Os Deuses do Olimpo – Meus TOP 12 Vinhos de 2014

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Sempre grandes vinhos que habitaram minha taça mesmo que por alguns poucos momentos de puro deleite, uns mais que outros, porém todos marcaram posição, disseram ao que vieram e deixaram marcas profundas em minha memória. São vinhos que apelidei de classe “I” de Incuspível! Daqueles que quando chegam na taça nos vimos “forçados” a saborear até a última gota nos deixando inebriados de prazer. Eis minha lista dos deuses que fizeram jus a seu lugar no Olimpo, sempre vinhos que estão á venda no Brasil.

Brancos:

Vina Tondonia Reserva 1991 – Rioja/Espanha – para virar a cabeça de quem acha que um vinho branco não pode envelhecer bem. Mais para um Jerez que um vinho branco normal, é marcantemente diferente e quando acompanhado de um presunto cru ibérico, é de lamber os beiços e pedir bis. Incrível como é profundo e como está tão vivo com a Bacoacidez ainda bem presente como quem quer nos dizer que ainda há mais alguns anos de vida nessa garrafa. Não há quem fique imune ás reflexões sensoriais que ele aporta, um vinho que mexe com conceitos, preconceitos e muito mais!

Chateau de Citeaux Domaine Bouzerau Puligny Montrachet 1er Cru Les Champs Gain 2010 – Borgonha/França – Um Chardonnay estonteante que não sabemos se fungamos ou bebemos! Uma paleta olfativa intensa que nos implora por levar a taça à boca onde ele termina de nos subjugar e nos deixa de joelhos agradecendo a Bacco por tamanha dádiva. Um exemplo de como se usar barrica com sabedoria, sur lie por um ano, aportam sofisticação e complexidade levantando a fruta e com um final bem mineral como manda o figurino. Um clássico da região que encanta até quem não é chegado em brancos.

Tintos:

Monte olimpus

Gran Enemigo Single Vineyard Agrelo 2010 – Mendoza/Argentina – tendo como base a nova coqueluche argentina, a Cabernet Franc, com um toque de Malbec, é um tremendo de um vinho que exala elegância e finesse por todos os poros sem perder a identidade. Um vinho rico e complexo, de taninos sedosos e acidez pontual que resulta num final de boca apetitoso que pede a próxima taça, e a próxima, a próxima……..rs.

Poggio di Sotto Brunello di Montalcino 2007 – Montalcino/Itália – Este ano tive o privilégio e enorme prazer de tomar deste elixir por duas vezes. Na minha modesta opinião, pois não sou especialista em Brunello, um dos melhores que já tive a portunidade de provar sendo realmente inesquecível. Prima pelo equilíbrio, pelos aromas, pela complexidade, classudo e fino, um vinho galanteador, se é que isso existe, que nos arrebata do chão ao primeiro gole e nos leva ao nirvana!

Casa Lapostolle Barobo – Chile – uma tremenda surpresa e mais um preconceito quebrado pois os vinos do produtor nunca me encantaram. Um grande vinho que consegue unir potência com uma finesse ímpar. Na degustação não peguei a safra, mas ……..não muda nada do que estava na taça. Um dos melhores chilenos que já provei nos últimos anos rivalizando com um Chadwick 2005 que tomei há uns 5 ou 6 anos. Uvas de diversos vales em que o produtor tem vinhedos.

Nosotros Malbec 2009 – Mendoza/Argentina – existem diversos ótimos Malbecs na Argentina, mas este tem algo de especial. Rico e profundo, complexo e elegante, ótima textura que seduz, um vinho que cativa à primeira fungada. Sem excessos, profundamente balanceado, um Malbec diferenciado e por isso mesmo inesquecível. Sou apaixonado por este vinho e tomado lá na condição em que foi, deixou marcas, sempre deixa!

Quinta da Leda 2007 – Douro/Portugal – Um clássico da casa Ferreirinha, terceiro na linha sucessória (rs) abaixo do Barca velha e Casa Ferreirinha Reserva Especial, um vinho que respira Douro por todos os poros e está no momento certo para ser devidamente venerado e tomado. Um vinho que nos vai aparecendo em camadas; frutos escuros maduros, tabaco, especiarias, algum balsâmico, gordo meio de boca, formando um incrível e harmonioso conjunto que nos deixa triste ao final, vai faltar vinho nessa garrafa! Porquê não comprei mais algumas?!!! Grande e prazeroso vinho.

Benegas-Lynch Meritage 2007 – Mendoza/Argentina – o que falar de um blend de somente 3.000 garrafas ano, 18 meses de barrica e cinco de estágio em garrafa antes de sair ao mercado. Certamente um vinho para guardar por mais uns dez ou quinze anos, mas quem resiste?!! Café, notas terrosas, taninos integrados e aveludados, toque mineral no final de boca bem longo e prazeroso nos fazendo recordar um bom Bordeaux. Umas das muitas gratas surpresas de minhas andanças pela Argentina e um must a conferir.

Lagarde Henry I Gran Guarda 2009 – Mendoza/Argentina – a cada ano o blend muda e não sei das outras safras, porém nesta o corte de Malbec, Cab. Sauvignon, Cab Franc e Petit Verdot foi perfeito. Ótimo volume de boca, porém sem ser pesado, encorpado, complexo, grande equilíbrio, frutos negros, taninos finos e notas de especiarias num final interminável onde aparece algo de tostado e mocha, vinhaço! No meu wish list, provar mais umas três diferentes safras e ver como este se compara.

Mas La Plana 2007 – Penédes/Espanha – 100% Cabernet Sauvignon, este vinho supera todas as expectativas mostrando que esta uva pode gerar grandes vinhos em todos os tipos de terroirs do mundo. Deixou doze enoladies sem fôlego e pedindo bis! Deliciosa textura, intenso, notas tostadas, rico meio de boca com enorme persistência e taninos aveludados que encantam. Um vinho que precisa de tempo sempre, melhor quando tomado com mais de seis anos de vida.

Mastroberardino Radici Taurasi 2007 – Campania/Itália – a Aglianico é uma uva que gera vinhos potentes e duros que precisam de muitos e muitos anos de garrafa até que alcancem seu melhor equilíbrio. Surpreendentemente este vinho estava absolutamente divino e pronto, um deleite hedonístico! A resposta a minha indagação sobre a finesse do vinho ainda “tão” jovem foi; fazemos vinhos nas vinhas, enquanto outros o fazem na cantina!

Quinta da Lagoalva Grande Escolha Alfrocheiro 2009 – Tejo/Portugal – esta uva é tradicionalmente usada em cortes nos vinhos do Dão, Beiras e Bairrada, mas é no Tejo que ela desponta como um varietal sedutor e complexo pelas mãos do Diogo (jovem enólogo e sócio da Quinta da Lagoalva) que o trabalhou com maestria. Não é um vinho muito conhecido e tão pouco muito divulgado, porém é para mim o melhor vinho desta casa produtora.

Na semana que vem meus destaques por estilo (brancos e tintos) por faixa de preço. Para os acima listados (de forma aleatória) não publiquei preços porque como costumo dizer, nem todo o vinho caro é grande, mas todo grande vinho é caro! Desta forma falamos de vinhos a partir de R$250,00 até R$1100,00. Tivesse mais um lugar nesse templo de grandes vinhos, certamente o Catena Zapata Adrianna Malbec 2010, um grande vinho num estilo diferente do Nosotros, também estaria presente, mas temos que fazer opções!

Que Baco permita que em 2015 alguns desses néctares possam estar em suas taças. Cheers, Kanimambo e seguimos nos encontrando por aqui.

2º Dia em Mendoza – Deus Escreve Certo por Linhas Tortas

Pelo menos esse é o dito popular e constatamos isso na pele nesta saborosa viajem! Depois de um primeiro dia maravilhoso em que a sinergia integrou o grupo vindo de Minas, Rio, Bahia, Sampa e Granja Viana fomos informados que por falta de água na Dominio del Plata nossa visita agendada para as 10:30 não poderia ser realizada, e agora José, ou melhor, e agora João!! Foi aí que o anjo que nos acompanhou, (seria a Inês?), e protegeu nessa viagem deu suas caras. Telefone na mão e em 15 minutos estávamos a caminho da Benegas, bodega que não estava no programa inicial e agora não sai mais, onde a Susana em tempo recorde nos preparou uma recepção maravilhosa e “inolvidabile”, ao ponto de alguns dos amigos presentes a terem apontado como a melhor visita, e olha que o roteiro foi muito bom! Eta frase longa!!! rs Bem, falemos da Benegas.

A Benegas-Lynch é um verdadeiro mergulho na história do vinho em Mendoza e em belíssimos rótulos que faz com que essa visita seja um “must” numa passagem por esta linda região produtora. Começa em 1883 com o bisavô de Federico Benegas-Lych (atual proprietário), o Don Tiburcio Benegas que há época fundou a Trapiche que em 1970 foi vendida. Em 1998 Federico compra um vinhedo plantado por seu bisavô (Finca Libertad) e compra uma antiga bodega em Lujan de Cuyo que reforma inteira mantendo as características da mesma datada do século XIX, porém incorporando a mais moderna tecnologia na produção de vinho no sentido de produzir vinhos de excelência . Em 2000, lança seu primeiro vinho.

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O prédio de entrada é lindíssimo e as caves subterrâneas (8 metros de profundidade) onde descansam cerca de 400 barricas de carvalho francês são de tirar o fôlego, tendo sido lá embaixo, numa antiga “pileta” de concreto para fermentação dos vinhos (hoje desativadas), que a Susana nos recebeu para uma deliciosa e inês-quecível degustação de alguns de seus rótulos, entre eles seu top de gama Meritage! Em outras “piletas” (tanques) desativadas repousam cerca de 120.000 garrafas a temperaturas que variam ente 13 e 17ºC mantendo uma humidade entre 60 a 70% e uma penumbra que são fatores de grande valia para que possamos, na hora certa, provar os bons vinhos que aqui amadurecem aguardando seu momento de nos fazerem felizes. Lugar sedutor!!

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Numa seleção feita a quatro mãos, a Susana nos trouxe á taça quatro vinhos um branco de gama de entrada e três tintos cativantes entre eles seu vinho ícone, com produção limitada a apenas 3.000 garrafas das quais já tive o prazer de provar duas vezes, o Meritage! Como sempre falo demais, então chega de lero e vamos aos vinhos degustados:

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Clara Benegas Chardonnay com Sauvignon Blanc 2012 – um dos mais surpreendentes rótulos provados nesta viagem, até porque ninguém esperava muito dos vinhos brancos e este surpreendeu a grande maioria dos presentes. Sem madeira, o Sauvignon Blanc aporta um frescor gostoso ao já bom chardonnay compondo um conjunto de grande balanço e harmonia que agrada sobremaneira. Em tono dos R$55 por terras paulistas, é uma pedida para esta primavera / verão que se aproxima.
Benegas Estate Sangiovese 2008 – para quem queria exatamente trabalhar a diversidade nesta viagem, este vinho foi um prato, digo, taça cheia! Leve floral, folha de tabaco, na boca mostrou-se todo muito elegante com taninos sedosos e muito marcante pedindo um belo risoto para acompanhar. Acidez marcante típica da cepa. Por ser algo estranho ao ninho e de baixa produção, o preço é algo mais elevado o que não o faz tão comercial, mas é uma experiência no mínimo interessante e gostei bastante do vinho. Por aqui anda na casa dos R$135,00.

Benegas Estate Finca Libertad 2009 – um belo e fino assemblage sem Malbec na terra do malbecs! Partes iguais de Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot formam um conjunto de fina estirpe em perfeita harmonia. Cada varietal passa por separadamente por barrica francesa por cerca de 8 a 10 meses quando se faz o blend final que passa mais 6 a 8 meses em barricas de primeiro uso. Um vinho sedoso que no nariz traz uma certa complexidade e notas herbáceas que me fizeram lembrar tapenade de azeitona, viajei?! Bom volume de boca, taninos bem integrados, algo especiado e notas terrosas de final de boca com boa persistência. O estilo de vinho de que gosto. Preço em São Paulo na casa dos R$135,00.
Benegas-Lynch Meritage 2007 – esta linha abrange também um Cabernet Franc de vinhedos com cerca de 120 anos (uma garrafa na adega para abrir nos meus 60º aniversário no ano que vem!), Um Malbec e este divino assemblage com somente 3.000 garrafas produzidas. O Meritage é fruto de um blend majoritariamente composto de Cabernet Franc de vinhedos de 120 anos, com Cabernet Sauvignon, Merlot e um toque de Petit Verdot para arredondar. Como no Finca libertad, os varietais são elaborados em separado e amadurecem em barrica francesa de 1º uso por cerca de 12 meses quando é feito o blend voltando para a barrica por mais 6 meses. O afinamento do vinho após engarrafamento se faz por 5 anos nas caves subterrâneas ou seja, este exemplar acabou de sair para o mercado e tem pelo menos mais dez belos anos de evolução pela frente. Estamos diante de um exemplar de fina estirpe para ser aberto em datas especiais até porque com um preço, justo em função do todo, em torno de R$270 a 300,00 não é para qualquer momento. Voltei a degustá-lo recentemente na degustação de Blends Argentinos (veja lá meus comentários sobre o vinho) que trouxe de viagem e quem esteve presente confirmou como este vinho é marcante, vinhaço!

Caímos na Benegas por mero acaso, mas não poderíamos ter melhor inicio do dia que esse. Uma visita marcante que encantou a todos e, se há bens que vêm por mal, esta visita foi uma benção só que tínhamos que seguir em frente! Já estávamos atrasados, como de praxe, para nossa próxima visita com almoço na Lagarde, outra bodega que aguardávamos, pelo menos eu, ansiosamente já que seus vinhos são excelentes e seu restaurante também bastante premiado servindo uma comida típica da região com elaboração sob brasas num fogo de chão. Curioso estava, também, para provar seus azeites outra de minhas paixões. Só que o dia foi cheio e este post, que já está longo, ficaria enorme então deixo a Lagarde para Quarta-feira e fico por aqui. Uma ótima semana para todos, salute e kanimambo. Para a Susana um “muchas gracias muy especial”!