Quinta Divina

Harmonizando Jerez, Parte II de Uma Saga!

Finalmente chegou a hora e com este encerro meu trio de posts sobre o tema Jerez! Como de praxe em todas as degustações que monto, primeiro um espumante de boas vindas para preparar o palato que, em função do tema, desta feita optei por um cava de reputação ilibada, o Juve y Camps Cinta Purpura já com uma certo tempo de garrafa, notas de evolução que lhe trouxeram ainda mais complexidade, tudo a ver com o que viria a seguir. (clique nas imagens para aumentá-las)

Combinei com a Sandra e sua equipe, que com cada um dos vinhos serviríamos duas opções de harmonização. A grosso modo, o comum é uma série de tapas e pinchos com uma ou duas copas, mas desta vez passamos o sinal e ousamos, pelo menos um pouco! rs Nosso primeiro vinho e harmonização foi com um de meus Jerez acessíveis com que volta e meia abro eventos servindo com uns pinchos de Jamon Serrano e Brie (Manchego está caro demais!), amêndoas salgadas, azeitona, tremoço e coisas do tipo, desta feita quis ir um pouco além.

Manzanilla La Gitana – velho companheiro, toques amendoados com uma salinidade bem marcante e seco, muito seco. Dois pratos, os aspargos com azeitona e as incríveis anchovas maçaricadas marinadas ao limão. Como já esperava, esmero no preparo e deliciosos ambas as harmonizações. Para uns mais azeitona sem aspargos, para outros a combinação e para outros ainda, as anchovas. Achei boas as duas, mas as anchovas foram incríveis e aquele toque maçaricado fez a diferença, uau!

Amontillado Williams & Hubert Jalifa Selección Especial envelhecido 30 anos (VORS).- com o perdão da palavra, PQP!!! Esse acho que o Homem desceu e o abençoou pessoalmente. rs Absolutamente divino, daqueles que não sabemos se fungamos ou bebemos, na duvida os dois, mas uns pingos atrás da orelha antes de dormir deve elevar o libido! Dá para ver né, me deixou louquinho, mas tinha mais, tinha a harmonização com Salmão Gravlax  e sour Cream mais Alcachofras com Pinhole. Por similaridade a harmonização das alcachofras com os pinholes fazendo uma incrível liga com o Jerez ficou muito boa, mas o salmão ficou incrível, digno de muitos uaus na mesa, e por contraste despertou sensações diferentes. Ah, não falei muito do vinho né, notas de caramelo, baunilha, avelãs (nuts), sei lá, viajei aqui e pena que a garrafa era de 500ml, merecíamos mais! rs Meu preferido, certamente aporrinharei alguns viajantes amigos para me trazer algumas garrafas.

Hidalgo Villapanés Oloroso – a principio deveria ser servido após o Palo Cortado pois é mais potente que esse só que o Palo Cortado dizem possuir os aromas do Amontillado com a boca do Oloroso, então sá daria para comparar se os dois já tivessem sido tomados, ou não? Coisa de lógica lusa? Só sei que deu certo. rs Muita estrutura, paleta olfativa mais tímida, o peso pesado dos Jerez e tradicionalmente harmoniza com charutos, não me pergunte quais por que disso não entendo bulhufas. Duas eram as propostas aqui, um Croquete de Jamon e  Peito de Pato com cogumelos. Inacreditáveis aqueles croquetes, para pedir de dúzia, mas leves demais o vinho os trucidou. Já o pato, meus amigos, da hora e uma harmonização bastante complexa, show e sim, dizem as más línguas que com charuto também ficou bom!! rs De qualquer a forma, apesar de muito bom, o vinho que menos fez a minha cabeça já os charuteiros curtiram o pós confraria.

Lustau Palo Cortado 30 anos (VORS) – o vinho mágico que aparecia por obra da natureza, masque hoje se controla. Um intermediário de potência entre o montillado, mais sedoso, e a estrutura poderoaa do Oloroso. Realmente interessante o fato de que se nos guiarmos tão somente pela paleta olfativa podemos facilmente o confundir com o Amontillado. É precisa a definição que o Palo Cortado possui os aromas de um e o palato do outro, valeu muito esta sequência. Frutos secos, algo achocolatado, nuts, madeira, uma profusão de sabores e aromas. Atropelou o gostosa Tortilla de Batata, mas acompanhou maravilhosamente o incrível Carré de Cordeiro com Cuscuz.

Gonzales Byass Solera 1847 Cream – saímos do mundo dos secos e generosos, para o dos doces e este é muiiito bom. A data aqui não tem efetivamente nada a ver com a da Solera, mas sim uma alusão e homenagem ao ano de nascimento do fundador. Acho que confunde, mas talvez tenha também esse objetivo. rs Isso, no entanto, não atrapalha nem sabores nem aromas e aqui partimos para uma outra paleta, a de caramelo, uva passa, figos secos, que pedem sobremesas. A Palomino é predominante e é acrescida de 5% de Pedro Ximenez que lhe aporta o toque mais doce e cor escura. Após o blend é colocado em solera por 8 anos. O Cheese Cake de Damasco, excepcional, foi um deleite, uma harmonização primorosa que recomendo porque é marcante.

Equipo Navazos la Bota 76 PX com produção limitada a apenas 1800 garrafas – é, a escolha foi feita a dedo e imagens direto da loja em Madrid via Whats! Valeu a pena, mais um vinho de alto nível no páreo. Veio de uma solera do ano 2000 criada com vinhos antigos puros PX advindos de uma velha bodega que tinha encerrado suas atividades. Em 2008, quando do primeiro engarrafamento, já se falava de vinhos com mais de 20 anos de idade média, agora nesta segunda sacada com 30 anos, estamos diante de algo especial na taça. Denso, cremoso do tipo de colocar uma colherinha daquelas plásticas de café e esta ficar em pé (rs), retinto, cor iodizada, caramelo, bala toffee, cacau, uma bomba doce com 370grs de açúcar residual inviável com o que restou do cheese cake apesar da boa acidez. Dizem que vai bem com crema catalana e doces de chocolate, para mim acertamos no queijo Talleggio que podia estar até um pouco mais forte, mas casou bem com o vinho. É vinho para queijos forte, Reblochon, Taleggio, Pont laveque bem maturado, etc. muito boa harmonização

Lustau Solera Finest Selection Gran Reserva Brandy de Jerez, um destilado de primeira linha com uma única passagem em tanques de cobre elaborado com 100% de uva Airén trazida da região de la Mancha que posteriormente envelhecem em barricas de Amontillado, Oloroso ou PX. Este Finest Selection é uma seleção de brandies especiais que envelheceram por 40 a 50 anos em barricas de de PX, Amontillado e PX que depois de ser feito o blend envelhece por mais 15 anos em barricas de Jerez. É absolutamente divino e totalmente diferente do que esperávamos. Pensamos que iria se dar bem com charuto, de acordo com os charuteiros de plantão dançou, nada a ver e eles foram mesmo é de Oloroso. Apesar de seus 40% de teor alcoólico, mostrou-se extremamente macio, desce sem “rasgar” de forma sedosa. Incríveis aromas de baunilha, madeira, toffee, amêndoas, uma complexidade ímpar e sedutora, boca idem com algo de especiarias no final, muito louco isto. Me encantou, sim é potente, mas elegante ao mesmo tempo, gamei! Ainda tinha sobrado um tico de cheese cake de damasco, não resisti e coloquei um pouco na boca, explosão de sabores um “acidente” que deu muito certo, mas não se preocupe com isso não, curta o Brandy, eu que não sou de destilados já encomendei uma! rs Minha segunda preferência nesta incrível noite.

Gente, é isso, tenho que dizer que certamente esta está entre as três melhores degustações já realizadas pela Quinta Divina em quase seis anos de vida. Certamente a mais inusitada junto com a de Alcachofras e Vinho sob a batuta do mestre cozinheiro e confrade Carlos Godinho. Por sinal, já estou trabalhando nesse post também, aguardem. Muito bons vinhos, ótima cozinha, grandes amigos, que mais???

Um agradecimento especial aos amigos que compõem a confraria, foi uma tremenda honra e responsa, poder preparar tudo isto, aos confrades que compraram e trouxeram os vinhos (veja o post da saga), à Chef Sandra Antunes Souza do Flôrida Garden Café (Granja Viana) muita qualidade, sabor e esmero em todos os pratos apresentados. À equipe do Flôrida e, para quem for da Granja e região uma dica, eles estão abertos para eventos e almoço executivo, vale a pena!

Mais um longo post, mas tinha muito a compartilhar e fazer uma terceira parte seria demais né! Uma dica, explorem esses vinhos, são diferentes, grande pedida para papos, pinchos y tapas, ou experiências especiais que nem esta. Kanimambo pela visita e uma ótima semana para todos.

Saúde

De Madrid à Quinta Divina, a Saga de Uma Degustação Harmonizada de Jerez.

Se prepara, demorou para armar essa e a história é longa! rs Tudo começou em Setembro/Outubro do ano passado, após abrir os trabalhos com um Jerez Manzanilla em vez do costumeiro espumante, quando decidimos armar uma degustação para explorar a diversidade dos vinhos de Jerez que a maioria achava só serem doces. Fui orçar no mercado, inviável para o orçamento da Confraria. Opção encontrada, já que um dos confrades ia para Madrid em Novembro, comprar os melhores e os mais caros (Amontillado VORS 30 anos, Palo Cortado VORS 30 anos, Oloroso e o Brandy Solera Gran Reserva Special Selection) lá e os outros por aqui mesmo, no final saiu tudo por menos da metade do preço!

 

Tudo comprado, confrade feliz nos enviou foto pelo Whats e nós por aqui já esfregando as mãos, preparando o palato para o grande encerramento do anos e salivando, mas …! É, tem sempre um mas. rs Não é que no embarque do voo de volta Madrid, Lisboa, São Paulo a TAP proibiu o embarque desses e de outros vinhos que eles traziam!!! (cuidado, especialmente em voos com transbordo de aeronave) Eles vieram, os vinhos ficaram no guarda volumes do aeroporto. Na volta, todos correndo atrás de alguém confiável em Madrid para ir buscar esses vinhos e guardá-los.  Depois de alguns poucos dias, missão cumprida, e agora, como trazê-los??

Em Fevereiro, numa viagem a Portugal, lá vão os amigos a Madrid buscar os vinhos que, vejam só, embarcaram de volta de Lisboa, pela mesma TAP, sem qualquer problema, UFA!! Agora, enquanto os vinhos descansam, correr atrás de harmonizar isso tudo e mais uma saga! Um cara, chef conhecido de uma amiga, se predispôs a preparar um menu que seria executado na casa de um dos confrades aqui na Granja. Demorou ad eternum para chegar com uma proposta de 2000 Reais para ingredientes e vir até a Granja, Uber e mais R$500 (!!!!!) por pessoa. Vou ser sincero, nem abri o menu, seria muito mais negócio ir a um restaurante de primeira linha espanhol aqui em Sampa e ainda sobraria grana, pirou legal o cara. Se queimou à toa, bastava dizer que não podia, não tinha interesse, estava ocupado, certamente mais honesto e correto. Ah, nem me pergunta o nome dele, já esqueci!! rs

Fiquei feliz ao saber que a Chef Sandra Antunes de Souza, parceira em outras atividades inclusive numa degustação de vinhos espanhóis na Vino & Sapore onde servimos tapas e pinchos, tinha recém aberto seu Flôrida Garden Café onde também servia pratos ao almoço, por sinal muito bons, recomendo. Lá vou eu conhecer o lugar, super charmoso diga-se de passagem, e rever a competente amiga. Alguns poucos dias depois, tudo armado e chegou o grande momento que há seis meses esperávamos, explorar os vinhos de Jerez e suas potenciais harmonizações. Como o amigo Didu mencionou num post no Face fazendo referência ao mestre Don Jerez (José Luiz Pagliari), as harmonizações tradicionais são:

“Fino” – Aperitivos, Presunto Cru, Fritura de peixes e carnes brancas, Embutidos sem pimentão, Mariscos iodados, Aspargos e Alcachofra.

“Manzanilla” – Aperitivos, Presunto Cru, Fritura de peixes e Mariscos iodados.

“Amontillado” – acompanham sopas e consomes, as carnes brancas e os queijos curados.

“Oloroso” – acompanham bem as caças e as carnes vermelhas.

Os “Medium” e o “Pale Cream” acompanham muito bem o foie gras, os patés e as quiches, além de frutas frescas.

Os “Cream” são para sobremesas

“PX” – Pedro Ximenes são ideais para doces e queijos azuis

Como nessas coisas eu sou pouco tradicionalista e gosto de ousar, me debrucei na pesquisa sobre o tema e usando minha intuição mais a criatividade da Sandra e algo do tradicional, por que nunca tinha harmonizado Jerez fora o Manzanilla, eis o resultado do menu escolhido. Duas opções para cada vinho começando com Manzanilla seguido de Amontillado, Oloroso, Palo Cortado e o Cheese Cake com o Cream e o Taleggio com o PX.

 

Querem saber o resultado, bem, este post já está ficando longo demais, então vou deixar o resultado para Segunda, ok? Food for thought (como diriam os ingleses) para o fim de semana, rs, kanimambo pela visita e nos vemos na Segunda por aqui ou no fim de semana na Vino & Sapore. Já reservou presença no Desafio Sul Americano de Merlots, NÃAO???

Saúde

Quinta Divina Comemora 1 Ano

Tenho o privilégio de recepcionar mensalmente quatro confrarias e é sempre motivo de muito orgulho poder celebrar mais um ano de vida, neste caso o primeiro, pois de alguma forma isso vem demonstrar que o nosso trabalho está sendo apreciado o que me faz muito feliz já que me dedico a isso com paixão. Na loja as Enoladies (a primeira confraria) irão comemorar quatro anos dentro em breve, a Saca Rolha já completou três, a Vino Paradiso (de harmonização) já passou de dois anos e agora aniversariou a Quinta Divina!

Para comemorar, pedimos ao amigo Ney Laux que nos preparasse um jantar à altura do momento que tentaríamos harmonizar com dois diferentes vinhos. Sempre um espumante para abrir os “trabalhos” e como o jantar seria algo mais tarde, abrimos duas garrafas que tinha para prova como um “esquenta”. Eis minhas impressões.

quinta divina - ano 1

Cava Juve y Camps Vintage Brut Cinta Purpura – Para min é um clássico entre as cavas e nesse patamar de preço (R$120) difícil encontrar coisa melhor. Um espumante que aprecio muito e fez jus a este grupo de confrades tão especial quanto o vinho. Uma bela forma de iniciar o 12º encontro do grupo.

Lagarde Cabernet Franc 2010 – comprovou o que já tinha degustado na Lagarde quando de recente visita. Um belo vinho com muitos anos de vida pela frente, rico, médio corpo para encorpado que depois de um tempo abre muito bem na taça. Decantar por uma meia hora vale a pena e certamente será um vinho que vai para o trono! rs

Benegas Don Tiburcio 2009 – mais um bom vinho que provo da Benegas que prima por seus belos assemblages. Vinho de muita estrutura, denso, complexo, com taninos firmes e madeira bem integrada, frutos negros, um vinho que parece de uma gama mais alta do que é e que também abre bem na taça. Grande potencial de evolução por mais um bom par de anos. Aprovado.

Chegou o Ney, Oba! Como prato um delicioso Goulash de Filé Mignon sobre uma cama de Spaetzel que estava, como sempre, excelente com tempero na medida, a páprica no ponto. Teve gente, não vou falar quem (rs) que repetiu três vezes!! rs Para harmonizar, um teste com dois vinhos; o Lan Reserva 2007 de Rioja e um Loma Larga Syrah 2009 de Casablanca no Chile, dois vinhos de que gosto muito. Cada um reagiu de um jeito à comida o que foi um exercício muito interessante.

  • O Lan (Tempranillo com mazuelo e garnacha) já com sete anos de vida, mostrou algumas gostosas notas de evolução e amaciou o prato formando uma harmonização mais delicada. Um vinho com muita tipicidade que encanta no nariz e na boca.
  • O Loma Larga Syrah de zona fria (Casablanca) com seu perfil mais cheio de especiarias, ótima fruta e acidez algo mais afiada levantou o prato e foi uma explosão de sabores acentuando as especiarias do prato. O Malbec deles leva a fama e é muito bom, porém este Syrah é impressionante!

Duas harmonizações muito boas, questão de gosto, com resultados opostos o que nunca tinha experimentado. Gostei demais! Pensa que terminamos, terminamos não pois ainda estava por chegar a Tarte Tartin (torta de maçã para facilitar) do Ney que é famosa aqui na região da Granja Viana em que ele teve restaurante por 25 anos. Adoro harmonizar este prato com o Anselmann Gewurztraminer Spätlese que nasceu para isso, delicioso! Pode colocar junto com apfelstrudel que é outra ótima harmonização.

Enfim, café para alguns e hora de combinar o próximo encontro e o tema a ser abordado. Mais um delicioso momento de alegria e descontração num encontro de boa gente com boa gastronomia ressaltada por vinhos marcantes, sempre um privilégio! Salute, kanimambo e um ótimo fim de semana para todos. Semana que vem finalizo os posts sobre Mendoza, até lá.