Os Brancos Portugueses Estão em Ótima Forma

Não é de hoje que venho ressaltando a ótima fase pela qual passam os vinhos portugueses e um destaque especial deve ser dado aos brancos que vêm se destacando no cenário mundial na mais diversas faixas de preço. Induzi a Confraria Saca Rolhas a enveredar por este caminho no mês passado e só senti que não pudesse ter colocado alguns outros grandes brancos, porém há limites tanto para grana quanto para o número de rótulos nestes sempre agradáveis encontros mensais. Faltaram um monte de rótulos que adoraria ver por aqui e certamente cada leitor terá os seus indicados, mas eis o que a amiga Raquel, porta voz da confraria, tem a nos dizer sobre mais essa curta viagem de descobrimentos!

No começo do mês de Abril, resolvemos nos despedir daquele verão escaldante que tivemos este ano, com uma boa dose de vinhos brancos que, apesar de pouco consumido por nós, acho sempre uma boa escolha. São leves, refrescantes e acompanham bem uma refeição. Optamos pelos brancos de Portugal, tão pouco conhecidos e com uma variedade tão grande de castas nativas que mereciam uma noite de degustação só para eles.
Os vinhos portugueses tem me encantado cada vez mais. Tanto tintos como brancos, são cheios de tipicidade e caráter. São mais de 300 variedades de castas, com seus nomes esquisitos, que variam dependendo da região de onde provêm: A uva “Fernão Pires” do Dão, é chamada de “Maria Gomes” no Alentejo. A “Bical” da Bairrada, é conhecida como “Borrado das Moscas”no Dão. A “Tinta Roriz do norte é conhecida como “Aragonêz” no sul. A “Sercial”, “Cercial” e a “Cerceal”, são castas diferentes! E por aí vai…… Atualmente podemos encontrar no mercado uma grande variedade deles, coisa que à poucos anos não era possível. Acho que estão deixando a modéstia peculiar de lado e investindo na produção e divulgação do seu produto para todo o mundo. Sorte a nossa!

O primeiro vinho a ser degustado, como de regra, foi um espumante:

  • Luis Pato Bruto-2009 – Feito à partir da casta Maria Gomes, aparentava um leve tom dourado. Muito fresco, boa acidez, bom extrato, frutado e um leve traço de oxidação em função da idade.

Na sequência, provamos pela ordem:

  • Prova Régia Premium-2012 – Lisboa, D.O.C. Bucelas, feito à partir da Arinto. Amadurecido em tanques de aço inox, mas passa 1 mês em contato com as borras (sur lie). Os aromas estavam um pouco fechados no início, mas com o tempo e conforme a temperatura foi atingindo seu nível ideal, apareceram os aromas florais, vegetais e da própria levedura, agregando maior complexidade tanto no nariz como na boca. Ervas e frutas brancas vão ficando mais evidentes, com muito frescor e persistência.
  • Pomares-2012 – Douro, elaborado com Viosinho, Gouveio e Rabigato.
  • Nariz bem presente de frutas maduras como pêssego, abacaxi. Encorpado, bem estruturado e leve traço de madeira, apesar de não passar por ela.
  • Morgado de Santa Catherina Reserva-2011 – Lisboa, D.O.C. Bucelas, 100% Arinto. Fermentado em barricas de carvalho francês, com estágio de 9 meses sob as borras. Aromas muito frescos, minerais, florais (lavanda, jasmim) e especiarias. Muito equilibrado em acidez e corpo. Sabores que confirmam os aromas de frescor e evoluem bastante na taça.
  • Quinta dos Roques-Encruzado-2012 – Da região do Dão, elaborado com a uva Encruzado. Aromas delicados, cítricos. Muito elegante e equilibrado, sem deixar sobressair nenhum elemento de destaque. Apesar do frescor e leveza, mostra-se com boa estrutura e persistência. Com o tempo em taça, aparecem traços de tostado da madeira.
  • Muros de Melgaço 2010 – Região de Vinhos Verdes, 100% Alvarinho. Elaborado com um clone raro desta casta, que tem a casca alaranjada, confere a este vinho características bem diferentes do esperado. Com aromas cítricos e frescos no primeiro impacto, vai tornando-se mais encorpado e complexo com o tempo. Ótima acidez, que o faz um bom companheiro nas refeições, sem perder seu volume em boca até com pratos mais untuosos e marcantes. Ouvi dizer que escoltou com bravura até um barreado(carne cozida lentamente em panela de barro) Não duvido !
  • Malhadinha 2010 – Alentejo, foi elaborado com as castas Chardonnay, Arinto e Viognier. De cor dourada e muito aromático. Boa estrutura e equilíbrio entre corpo e acidez. Os sabores cítricos, de limão e tangerina (que me fizeram lembrar as balas azedinhas da minha infância) convivem perfeitamente com a densidade do tostado abaunilhado da madeira. Mostrou as qualidades de um vinho robusto e evoluído, sem perder o frescor, a alegria e a alma jovem, que caracterizam a maioria dos brancos.

Portugueses brancos
          Até hoje em dia, ainda ouço vez por outra, falarem que o vinhos brancos não estão no mesmo patamar de importância que os vinhos tintos ocupam e até justificam que os melhores vinhos do mundo são os tintos. Desculpem! Acho que as pessoas que afirmam isso, ainda não foram apresentados à um grande branco! Existem brancos excepcionais na Borgonha(França), no Reno(Alemanha), sem falar dos espumantes de Champanhe e os botritizados de Sauternes. Atualmente, não podemos esquecer os Vinhos Verde feitos à partir das castas Alvarinho e Loureiro, tão pouco conhecidos e com um potencial de envelhecimento incrível, o que só é possível quando se fala de vinhos de grande qualidade. Além disso, acompanham muito bem pratos a base de peixes e frutos do mar, são leves e com dosagem alcoólica baixa, o que faz deles mais agradáveis e refrescantes no verão.
Outro questão que sempre me chamou atenção, foi o fato de que os melhores e mais bem estruturados vinhos brancos produzidos pelo mundo, provêm de países frios, onde seu consumo não está necessariamente associado aos verões tropicais, com muito calor, como os que temos por aqui. Podem tanto acompanhar uma refeição, ou descontraidamente escoltar um aperitivo com amigos, ou mesmo serem apreciados num momento de relaxamento e reflexão. São muito versáteis e amigáveis!  Portanto se você é daqueles que ainda não se deparou com o “seu” grande vinho branco, não perca por esperar. Dê-lhes uma chance e garanto que seu leque de prazer só irá aumentar.

Bem amigos, por hoje é só, porém esta semana ainda está bastante movimentada com o Encontro Mistral e a APAS, então muita coisa ainda por garimpar. Uma ótima semana para todos e seguimos nos encontrando por aqui. Salute, kanimambo e afora dia 15 com uma noite espanhola, dia 31 promoverei um Wine Dinner Luso, reservem essas datas de Maio pois valerá a pena, eu garanto!

Directamente da SISAB 2010

 Meus amigos, cá sigo minha sina navegando pelos corredores da SISAB conversando e provando, não sei qual é melhor! Visitando os stands tanto de produtores de queijo quanto de embutidos, a grita é geral quanto às barreiras fito-sanitárias brasileiras aos produtos portugueses. Aliás, a grita também é geral em função de toda a absurda burocracia (ou será burrocracia?) nas importações e alta carga tributária que faz com que o Brasil seja um dos países mais difíceis de serem trabalhados no mercado mundial. Protecionismo disfarçado que só complica e encarece os produtos que nós consumidores compramos. Enfim, deixem-me lhes contar um pouco do que vi ontem (23) e que vocês lerão aqui nesta Quinta-feira, dia em que a feira já terá se encerrado.

Altas Quintas – Produtor Alentejano bem conhecido em Terras Brasilis onde é importado e distribuído com exclusividade pela Decanter. Dois lançamentos aqui em Portugal que já chegaram ao Brasil e em breve deverão estar disponíveis nas lojas.

  • Mensagem 2007 – um vinho elaborado com 100% trincadeira de 600metros de altitude que passa 12 meses em barrica. De nariz é tímido e algo químico, porém cresce muito na boca mostrando-se muito rico, taninos sedosos, ótima acidez e um vinho realmente sedutor. A casta é complicada de trabalhar sozinha, mas o produtor conseguiu um grande resultado.
  • Obsessão2004 – 80% de Alicante Bouschet com Trincadeira, 18 meses de barrica e 3 anos em garrafa antes de chegar ao mercado. Com reduzida produção, foi lançado em Outubro de 2009 e já em Novembro se havia esgotado. Dos poucos no mercado internacional que puderam importar o produto, a Decanter e o padrinho do vinho ao qual deu o nome, o Adolar.

Belos vinhos de um produtor já conhecido por seus produtos de qualidade.

Luis Pato II – Só um adendo ao meu comentário anterior sobre os novos vinhos A.M. , provei or três. O Branco é muito sutil e delicado, fresco e equilibrado; o tinto é diferente, talvez um pouco mais complicado de harmonizar, mas bem saboroso por si só; o Rosé, para meu gosto o mais divertido e vibrante dos três, talvez o vinho desta família que mais surpreende. Vinhos a conferir e que eu recomendo, esperando que o preço seja condizente.

Ervideira – Um produtor de vinho Alentejano com uma vasta linha de produtos. Provei um Antão Vaz com leve passagem por madeira  (Conde d’Ervideira Reserva Branco) e recém engarrafado (ainda sem rótulo) que é de muita qualidade. Seu Tinto Reserva é também um grande vinho e hoje pego dois ou três outros vinhos que levarei ao Brasil para uma degustação mais detalhada. Hoje trabalha no Brasil via Mercovino em São Paulo e a Domaine Montes Claros em Fortaleza. Breve, espero, também deverá estar nas prateleiras da Vino & Sapore (eheh)

Adega Mayor – adega pertencente ao grupo de café Delta, com azeites vinhos de muita qualidade. A linha de vinhos é composta de dois brancos com um mais “básico” resultado de um corte de Roupeiro/Antão Vaz/Arinto e Fernão Pires sem madeira só passando por inox com fermentação em câmera fria, um vinho  saboroso, frutado e fresco, mas é o Reserva do Comendador, que passa por seis meses de estágio em madeira nova francesa, o grande vinho branco da casa demonstrando muita sofisticação,complexo e de ótima acidez que pede comida.

Nos tintos; um vinho de gama de entrada interessante e bem feito bom para o dia-a-dia, um Touriga Nacional diferenciado menos floral e macio e, mais uma vez, é o Reserva do Comendador 2006, corte de Trincadeira, Aragonês e Alicante Bouschet com 18 meses de garrafa e um ano de garrafa que impressiona por seua elegância e ausência de super extrações, taninos macios e um final com notas de café muito sedutor.

Olho neste pessoal!

Queijo da Serra – quem nunca comeu não sabe o manjar dos deuses que é este queijo artesanal produzido na região da Serra da Estrela (norte de Portugal) elaborado com leite de ovelha e amanteigado. Tradicionalmente, corta-se a casca acompanhando a circunferência superior do queijo e retira-se a “tampa” servindo-se o queijo com uma colher. Comido com torradinhas e, preferencialmente, acompanhado de um bom vinho do porto ruby, é de babar. Eu babei, mais uma vez, e desta feita com o saboroso queijo da Queijaria Flor das Beiras.

 Por hoje é só, amanhã tem mais. Salute e kanimambo.

Em Directo da SISAP 2010

como diriam os amigos da imprensa portuguesa. Pois bem, cá estou na linda Lisboa que mostra uma modernidade a que os turistas que por aqui passam poucovêm já que se limitam a visitar a parte mais antiga da capital portuguesa. Sobre isso, no entanto, comentarei mais tarde, hoje quero só dar algumas curtas noticias do pouco que vi ontem com alguns furos de reportagem. Hoje tem muito mais e não é só vinho não!

Luis Pato – é, o mestre também está por aqui e me mostrou algumas novidade que estão por chegar ao Brasil pelas mãos da Mistral.  Um espumante de Maria Gomes (a cepa) e três vinhos de sobremesa sob a mesma bandeira (marca) a A M (abafado molecular) nas versões branco, rosé e tinto todos com um toque de Baga, sua marca registrada, e teor alcoólico em torno dos 10 a 11% e, de acordo com ele, muito boa acidez para balancear a doçura do vinho. Como exemplo, me disse que o rose está com 12 de acidez para 180grs de açúcar residual e no branco 7,5 para 136grs. Não provei, mas é algo d novo a ser conferido.

Henriques & Henriques Bual 15 anos – um dos néctares provados na Expovinis de 2009 e um de meus Best in Show.  Este estupendo produtor de vinhos Madeira estava com a Expand, não está mais, e descobri que acabaram de assinar com a Zahil, oba!!! Também provei o néctar e realmente é impressionante, um daqueles vinhos que podemos passar largos momentos somente cheirando-o para depois sorver pequenos e extasiantes goles deste verdadeiro elixir dos deuses. Boa noticia e um grande vinho.

Porco Preto – uma iguaria portuguesa que poucos no Brasil conhecem e sobre o qual ainda falarei em mais pormenores, porém um manjar dos deuses que os amigos que aqui vêm não devem deixar de provar. Seja no formato de presunto cru, rivaliza com os melhores italianos e espanhóis, seja em churiços, paios, painhos e outras coisas tais. Imperdível e por aqui na SISAB vi muito!

Alimentos – por trás de normas e dificuldades impostas pelo governo brasileiro à importação de queijos e embutidos, nos vemos desprovidos de algumas das delicias que por cá existem. Interessante que estes produtos portugueses sejam exportados para o mundo inteiro (EUA, Reino Unido,França, Austrália, Japão, Alemanha, etc) e no Brasil as dificuldades são imensas e os caminhos dos mais tortuosos. Algo que, a meu ver, deveria receber das autoridades portuguesas um enfoque especial nas conversas e negociações entre estados pois, pelo para mim, fica claro que são barreiras alfandegárias impostas sob um disfarce duvidoso de proteção á saúde do consumidor.

AZAL – delicia de azeites gourmet que estavam no Brasil (RJ) nas mãos da C-Trade mas que agora chega em São Paulo pelas mãos da Allfood. Esse, podem crer, estará nas prateleiras da Vino & Sapore, esperem e verão. Muita qualidade e eu me apaixonei pelo Terra, produção orgânica, uma de-li-cia!!! Como diz seu logo, azeites com alma e digo mais, com personalidade e respeito pela natureza.

Amanhã ou depois tem mais, já que tenho mais dois dias de feira, mas a reportagem completa só na minha volta. Salute de terras lusas e kanimambo pela visita.