alguns de seus produtos como o ótimo Prelude e o excepcional Família Deicas 1er Cru Garage, desta vez tive o privilégio de, não só voltar a tomar estas preciosidades, mas também conhecer a linha básica e uns lançamentos.

  • Don Pascual Viognier Reserva 2005, eis aqui um vinho branco muito agradável, de boa concentração e frescor. Trinta por cento dele passa por barris de carvalho Francês por seis meses. No nariz muito cativante com os aromas de pêssego tendendo a se sobressair. Na boca é cremosos, de corpo médio, acidez controlada e muito saboroso. O preço normal é de R$39,00, mas neste mês de Julho está em promoção por R$32,00.
  • Don Pascual Tannat Roble 2006, uma parte passa por carvalho Francês e outra por Americano dando-lhe características muito interessantes. Um Tannat muito equilibrado, redondo e macio, absolutamente pronto para beber. O Preço normal é de R$45,00, porém nesta promoção de Julho, está por R$39,00.
  • Prelúdio Barrel Select Branco 2004. Lançamento do primeiro Prelúdio branco e um senhor vinho que vem para dividir atenções com seu irmão mais velho, o tinto. Um corte de 90% de Chardonnay, 8% de Viognier e 2% de Sauvignon Blanc. De 9 a 11 meses de barrica de carvalho Francês, elaborado de forma quase artesanal que resulta em somente umas 2500 garrafas disponíveis para todo o mercado. No nariz não desperta, pelo menos para min, grandes euforias. Na boca, no entanto, é bem mais evoluído, complexo, um vinho que clama por comida. Elegante, rico é um vinho de grandes qualidades. Preço R$88,00.
  • Prelúdio Barrel Select Tinto 2002, um corte de Tannat, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Petit Verdot e um tico de Marselan. Vinho de guarda com ótima estrutura. Este 2002 apresentou aromas complexos, taninos firmes sem qualquer agressividade na boca, fruta madura, boa acidez, muito equilíbrio num conjunto que preza pela elegância. Já muito bom e, certamente, melhorará ainda mais com mais um ano de garrafa. De R$115,00 por R$99,00.
  • Don Pascual Tannat/Merlot, o célebre corte Uruguaio que vai excepcionalmente bem com uma carne na brasa. Este corte produz um equilíbrio e harmonia tal no vinho, que explica o sucesso que o faz ser um campeão de vendas. Redondo, fácil de beber, um vinho para quem não quer errar. Nos restaurantes, uma escolha certeira.
  • Família Deicas 1er Cru Garage 2000. Produzido em associação entre a Juanicó e a família Magrez, dona de diversos Chateaus em Bordeaux, em especial o Chateau Pape Clement, com uvas de vinhedos de baixíssima produção de onde se extrai algo como meio quilo de uvas por planta o que significa que, para elaborar uma garrafa deste néctar, se usam uvas de três plantas! Já tinha me apaixonado pelo vinho quando de uma degustação de aniversário da Expand e, repetir a experiência foi um enorme privilégio já que este vinho me encanta, é exuberante! Repito o que já tinha comentado antes, uma paleta aromática absolutamente maravilhosa, intensa e complexa. Na boca é potente, mas elegante com taninos finos presentes e boa acidez com um longo final de boca. Não mais uma enorme surpresa e sim, a confirmação de estar perante um grande vinho! Preço especial na promoção. De R$285,00 está por R$248,00. Para quem tem essa grana, não deixe de comprar, não se arrependerá.
  • Licor de Tannat 2004. Um licor produzido à base de Tannat com adição de álcool viníco ao estilo dos vinhos do porto. Bom para tomar  acompanhando uma sobremesa de chocolate ou em vôo solo. Preço R$78,00.

Estes vinhos são de importação exclusiva da Expand. Procure-os em qualquer uma de suas 33 lojas espalhadas por este Brasil afora. Veja telefones e endereços em http://www.expand.com.br/ .

 

Salute e kanimambo.