Argentina Dia Dois – Regiões, Características e Vinhos de Salta

Um pouco mais de 206 mil hectares plantados dos quais 95% na região de Cuyo que inclui Mendoza, San Juan e La Rioja, cerca de 3 % na região Norte que abrange Catamarca, Salta e Tucuman e na Patagônia o restante, 2%. Como vemos, uma tremenda concentração. Alguns dados que nos foram fornecidos eu não conhecia e outros só comprovei, porém gostaria de compartilhar alguns desses dados com os amigos e, se quiserem ler algo mais sobre os vinhos dessa região, eis links para uma série de posts sobre minhas experiências por lá há dois anos:

1 – Cada região e sub-região produz um pouco de tudo, porém a grosso modos algumas uvas se destacam mais em algumas regiões. Desta forma:

  • Mendoza – gera melhores Malbecs, Cabernet Sauvignons e Bonarda
  • San Juan – ótimos Syrahs
  • Patagônia – destaque para os Pinot Noir e os Merlots
  • Salta – grande ênfase na Torrontés porém ultimamente tem gerado ótimos Tannats e os já conhecidos bem estruturados Malbecs de grande altitude.

WofA map_english2 – Bonarda é um clone da uva francesa Corbeau, novidade para mim! Sabia que não tinha nada a ver com a cepa de mesmo nome italiana, porém essa origem me era desconhecida.

3 – Torrontés – esta emblemática cepa branca argentina é uma mutação de uva Criolla com a Moscatel de Alexandria. Mais uma que aprendi.

Isso e muito mais escutamos na palestra dobre a vitivínicultura argentina apresentada na inusitada Casa Umare, um hotel boutique único e exclusivo. Se quiser paz e sossego (sequer nome na porta tem!) com requinte, ótimo restaurante com sofisticada culinária e cave idem, este é o lugar e desde já o convido para um passeio virtual pelo seu site. Logo após, uma mini-feira com alguns produtores de Salta já que não conseguiríamos ir lá nesta viagem. Revi alguns e conheci outros mas eis um resumo com os vinhos que, para mim, se destacaram.

Colomé – três vinhos da bodega Amalaya que faz parte do grupo e está localizada em Cafayate. O bom e extremamente competitivo Riesling com Torrontés, o Dolce Late Harvest e o que mais me chamou atenção; o Corte Único. Este último é novo, blend de 90% Malbec e o restante de partes iguais de Cabernet Sauvignon e Tannat com madeira bem integrada, muita fruta e ótimo frescor. Tomei outros, porém foi o que melhor acompanhou meu almoço.

El Porvenir – trouxe 4 vinhos e parte deles já os conhecia de minha viagem a Salta em 2012. Dois Torrontés sob a marca Laborum, um com passagem em madeira e o outro não, tendo este último me agradado mais. O Laborum Tannat estava bom mas sua linha abaixo (Amauta) me pareceu melhor e o Amauta Corte III de Malbec com Cabernet Sauvignon mostrou ótimo volume de boca e equilíbrio, o meu destaque do que provei deles nesse dia.

Tukma – uma enorme surpresa pois nunca tinha ouvido falar deles ou seus vinhos. Vinhos de grande altitude numa região de muita pedra e um produção limitada a cerca de 120 mil garrafas. Um Sauvignon Blanc muito marcante produzido a 2670 metros de altitude, em Jujuy já quase fronteira com a Bolivia, mostrando grande mineralidade, aromas intensos e sabores explosivos na boca, em garrafas de 500ml devido á pouca produção, um Cabernet Reserva muito interessante um Cabernet Reserva muito interessante e um ótimo Gran Corte de apenas 5 mil garrafas. Agora, o que realmente fez minha cabeça foi o incrível Torrontés Tardio, um vinho extremamente saboroso, equilibrado, fresco e bem feito que me deixou querendo mais! Tivesse ele algumas garrafas lá e eu certamente compraria pois seria um ótimo encerramento para o final de minha Degustação da Mala no próximo dia 18.

Bodega el Esteco (mais conhecida aqui por Michel Torino) – vieram com apenas dois rótulos mas de grande nível. O Altimus eu já conhecia e há anos é um de meus blends (Malbec/ Merlot/ Cab. Sauvignon e Bonarda) preferido da Argentina com um preço razoável (creio que está casa dos R$125 a 140), mas me chamou muito a atenção seu novo lançamento o El Esteco Malbec 2012, belo vinho! Barricas muito bem usadas (12 meses), só de 2º e 3ºuso, menos extração, taninos sedosos e de muita qualidade, fresco e muito apetitoso com leve toque de especiarias, marcante e muito longo.

Para completar, um ótimo almoço na Casa Umare acompanhado desses vinhos e de todos os representantes das bodegas presentes. Mais uma festa de sabores e a qualidade que já é marca registrada da WofA em todos esses eventos que ela organiza.

À noite tinha mais, tinha tango no tradicional Café los Angelitos e o Deco conseguiu que levássemos uma garrafas que tínhamos comprado no dia anterior lá no Joaquin Alberdi. Mais uma série de ótimos vinhos onde o destaque, para mim, ficou com os ótimos Monte Cinco Petit Verdot e o Monteagrelo Cabernet Franc, show de bola porém não tomei nota, estávamos no tango, mas deixaram marcas!!

Mais um slide show (clique na imagem) com algumas fotos desse dia. Nos próximos vou postando um pouco mais dessas experiências e a próxima parada, Neuquen, Patagônia. Salute, kanimambo e até lá.

casa-umare

De Volta à Argentina – os Vinhos de Cafayate

      Em função do “paro” em Buenos Aires nosso voo para Mendoza rodou então ficamos uma dia a mais no pedaço, mas aproveitamos bem. Algumas surpresas, uma revisão de avaliação, quebra de preconceitos e vinhos de qualidade (mais de 65)  na taça, boas experiências vividas nestes últimos momentos de presença na região de Salta.

El Porvenir  – Enquanto estávamos na Felix Lavaque, tivemos a felicidade de receber a visita do Mariano Quiroga Adamo, jovem e talentoso enólogo da El Porvenir (recente nesta casa) um produtor de médio porte elaborando cerca de 400 mil litros anuais dos quais 85% se exportam. Provamos três de seus vinhos, e muitos mais nos dias seguintes, porém vou deixar aqui minhas impressões sobre os que mais me chamaram a atenção entre os diversos bons caldos que habitaram minha taça nestes últimos dias na região de Salta.

Laborum Torrontés 2012 – já mencionei antes de que me surpreendi com a enorme evolução qualitativa dos Torrontés e este vinho só veio confirmar a regra. Uvas colhidas em três fases diferente de maturação resultam num vinho fino e elegante, fresco, frutado com toques cítricos e muito, mas muito saboroso.

Laborum Malbec 2011 – Nariz bem intenso e linda cor purpura, nos convidam a levar a taça á boca onde mostra um meio de boca muito bom e frutado, boa acidez e final bem longo e muito apetitoso! Vinho para curtir nas calmas, sem pressa para dar-lhe tempo de se expressar na sua plenitude. Um belo vinho.

clique para ver slide show II

San Pedro de Yacochuya – Confesso que fui com um pé atrás. Sei que é um marco da região, mas essa potência toda e super extração “Rollandistica “ não faz minha cabeça e numa degustação de há tempos já tinha me decepcionado com ele. Confesso que revi posição, mesmo não sendo meu estilo de vinho. Apenas 21 hectares aqui (+ seis em Tolombon  ), dos quais 8 hectares com mais de 100 anos. Michel Rolland é sócio comercial sendo responsável pela elaboração dos vinhos, porém não pelo estilo já que isso é uma filosofia dos irmãos  Marcos e Arnaldo Etchart. Maceração longa de 30/40 dias, uvas supermaduras, tudo busca o perfil superlativo que fez a marca deste produtor e projetou a região de Cafayate internacionalmente.

Coquena Tannat – provamos amostra de tanque deste vinho que vem do vinhedo de Tolombon e que deve estar por ser engarrafado. Mesmo não pronto, já mostrou qualidade e creio que deveremos estar diante de mais um bom tannat desta região e espero que chegue logo ao Brasil.

Coquena Malbec 2011 – na hora não me encantou, porém recentemente tomei uma garrafa que trouxe e me surpreendeu. Dependendo do preço a que chegar ao Brasil, pretende ser uma alternativa low budget da marca, vale a pena pois está muito equilibrado e as notas vegetais mais agressivas que senti na prova na bodega, deram espaço para notas mais frutadas bem saboroso e de bom volume de boca que é a assinatura da casa.

Yacochuya 2009 – 24 meses de barrica, especiarias bem presentes. Potente em boca, taninos ainda algo “amarrantes” na boca (muito jovem), untuoso, carnudo, para tomar de garfo e faca! Tenho, todavia, que rever minha posição sobre este vinho que me confirmou que tudo na vida merece uma segunda chance. Vinho potente sim, porém muito rico também e demonstra uma complexidade que não tinha conhecido na minha prova anterior. Para os amantes deste estilo de vinho, certamente um grande vinho com enorme capacidade de guarda.

El Transito – com uma capacidade de produção de cerca de 150 mil garrafas  produz uma linha algo mais comercial e um pouco rustica no estilo. Sua linha básica é bastante interessante, me atraiu mais, e fácil de gostar com especial destaque para o Cabernet Sauvignon 2009 com bom volume de boca, especiarias, frutas negras no nariz, taninos finos sem passagem por madeira.

Etchart – um gigante e um dos primeiros a estar presente por aqui. Comprado em 96 pelo grupo Pinot Ricard, esperava uma visita sem grandes surpresas, de vinhos fáceis sem grandes emoções e………me enganei redondamente. Vivendo e aprendendo que preconceito é uma …..! Enfim, são 450 hectares de vinhas e mais de 9 milhões de garrafas ano porém do que provei, muitas e boas surpresas, sem contar a hospitalidade e simpatia numa prova em baixo das árvores do lado da casa de hóspedes. Lugar lindo.

Torrontés, provamos três. O Privado é simples e fácil, o Reserva já mostra ao que vem, mas é o Etchart Gran Reserva Tinaje 2012 que mexe com a gente ou, pelo menos, comigo. Um dos melhores provados nesta viagem. Todo ele muito sutil e fino, leve floral com notas de pêssego no nariz. Na boca é delicioso e sedutor com notas de grama molhada recém cortada, alguma lima mostrando um frescor muito gostoso e de final longo.

Arnaldo B, um dos melhores custo x beneficio dos vinhos provados em todos os sete dias de viagem á Argentina. Caiu nosso queixo quando nos disseram que este vinho custa algo ao redor de R$50 a 60 no mercado brasileiro já que nossa percepção de valor foi bem superior a isso! É o vinho principal deles e provamos o 2008 que é um blend essencialmente de Malbec/Cabernet Sauvignon e Tannat, mas que no futuro próximo pode vir a receber o aporte de outras cepas. Elegante, fino, de bom corpo e ótima textura, untuoso e rico, daqueles vinhos que acaba muito rapidamente e uma garrafa sobre a mesa será certamente pouco, ainda mais a esse preço!

Amostras de barrica. O anfitrião e enólogo da casa, Ignacio Lopez, se entusiasmou e quis nos mostrar algumas de suas criações em processo de desenvolvimento. Eles estão experimentando coisas novas e nos deram o privilégio de provar algumas amostras. Das quatro variedades provadas (CS, Tannat, Bonarda e Ancelotta) curti muito o Tannat que apresentou um frescor e fruta muito interessante prometendo um futuro bem interessante tanto em blends como solo. Gamei no Ancelotta!! Fino, denso, notas achocolatadas, uma aposta do enólogo em algo novo na região (sugeri que ele visitasse alguns de nossos produtores no Sul) que vai dar o que falar, aguardemos. Em principio estes caldos devem vir para enriquecer ainda mais o Arnaldo B, porém não me surpreenderia se viesse também uma linha de varietais de alta gama.

      Por hoje é só, mas ainda tem a Vertical de Mas la Plana, mais posts sobre a viagem á Argentina que fiz a convite da Wines of Argentina, otras cositas más! Devagarinho retomo o ritmo do blog então kanimambo pela paciência e não se esqueçam, dia 17/04 é o Dia Mundial do Malbec, aguardem surpresas! Salute.