Filipa Pato – Vinhos de Autora

Filipa Pato IIINunca tinha estado frente a frente com Filipa Pato, mas muito já tinha ouvido falar. Sou consumidor de seus vinhos, especialmente do Ensaios tinto e do agradabilíssimo 3b, um espumante rosado delicioso. Todos falam de sua beleza e jovialidade, já eu me impressionei mesmo foi com sua presença, pequenina em tamanho, mas grande em paixão pelo que faz, por aquilo que elabora. Fica com dois metros de altura quando começa a falar empolgadamente sobre seus vinhos, seus projetos e sua família.  Se o pai, Luis Pato, é o mestre da Bairrada e domador da Baga, ela deveria ser conhecida com a “pequena notável” com seus projetos arrojados e desafiantes como, agora com seu marido, William, em uma nova empresa, os “Vinhos Doidos”. Aqui dará vazão a toda sua irreverência e criatividade na elaboração de vinhos diferenciados, mas isso é outra história. Por enquanto vamos de vinhos “menos doidos” produzidos de uvas e vinhedos controlados por ela com uma produção atual em torno de 68.000 garrafas e com capacidade de chegar a umas 100.000. Volume pequeno e alta qualidade, uma equação que nos tem dado vinhos muito agradáveis, para dizer o mínimo. Já mencionei neste blog, que Filipa é uma estrela com luz própria, agora confirmo e complemento a frase, em plena ascenção. 

            Desta feita fui convidado para um jantar com apresentação de seus vinhos, com maior foco no FLP, um branco doce bastante interessante, sobre o qual falarei mais adiante. Saí do restaurante, no entanto, encantado com sua obra como um todo. Que belos vinhos, a começar pelo delicioso 3b um espumante que é assíduo visitante aqui em casa e que já recomendei por diversas vezes. Este, no entanto, é de 2008 e está ainda mais fresco e vibrante, bem do jeito que é a autora. Tenho que comprar mais umas garrafas, até porque as minhas já acabaram.

            Ensaios brancos 2008, corte de Bical e Arinto que passa um mês fermentando com leveduras indígenas, pareFilipa Pato 001 em tanques de inox e parte em madeira. Aromas delicados, de boa intensidade, muito fresco, saboroso, cítrico e mineral, tem um final de boa persistência que convida á próxima taça. Uma ótima opção como aperitivo e boa companhia, certamente, para umas pataniscas de bacalhau ou sardinhas na brasa.

            Lokal Silex 2004, um vinho divino que não conhecia. Dizia Filipa, que o vinho ficou muito duro quando elaborado e que ela buscava algo mais elegante. Pois bem, não sei como ele era, mas sei que está delicioso e elegante Filipa Pato 005ao atingir a maturidade após cinco anos de vida, devendo crescer mais ainda com mais uns dois ou três anos de garrafa, quem sabe mais. Fermenta em inox e depois passa um ano em balseiros de 2.000 litros. É um corte de Touriga Nacional (85%) e Alfrocheiro produzido no Dão em uma pequena localidade de onde se avista a Serra da Estrela. O vinho me seduziu tendo, a meu ver, sido o vinho da noite. Nos aroma é bem frutado com leve floral (violeta) bem típico dos vinhos do Dão com forte presença da Touriga Nacional e nuances achocolatadas depois de um tempo em taça. Aos cinco anos, mostra-se ainda jovem com taninos finos ainda bem presentes, mas já sem qualquer agressividade, tomando-se muito bem sendo que este passou um tempinho em decanter, essencial para o poder apreciar em toda sua plenitude.  È retinto na cor, escuro, muito equilibrado, denso com bom volume de boca, rico, aveludado com um final algo especiado e bastante longo. Encanta a forte presença mineral em boca sendo um vinho que, apesar de ter se dado bastante bem com o bom rosbife servido, deverá se apresentar melhor acompanhando pratos mais robustos. Um vinho que acaba rápido em taça e deixa saudade.

            FLP 2008, um vinho doce de sobremesa com apenas 12% de teor alcoólico num estilo algo alemão, produzido com seu pai Luis Pato. Elaborado com Sercealinho (cruzamento de uvas Serceal com alvarinho com mais de 20 anos de idade só disponíveis nas terras de Luis Pato), Serceal e Bical pelo processo de crio-extração que consiste em congelar o mosto das uvas obtendo-se maior concentração. Com baixo teor alcoólico, cerca de 100grs de açúcar Filipa Pato 007residual e uma acidez em torno de 7 a 8grs, é gostoso, saboroso e com bom frescor, aromas sutis e delicados, boa persistência e, de acordo com Filipa, um vinho que deve crescer com tempo em garrafa. Tenho que confessar que não chegou a me encantar como vinho de sobremesa. Brinquei com a Filipa, de que seria um vinho para o chá da tarde, e é assim que o vejo. Um vinho leve, saboroso, fácil de agradar para juntar amigos e amigas num bate-papo descontraído ao entardecer. Para o final de uma refeição, o recomendaria com uma salada de frutas e uma bola de sorvete de baunilha. Foi servido com uma tradicional sobremesa de Romeu e Julieta (estávamos no Dalva & Dito, novo restaurante de Alex Atala com cozinha brasileira) em que o mestre adicionou uma bola de um sorvete de goiaba bem leve, salvando a harmonização com essa incrível liga com o vinho. A Filipa também o recomenda com cozinha oriental, sendo o Japão um dos principais importadores deste saboroso vinho. Eu fiquei pensando aqui com meus botões, será que não harmonizaria legal com Pato c/Laranja?! Acho que terei que fazer o sacrifício (rsrs) e fazer esse teste.

            Antes de finalizar, queria tecer meus comentários sobre algo além do vinho, mas que me chamou a atenção. A relação entre pai e filha. O amor, o respeito e a admiração um pelo outro são algo digno de salientar e não muito comum nos dias de hoje. Talvez isso tenha sido o que mais me marcou ao ouvir Filipa falar sobre seu pai nessa noite e ao Luis Pato falar de sua filha em outros momentos. Brindo à longevidade dessa admiração mútua com uma taça de 3b da Filipa e outra do novo espumante de Touriga Nacional do Luis Pato. Afinal, porquê se contentar com uma quando podemos aproveitar da maestria dos dois?! Os vinhos da Filipa Pato são de exclusiva distribuição da Casa Flora.

Salute e kanimambo.