Pacifico Sur Pinot Noir

Dois Pinots que Cabem no Bolso

             Quem adentra a vinosfera borgonhesa tem que saber que está se metendo numa seara difícil do ponto de vista de preço e relação custo x beneficio. Pequenas propriedades, grande demanda, complexidade, preços nas alturas e qualidade nem sempre o que esperamos. É a marca da Pinot Noir, uva de difícil trato que na mão de quem sabe produz maravilhas e em outras, …..bem, em outras deixa a desejar. Ainda bem que ainda encontramos algumas exceções à regras na região e temos a opção dos vinhos do Novo Mundo como alternativa. Provei e recomendo dois Pinots bem diferentes entre si que demonstram algumas das peculiaridades inerentes a terroirs bem diferentes, tendo em comum o fato de serem acessíveis e, a meu ver, entregarem o que se propõem entregar.

Chateau Dracy Bourgogne Rouge 2006, produzido por Albert Bichot que durante muito tempo foi trazido pela Expand e agora nos chega pelas mãos da Winebrands. É um pinot de estilo francês, delicado, vermelho rubi brilhante, levemente translucido,de corpo médio e muito agradável de tomar sendo uma bela porta de entrada para o complexo mundo desta cepa e região. No nariz, fruta madura e leves especiarias formam uma paleta relativamente simples, porém de boa qualidade e tipicidade. Na boca, taninos de boa qualidade já equacionados, finos e sedosos, equilibrado com uma acidez adequada, saboroso e fácil de se gostar num final de média persistência. Gostei, não é exuberante, mas dá conta do recado e vale o que pedem por ele, cerca de R$70,00, deve crescer com comida e este está no momento certo para ser tomado não devendo evoluir mais na garrafa.

Pacifico Sur Reserva Pinot Noir 2008 do vale do Curicó no Chile. Anteriormente trazida pela Wine Company, chega-nos agora pelas mãos da Berenguer Imports capitaneada pelo amigo Charlston. Um digno exemplar dos Pinots do Novo Mundo onde a tipicidade da Borgonha tem pouco espaço, até em função do terroir, mas tem a alma da cepa presente. Cor mais escura, um vermelho grenada, denso e uma paleta olfativa mais rica, intensa e frutada onde as frutas vermelhas se mostram mais presentes junto com uma presença herbácea destacada. Na boca mostra-se mais estruturado, também é mais novo, com taninos finos e aveludados, apetitoso e rico, vibrante, com um final de boa persistência com toques de especiarias. Em Sampa custa em torno dos R$65,00 e é uma boa alternativa de Pinots num estilo mais moderno e novo mundista.

                 Uma boa brincadeira, vinho também é diversão, é juntar uns quatro ou cinco amigos, comprar uma garrafa de cada e curtir essas diferenças que são o que fazem nossa vinosfera tão intrigante. A mesma cepa pode produzir vinhos totalmente diferentes pois as variáveis são enormes, tanto de terroir como de tecnologia e objetivos do enólogo que cada vez tem mais ‘mão’ sobre os destinos dos caldos elaborados. Minha dica para a região da borgonha é, mesmo tendo caixa, começar com os pinots mais básicos, prove diversos produtores e depois evolua gradativamente. Para a Pinot como um todo, a dica é a temperatura que deverá estar ao redor de 15º. Tome-o a 18 ou 19º e provará um outro vinho!

             Um ótimo fim de semana, espero que um jogo melhorzinho no domingo e nos vemos por aqui na semana que vem. Salute e kanimambo.

ps. uma outra indicação legal que cabe no bolso e é bastante interessante, é o Terranoble Pinot Noir, também do Chile e num patamar mais alto mas estupendo, o argentino Barda o mais borgonhês dos Pinots sul americanos. Cinco vinhos e diversos estilos, dá uma bela degustação!

Três Surpresas na Taça

         Três vinhos que provei neste inicio de ano e que me surpreenderam. Um porque confirmou todas as expectativas geradas, o que nem sempre acontece, um outro porque comprova que a cara não é tudo e o que interessa mesmo é o conteúdo, finalizando com um pinot que surpreende pela relação qualidade x preço. Aliás,  essa relação é algo comum entre eles e uma coisa que faço questão de garimpar no mercado.

Farfão Colheita 2003 – rótulo de gosto duvidoso que esconde na garrafa um caldo diferenciado. A começar porque é um vinho do Douro elaborado por pisa a pé em lagares de concreto como antigamente. Não são muitas as lojas que trabalham com este vinho, esta garrafa veio da Portal dos Vinhos dos amigos Fátima e Emilio, importado com exclusividade pela D’Olivino. Um blend de Tinta Cão, Tinta Barroca, Touriga Franca e Tinta Roriz que compõem um vinho muito agradável e redondo, médio-corpo, já de boa evolução que se mostra pela cor e halo aquoso presente. Frutos negros, bom volume de boca, notas balsâmicas e um final algo mineral de boa persistência. É complexo na boca, diferente e misterioso, com uma certa rusticidade domada (isso existe?!), um vinho que vale bem os R$46,00 que paguei e acompanharia uma carne com maestria. Tomei solo, mas é um vinho que necessita de tempo em garrafa para amansar e desabrochar ou, eventualmente, um bom tempo em decanter, que este não mais necessita pois está no ponto e aveludado.

Espumante Valduga Arte Brut  – espumante elaborado pelo método champenoise com um blend de Chardonnay com Pinot Noir,  que anda pela casa dos R$30 a 35,00, aqui em Sampa, achando-se mais barato no Sul. Incrível poder tomar um vinho desta qualidade nesta faixa de preços mostrando que ainda há esperança, só falta os produtores capricharem nas contas quando elaboram os preços dos tranqüilos! Como gama de entrada, um senhor espumante, muito fresco, ótima perlage fina e consistente, frescura cítrica, ótimo como aperitivo ou acompanhando saladas e até uma costelinha na brasa. Gostei bastante e, junto com os espumantes Aurora Pinot/Marco Luigi Brut e Salton Reserva Ouro, um quarteto que vale o quanto pesa, digo, custa! Para ter em casa sempre.

Pacifico Sur Pinot Noir Reserva 2006 – um pinot chileno de muita qualidade pelo preço e que agora começa a ser importado pela Berenguer Imports.  Com um preço de loja ao redor dos R$69,00, é um vinho fácil de agradar, equilibrado e elgante com uma paleta olfativa bem frutada com notas terrosas, médio-corpo e uma boca de taninos finos e macios evidenciando-se alguma baunilha e um final saboroso com boa acidez presente que chama um bom prato, porém não muito pesado, e alguma especiaria. Uma boa opção de Pinot Noir do novo mundo que consegue aliar qualidade e bom preço sem excessos de extração, gostei e recomendo.

salute e kanimambo