Má Partilha

O Ontem e o Ante Ontem!

Começo de semana bravo este! Na Segunda a extrema-unção de alguns velhotes, na Terça conhecendo os vinhos da Isabel Estates na nova Zelândia e com as Enoladies numa degustação só de brancos diferentes e muitas agradáveis surpresas. Não vou me estender muito não, só umas fotos e alguns curtos comentários que espero possam lhes ser úteis.

“Vinhos Velhos” com os amigos e por generosidade deles em os compartilhar. Vieram menos amigos do que esperado, então reduzimos o número de rótulos e sacrificamos tão somente, cinco!

Vellhotes do Ale

Marques de Casa Concha Chardonnay 98, miraculosamente vivo! Acidez, pouca, mas ainda se fazendo presente, madeira e cremosidade em abundância, muito interessante e surpreendente. Esperávamos encontrar um corpo estendido no chão, porém………..

Udaca Garrafeira 94, corte tradicional (Alfrocheiro/Jaen/Tinta Roriz e Touriga Nacional) do Dão, um velhinho já respirando por aparelhos mas incrivelmente apegado à vida!

Má Partilha 99, merlot da região Setúbal, ao abrir achamos que tinha ido para a glória com aromas fortes de uma certa oxidação que rapidamente começou a se dissipar. Na boca delicioso e depois de um tempo os aromas começaram a se desprender  da taça de uma forma tão sedutora que o fiquei “fungando” o resto da noite. Maravilha.

Chateau Kefraya 99, delicia! Cabernet Sauvignon, Grenache, Mouvédre e Cinsault (se não me engano) do Libano. Aromáticamente fraquinho, não sei como ele é mais novo, mas na boca estava absolutamente divino, aveludado, rico, muito bom. Agora fiquei curioso por tomar uma garrafa mais novinha e comparar.

Rocca de la Macie Chianti Classico 2000, tipicidade pura, mas a meu ver sofreu por vir depois do Má Partilha e do Kefraya , mas ainda apresentava algum fulgor mesmo que sem a intensidade que lhe é típica quando mais jovem, esse conheço bem.

Enfim, sacrificamos cinco das oito garrafas programadas e agora vamos atrás de mais umas três para formar outro lote ao qual dar a extrema-unção. Gostamos de nosso ato de misericórdia, agora é esperar o momento certo para seguir nossa missão.

Isabel Estate, Nova Zelândia. um Sauvignon Blanc, um Riesling, um Pinot Gris e um Pinot Noir. Ótima forma de começar um dia, mas desses falo amanhã, ok? Das Enoladies, a confraria de 12 amigas que tenho o enorme prazer de receber em gostosa confraternização na Vino & Sapore faz três anos, as delicias da descoberta de vinhos brancos elaborados com uvas diferente e um final surpreendente, mas falo disso depois também, é muita coisa junta, muita emoção, muita alegria e pouco tempo para compartilhar a totalidade desses momentos com os amigos mas visitando o grupo no face da Vino & Sapore você vai poder curtir um pouco. Kanimambo pela visita e nos vemos por aqui amanhã? Salute.

Desafio Merlots do Mundo – Resultado

            Bem, eis finalmente os resultados desta gostosa prova com desafiantes de todos os lados de nossa vinosfera, um total de 10 países presentes ao Desafio. Prepare-se, são doze vinhos então este post tem chão! Como sempre, ressalto o fato de que o conceito destes Desafios de vinhos é tentar mostrar uma visão do produto por parte do consumidor através de um perfil bastante heterogêneo dos participantes da banca degustadora não sendo, consequentemente, uma visão de criticos profissionais do setor. Ou seja, aqui, afora aspectos técnicos, considera-se a emoção que o vinho despertou ao ser tomado. Não é para isso que você toma vinho? 

          Exceção feita ao Casillero Del Diablo Merlot 2007, todos os outros vinhos foram decantados, tendo depois voltado para a garrafa e adega, de forma a não perder a temperatura de serviço. Antes de iniciar, quero agradecer aqueles que contribuiram para que este Desafio pudesse ser realizado; A Trattoria do Pietro no Shopping Open Center no Morumbi, os importadores, Expand / Interfood / Decanter / Mistral / Wine Society / Casa Flora / Portuscale / Vinhos do Mundo e VCT Brasil assim como a Miolo e Valduga.

             Eis o resultado conforme ordem de serviço, lembrando que a degustação foi feita totalmente às cegas. Por serem 12 membros na banca, optei por eliminar as menores e maiores notas dadas a cada um dos vinhos. Ao final, listo os jurados e a escolha de cada um como melhor vinho da noite e, afora este resultado, apuramos também, o Melhor Custo x Beneficio e Melhor Compra através do voto de todos. Não tive muito tempo para pesquisar pontuações internacionais de cada vinho, para mero efeito comparativo, porém como tenho acesso à Wine Spectator, pesquei o que deu lá. Quem tiver outras fontes de pontuação e queira colaborar, basta enviar-me a informação como comentário. Os comentários são um mix do que os degustadores marcaram em suas fichas padrão ABS. Vamos lá.

Label La ButteChateau La Butte Viellies Vignes 2005, o desafiante Francês de Bordeaux, berço da Merlot, originado de vinhedos com mais de 50 anos. Preço USD43,50 estando disponível na Mistral. Aromas delicados de frutas madura, algo resinoso com nuances herbáceas, na boca mostra-se saboroso, com taninos sedosos, boa acidez algo ligeiro e não muito longo. Um vinho com uma personalidade “amistosa” , fino e elegante, corpo médio, bastante agradável e fácil de tomar. Nota média obtida 82,15.

 

Label Fabre Montmayou Gran Reserva MerlotFabre-Montmayou Patagônia (Infinitus) Gran Reserva 05, a Argentina não é berço de grandes Merlot, mas este eu conhecia e fiz questão de o colocar na roda como digno representante de nuestros irmanos! Com 89 pontos na Wine Spectator, é um vinho de que gosto bastante e tem um preço de R$98,00 estando disponível na Expand. Balsâmico, especiarias, com nuances químicas no nariz. Na boca é bastante complexo, de bom corpo, boca cheia, equilibrado e muito saboroso com final de boa persistência em que aparece baunilha e algo de chocolate. Nota média obtida 86,25 pontos.

 

label - Miolo TerroirMerlot Terroir 2005, o primeiro de nossos representantes tupiniquins com um preço ao redor de R$65,00 tendo sido pontuado na degustação da Freetime, com 88,7 pontos. Frutas negras, madeira algo de tabaco no nariz. Na boca apresenta-se frutado, equilibrado mostrando boa acidez e taninos aveludados, bom volume de boca, saboroso com um final de boca longo deixando um leve amargor residual que não chega a incomodar. Obteve a média de 85,35 pontos.

 

Label Planeta MerlotPlaneta Sicília Merlot 2005, o desafiante italiano, que conheci numa degustação promovida pela Interfood, o importador deste produtor. Preço R$143,00 possuindo uma pontuação de 85 pontos na Wine Spectator. Eu dei mais, a média deu menos, uma degustação ás cegas é isso mesmo e tem que ser respeitada. Aromas de frutos negros, algo de especiarias, talvez cravo, na boca é um vinho encorpado de perfil moderno, robusto com o álcool um pouco predominante. Final longo e complexo, talvez presicasse de um pouco mais do que a uma hora que teve de decantação e, certamente, cresceria muito com comida. Nota média obtida 84,20.

 

Label Marques de Casa ConchaMarqués de Casa Concha 2006, desafiante chileno (produzido pela Concha y Toro) e mais um que fiz questão que estivesse presente até porque é reconhecidamente conceituado como um dos melhores Merlots chilenos, neste caso com 90 pontos da Wine Spectator e um preço na Expand, sua importadora, de R$78,00. Bastante químico no nariz, fruta madura e nuances de café que se intensificam com o tempo em taça. Equilibrado, firme e harmônico com taninos finos, corpo médio, cremoso com taninos aveludados e muito saboroso com bom volume de boca e bastante longo. Confirmou o que se esperava dele tendo obtido uma nota média de 88,35 pontos.

 

Merlot Storia labelStoria 2005, mais um Desafiante tupiniquim produzido pela Casa Valduga e merecidamente reconhecido hoje como um dos melhores vinhos nacionais tendo obtido 88,7 pontos na degustação de Merlots brasileiros da Freetime. Saiu para o mercado a R$85,00, mas as poucas  garrafas que se acham no mercado estão entre R$110 a 120,00. Complexo nos aromas, fruta madura, capuccino, algo floral entrada de boca marcante, denso, fruta compotada, taninos doces em total equilíbrio com a boa acidez deixando-o redondo, rico, aliando potência e elegância num final de muito boa persistência. Alguns dos adjetivos das fichas; belo, vinhaço, espetacular o preferido de seis dos doze degustadores. Efetivamente um grande vinho que se comportou especialmente bem no Desafio desta noite tendo obtido uma nota média de 90,75 pontos.

 

Label Smithbrook MerlotSmithbrook 2005 foi o Desafiante australiano e o único com uma maior participação de outras cepas que não Merlot. A regra é no mínimo 85% e este apresentou 86%, com o restante sendo composto de 12% Cabernet Sauvignon e 2% Petiti Verdot. Já tinha provado, e gostado, deste vinho em uma outra ocasião e apesar de esta não ser uma uva relevante na produção australiana, assim como na Argentina, este mostrou-se um digno representante. É trazido pela Wine Society e é comercializado por cerca de R$75,00. No nariz mostrou-se algo químico, especiado com nuances de menta. Na boca é bastante rico, bom volume de boca, complexo com alguns toques herbáceos, taninos aveludados, corpo médio, de final elegante e bem equilibrado que evolui na taça para aromas achocolatados. Obteve a média de 86,80 pontos.

 

Label Fleur du Cap UnfilteredFleur du Cap Unfiltered Merlot 2005, importação da Casa Flora com preço sugerido ao consumidor, em torno de R$83,00 e foi o Desafiante que representou a África do Sul nesta agradável noite. Aromas de boa tipicidade e intensidade. Taninos doces ainda com forte presença, equilibrado, algo fechado mostrando todo o seu potencial de guarda. Mais um país onde a Merlot não é das uvas de maior destaque, mas este mostra muitas qualidades, boa persistência e potencial de desenvolvimento. Nota média obtida 86,70.

 

Label Casillero MerlotCasillero Del Diablo Reserva 2007, o vinho surpresa da noite, colocado na lista sem o conhecimento de nenhum dos convidados. O Pizatto Reserva 2005, o outro surpresa que pretendia colocar, lamentavelmente foi um “no show”, então este ficou sozinho disputando contra rótulos de valor agregado bem mais alto. O vinho é importado e distribuído pela VCT Brasil (Concha y Toro) e custa em média R$30,00. Aromas, mais uma vez, mostrando fruta madura, nuances herbáceas e algo químico uma constante em boa parte dos vinhos provados. Na boca é macio, rico de sabores, redondo, taninos doces e sedosos, acidez balanceada, um vinho muito saboroso e fácil de se gostar. Talvez não apresente a mesma complexidade de outros vinhos, mas é muito bem feito, confirmando minha primeira impressão ao degustar toda a linha 2007 da Casillero em meados do ano passado, este varietal é certamente um dos melhores. Na Wine Spectator obteve 85 pontos e neste Desafio obteve uma média de 86,05 pontos sendo o preferido de dois dos degustadores.

 

Label Abadal 5Abadal 5, o representantes espanhol trazido pela Decanter é um corte de cinco clones de origens (Califórnia, França e Itália) e parcelas diferentes dentro do vinhedo. Seu preço estão ao redor de R$113 e esperava ansioso por conhecê-lo. É tímido nos aromas algo balsâmicos e químicos com fruta compotada em segundo plano. Na boca mostrou-se algo herbáceo, taninos ainda firmes e adstringentes, carnoso e untuoso, boa estrutura, aparecendo um certo desiquilibrio e amargor final que incomodou a maioria. Como o Innominabile II no Desafio Assemblage, acho que este vinho merece uma segunda chance pois, apesar de a rolha não apresentar problemas aparentes, é certo que não se apresentou bem neste embate. A Wine Spectator deu-lhe 78 pontos e o Guia Penin 89, aqui ele obteve a média de 80 pontos.

 

Label Wente Crane RidgeWente Crane Ridge Merlot 2004, elaborado por um dos mais antigos produtores americanos, este californiano representou a terra de Tio Sam, 79 pontos da Wine Spectator, neste Desafio. Este foi o segundo rótulo que não era 100% merlot, apresentando um corte de 2% , acreditem, de Touriga Nacional. É trazido pela Vinhos do Mundo e custa em torno de R$98,00. Lembrando que o Desafio era às cegas, os principais comentários aos seus gostosos e intensos aromas era de que nos lembrava Vinho do Porto! Será que 2% de Touriga podem fazer toda essa diferença? Untuoso, rico, ótima estrutura com bom volume de boca, taninos sedosos, macios, muito harmônico com um longo e saboroso final de boca lembrando bala toffee. Um vinho que talvez fosse tecnicamente inferior a alguns outros, mas que teve a ousadia de mexer com as emoções das pessoas tendo gerado um burburinho na mesa. Só por isso já levou uns pontos a mais tendo totalizado a média de 89,30.

 

Label Ma PartilhaMá Partilha 2001, produzido pela Quinta da Bacalhôa nas Terras do Sado em Portugal, é o digno representante Luso, mostrando que os vinhos varietais de uvas internacionais também têm vez por lá. Como o La Butte, é um vinho mais elegante e fino, pronto a beber, talvez até já mostrando alguma fadiga pelo tempo já que era o único no painel com 8 anos de vida. Em função disso, somente o decantamos por meia hora, evitando uma maior oxigenação do vinho. Nos aromas é algo tostado, frutas secas e café sem muita intensidade. Na boca é sedoso, macio e harmônico, faltou-lhe um pouco mais de corpo (idade?), saboroso, mostrando uma certa finesse que normalmente a idade nos traz. Odiado por uns e esnobado por outros, a nota final obtida foi de 86,05.

               O resultado final comprovou a fama e mostrou uma performance incrível de nosso representante Brasileiro o Storia da Casa Valduga como o grande campeão da noite, um verdadeiro “Best in Show” especialmente bom neste Desafio mostrando porque o elegi como um dos Melhores Vinhos de 2008 ! Só para que se tenha uma idéia, a nota mais baixa recebida pelo Storia nesta noite, foi de 88,5 pontos. Este eu gostaria de ver em mais degustações ás cegas num embate com os grandes de outros países tanto do velho como no novo mundo. A meu ver, é um vinho que extrapola a origem tendo se transformado num vinho marcante em qualquer lugar do mundo. Opinião de plebeu, mas vero!  Logo a seguir, em segundo lugar, uma das grandes surpresas da noite, o desafiante americano Wente Crane Ridge e em terceiro o sempre seguro Marquès de Casa Concha, o representante chileno nesta disputa. Para finalizar o pódio, em quarto lugar o australiano Smithbrook e em quinto o sul africano Fleur du Cap Unfiltered. Como Melhor Relação Custo x Beneficio o Casillero del Diablo 2007,  escolhido por unanimidade, e a Melhor Compra o Wente Crane Ridge, provavelmente em função de sua capacidade de emocionar.

           Como disse ontem, acho que a banca mostrou uma certa tendência “novo mundista” neste embate de bons e representativos Merlots do Mundo, mas não acredito que isto possa ter influência direta já que os primeiros lugares dificilmente mudariam em qualquer outra circunstância.  Alguns vinhos poderiam ter se dado melhor, mas o resultado e a performance dos ganhadores, nesta noite específica, é incontestável. Pois bem, estes foram os vinhos escolhidos como o melhor da noite por cada um dos membros da banca e sua pontuação:

  • Emilio – Storia – 92 pontos
  • Denise – Wente Crane Ridge – 93pontos
  • Evandro – Casillero – 91 pontos
  • Luis Fernando – Marqués – 89 pontos
  • Cristiano – Storia – 91 pontos
  • Marcel – Wente Crane Ridge – 90 pontos
  • Jaerton – Storia – 94 pontos
  • Fabio – Storia – 90 pontos
  • Francisco – Casillero – 90 pontos
  • Zé Roberto – Wente Crane Ridge– 92 pontos
  • Alexandre – Storia – 93 pontos
  • João Filipe – Storia – 93 pontos (tinha dado 90 na Freetime)

Panorama Desafio Merlots da Trattoria do Pietro

Trattoria do Pietro – Av. Dr. Guilherme D. Vilares 1210 – Shopping Open Center – Morumbi – São Paulo – Tel. (11) 2579.6749