Vinhos Elegantes, Uma Exclusividade do Velho Mundo?

Esse é um tema que certamente acirra discussões, porque o próprio conceito de vinhos elegantes não chega a ser unanimidade. Em matéria escrita por Alexandre Lalas para a Revista Adega em 2012, essa matéria é amplamente explorada por ele com muita sapiência e fonte de inspiração para este post. Vejamos, no entanto, qual o significado dessa palavra no nosso cotidiano antes de fazer essa liga com nossa vinosfera.

  • De acordo coma Wikipédia – Elegância é a qualidade do que é elegante e, portanto, possui uma certa harmonia caracterizada pela leveza e facilidade na forma e movimento. É o atributo de ser eficaz e simples.
  • Paul Válery (filósofo, escritor e poeta francês) – Elegância é a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado subtil de se deixar distinguir.
  • Dicionário Priberam – Elegância é graça, airosidade, delicadeza e distinção aliada à simplicidade e clareza.

·        No vinho, a elegância poderia ser descrita como “sutileza e complexidade, harmonia, em que o equilíbrio e expressão do terroir se encontram de forma a ressaltar as diferenças, sendo a essência do caráter do mesmo”

O oposto dessa decantada elegância são os vinhos “de grande potência, extração, robustos e exuberantes com grande concentração de fruta e madeira”

Essa discussão, conforme expresso pelo renomado enólogo  australiano John Duval, é uma discussão estéril. “Nas décadas de 1970 e 80 até havia certas diferenças entre o que se fazia na Europa e nos Estados Unidos e Austrália, porém hoje em dia não mais. Há vinhos feitos no Velho Mundo que são robustos, austeros e musculosos enquanto outros no Novo Mundose mostram elegantes e finos. Tem mais a ver com o Terroir e o desejo do Enólogo”. A meu ver, mais do que tudo isso tem a ver com o mercado; seus movimentos e tendências. São as demandas do mercado como um todo que tendem a indicar os caminhos e cada vez mais, os grandes produtores tendem a seguir com a maré! Já os menores, com menos dependência dos mercados externos e mais voltados a vendas regionais, tendem a se manter mais fiéis a suas origens e tradições.

Por outro lado e a meu ver, há a possibilidade, sim, de uma mescla de potência e concentração, com sutileza, complexidade e equilíbrio, um vinho musculoso, mas de casaca e de fino trato! Na verdade, a busca pela elegância é algo que a maior parte das casas produtoras tem em mente face a mudança consumista de uma série de mercados que cansaram um pouco do excesso de modernidade e concentração. Conforme os mercados vão evoluindo, os paladares vão ficando mais exigentes e as “bombas”, independentemente se vêm do Velho ou Novo Mundo, tendem a perder seu impacto inicial como aconteceu, por exemplo, com os vinhos do Priorat (Espanha) num passado não tão distante.

Elegância não é portanto, uma exclusividade do Velho Mundo e sim uma exigência de boa parte do mercado consumidor. Pessoalmente acho a elegância imprescindível em tudo, inclusive no vinho. Há momentos para tudo, mas os vinhos elegantes possuem um “papo” bem mais interessante e complexo que me agradam sobremaneira. Food for thought, diriam os ingleses e o tema é controverso, porém fica aqui minha pergunta; que estilo de vinho você merece?

Salute, kanimambo e vejo você por aqui ou na Vino & Sapore onde dou “plantão” diariamente.