Côtes-du-Rhône

Famille Perrin, O Rhône Engarrafado!

Os vinhos da Famille Perrin estão entre nós já faz um tempinho, mas agora mudaram de casa e aportaram na Mistral. Eu sou fã desde que tive a oportunidade de desfrutar seu incrível Chateau de Beaucastel, um tremendo Chateauneuf-du-pape que com seus 12 a 15 anos é um verdadeiro néctar que nos seduz, um vinho que precisa de tempo para se expressar e mostrar todo seu esplendor, um tremendo prazer hedonístico. A linha de vinhos deles, no entanto, não se restringe a esse grande vinho entre os melhores da região e a Mistral nos convidou para conhecer um pouco mais desse portfolio.

Tristemente não pude comparecer em função de um problema particular que demandou minha atenção no dia, mas minha amiga e fiel escudeira e confreira Raquel Santos me representou com fidalguia e descreveu assim esse momento em que, mais que provar vinhos, teve uma aula sobre a região que ela agora compartilha conosco. Uma verdadeira viagem, valeu Raquel.

“Recentemente tive o privilégio de participar de uma degustação oficial de lançamento dos vinhos da Família Perrin, promovida pela Mistral, com a participação de Jacques Perrin, 4ª geração no comando da bela história do Château de Beaucastel que começou em 1909.

Foram pioneiros na agricultura orgânica e biodinâmica desde o princípio e tem expandido suas propriedades nas melhores regiões do Vale do Sul do Rhône, dentre elas em Gigondas, Vinsobres, Cairanne, Vacqueyras, Rasteau e Beaumes de Venise. Recentemente iniciou um projeto, com parceiros locais, no norte do Rhône, a Domaine et Maisons Les Alexandrins. Além do Rhône a família tem parceria no Château de Miraval, na Provence.

Quero aqui compartilhar com vocês essa viagem que percorre o Vale do Rhône do norte ao sul.

Os vinhos apresentados foram: 1. Maison Les Alexandrins Condrier AOC Blanc 2019. 2. Châteauneuf-du-Pape AOC Château de Beaucastel Blanc 2019. 3. Château Miraval Côtes de Provence AOC Rosé 2020. 4. Les Alexandrins Crozes Hermitage AOC Rouge 2018. 5. Château de Beaucastel Côte-du Rhône AOC Coudoulet de Beaucastel Rouge 2018. 6. Famille Perrin Vinsobres AOC Les Hauts de Julien Vieilles Vignes 2018. 7. Famille Perrin Gigondas AOC L’Argnée VieillesVignes Rouge 2018.8. Châteauneuf du Pape AOC Château de Beaucastel Rouge 2018. 

O Vale do Rhône está localizado entre os Alpes Suíços e o mar Mediterrâneo. Ao norte está a cidade de Lyon , que além de ser um polo industrial, também possui um entorno rural que abastece toda a região com uma produção agrícola de excelente qualidade. 

Ao sul está a cidade de Avignon que se desenvolveu quando no século XIV o papado mudou o castelo de Roma para a região e começaram a cultivar as primeiras videiras.

Se percorrermos os vinhedos que margeiam o rio Rhône de norte a sul, pode-se perceber uma grande diferença de clima, solo, e variedades de uvas.

Ao norte o clima é continental (Rhône Setentrional) com verões bem quentes e invernos frios. As videiras são plantadas em penhascos pedregosos de granito, entremeados de florestas de carvalho que refrescam o ar pela neblina fria ao amanhecer. A uva predominante é a Syrah. Resultam em vinhos robustos, de cor escura e longevos. Para os brancos, destacam-se a Marsanne, Roussanne e Vionier.

MAISON LES ALEXANDRINS CONDRIEU AOC BLANC 2019

Condrieu é considerada a melhor AOC do mundo para a uva Vionier e esse vinho é feito com 100% dela. Incrivelmente perfumado e mineralidade que reflete o solo de granito. Parcialmente fermentado e maturado em barricas de carvalho que aportam um ótimo corpo, enchendo a boca, com final longo e sensação de cremosidade.

LES ALEXANDRINS CROZES HERMITAGE AOC ROUGE2018

Esse vinho, feito com 100% de uvas Syrah, é praticamente uma aula da tipicidade desta casta. Ótima estrutura e equilíbrio entre o álcool, acidez e taninos bem finos. Suculento e cheio de frutas negras, evolui muito na taça, cheio de complexidade em boca e nariz.

Em direção ao sul (Rhône Meridional) podemos notar que à partir de Montélimar as características da região se transformam. O clima passa a ser mediterrâneo, com influências do mar. Os verões são quentes e o inverno ameno, mas às vezes chega a zero grau. Os ventos frios que vêm do sul (Mistral) fazem as chuvas serem fortes e rápidas, baixando a temperatura rapidamente à noite. Os vinhedos se expõem ao sol forte durante o dia, que também aquecem as pedras que cobrem todo o solo, protegendo as videiras do frio à noite. Outra característica importante é a diversidade do relevo que proporciona grandes variações mesmo em pequenas distâncias. Aqui predomina a uva Grenache que se junta com outras variedades, como as Mouvèdre, Cinsault e a Syrah. Das variedades brancas, encontra-se a Marsanne, Roussanne, Viognier, Clairette, Bourboulenc, entre outras, que são vinificadas para tintos, brancos e rosés.

Além das diversidades de solo e clima, a região do Rhône meridional, é mais recortada no que diz respeito às apelações de origem controlada. A mais conhecida delas é a Côtes du Rhône, usada genericamente. As denominações que indicam o nome das comunas provenientes agregam um fator de maior qualificação. É o que acontece no caso do Côtes du Rhône-Village, que representa 95 comunas (départament) com 22 podendo aparecer no rótulo e outras como Châteauneuf-du-Pape, Gigondas,Vinsobres, Rasteau, etc…

CHÂTEAUNEUF-DU-PAPE AOC CHÂTEAU DE BEAUCASTEL BLANC 2019

Um vinho branco proveniente desta AOC, é sinônimo de alta qualidade. Elaborado com 80% de uvas Roussanne, e poucas porções de outras brancas autorizadas da região, resulta num vinho particular. Quando jovem (entre 3 a 4 anos), mostra notas aromáticas, suaves e florais com um toque salino. Em boca é bem encorpado, e potente. Depois desse tempo foi-nos aconselhado guardar em adega e só consumir depois de 10 a 12 anos. Esse tempo faz com que ganhe profundidade e complexidade.  

CHÂTEAUNEUF-DU-PAPE AOC CHÂTEAU DE BEAUCASTEL ROUGE 2018

A comuna do  Châteauneuf-de-Pape é considerada umas das melhores parcelas de produção de uvas em todo Vale do Rhône. Aqui são permitidas 13 variedades de uvas para elaboração do vinho e o Château de Beaucastel está entre os produtores que utilizam todas elas, cultivadas organicamente desde 1960, por tradição. O resultado disso pode ser comprovado na taça, onde a qualidade excepcional, é reconhecida mundialmente. A elegância, o equilíbrio e a capacidade de envelhecimento, fez dele um ícone que nos convida para uma viagem  longa, cheia de capítulos emocionantes, marcando para sempre a vida de quem teve essa oportunidade. Um clássico!

FAMILLE PERRIN GIGONDAS AOC L’ARGNÉE VV ROUGE 2018

Elaborado com uvas de vinhedo com mais de 110 anos de idade, plantado em pé franco em terreno arenoso, é uma raridade e faz parte da linha “Séletions Parcellaires” da família Perrin. O corte da Grenache em maior proporção com a Syrah resulta num vinho único, potente e corpulento com muita elegância, taninos finíssimos e grande complexidade. Um vinho raro!

FAMILLE PERRIN VINSOBRES AOC LES HAUTS DE JULIAN VIEILLES VIGNES 2018

Outro vinho raro, de uma parcela minúscula, vinhedos com mais de 90 anos e o mesmo corte em proporções diferentes (50%Grenache 50% Syrah). Muito aromático, cheio de frutas e taninos aveludados. Mostra muito bem as características de cada casta, alternadamente, resultando num vinho de personalidade

CÔTES-DU-RHÔNE AOC COUDOULET DE BEAUCASTEL ROUGE 2018

Esse vinho possui uma particularidade interessante. Os vinhedos pertencem ao Château de Beaucastel, situado na AOC Côtes-du-Rhône (considerada mais genérica), separado pela estrada A7. Ou seja , do outro lado da via está a AOC Châteauneuf-de-Pape (considerada mais importante).

O vinho porém, mostra muito pedigree, com muita capacidade de envelhecimento. Um vinho enigmático que quebra paradigmas e não é raro causar controvérsias entre especialistas. Eu particularmente achei um vinho muito envolvente.

Ao sul do vale do rio Rhône chegamos ao mar Mediterrâneo onde ele desemboca. Em direção leste, debruçado no litoral, encontra-se a região da Provence. O clima ensolarado predomina e as temperaturas no verão podem ser altas. O vento  Mistral também tem forte influência no clima. Pode ser muito frio no inverno, vindo das neves alpinas e no verão refresca e seca o ar, protegendo as videiras da umidade marítima.

MIRAVAL CÔTES DE PROVENCE AOC ROSÉ 202

O Chateau Miraval se destacou na mídia pela sua ligação com celebridades da música e cinema. Em 1978 seu proprietário foi o pianista de jazz Jacques Loussier, onde montou seu proprio estúdio de gravação (Studio Miraval). Gravou com músicos como Pink Floyd, Elton John, Sting entre outros. Posteriormente, Tom Bove, empresário americano adquiriu a propriedade degradada, convertendo as vinhas lá existentes em produção biológica e ganhando reconhecimento internacional. Em 1993 lança o Pink Floyd Cuvée. Mais tarde se associou com o casal Pitt-Jollie e atualmente pertence apenas ao Brad Pitt que produz o Miraval Rosé juntamente com a família Perrin. Esse apelo mediático fez com que esse vinho fosse muito procurado em todo mundo, impulsionando positivamente o consumo do vinho rosé. Mas como só a mídia não se sustenta sozinha, a qualidade pode ser atestada nesse caso. Trata-se de um rosé bem ao estilo provençal, bem clarinho, delicado, discreto, com ótima acidez, boa estrutura, equilibrado e com um inconfundível aroma de lavandas que nos leva àqueles campos perfumados e ensolarados da região. Um show de vinho que nasceu para ser celebridade!”

Espero que tenham gostado, eu curti essa viagem junto com a Raquel apesar de minha tristeza por não ter podido participar. Kanimambo e nos vemos por aqui, saúde.

Côtes du Rhône, A França Esquecida – Degustação Temática

CAM00049   Quando falamos de vinhos franceses invariavelmente tratamos de Borgonha e Bordeaux, eventualmente os rosés da Provence e um ou outro rótulo do Languedoc, quem sabe do Loire, outra região de parco conhecimento. As Côtes du Rhône com toda a sua riqueza e incríveis vinhos é pouco lembrada até porque diversos rótulos Cotes du Rhône e Cotes du Rhône Village de baixa qualidade inundaram o mercado durante bom tempo denegrindo a marca como já foi feito com outras regiões produtora no mundo como Valpolicella e os vinhos alemães. Nossa proposta, em parceria com a Decanter, é abrir essa região para você mostrando alguns rótulos dos mais diversos preços e gamas de qualidade escolhido por mim. ´Como sabem, sou um seguidor da máxima de Alexis Lichine de que; “No que se refere a vinho, sempre recomendo que se joguem fora tabelas de safras e manuais investindo num saca-rolha. Vinho se conhece mesmo é bebendo! “, então montei esta degustação temática no próximo dia 13 de Agosto às 20 horas na Vino & Sapore. Um pouco de teoria com muiiiita prática explorando os incríveis sabores do norte e sul do Rhône.

  • Condrieu – Com apenas 90 hectares de vinhedos, é uma região onde se encontra a quintessência da uva Viognier (branca), única uva que é permitida pela AOC situada bem ao norte da região, pouco abaixo de Cote Rotie – Amour de Dieu 2011 ,(R$298,00) de Jean-Luc Colombo é um desses bons exemplares a que a que a Wine Spectator deu 93 pontos.
  • Côtes du Rhône – um básico que cobre diversos terroirs na região e que pode ter os mais diversos níveis de qualidade. Há de tudo no mercado, porém nas mãos de um bom produtor como o Chateau Saint Roch 2009 (R$75) esta pode ser uma denominação com qualidade.
  • Lirac – Sul do Rhône e um outro perfil de vinho. Aqui reinam a; Grenache (min. 40%), Syrah e Mouvédre (min. juntas 25%), Cinsault e Carignan sendo a maioria tintos. Vinhos complexos, que precisam de quatro a cinco anos de garrafa para mostrar todas as suas virtudes. Este exemplar Saint Roch Lirac 2009 (R$105) é um vinho que surpreende quem tem pouco relacionamento com a região.
  • St. Joseph – Ainda no norte do Rhône, uma região onde a Syrah impera solo mostrando toda a sua exuberância. O Brunel de la Gardine St. Joseph 2007 (R$145,00) é um bom exemplo dos bons vinhos da região elaborados com esta uva que tem sua origem aqui mesmo, no Rhône.
  • Chateauneuf-du-Pape – no sul, tendo como epicentro a cidade de Avigon, talvez a região do Rhône mais conhecida de todas em que 13 uvas produzem alguns dos melhores vinhos franceses. Tanto nas versões branco como tinto, são vinhos vigorosos, comumente de alto teor alcoólico, marcantes que necessitam de muito tempo em garrafa para mostrar toda a sua personalidade. O Chateau de la Gardine 2007 (R$298) é um exemplo do que esses vinhos podem nos dar de prazer.
  • Cote Rotie – Célebre pelo corte de Syrah com Viognier, é uma AOC com apenas 200 hectares de vinhedos localizada no extremo norte da região que produz vinhos esplendorosos e tradicionalmente caros. Um dos grandes vinhos da região é o La Divine de Jean-Luc Colombo 2008, (R$503,00) um vinho de longa persistência, na memória!Sorry sold Out

O custo de investimento nesta degustação temática com grandes vinhos a ser realizada no próximo dia 13 de Agosto, será de R$120,00 por pessoa, pagas no ato da reserva. Serão disponibilizadas apenas 14 vagas, então não deixe para a última hora porque você pode não mais achar lugar. Ligue no Tel. (11) 4612-1433, envie e-mail para comercial@vinoesapore.com.br ou me contate via o blog garantindo logo seu lugar nas Côtes du Rhône!

 

Rhone Valley map-1

Rhône e seus Vinhos na Confraria Saca Rolha

Mais uma vez a amiga e confreira Raquel Santos nos relata sua experiência em mais um agradável encontro desta nossa gostosa Confraria. Mais que os vinhos, a oportunidade de pelo menos uma vez por mês podermos desfrutar da companhia dos amigos. Desta feita “viajamos” para a região de Côtes-du-Rhône na França e, para variar, uma diversa e saborosa seleção de rótulos culminando com uma soberba surpresa! Vejamos o que a Raquel tem a nos dizer:

  “O vale do rio Rhône, está localizado entre os Alpes Suíços e o mar Mediterrâneo. Ao norte, está a cidade de Lyon, que além de ser um polo industrial, também possui um entorno rural que abastece toda a região com uma produção de excelente qualidade. Ao sul, está a cidade de Avignon, que se desenvolveu quando no século XIV o Papado mudou o Castelo de Roma para a região e começaram a cultivar as primeiras videiras.

Mapa do Rhone - Dobra Vinoteka

Percorrendo os vinhedos que margeiam o rio Rhône de norte a sul, pode-se perceber uma grande diferença de clima, solo, e variedade das uvas. Ao norte, (Rhône Setentrional), o clima é continental com verões bem quentes e invernos frios. As videiras são plantadas em penhascos pedregosos de granito, entremeados de florestas de carvalho que refrescam o ar pela neblina ao amanhecer. A uva predominante é a Syrah. Resultam em vinhos robustos, de cor escura e longevos. Para os brancos, destacam-se a Marsanne, Roussanne e Viognier.

 Desta região, degustamos um “ Brunel de la Gardine” – 2007 – da região de St-Joseph.

        Syrah 100%, aparentemente um pouco fechado, mas aos poucos foi mostrando uma riqueza de aromas e sabores que seduziu os mais incrédulos. Talvez pelo equilíbrio, ficou mais difícil identificar uma característica isolada. Aromas de frutas, frescor e um leve defumado, alternavam-se com com a textura macia na boca sem perder intensidade.

        Continuando o passeio, em direção ao sul, (Rhône Meridional), podemos notar que à partir de Montélimar as características da região se transformam. O clima passa a ser mediterrâneo, com influências do mar. Os verões são quentes e o inverno ameno, mas as vezes chega a 0 grau. Os ventos frios que vem do sul (Mistral) fazem as chuvas serem fortes e rápidas, baixando a temperatura rapidamente à noite. Os vinhedos se expõem ao sol forte durante o dia, que também aquecem as pedras que cobrem todo o solo, protegendo a videira do frio à noite. Aqui predomina a uva Grenache que junto com a Mourvèdre, Cinsault, e também a Syrah. Das variedades brancas, encontra-se a Marsanne, Roussanne, Viognier, Clairette, Bourboulenc, entre outras que são vinificadas para tintos, brancos e rosés.

Clipboard Rhone

            Além das diversidades de solo e clima, a região do Rhône meridional, é mais recortada no que diz respeito às apelações de origem. A mais comum delas é a de Côtes du Rhône, usada genericamente. As denominações que indicam o nome das comunas provenientes, representam um fator de maior qualificação. É o que acontece no caso dos Côtes du Rhône-Village, que representa 95 comunas qualificadas.

Degustamos o “Clos Petite Bellane“-Valreas –  Um Côtes du Rhône-Village de 2007.

Logo já percebemos um aroma bem frutado, característica das castas mediterrâneas (Grenache/Syrah). Boa acidez, taninos presentes, porém delicados. De médio corpo e mostrou muita evolução na taça. Aromas herbáceos com algumas especiarias (pimenta verde e anis).

De outras duas pequenas propriedades (Cru), incrustradas entre Côtes du Rhône e Côte du Rhône-Village, foram degustados:

“Château Saint Roch Brunel” – Lirac -2008.

Aromas florais e frutas vermelhas. Bom equilíbrio entre acidez, taninos e extrato. Madeira bem incorporada. Corte de Syrah/Grenache/Mourvèdre.

Domaine la Monardière Les 2 Monardes” – Vacqueyras -2006.                                                            

Ataque floral, sobrando um pouco de álcool. O mais austero deles. Acidez e taninos bem  incorporados que alternavam com um sabor picante e frutas doces e maduras. Aromas que evoluíram bem na taça.

          Ainda circundando a região do Rhône Meridional, não poderíamos deixar de conhecer a região icônica de Chateauneuf du Pape. Conhecida não só pela sua história, mas também pela qualidade, produz vinhos com até treze castas, embora, na prática, nunca se utilize todas elas. A Grenache domina nos tintos. Os brancos, produzidos em menor quantidade, são encorpados e estruturados, com aromas delicados e grande persistência gustativa. A região demarcada fica ao norte de Avignon, onde está localizado o Castelo Papal de verão em ruínas. O clima é muito árido, pedregoso, onde só os arbustos de lavanda e tomilho selvagem, sobrevivem ao vento e a grande amplitude térmica do dia. Foi com grande prazer que conhecemos dois exemplares desse terroir:

“Domaine Font de Michelle” – 2010–

Elaborado com 70% Grenache/10% Syrah/10% Mourvèdre/10% outras: Cinsault/Counoise/Terret/Muscardin. A primeira sensação no nariz, é de frescor, ervas  aromáticas (alecrim/tomilho) e florais. Na boca, revelou-se voluptuoso, apesar de ser jovem. Me pareceu um pouco tímido (sem ser um defeito), necessitando que déssemos mais tempo a ele. Elegante muito bem equilibrado, com vocação gastronômica pela acidez bem incorporada. Grande potencial de guarda.

“Château de Beaucastel” – 2001

Essa preciosa garrafa veio da adega dos amigos Luiz e Ana, que gentilmente nos presenteou. O Beaucastel, juntamente com o Clos des Papes, são os únicos que ainda usam as 13 variedades das castas permitidas em Chateauneuf du Pape. Diferentemente do anterior, já mostrou todo seu potencial de prazer! Muito aromático (flores, frutos vermelhos silvestres, fruta seca, amêndoas, baunilha, etc….etc….e etc….). Na boca confirmava todas essas qualidades com muita elegância, mostrando através da rica paleta gustativa, as cores, sabores, e cheiros daquela paisagem.

O vale do Rhône  tem a questão do clima muito presente. Através dos seus vinhos pode-se viajar, como num filme, que nos conta a história e ensina a cultura de uma civilização. E o melhor dessa historia é quando nos identificamos com ela e temos a impressão que também podemos pertencer um pouquinho à tudo aquilo.

 Basta descobrir o caminho das pedras. “.

Vidal Fleury, Aqui e no Viva a Granja

               Fui convidado pelo Marcio, editor do portal Viva a Granja, a escrever uma coluna de vinhos no site que fala das coisas de minha querida Granja Viana onde vivo já faz 28 anos e encontrei meu shangrilá neste mundo louco que é a São Paulo metropolitana. Toda a segunda-feira publicarei matéria quase sempre inédita e que, posteriormente, virá parar aqui no blog. Alternando dicas e comentários de vinhos com wine education, iniciei minhas atividades como colunista nesta última Segunda (28), falando de uma saborosa degustação que tive a honra de participar, em que traçamos 11 rótulos da Vidal Fleury que agora nos chega pelas mãos dos competentes amigos da Vinea.

              Dentro de minha filosofia de garimpar o mercado por aqueles vinhos que nos oferecem mais do que o valor pago, ou pelo menos geram essa percepção, minha primeira matéria para o Viva a Granja, tratou de dois rótulos realmente imperdíveis em função da ótima relação Qualidade x Preço x Prazer. Desses, você vai ter que clicar aqui para ler mais, mas hoje quero falar de outros dois rótulos marcantes e que, a meu ver, talvez sejam os grandes vinhos da degustação.

             Provamos vinhos de R$56,00 a 560,00, todos muito bons. Um Condrieu muito bom, mas puxado no preço, um Côtes du Rhône básico muito saboroso por apenas R$56,00 (verdadeiro achado!), um Chateauneuff-du-Pape de muita qualidade, um estupendo Hermitage e dois Côte-Rotie (assemblage de Syrah com Viognier) que é um vinho que me encanta; o La Chatillonne 2004 que custa R$554,00 e o Brune et Blonde da mesma safra por R$328,00, ambos magníficos exemplares de Côte-Rotie mas tenho que confessar que o que me deu maior prazer foi o mais barato que me seduziu pela incrível e complexa paleta olfativa que convida a levar a taça à boca onde o vinho nos traz um enorme prazer com seu bom equilíbrio, textura gostosa completada por taninos finos que compõem um conjunto de grande elegância com um final carnudo e mineral, um grande vinho que deixa, desde já, saudades. Para mim, o melhor vinho de todos eles, mas que matou o delicioso Entrecôte de Paris que foi servido. Do ponto de vista de harmonização, o Côtes-du-Rhône Village de apenas R$65,00 matou a pau!

           Dois vinhos, no entanto, me marcaram pois são vinhos de grande qualidade por um preço que, dentro do que nos entregam de prazer e satisfação, muito em conta. O Vacqueyras, aquele que meu bolso elegeria como o vinho do encontro, e o Crozes-Hermitage, dois belos vinhos numa faixa de preços bem competitiva se olharmos o que mais existe no mercado dessas AOCs.

Vacqueyras Rouge 2007, por R$109,00 um vinho realmente sedutor e, parafraseando aquele velho anuncio,  muito “bom de boca”. Assemblage de Grenache (50%) com Syrah e Mourvédre que mostra boa estrutura e harmonia montado sobre um tripé de acidez x álcool x taninos muito bem balanceados e sem arestas. Paleta olfativa sedutora com muita fruta, toque floral, alguma especiaria e nuances terrosas. Na boca é muito rico, bom volume de boca, taninos delicados de muito boa qualidade, harmônico, boa textura, médio corpo para encorpado, boa concentração e pasmem, somente 13.5% de teor alcoólico, com um final de boca muito apetecível e longo que deixa aquela vontade de quero mais na taça. Fico pensando nele acompanhando uma perna de cabrito assada e minha boca se enche d’água!  Show de bola e a maioria dos convidados o colocou como destaque da degustação e realmente merece todos os elogios.

Crozes-Hermitage 2007, 100% Syrah de muita elegância. Os Hermitage, uma pequena colina, são vinhos bastante másculos, encorpados e de longa guarda. Os Croze-Hermitage são os vinhos que vem da colina atrás de Hermitage e estão um degrau abaixo, mas o patamar é tão alto……! Este vinho é mais manso, mais amistoso ao palato e deve ser tomado agora, quando já nos dá muito prazer, e nos próximos dois a três anos imagino eu. Teor alcoólico muito educado, para os dias de hoje, com 13%, equilibrado, frutas negras e couro no olfato, algo defumado na boca, salumeria, taninos aveludados e um final saboroso de boa persistência e elegante. Um vinho que surpreende e custa R$112,00, um boa compra.

              Por hoje é só. Amanhã é dia de post com a degustação virtual da Confraria em que diversos amigos blogueiros e eu, estaremos comentando e compartilhando com os amigos nossas impressões sobre vinhos Sauvignon Blanc sul-africanos. Até lá. Salute e kanimambo pela visita.