Uvas & Vinhos – Barbera

Barbera - Italian Wine HubBarbera, uma das uvas tintas mais plantadas na Itália, divide com a Nebbiolo o protagonismo de vinhedos na região do Piemonte. Existe ainda uma versão branca, conhecida por Barbera Bianca. Não devemos confundir a uva Barbera com o vinho Barbaresco que é elaborado na região do mesmo nome, também no Piemonte, porém com a uva Nebbiolo.

          Sua origem mais freqüentemente citada é a cidade de Casale Monferrato, no Piemonte. Na Catedral da cidade existem documentos que indicam o plantio de videiras de Barbera já no século XIII. É uma variedade que amadurece relativamente tarde, quase duas semanas após a variedade mais tardia do Piemonte, a Dolcetto. Sua principal característica é o alto nível de acidez natural, ainda que muito madura. Essa característica a torna uma ótima opção para regiões de clima quente desde que sua produtividade seja controlada.

         No Piemonte é amplamente utilizada, gerando vinhos desde os mais baratos e produzidos em longa escala, até vinhos encorpados, com muito boa estrutura e bastante longevidade. Algumas características são comuns aos vinhos de Barbera, coloração ruby intenso e profundo, bom corpo ainda que com moderada presença de taninos, pronunciada acidez e teor alcoólico relativamente baixo, podendo variar de acordo com as regiões onde é cultivada.

        As principais denominações de origem do Piemonte onde a Barbera é considerada a principal variedade são; Alba, Asti e Monferrato, esta última menos conhecida por aqui. Na região de Barbera d’Asti DOC existe uma sub-zona chamada Nizza, reconhecida como a melhorBarbera região para o desenvolvimento da variedade, por ser a parte mais quente de Asti, onde a uva atinge seu melhor ponto de maturação. Os Barbera d’Alba tendem a ser mais complexos, de maior estrutura e de cor mais escura, enquanto os Barbera d’Asti tendem a ser mais frutados, claros e brilhantes (lembrando os vinhos Beaujolais), muito elegantes e finos. Em 2008, Monferrato virou DOCG e seus Barbera de Monferrato Superiore são vinhos a serem garimpados assim como os produzidos na sub-região de Langhe também no Piemonte. Nos anos 80 e 90, em paralelo ao surgimento dos Supertoscanos, o uso de barricas em Barberas passou a ser considerado e utilizado de fato, agregando complexidade aos vinhos, especialmente em relação à maciez dos taninos, controle da elevada acidez e riqueza aromática tornando-os, também, mais longevos.

        Além do Piemonte, a Barbera é também cultivada na Lombardia, na região de Oltrepò Pavese, na Emilia Romagna, em Colli Piacentini, em Bologna e Parma. Na maioria do país a variedade é utilizada em cortes com outras uvas. Na Sardegna existe ainda a Barbera Sarda. E, alguns defendem que, a Perricone ou Pignatello, autóctones sicilianas, são variações da Barbera.

        Fora da Itália, a variedade é cultivada em países como Eslovênia e EUA, na região da Califórnia assim como Grécia, Austrália, Israel e Romenia. Se desenvolveu muito bem na América do sul, especialmente na Argentina, nas regiões de Mendoza e San Juan, porém não são muitos os vinhos de qualidade disponíveis no mercado. Também existe algo no Brasil com um expoente máximo no momento como veremos mais abaixo em nossa recomendação de vinhos.

Harmonização: (hoje sem as dicas do amigo Álvaro Galvão que está viajando e aproveitando merecidas férias)

Uma das características dos vinhos de Barbera é sua capacidade gastronômica em função de seu corpo médio e boa acidez que chama comida. Quando falamos em harmonização, recorrer à regionalidade é sempre uma boa escolha e, neste caso, não poderia ser diferente. Em geral os vinhos de Barbera são ótimos parceiros para antepastos e embutidos italianos. Massas com molhos mais estruturados, com um belo ragù alla bolgnese, prosciutto di Parma, ou ainda pratos com funghi secchi e salmão defumado.

Vinhos Tomados e Recomendados: (preços aproximados nesta data)Pio Cesare Fides

Vinhos a garimpar:

  • Araldica Barbera d’Asti Ceppi Storici 2006 – Decanter – R$59,00
  • Barbera d’Asti Camp du Rouss 05 – Mistral – R$91,00
  • Barbera d’Asti Superiore DOC – Vinea – R$114,00
  • “La Court” Barbera d’Asti Superiore Nizza 2004 – Zahil – R$275,00
  • Braida Barbera d’Asti Brico Dell Uccellone – Expand – R$298,00

Sugestões do Oz Clarke retiradas de seu excepcional guia “Grapes & Wines”, um de meus livros de cabeceira e fonte de referência para todos estes posts. Estes rótulos são de origens outras que não Alba e Asti.

  • Bonny Doon Ca’del Solo Barbera – California
  • Dromana Estate “I” Barbera – Austrália
  • Norton Barbera – Argentina – esse está fácil e já entrou na minha mira!
  • Renwood Amador County Barbera – California
  • Giulio Accornero e Figli Barbera del Monferrato Superiore Bricco Battista
  • Colli Piacentini Barbera della Stoppa
  • Elio Altare Langhe Larigi

Vinhos Sugeridos pelo Paulo Queiroz: Para quem ainda não conhece, o Paulo é um nobre colega de blog (Nosso Vinho) que, apesar de sua descendência Lusa, cisca mesmo é em terreiro italiano! rsrs. Brincadeira porque ele possui um gosto bastante eclético e prova de tudo o que seja bom, mas verdade seja dita, tem uma queda pelos vinhos italianos. Pedi-lhe ajuda para finalizar estas dicas já que minha experiência com os vinhos italianos é bem mais limitada e a idéia aqui é prover o leitor com as mais diversas opções possíveis. Eis as sugestões do amigo, sendo que o Pio Cesare Barbera d’Alba foi comum aos dois.

Post elaborado a quatro mãos! O texto sobre as uvas chega pelas mãos da amiga Mariana Morgado e minha, e as sugestões de vinhos são minhas. Como convidado especial, o amigo Paulo Queiroz do blog Nosso Vinho. Para ver como contatar os importadores e checar onde, mais próximo de você, o rótulo está disponível, dê uma olhada em Onde Comprar, post em que constam os dados dos importadores e lojistas assim como de produtores brasileiros.

Esperando que este post e suas dicas lhe possam ser úteis nesta viagem por terras de Baco, fica aqui um arriverdeci especial aos amici del vino.

Salute e kanimambo

Barolo I

De uma das principais regiões produtoras Italianas, o Piemonte (norte da Itália), vem este que, junto com o Brunello de Montalcino da Toscana, é um dos grandes ícones de nossa vinosfera. Definido pelos Piemonteses como o rei dos vinhos e vinho dos reis, é elaborado com a uva Nebbiolo cultivada em vinhedos de uma restrita área de colinas que se estende por 11 vilarejos da província de Cuneo, entre elas Barolo, Serralunga d’Alba e La Morra (clique no mapa para ver região). Pelo caráter peculiar de vinho, pela área restrita de vinhas, e diversidade de terroirs, é um vinho caro tendo por característica o fato de serem vinhos concentrados, robustos, austeros que necessitam de tempo de envelhecimento e aeração para serem devidamente apreciados. Pela legislação da DOC (Denominazione di Origine Controllata), o Barolo envelhece por pelo menos três anos, sendo dois em tonéis de madeira, sendo que muitas casas produtoras ainda o deixam por um a dois anos em caves após engarrafamento.

Com abundancia de taninos potentes, típicos da uva nebbiolo, é um vinho com características duras, muita estrutura e de enorme complexidade devendo sempre acompanhar uma refeição com peso idem, em especial pratos de carne. Até pouco tempo atrás, um excelente Barolo necessitava de uns dez anos de guarda e decantação por seis, dez, até 24 horas para que toda a sua exuberância pudesse ser devidamente mostrada e apreciada.  Hoje em dia isto ocorre com cada vez menos assiduidade já que grande parte dos produtores modernizaram sua forma de produzir o vinho com novas técnicas de vinificação, introduzidas na região a partir dos anos 80, gerando vinhos mais amenos e prontos para tomar mais cedo. Hoje em dia a produção se divide entre produtores mas clássicos e tradicionais, e aqueles de estilo mais moderno. Cada um a seu estilo, mas certamente ambos produzindo excelentes vinhos. Em qualquer dos casos, vinhos que requerem paciência com, pelo menos, uns cinco a seis anos de guarda quando começarão a mostrar toda a sua exuberância aromática e complexidade de sabores.

Nestes últimos sessenta dias, tive oportunidade de provar uma meia dúzia de rótulos e iniciar meu aprendizado nos vinhos Piemonteses, em especial o Barolo. Primeiramente dizer que me ficou muito clara as diferenças nos vinhos causado pelos diferentes terroirs, segundo, que me encantei pela complexidade descoberta. Dizem não ser um vinho fácil que requer alguma litragem para ser melhor entendido, mas tenho que reconhecer que não me foi difícil entendê-lo só lamentando não ter podido acompanhar estes vinhos com um prato que lhes fizesse jus. Pelo que li, é parceiro ideal para carne assada, um ensopado, carnes grelhadas e por aí afora. Pessoalmente, penso que talvez um ensopado de carne com batatas, deve ser a perfeição e aí, penso naquele Javali na Pucura com Castanhas que comi no 1715 em Ribeira da Venda em Portugal, e BINGO!!! De qualquer forma, já me encantei assim mesmo com estes vinho tomados solos num estilo mais moderno, mais prontos para beber.

No Decanter Wine Show, tive oportunidade de provar os vinhos de Pio Cesare um dos principais e antigos produtores e negociantes da região do Piemonte. Entre os vinhos provados, o Barolo Ornato 03, criação top do produtor e, efetivamente, um grande vinho. Ainda austero fechado, teria se beneficiado muito de uma decantação de algumas horas, mas já mostrou uma ótima paleta aromática muito frutado com algumas nuances florais que não consegui identificar. Na boca é denso, carnoso, untuoso, taninos ainda firmes porém sem qualquer agressividade, complexo sabor de frutas maduras com algo terrososo e alguma presença de especiarias, terminando em um longo final de boca em que aparecem elegantes toques de baunilha. Uma criança que necessita de mais tempo, devendo crescer muito ainda nos próximos quatro a cinco anos adquirindo maciez e elegância. Na Decanter por R$413,50.

Do mesmo produtor, o Barolo 03, um “básico” da região. De grande intensidade aromática, perfumado, na boca é cheio, encorpado, taninos finos e macios, bem equilibrado, final de boca muito agradável com um retrogosto que me lembrou especiarias. Não tem a mesma complexidade do Ornato e é um vinho um pouco mais pronto a tomar apesar de que se beneficiará muito com mais uns dois anos de garrafa. Na Decanter por R$310,50.

Amanhã veremos a seqüência dos Barolos provados. Como disse no inicio, não são muitos, mas são vinhos que me fizeram mudar alguns conceitos ou, talvez, preconceitos para com os vinhos Italianos em geral. Aliás, estes vinhos não foram os únicos, pois diversos outros rótulos mexeram com minhas emoções. Tudo isto veremos ao longo do mês.

Salute e Kanimambo.