Raquel Santos

Paul Hobbs, a Cara de um Enólogo e Seus Vinhos.

Tenho tido alguma dificuldade de participar de uma série de degustações que aguçaram minha curiosidade e sede de saber! rs O bom é que tenho amigos que na hora H me socorrem e a Raquel Santos, autora deste texto sobre Paul Hobbs, é uma delas, kanimambo amiga! A Raquel foi em meu lugar e se apaixonou pelo trabalho do Paul que se reflete de forma peculiar em seus vinhos, na verdade os grandes enólogos chegam a um ponto na vida que podem, com menos pressão, se dedicar a colocar sua personalidade em seus vinhos, foi isso que vi neste gostoso post que agora compartilho com os amigos. Os vinhos falam muito de seus lugares, mas os bons falam também de

seu criador!

“Em julho/2017 e recentemente, julho/2018, participei de uma apresentação dos vinhos elaborado pelo enólogo e produtor Paul Hobbs, promovido pela importadora Mistral.

Esses dois panoramas me fizeram refletir o quanto a linha de conduta, movida por um objetivo pessoal, pode ser importante no resultado final de um produto.

Paul Hobbs, um americano nascido ao norte de Nova York em uma família de fazendeiros produtores de maçã, sem nenhum histórico na produção ou contato com vinhos, foi levado por seu pai, produtor agrícola à iniciar  uma plantação de uvas viníferas para posteriormente produzir vinhos. A mãe, uma dona de casa, que segundo ele teve muita influência na sua maneira de manter tudo limpo e organizado, não era afeita a bebidas alcoólicas. Seu pai então, para convencê-la de que o vinho tratava-se de um produto interessante levou para a família experimentar uma garrafa de Chateau d’Yquem , o que obviamente  foi um argumento incontestável.

Porém,  as intenções da família caíram por terra quando viram o tamanho do investimento necessário para iniciar uma produção de vinhos. Se por um lado eles se depararam com um impedimento real, por outro acho que que a decisão de trabalhar inicialmente em uma vinícola já estabelecida foi a coisa certa a ser feita. Depois de sua graduação em biologia na Univerdidade Notre Dame ele completou uma pós graduação na Davis de enologia.  Em 1978 Hobbs foi trabalhar com Robert Mondavi no projeto do  Opus One. J

À partir daí foi uma sequencia de acertos e aquisição de experiências que o levaram à América do Sul, mais precisamente ao Chile e Argentina. Nessa época o Chile vivia tempos difíceis com a ditadura de Pinochet, o que facilitou sua escolha pela Argentina. Convidado por Jorge e Nicolás Catena tornou-se consultor da Catena Zapata em 1989. Sua passagem foi transformadora para a produção dos vinhos na Argentina, principalmente em Mendoza,  onde a  elaboração de vinhos em terroir únicos, varietais, valorizando as características locais com o máximo de refinamento, reforçaram ainda mais o conceito de “vinhos do novo mundo”, corrente na Califórnia. Desenvolveu a casta Malbec que lá já existia, modernizando-a e aprimorando-a.  Criou a Viña Cobos e sua 1ª colheita em 1999 colocou seus vinhos varietais de Malbec nos holofotes mundiais.

Foi com essa bagagem que ele voltou ao EUA , criando a Paul Hobbs Winery em Sebastopol, CA. Depois disso desenvolveu vinhedos em Sonoma, Russian River Valley, Napa Valley, mas sua busca incansável por novos terroir não pararam por aí. Usando da sua expertise, associou-se à Bertrand Gabriel Vigouroux em Cahors na França para trabalhar a casta Malbec na sua origem. Lá criou a Crocus, onde a modernidade e a tradição se encontraram.

Atualmente desenvolve um projeto na Armênia. A Yacoubian-Hobbs, localizada em uma região onde a cultura da produção de vinhos existe há 6000 anos. À partir de variedades ancestrais e solos ricos  em minerais , na província de  Vayots Dzor. Seu novo desafio será explorar a versatilidade desse terroir e dessas uvas nativas e internacionais. 

Na 1ª apresentação que fui foram degustados os seguintes vinhos:

  1. Crocus Atelier 2012
  2. Crocus Prestige 2011
  3. Crocus Grand Vin 2011

Esses 3 primeiros, Malbec de Cahors, demonstram toda a tipicidade do terroir francês, cada um com suas próprias características, mas sempre dentro do conceito “potência com elegância”.

  1. Paul Hobbs Pinot Noir Russian River Valley 2012
  2. Crossbarn Cabernet Sauvignon Napa Valley 2012
  3. Paul Hobbs Cabernet Sauvignon Napa Valley 2011

Os 3 últimos, Californianos, mostram muito bem a vocação de cada solo para com as castas. A Pinot Noir se desenvolveu magnificamente em Russian River Valley assim como a Cabernet Sauvignon em Napa Valley. Aqui percebe-se a arte do enólogo. Extrair todos esses potenciais, cada um com suas diferenças, valorizando a casta, o solo e obtendo o máximo de expressividade do terroir.

A 2ª apresentação contamos com os seguintes vinhos:

  1. Crossbarn Chardonnay Sonoma Coast 2016
  2. Crossbarn Pinot Noir Sonoma Coast 2014

Essa região, Sonoma Coast recebe influência do Pacífico, sendo muito fria e úmida. Inicialmente se notabilizou pela boa adaptação da Chardonnay e pela semelhança com os solos pedregosos da Borgonha. Por conseguinte a casta Pinot Noir também demonstra toda a sua tipicidade nesse vinho proveniente de vinhedo único. Ambos são extremamente elegantes, sofisticados, com expressões de frutas maduras, mineralidade e textura persistente.

  1. Paul Hobbs Pinot Noir Russian River Valley 2014
  2. Crossbarn Cabernet Sauvignon Napa Valley 2012
  3. Crocos Atelier 2012
  4. Crocos Prestige 2011″

“A alma de um vinho é quando ele fala de algum lugar. Se você não tem isso, então perdeu tudo.”

Paul Hobbs

Vinhos do Chile Segundo Tempo!

É, semana passada postei a primeira parte das impressões da Raquel sobre a participação dela na Wines of Chile deste ano e agora segue a segunda. A Raquel Santos afora ser uma amiga, é uma sommelier formada na escola da Alexandra Corvo e uma entusiasta das coisas de Baco, me ajuda muito e sabe do que fala, então, Fala aí Raquel!

Viña Casa Silva

Produtores consagrados no Vale de Colchagua desde o início da historia da vitivinicultura chilena. A qualidade da sua produção foi reconhecida várias vezes em concursos nacionais e internacionais. Representado pelo seu enólogo Mario Geisse que apresentou o Microterroir de los Lingues Carmenére 2011. Quando se pensa num vinho chileno da uva Carmenére, já vem à cabeça um estereótipo do que foi um dia o padrão para eles: Encorpado, potente, frutado com notas vegetais etc… e o que encontramos aqui é algo bem diferente!   Um vinho extremamente elegante, equilibrado e complexo.

 Veramonte

Vinícola familiar do Vale de Casablanca onde se destacou com seu Sauvignon Blanc. Hoje possui propriedades em outras regiões como Apalta no Vale de Colchagua. A marca Neyen vem desta região e o vinho apresentado foi o Neyen 2011, um corte de Carmenére e Cabernet Sauvignon. Esse chamou-me atenção não por novidades e sim pela característica clássica dos vinhos chilenos: Cor intensa na taça, aromas frutados, tostados, tabaco e um frescor que prometia  leveza em contrapartida à potencia inicial. Em boca, era exatamente o que  descrevi acima (do que se espera ao provar um vinho típico chileno!). Encorpado, com muita fruta, notas vegetais (ervas frescas), acidez que pede comida, com taninos macios, etc. Um vinho clássico, equilibrado e elegante.

Viña el Principal

Na região mais alta do Vale do Maipo, comuna de Pirque, bem perto da capital Santiago, estão situados os vinhedos onde a Cabernet Sauvignon se junta com outras castas, como a Cabernet Franc, Petit Verdot, Carmenére e Syrah. Blends ao estilo de Bordeaux, mas com característica mediterrânea e influencia da Cordilheira dos Andes. Provamos o El Principal 2013 que é elaborado com 87% Cabernet Sauvignon, 9% Petit Verdot e 4% Cabernet Franc. Foi um ano de temperatura mais baixa que o usual onde a maturação das uvas foi mais lenta, resultando em um vinho de ótima acidez, bom corpo e taninos maduros. Não filtrado, o que lhe confere complexidade para evoluir por muito tempo. Muito interessante o final de boca remetendo à figos em compota.

Quando se depara com um panorama tão vasto quanto esse que nos foi apresentado, instintivamente nossa atenção se volta para tudo que for diferente, ou seja, os elementos que se destacam do todo que nos passam a impressão de que conseguiram dar um passo além, porém nunca devemos desprezar a origem que deu o sustento para o primeiro passo. Tenho observado um fenômeno recorrente na produção de vinhos em todo mundo: As novas gerações, que são herdeiras das terras produtoras de seus pais e de seus avós, quando resolveram dar sequencia ao negocio de família adquiriram um modelo antigo se pensarmos nas referências do mundo de hoje.

O efeito “globalização” e o acesso à informação fez com que consumidores e produtores trocassem conhecimento, ou seja, chilenos, italiano, americanos , etc, não consomem/produzem apenas o vinho em seu pais de origem.  A produção em larga escala, visando a distribuição mundial, o apelo mercadológico do produto em questão, feito em grandes quantidades sem perder a qualidade, o fomento tecnológico proporcionaram uma nova relação na produção do vinho. Isso é muito visível nos países da América do Sul, que investiram muito em tecnologia para desenvolver um produto de qualidade e que agora buscam se destacar de alguma forma uns dos outro. Quando um produtor investe em um novo terroir, ou trabalha no resgate de uma casta esquecida, um método de vinificação ancestral, na produção artesanal, em blends inusitados, ou na tecnologia de ponta para criar o “seu vinho”, ele está criando uma identidade.

E nessa busca pelo reconhecimento todos ganham. Se você é apreciador de bons vinhos ou deseja um dia ser, pode esperar que se ainda não encontrou o vinho pra chamar de “seu” , ele mesmo te encontrará!”

Bem depois disso, “in Bacco & Raquel Veritás” diria eu que não pude estar por lá. Certamente Bacco falou com ela e feliz de poder compartilhar essa experiência dela com os amigos, grato Raquel. Abraço, saúde e kanimambo pela visita lembrando que em Novembro tem viagem de exploração à Patagônia, vem comigo?? Uma ótima semana para todos

WORLD WINE EXPERIENCE 2016 – Parte 2

Amigos, eis a segunda parte das experiências da Raquel Santos por mares italianos na World Wine Experience. Desta feita as regiões mais nobres ganham destaque começando, para preparar o palato, com espumantes. Vamos lá, vamos viajar virtualmente?

6 – Mionetto

Localizada no coração da DOCG Conegliano/Valdobbiadene, região demarcada do Vêneto, esta vinícola produz Proseccos há mais de 110 anos. Provei 5 estilos diferentes feitos com a qualificação “extra dry” (12 a 20g de açúcar por litro). Todos eles muito frescos, independente do padrão de rigor ou sofisticação da vinificação.

            Mionetto  Vivo e Mionetto Vivo Rosé extra Dry – Esses dois primeiros são os vinhos de entrada da vinícola. São espumantes simples, festivos e agradáveis, feitos com uvas variadas. O branco ( Chardonnay, Pinot Blanc, Riesling, sauvignon Blanc e Verduzzo ) e o Rosé ( Cabernet Sauvignon, Merlot e Raboso ).

            Prosecco di Valdobbiadene Superiore Extra Dry DOCG – 100% Glera, muito macio e agradável em boca. Expressa muito bem o estilo desse tipo de vinho.

            Sergio MO Extra Dry e Sergio Mo Rosé Extra Dry – Espumantes de autor que leva a assinatura do enólogo(Sérgio Mionetto). A linha Sérgio foi feita para homenagear seu avô, Francesco Mionetto, fundador da empresa. O Branco foi vinificado com as castas Bianchetta, Chardonnay, Glera e Verdiso. O Rosé , Raboso e Lagrein. Muito rico e elegante.

7 – Bellavista

A Lombardia, região do Franciacorta não poderia estar fora dos vinhos destacados. São os espumantes que rivalizam com os de Champanhe como os melhores e mais aclamados do mundo.

            Franciacorta Cuveé Alma Brut DOCG – Método tradicional usando as castas locais (Chardonnay, Pinot Nero e Pinot Bianco). Aromas complexos e sutis. Bela pérlage e persistência em boca.

            Franciacorta Gran Cuveé 2009 Rosé Brut DOCG –  Ótima expressão da Pinot Nero que certamente não lhe confere apenas a cor rosada. A elegância delicada dos aromas e a firmeza persistente dos sabores fazem deste vinho uma experiência única para ser apreciado em ocasiões especiais.

 8 – Poggiotondo

Da região da Toscana, provei dois vinhos produzido por Alberto Antonini, que preza a autenticidade e a pureza das características da DOCG Chianti, por meio da agricultura biológica.

            Chianti “Cerro del Masso” 2014 – Frutado com alguns toques balsâmicos. Fresco e mineralidade que dá leveza e vocação gastronômica.

            Chianti Riserva 2009 – Com as mesmas características, porém com mais intensidade. Um clássico que expressa toda a personalidade e elegância do terroir.

 9 – Travaglini

 Na região do Piemonte, a família Travaglini, produz vinhos com a Nebbiolo (que lá é chamada Spanna), na pequena província de Gattinara(DOCG). O local é considerado um dos mais expressivos para essa casta, juntamente com Barolo e Barbaresco. O solo ácido e vulcânico, a grande amplitude térmica, produz Nebbiolos mais suaves, menos tânicos e com acidez que permite maior tempo de guarda. Uma curiosidade é a forma da garrafa, projetada pelo produtor, para funcionar como um decantador.

            Gattinara DOCG 2009 – Envelhecido 24 meses em barris de carvalho esloveno. Complexo e bem equilibrado.

            Gattinara DOCG Riserva 2008 – Elaborado com colheitas excepcionais, tem maior tempo de afinamento em barris de carvalho (3 anos) e consequentemente um vinho mais evoluído. Muito bom.

10 – Gianni Gagliardo

Outro grande produtor do Piemonte, considerado um dos mestres do Barolo. A família possui vinhedos em La Morra, Barolo, Monforte, Serralunga e Monticello d’Alba. Provei um Barbera d’Alba, Nebbiolo d’Alba e 2 Barolos, mas quero destacar apenas um dos Barolos:

            Barolo Serre DOCG 2007 – Quando provamos um vinho e ficamos sem palavras para descrever as sensações que ele provoca, percebe-se que ele cumpriu 100% sua função. Um Barolo é um Barolo!

             A relação entre a quantidade e a qualidades dos vinhos apresentados foi impressionante, principalmente se pensarmos que ali estavam apenas vinhos italianos. Isso mostra a diversidade que temos à disposição nessa vinosfera mundial. E é sempre bom lembrar que ter acesso à ela não deveria ser privilegio restrito apenas a alguns. Vinho é alimento, saúde, e principalmente cultura.

 

WORLD WINE EXPERIENCE 2016 – Parte 1

Não pude estar presente neste importante evento do calendário viníco de nossa vinosfera tupiniquim, porém não quis ficar de fora, nem deixar o leitor amigo por fora do que por lá ocorreu, então a forma encontrada foi pedir ajuda para minha amiga, sommelier e enófila Raquel Santos para nos tirar da escuridão! rs Como o evento tinha muita coisa a provar e a Raquel se inspirou e se esbaldou, dividi o texto em dois e espero que você aprecie tanto quanto eu, me deu água na boca por alguns desses rótulos!

            “Todos os anos a importadora World Wine promove um evento promocional com os vinhos de sua importação. Este ano tive a oportunidade de participar e aproveito esse espaço para compartilhar minha experiência, onde pude confirmar que quando falamos de vinhos, a melhor maneira de entendê-los é sempre provando e comparando as infinitas particularidades entre eles.

            Este ano o foco foi a Itália e suas diversas regiões, representadas por 21 produtores que somavam aproximadamente 90 rótulos. Pensando nisso, dada a enorme quantidade de vinhos a serem provados, é necessário estabelecer alguns critérios que favoreçam o bom aproveitamento de toda aquela informação. Resolvi começar meu roteiro pelas regiões menos famosas, mas não menos importantes, pelas suas características regionais e deixar os gigantes de Barolo e Brunello para o final.

            Baseada nos vinhos que mais me chamaram a atenção, deixo aqui meu relato dos destaques.Comecei por um produtor da Sicília que já havia conhecido tempos atrás e me causou grande entusiasmo.

1 – Donnafugata

A família Rallo mantem uma produção de alta qualidade sem esquecer a importância da responsabilidade social. Utilizando agricultura sustentável,  os vinhos estão sempre relacionados à vários projetos sociais, além de ligações com a música, literatura, artes plásticas e arqueologia. O nome “Donnafugata” remete-se a literatura siciliana, onde a região dos vinhedos é citada no romance “Il gattopardo”. A historia da rainha em fuga foi filmada por Luchino Visconti em 1963. Vale a pena conhecer o site ( www.donnafugata.it ) que descreve um trabalho inovador onde  as relações entre a produção vinícola sempre se relaciona com algum conceito artístico, desde a elaboração dos rótulos, até a apresentação dos vinhos.  José Rallo, uma das produtoras, interpreta uma música para descrever cada vinho.

             Anthilia DOP 2014 – Feito com castas autóctones, Catarrato e Ansonica. Muito fresco, com mineral calcário e ótima acidez.

            La Fuga DOC – Chardonnay 2011 – Sem passagem em madeira, um Chardonnay diferente, bem equilibrado e de boa persistência.

            Serazade IGP 2013 – Um vinho alegre e vibrante. Bom equilíbrio entre a acidez, taninos e corpo. 100% Nero d’Avola.

            Sedàra IGP 2013 –  Boa estrutura, com potencial de evolução. Um corte prevalentemente de Nero d’Avola. 

            Mile e Una Notte DOC  2006 –  Nariz exuberante. Elegante e potente, mostra toda sua gama de aromas e sabores aos poucos. Um vinho para divagar!

            Ben Ryé DOC – Passito de Pantelleria 2011 –  O Passito é um vinho fortificado, naturalmente doce, proveniente da ilha de Pantelleria (DOC) e elaborado com a casta Zibibbo( Moscato d’Alessandria ). Linda cor âmbar, aromas de pêssegos e mel que se intercalam com florais delicados e um frescor marítimo. A fusão entre a doçura e a acidez impressiona. Tem longa persistência.

 2 – Feudi Di San Gregorio

Esse segundo produtor, da região da Campania, me chamou muita atenção pela diversidade regional (3 DOCG, 1 DOC e 1 IGT) e qualidade dos vinhos. Eles me disseram que o segredo dos seus exemplares está no período de afinamento na cave. Os tonéis descansam ao som de cantos gregorianos.

            Fiano di Avellino DOCG 2014 – Esta casta, de origem romana é muito antiga na região e se adaptou perfeitamente nos solos vulcânicos. Muito fresco, delicado e sutil, com boa acidez e mineralidade.

            Greco de Tufo DOCG 2013 – A uva Greco, como o nome já diz tem origem grega. Divide com a Fiano o mesmo solo vulcânico e as montanhas rochosas da região. O vinho possui as mesmas características minerais, porém com um corpo mais frutado e bem equilibrado.

            Primitivo di Manduria DOC 2013 (Puglia) – Um vinho mais rústico e gastronômico. Para acompanhar aperitivos picantes e defumados, como embutidos e queijos de massa curada.

            Rubrato IGT 2011 – Elaborado com a casta Aglianico, é bem regional e encorpado. Para acompanhar pratos regionais como assados e parmegiana de berinjelas.

            Taurasi DOCG 2008 – Taurasi é a região demarcada onde a casta Aglianico mostra todo o seu explendor. Esse vinho revela uma exuberância de aromas bem complexa, onde pode-se sentir cerejas confitadas com especiarias. Em boca é equilibrado, macio e com boa estrutura.

3 – Arnaldo Caprai

A região da Umbria, nas proximidades da cidade de Perugia, tem a Greghetto e Sagrantino como suas  castas principais. A família Caprai dedica-se na elaboração de vinhos usando essas uvas e conseguiu colocar nos holofotes internacionais sua produção.

            Grechetto Colli Martani 2012 DOC (Grecante)-  Casta branca local (Grechetto 100%), muito fresco e equilibrado. Os vinhos italianos regionais são perfeitos pares para a culinária local. Neste caso, um branco com boa estrutura, que harmonizaria muito bem, desde a entrada ou até com pratos de peixe ou carnes magras mais simples.

            Sagrantino di Montefalco “25 anni” DOCG 2008 – Casta tinta tradicional na região de Montefalco onde é cultivada há mais de 400 anos. Muito elegante e complexo possui uma paleta olfativa bem rica. Equilibrado e com longa persistência.

 4 – Schiopetto

A região do Friuli localiza-se no nordeste italiano, quase na divisa com a Eslovênia. O Collio (DOC), conhecida pela excelente produção de vinhos brancos, situa-se entre montanhas, florestas e recebe forte influencia climática do Mar Adriático. O fundador Mario Schopetto produz vinhos na região desde 1965 onde a elegância, o refinamento e o respeito à tradição são suas principais orientações.

            Sauvignon Blanc Collio DOC 2012 – Reflete toda a tipicidade da casta.

            Pinot Grigio Collio DOC 2012 –  Mineralidade calcária que seca a boca e pede mais um gole. Boa estrutura com elegância e equilíbrio.

            Mario Schiopetto Bianco IGT 2010 – Um Chardonnay com ótimo volume em boca. Delicioso!

 5 – Foradori

Elisabetta Foradori foi uma das responsáveis pelo ressurgimento da casta Teroldego, típica da região de Trentino. Pratica a viticultura natural e agricultura biodinâmica.

            Fontanasanta Manzoni Bianco – Vigneti dele Dolomiti (IGT) – 2013 – Um vinho diferente que demonstra a determinação da enóloga por desafios. A começar pela casta “Manzoni Bianco” que resulta do cruzamento da Pinot Bianco com a Riesling. A produção é pequena (20.000 gfs por ano)e tem afinamento de 12 meses em barril de acácia e 3 anos em garrafa. Vale a pela conhecer, não só  pelo apelo inusitado, mas também pela qualidade.

            Sgarzon Teroldego – Vigneti delle Dolomiti (IGT) 2010 – Muito expressivo e de personalidade. Tem a fermentação e afinamento em ânforas de barro com as cascas por 8 meses. Complexo e bem estruturado.”

Hoje postamos os vinhos das regiões menos conhecidas, já na Segunda-feira traremos os vinhos das regiões mais consagradas para você conhecer. Kanimambo Raquel por compartilhar essa experiência conosco e aos amigos por visitarem por mais uma vez este blog, sempre bom ter vocês por aqui. Um ótimo fim de semana e dia 9 não esqueçam, tem o Wine Dinner harmonizado no restaurante Koizan aqui na Granja Viana, reservas estão acabando!

Quatro Anos Sacando Rolhas Em Grande Estilo!

A Confraria Saca Rolha comemorou 4 anos no mês passado e foi uma graaaande e inesquecível noite regada a grandes vinhos e muita alegria como é de costume em Uncorking-Old-Sherry-Gillraynossos encontros. Desta feita cada dupla um trouxe de casa uma garrafa de um vinho especial, hora de meter a mão na adega! O resultado? Bem, o resultado nossa portavoz, a Raquel Santos (confreira, sommelier e enófila das boas) expõe aqui em seu gostoso texto.

“É, o tempo passa! Cada vez penso mais nessa frase….rs.. O lado bom é que quando lembramos dos encontros alegres, cheios de aprendizados e regados a bons vinhos, nos damos conta do quão prazerosos foram e a vontade de repetir nunca cessa.

Olhando para trás, vejo que foi um ano de muita diversidade. Desbravamos terras longínquas com produções exóticas, desconhecidas por nós. Outros não tão distantes, como o Uruguai que nos surpreendeu, assim como a Austrália que apesar da distância, pareceu-nos familiar. Fizemos alguns desafios, como o eterno embate entre Portugal e Espanha que mesmo dividindo um único rio (Douro/Duero), não diferem apenas no idioma! Incorporamos a crise atual na nossa pauta e tentamos nos adaptar a ela. E depois de tantas reflexões, nada mais justo que tocar no ponto primordial de tudo isso: O eterno prazer que buscamos dentro de cada taça de vinho! Foi pensando nisso que resolvemos comemorar elegendo um vinho “favorito” de cada um para compartilhar com todos. E como somos um grupo heterogêneo, diversidade é mesmo conosco!

Começamos com a generosidade do Felipe, que apesar de não poder estar ali, nos enviou um belo representante: Espumante Ferrari Perlé 2007 – Espumante italiano da região de Trento, já conhecido por nós de outras degustações, marcou presença e deixou saudade. Extremamente elegante, com sua pérlage finíssima, aromas delicados de flores, maçãs e brioches. Boa persistência na boca e complexidade. Elaborado exclusivamente com a casta Chardonnay, passa 60 meses em contato com suas lias na garrafa. Foi um belo brinde!

Eu sou apaixonada pelos vinhos brancos e por isso resolvi levar um que já faz parte da minha lista dos mais adorados: Planeta Chardonnay 2009 – Também italiano, da Sicília. Provei esse vinho a uns três anos atrás e desde então nunca mais o esqueci. Repeti a dose outras vezes e ele sempre correspondeu as minhas expectativas. Como tinha uma garrafa guardada, nada mais justo que dividi-la com amigos queridos numa ocasião dessas. Esse também feito da Chardonnay, como o espumante que bebemos antes. A mesma uva, e vinhos tão diferentes! Logo de cara, impressiona pela cor, amarelo âmbar, com uma densidade que adere à taça. Aromas quase que insolentes de frutas maduras quando exalam seu perfume ao sol, contrastando com um frescor marinho. Muito macio e ao mesmo tempo vibrante pela acidez bem balanceada. Evolui bastante na taça e sua paleta de aromas e sabores desfilam sem parar, quase que querendo nos provocar com contrastes do tipo mel e limão siciliano, pêssegos em calda e calcário, flores e amêndoas torradas…e por aí vai. Esse vinho é uma viagem em que vale a pena embarcar! niver 4 anos

E por falar em viagem, o Luiz e a Ana Cláudia tinham acabado de chegar da Toscana e nos trouxeram um belo Brunello di Montalcino: Il Poggione Brunello 2007 – Assim, continuamos na Itália o que, em dia de festa é garantia de alegria! E esse Brunello não negou fogo e ainda por cima adicionou muita sofisticação ao ambiente. Começou exalando perfume de rosas e frutinhas de bosque. Mostrou-se tão equilibrado que deu trabalho para decifrá-lo em partes. Corpo macio, com presença de frutas, especiarias, madeira bem colocada e um certo terroso (sur bois). Acidez que evidencia hora um detalhe, hora outro, criando uma dinâmica nas sensações. Taninos aveludados e final persistente, com muita evolução.

O próximo chegou para roubar a cena. Um Rioja apresentado pelo Fábio Gimenez, que gosta dos espanhóis, começou falando baixo, porém com uma eloquência educada, sedutora e carismática: Ramirez de la Piscina-Crianza 2007 – Um típico riojano, feito de 100% Tempranillo. Passa 14 meses em barricas e 8 meses na garrafa antes de ser comercializado. Muito bem feito, equilibrado, com boa acidez, fácil de tomar. Apresenta tanto no nariz como em boca, notas de frutas vermelhas, como cerejas(ao marrasquino), tabaco e madeira. Para acompanhar uma longa conversa.

Eis que surge o português! Obviamente pelas mãos do João Filipe Clemente, nosso anfitrião. E chegou com classe: Mouchão 2001 Tonel 3 e 4 – Um alentejano ícone! De um vinhedo centenário, onde as mudas da casta Alicante Bouchet foram recuperadas, e o conceituado enólogo Paulo Laureano percebeu que o vinho dos tonéis 3 e 4 era melhor que todos os outros. Apenas esses tonéis eram feitos de carvalho português e macacauba brasileira. O vinho, bem…..o vinho….o que poderia dizer dele? Todo o dito seria pequeno. Dentro daquela garrafa tinha muito esforço para recuperação um vinhedo extinto, que junto com uma intuição genial e conhecimento de causa resultou naquele néctar macio, redondo, dócil e generoso. Um vinho amigo para celebrar amizades.

Pensando nisso, nosso amigo Marc, que dias antes estava em Mendoza, nos contatou para uma sugestão de vinho que pudesse trazer de lá, para nossa comemoração. Foi-lhe sugerido um Nosotros Malbec da bodega Domínio del Plata de Suzana Balbo, que tivemos o prazer de conhecer no ano passado. Chegando lá, uma das enólogas sugeriu um Nosotros Sofita, que ainda não conhecíamos. E fomos à prova: Nosotros Sofita 2010 – Top de linha da Bodega que celebra o esforço de todos que trabalham para criar os vinhos durante todo ano. Elaborado com Malbec, Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon, pareceu-me bem diferente que o varietal de Malbec. Mais sutil e elegante, porém sem perder a “raça” que é o ponto forte desses vinhos. Apresenta bastante chocolate, café e caramelo, tabaco, juntamente com frutas vermelhas. Apesar de intenso é fresco e agradável com boa acidez e taninos presentes bem maduros.

Até então, seis vinhos se passaram, mas ainda faltava o Porto que o Aristides trouxe para encerrar a noite com chave de ouro: Porto LBV Ferreira 2005 – Nada pode dar maior sensação de conforto do que uma taça de Porto! (até rimou!) Depois de tantas estripulias sensoriais, o aconchego do calor, dos aromas de chocolate e nozes, a textura macia e envolvente com sabores frutados e doces que ali convivem tão bem, são tão reconfortantes que tem até efeito terapêutico. E depois de uma noite dessas, o que mais podemos querer? Apenas repetir, e repetir e mais vezes repetir!”

Blends do Mundo na Saca Rolha

É “na” mesmo, afinal falamos de mais um agradável encontro da Confraria Saca Rolha que recém fez três aninhos de vida. Seguimos fazendo experiências e volta e meia nos esbaldamos com algumas preciosidades que este ano foram muitas. Para falar de mais este encontro, nossa porta voz, confreira e amiga Raquel Santos.

O que difere as pessoas, umas das outras? Sua personalidade? A nacionalidade? A idade? O lugar onde vivem? Sua educação ou o meio onde desenvolveram parâmetros para relacionar-se em sociedade? As perguntas são inúmeras e as respostas idem. Esse é um assunto a ser debatido (por especialistas) por horas, sem que tenhamos a resposta no final.Com os vinhos não é muito diferente! Foi pensando nisso que topamos enfrentar o desafio de uma degustação às cegas, tarefa nada fácil. Supostamente seria possível reconhecer a identidade de alguns vinhos, só pelo conhecimento de suas características peculiares, ou mesmo usando informações adquiridas em experiências anteriores, além dos nossos 5 sentidos.

Porém, não estávamos ali para nenhum concurso técnico de sommeliers e sim para mais um agradável encontro entre amigos, em que o vinho é apenas mais um convidado. Aquela “pessoa” diferente que ainda não conhecemos e como sempre, estamos curiosos em saber o que ele terá à nos dizer. Para começar, vamos ao brinde!

Blends do Mundo - EspumanteVillagio Grando Brut 2012
Sempre bom começar com um espumante, e este em especial nunca desaponta. Da região de Agua Doce em Santa Catarina (BR), foi feito com as três castas tradicionais da região de Champagne (Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier). Muito fresco, com aromas cítricos e florais. Na boca, percebe-se a pérlage fina, intensa, e sabores predominantes de maçãs.

Já em clima de festa, nossas garrafas devidamente cobertas, estava na hora de começar a brincadeira. Prêmios desafiadores foram propostos à quem acertasse pelo menos o país de origem dos vinhos! Ou então as uvas. Sabíamos apenas que em todos eles, duas castas estavam sempre presentes. No decorrer da apresentação, onde cada vinho degustado deixava claro que a possibilidade de reconhecer e afirmar alguma evidência seria praticamente impossível, seguimos apenas apreciando cada um, dentro de sua individualidade. A essa altura, já nos foi revelado que as uvas presentes em todos eles eram a Merlot e a Cabernet Sauvignon. O que não facilitou em nada, pois tratando-se de blends, as características mais fortes de um vinho ficam dissipadas, como nas pessoas, na miscigenação de etnias.

Foram 7 vinhos, 6 países diferentes. Ninguém acertou nada, além de uma pista ali, outra aqui. Mas o nosso encontro com cada um deles, foi uma experiência muito agradável tendo a sequência sido esta:

Blends do Mundo Clipboard (Falando de Vinhos)

Señorio de Sarria – Reserva 2005
De Navarra (ESP) , esse blend trocou a convencional Tempranillo pela Cabernet Sauvignon e Merlot. Aromas frutados (cerejas maduras) com madeira e couro, já dando pista do seu afinamento em barril. Na boca aparecem muitas especiarias (canela, alcaçuz, erva doce), com bom corpo, taninos macios e boa acidez. Bem equilibrado, com estrutura e notas amadeiradas presentes e bem integradas
Colinas Tinto 2007
Da região da Bairrada (PO), produzido pela Sociedade Agrícola Colinas de São Lourenço, onde as tintas principais são a Baga e a Touriga Nacional. Neste caso, combinaram a Touriga Nacional com Cabernet Sauvignon e Merlot. Nariz potente, mostrando aromas animais e frutas maduras. Na boca repete essa mesma percepção, com bom corpo, muita fruta, especiarias e ervas aromáticas, um mineral ferroso, e final longo.

Aliotto 2011
Em função das uvas usadas, poderia-se dizer tratar de um super toscano já que a Sangiovese local encontra-se aqui com as Cabernet Sauvignon e Merlot. Aromas frutados e sutis que evoluem para florais e vegetais. Bem encorpado, acidez típica dos vinhos italianos que nos fazem salivar.

Norton Privado 2007
Esse vinho já nos foi apresentado em outras degustações, também às cegas. (Confraria Saca Rolhas – 01/07/2013-Blends : Desafio às cegas-Argentina x Chile). Aqui podemos observar que o terroir mendocino (ARG) fica bem evidente. É um vinho opulento, com muita fruta madura, encorpado, com final longo e adocicado. Dá-lhe Malbec! Muito bem integrado com a Cabernet Sauvignon e Merlot.

Capaia 2009
Esse corte da Africa do Sul, é resultado da junção de cinco uvas diferentes (51% Merlot, 35% Cabernet Sauvignon, 10% Cabernet Franc, 3% Petit Verdot e 1% Shiraz). O resultado dessa alquimia resultou num vinho elegante, muito aromático e carnudo na boca. Taninos macios, bom equilíbrio entre a acidez e corpo com madeira muito bem colocada.

Chateau Peyremorin de Villegeorge 2010
Não poderia ficar de fora desta degustação um corte bordalê. Em Bordeaux (FRA), as castas principais são justamente a Cabernet Sauvignon e a Merlot tendo a Cabernet Franc como coadjuvante. Neste caso, temos um Haut Médoc, localizado na margem esquerda onde há o predomínio da Cabernet, com cerca de 80% de Cabernet Sauvignon e o restante de Merlot. Seco na boca, super equilibrado, com taninos macios e ótimo corpo. Evolui muito na taça com elegância e personalidade.

Señorio de Sarria – Reserva Especial 2004
Do mesmo produtor, região e uvas do 1º vinho degustado, Navarra, subimos um degrau na qualidade. Mais estruturado, sente-se a “crianza” em madeira que lhe aporta aromas florais e especiarias muito delicados. Em seguida vai mostrando aos poucos um grande leque de aromas e sabores, como cacau, baunilha, e um leve toque mineral que traz um frescor interessante. Um vinho para apreciar com calma e tempo.

Como havia dito anteriormente, nosso encontro com esses “seres” às cegas foi muito mais que agradável. Nós que temos sede de conhecer coisas novas e nos surpreender com elas, pudemos constatar que no mundo dos homens jamais conseguiremos saber de tudo. As infinitas possibilidades, combinações e arranjos entre elementos já conhecidos, não garante que saibamos o que resultará delas. Assim como nunca podemos prever como será um bebê que irá nascer, apenas conhecendo a família, seus pais, etc…..
Como diria Riobaldo, em Grande Sertão Veredas, de J. Guimarães Rosa: “Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa”.