Menendez Mendez

Harmonizando Carnes & Vinho ás Cegas – Resultado Surpreendente

          Adoro desafios ás cegas! Nessas horas, sem influência de preço ou rótulo mergulhando no desconhecido é que se quebram paradigmas e preconceitos enraizados em nosso consciente. Num grupo de dez pessoas muito “fixes”, nos dirigimos à Cabana del Assado Granja Viana para um prova que, aparentemente de resultado mais ou menos previsível, não nos induzia a esperar grandes surpresas. No mesmo prato, um corte de bife de chorizo, um de bife ancho e dois carrés de cordeiro, muito bem feitos, que confirmam a fama que as carnes deste simpático restaurante de inspiração argentina ganharam em tão pouco espaço de tempo. Na frente, três taças com três vinhos diferentes, um Melipal Malbec 2006, um Menendez Mendez Tannat  Reserva Alta 2008 e um vinho surpresa que prometi colocar na prova. Qual o melhor vinho? Qual a melhor harmonização?

              Bem, antes de falarmos dessa  prova falemos da introdução desse agradável encontro promovido pela Vino & Sapore. Para começar, nos reunimos na loja, a cinquenta metros do restaurante, para um brinde com o gostoso e fresco Norton Brut Cosecha Especial. De garrafa muito bonita, um verdadeiro charme, e caldo muito fresco, este espumante mostra que mesmo a preços bem camaradas os argentinos estão chegando e os produtores nacionais que abram os olhos! Chegando ao restaurante, onde fomos muito bem recebidos por toda a equipe do salão com destaque para o Esmeraldo com um serviço muito atencioso e eficiente, iniciamos com um “aquecimento” para o Desafio que estava por vir, nos deliciando com costelinhas de porco na brasa acompanhadas de um vinho que faz a minha felicidade nestes momentos, o Varanda do Conde, vinho verde português elaborado com um corte de Alvarinho e Trajadura, harmonização esta que aparentemente foi bem sucedida e aprovada pelos presentes, mesmo não sendo lá muito costumeira. Aliás, apesar de achar que feijoada casa mesmo é com caipirinha, tentem harmonizá-la com este mesmo vinho, o resultado, mais uma vez, surpreende. A foto esqueci de tirar na hora, mas esta é de um domingo em casa, delicia!

          Voltemos ao Desafio. Não vou aqui ficar descrevendo o Malbec (este 2006 ainda melhor que o 2005) e o Tannat , pois ambos já foram por mim comentados aqui no blog  (siga os links) e, mais uma vez, demonstraram ser vinhos de grande qualidade que, ao preço de R$65,00, demonstram claramente de que não se necessita gastar rios de dinheiro para beber bons vinhos. O que foi muito interessante foi ver o resultado do grupo que deu ao vinho 3, o surpresa, a liderança como melhor vinho numa análise solo, sem comida, mesmo havendo um certo equilíbrio entre os três. Cinco pessoas preferiram o 3, três pessoas o 1 e duas pessoas o 2.

            Quando colocamos os vinhos junto com as carnes, o vinho 3 mais uma vez se destacou apresentando-se mais versátil harmonizando melhor com a maioria das carnes. Frutado, taninos finos presentes, corpo médio, boa estrutura com acidez no ponto, equilibrado e muito rico combinou bem com a untuosidade das carnes em geral sem se sobrepor ás carnes mais suaves e encarando de frente o bife de chorizo. Pessoalmente achei que cada vinho se deu melhor com uma carne especifica; vinho 3 com bife ancho, 1 com carré e 2 com o bife de chorizo, mas tenho que concordar que na média o 3 acabou se dando melhor. Agora, imagino que você já esteja curioso para saber que vinhos são o um e dois então aqui vai; o 1 foi o Tannat e o 2 o Malbec, por sinal dois vinhos de muita qualidade a preço bem razoável. O vinho 3, consequentemente, foi nosso surpresa, o Dom Rafael 2008, vinho alentejano produzido pela conceituadíssima Herdade do Mouchão, pisa a pé e um blend de Alicante Bouschet, Trincadeira e Aragonez que custa apenas R$53,00.

        Mais uma vez um monte de paradigmas quebrados; boa harmonização de carne com um vinho branco, gente que não compraria um Tannat surpresa porque foi o vinho que mais lhe agradou, o vinho de menor preço foi o ganhador e …..nem Malbec nem Tannat, deu Alentejano na cabeça! Gostoso exercício de harmonização com carnes que mostrou que nem tudo o que aparenta ser óbvio, efetivamente o é.

         Melhor de tudo, a harmonização perfeita entre os participantes deste gostoso evento. Como sempre digo e insisto, a perfeita harmonização ocorre quando vinho, prato, momento e pessoas conseguem se  unir e criar entre elas um forte elo propulsor que faz com que a aritmética seja colocada de lado e a soma das partes seja exponencial. Neste sentido, sucesso total e os nossos agradecimentos a todos que transformaram um mero exercício de degustação num momento muito especial.

Salute e kanimambo.

Ps. Sugestão para o próximo sábado; almoço na Cabana del Asado e compra de vinhos na Vino & sapore , eh/eh!

Malbec ou Tannat no Churrasco?

            Para quem está menos embrenhado nos segredos de nossa vinosfera, fica a impressão de que a Malbec é uma uva argentina e a Tannat uruguaia. Ledo engano, pois as duas se originam na França e daí saíram para o mundo tendo se tornado ícones da vinicultura nestes dois países. A Malbec é originária da região de Cahors sendo também uma das cepas autorizadas a fazer parte do corte bordalês, apesar de pouco usada, tendo encontrado em seu novo habitat, Mendoza/Argentina, sua Shangrila! A Tannat, por outro lado, nasceu no Madiran onde ainda se elaboram potentes vinhos de longa guarda, para mostrar-se em toda a sua plenitude no nosso vizinho Uruguai. Os vinhos tannat do Uruguai ainda são meio desconhecidos do grande publico, mas estes varietais ou blends com merlot, vêm gradativamente ganhando destaque na mídia especializada e espero que façam rapidamente a transposição para sua taça.

        Pergunte para um uruguaio e ele certamente lhe dirá que não tem nada como tannat para fazer companhia a uma boa carne. Já os argentinos, estes juram que a Malbec gera vinhos que têm tudo a ver com sua carne! Achei que estava na hora de conferir isso e no fim de semana fui a um churrasco na casa de um amigo com duas garrafas de baixo de braço; um Alta Reserva Tannat da Gimenez Mendez e um  Malbec  Reserva Tomero da bodega Vistalba.  Na churrrasqueira, os amigos Márcio e Raffa preparavam alguns cortes deliciosos que faziam antever um grande embate entre esses dois vinhos. Tinha costela de cordeiro, maminha, costela de porco com mostarda, picanha, enfim um verdadeiro pitéu que prometia! Sem bairrismos, somos neutros (um português e dois brasileiros), abrimos as duas garrafas e nos deixamos levar nas ondas dos mais intensos sabores.

           Com o cordeiro não teve nem graça, o Gimenez Mendez literalmente arrasou seu adversário combinando taninos firmes, mas elegantes com nuances terrosas e riqueza de sabores que harmonizou muito bem com a carne de gosto mais forte. O Tomero com seus 14.6% de álcool, taninos macios, doces e fruta compotada, não foi páreo. Porém, ainda tínhamos outras carnes a provar e vinho a tomar, a batalha mal começava!  Com a maminha, de sabores mais delicados, o Tomero mostrou suas armas mostrando-se mais equilibrado, mas na picanha e costela dançou de novo. Neste encontro, com estas carnes e estas pessoas, deu Gimenez Mendez na cabeça, mas faça você seu próprio juízo. No próximo churrasco, leve seu Malbec, mas não esqueça de colocar um Tannat na bagagem, você pode se surpreender!

Salute e kanimambo pela visita