Argentina – Chegamos em Cafayate (parte I)

           Foram cerca de duas horas e meia de uma estrada estreita e sinuosa, de areia, entre esculturas rochosas esculpidas pela natureza ao longo de séculos. Mais um trecho inesquecível de nossa viagem pelo norte vinícola da Argentina. Colomé ficou para trás mas, como os bons vinhos, persiste na memória até hoje. Agora, no entanto, é hora de visitar e provar vinhos das mais diversas vinícolas de Cafayate, o epicentro da produção vinícola da região e mais uma vez me surpreendi. Terra do Torrontés, mas também da Tannat, bons blends e da sempre presente Malbec. Visitamos El Esteco (mais conhecida aqui como Michel Torino), Felix Lavaque (Quará), Etchart, Yacochuya,  Bodega El Transito e ainda provamos Quebrada de las Flechas e José Luis Mounier num total de cerca de 56 rótulos, bela e enriquecedora experiência. Não vou aqui vos cansar com um resumo de todos estes vinhos, porém há destaques que certamente os amigos deverão apreciar tanto quanto eu.

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El Esteco (Michel Torino) pertence ao grupo Penaflor e existe desde 1892. Deles provamos dez vinhos logo às 09:30 de la matina (!)

Toda a linha Collecíon se mostrou muito bem, Torrontés, Malbec, Tannat e cabernet Sauvignon, mas destaque deve ser dado tanto para o Tannat como para o Cabernet que entregam bem mais do que esperado mostrando um equilíbrio muito bom.

A linha Don David é um degrau acima e aqui o que mais me chamou a atenção foi o Torrontés que é parcialmente fermentado em barrica com malolática mostrando uma característica diferente dos outros vinhos desta cepa provados, já que possui mais estrutura e maior volume de boca.

Altimus – o top de linha, um blend que desde muito faz minha cabeça. Fermentado em cubas, passa por um período de 15 a 18 meses de barrica nova. As uvas que compõem o corte variam safra a safra dependendo do que de melhor os vinhedos deram. Normalmente leva Malbec, Cabernet Sauvignon aos quais se agregam Tannat, Syrah e Bonarda o que torna cada safra deste vinho uma surpresa de sabores e aromas diferentes. Vinho de Guarda, para tomar com seis, sete ou mais anos de vida.

Felix Lavaque – aqui recebemos uma aula no vinhedo afora a prova de seus bons vinhos. Uma das coisas que me estavam encucando nesta viagem é que via muito vinhedo plantado em Parral (algo ultrapassado pelo que conhecia) em vez de Espaldera. Aqui no entanto, devido ás condições climáticas, o sistema de parral gera as melhores uvas e, consequentemente, os melhores vinhos ao inverso de Mendoza.  Dos sete vinhos aqui provados, três se destacaram e fizeram a minha cabeça, e uma menção honrosa para o Felix Torrontés de vinhedos com mais de 100 anos de idade. Vinhos para comprar de olhos fechados e curtir.

Quará Reserva Cabernet Sauvignon 2011 – bem frutado, álcool bem integrado, boa textura, rico com final de boca muito saboroso.

Single Vineyard Vina El Recreo Tannat 2010 – ótima presença de boca, marcante, vino de boa tipicidade da casta que não faria feio numa degustação às cegas contra os bons tannats uruguaios. Mais uma prova de que esta cepa ainda vai dar muito o que falar nesta região!

Felix Blend 2007 – um belo vinho que combina cerca de 75% de Malbec com a gostosa Tannat. Resultado, um vinho complexo de ótima estrutura tânica , taninos finos e aveludados para beber e se deliciar agora ou durante os próximos dois anos.

Quebrada de Flechas – um projeto novo da família Lavaque num lugar em que poucos ousariam plantar algo, muito menos produzir vinho! Uma linha de bons vinhos básicos em que o reserva Torrontés se apresentou bastante interessante e já que passa parcialmente uns três meses por madeira e Inox porém o álcool pesa um pouco ao final.  Já Malbec reserva 2010 é o grande vinho deles com 8 meses de barrica, muita fruta, bons taninos, boca firme mas de qualidade e dizem que tem alguém, não consegui saber quem, que vende este vinho em Minas por meros R$30 ou algo parecido! Ótima opção de rótulo para ter em casa sempre.

       Bem, tem mais, porém este já estando ficando longo demais, então volto com os outros destaques dentro de alguns dias. Por agora, salute, kanimambo e seguimos nos encontrando por aqui.