Borbulhas na Confraria Saca Rolhas por Raquel Santos

       A Confraria Saca Rolha se encontra mensalmente na Vino & Sapore para degustar e descobrir novos sabores assim como, vez ou outra, rever alguns que deixaram saudades. Uma das participantes é a amiga Raquel Santos, formada sommelier pela escola da competente e mui respeitada Alexandra Corvo, que convidei para ser nossa porta voz e compartilhar com os amigos as experiências sensoriais desses encontros. Este é o primeiro de seus posts num espaço que espero venha a ser mais regular e vire uma coluna muito em breve. Seguem suas impressões sobre nossa reunião “borbulhante” do mês passado.

 Era uma segunda feira de tempo fechado e chuvoso, mas a noite prometia. Na agenda cintilava mais um encontro da Confraria  Saca Rolhas. O tema não podia ser mais animador, espumantes! Quem não se entusiasma diante dessa possibilidade? Confesso que a oportunidade de comparar vinhos que possam parecer equivalentes, ejam pela mesma casta, mesma região ou mesmo método de vinificação me atiçam a curiosidade. É a maneira mais eficiente de  perceber como cada vinho é único, tem vida própria, como  pessoas…

Com os espumantes, eu diria que esse encontro envolve também um certo “glamour”. Quando olhamos a garrafa, já podemos ver que trata-se de um vinho em traje de gala. Na taça, os diferentes tons de dourado, com as borbulhas fazendo aquele som frizzzzz…….temos a certeza que chegamos à festa!  Nosso anfitrião, João Filipe, já havia enviado à todos um e-mail para confirmação da presença com alguns toques do que seria degustado (só para ficarmos sem chance de recusa…rs..rs..) e manter o alto nível de expectativa. Chegando lá, garrafas no gelo e taças à mesa!

Espumantes

Depois de uma prévia apresentação, confesso que a escolha dos vinhos  superou todas as minhas expectativas! Eram oito espumantes, sendo sete safrados! Foi meu primeiro contato com tantos vinhos desse nível ao mesmo tempo. Enfim, começamos os trabalhos com um Cava da região do Penedés:

            1. CAVA (NU) Reserva Brut –  feito pelo método tradicional pela Bodegas Maset – Espanha . Nariz cítrico com alguns toques florais. Na boca bem seco, pérlage fina com acidez e álcool presentes, porém suaves e equilibrados. No final revela os aromas de fermento, típicos do método tradicional/champenoise.

Uvas: Xerel-lo, Macabeo e Parellada.

Para ser apreciado numa tarde de verão, em momentos descontraidos, pelo frescor que proporciona. Preço ao redor de R$ 65,00

            2. HERDADE DO PERDIGÃO Bruto 2009– Espumante Brut  feito pelo método clássico (tradicional) – Portugal/Alentejo. Aromas frescos, marinhos e minerais. Na boca boa pérlage, maçãs em compota, boa acidez e final harmonioso.

Castas regionais: Antão Vaz e Arinto. Preço ao redor dos R$ 100 a 110,0

          3. COLINAS BRUT NATURE -2008– Portugal/Bairrada. Feito com as tradicionais castas para elaboração de espumantes ( Chardonnay e Pinot Noir) onde se agrega Arinto para aporte de maior frescor e vivacidade. Aromas tímidos e muito suave na boca. Boa pérlage e acidez “seca”. Preço por volta dos R$ 95,00.

Dentre esses dois espumantes portugueses, achei muito interessante o primeiro (Herdade do Perdigão), talvez por expressar muito bem a tipicidade da região do Alentejo que tem influência dos ventos vindos do Atlântico.

Continuando a nossa sequência, era chegada a hora dos tão bem falados Espumantes Brasileiros! Não é de hoje que se ouve falar que a vocação do terroir do Rio Grande do Sul tende cada vez mais para a produção desse vinho.

          4. CAVE GEISSE TERROIR ROSÉ -2008– Brasil/Pinto Bandeira. Método tradicional, aromas expressivos de frutas vermelhas e cítricos. Na boca muita pérlage (enche a boca). Acidez e álcool equilibrados e final frutado de morango e framboesa. Muito gastronômico e festivo! 100% Pinot Noir. Preço ao redor de R$ 120,00.

         5. ÓRUS ROSÉ PAS DOSÉ -2009- Brasil/Garibaldi – Produzido pelo enólogo Adolfo Lona, pelo método tradicional, com as uvas Chardonnay, Pinot Noir e Merlot, não leva licor de expedição (extra brut). Tem 12 meses de contato com as leveduras e outros 12 meses de descanso na garrafa. A cor em taça é bem interessante! Tons acobreados e alaranjados. Aromas suaves com complexidade, lembrando frutas secas e fermentos lácteos. Na boca é elegante e refrescante, com final floral, frutas brancas (maçãs/peras), evoluindo para notas amendoadas. Para ser apreciado com tempo. Das 578 garrafas produzidas, provamos a de nº 371. Preço por volta dos R$ 120,00

Dois produtores de peso: Mário Geisse e Adolfo Lona. Todo conhecimento e tecnologia aliado a matéria prima que encontraram por aqui, além de muita perseverança em acreditar que seria possível sim, produzir vinhos de altíssima qualidade em terras brasileiras resultaram nesses dois maravilhosos exemplares! Orgulho!

          6. FERRARI PERLÉ BRUT – 2004 – Itália/Trento. Espumante Blanc de Blanc (100% Chardonnay) , tem 5 anos de autólise ( contato c/ as leveduras ) , o que lhe confere uma grande complexidade de aromas e sabor. Aromas potentes de pão doce, creme patissier, frutas e flores brancas. Acidez, alcool, pérlage presentes e equilibrados. Final longo, mantendo toda a sua intensidade por bom tempo. Preço: R$ 198,00

       7. LOUISE BRISON – 2004 – França/Champagne. Elaborado com 50% Chardonnay e 50% Pinot Noir, por um pequeno produtor de apenas 13 hectares. Adepto da política da viticultura sustentável e que consegue manter a tradição dentro da modernidade. Muito elegante e pérlage intensa. No nariz lembra fermento de pão, frutas brancas e um floral suave de campo. Em boca os aromas se mantem presentes, compondo com sabores delicados e final longo. Preço ao redor dos R$ 200,00.

Impossível  comparar esses dois espumantes de altíssima qualidade! Seria como comparar um italiano/a e um/a frances/a. Eles tem a mesma idade, mas o italiano é falante e gesticula muito as mãos. Demonstra inteligência, sofisticação e não faz questão nenhuma de esconder suas qualidades. Sua vibração é contagiante e todos querem ficar ao seu lado. Já o francês, demonstra que tem também muitas qualidades. Porém apresenta-as com sutileza e mais finesse. Vai se revelando aos poucos, o que o torna muito instigante e misterioso. Ele atrai pela curiosidade de desvendá-lo. Difícil escolher entre um ou outro! Se puder fique com os dois…..rs..rs…

        8. CUVÉE EDMOND BARNAUT GRAND CRU  BRUT – 2006 – França/Champagne. Corte tradicional de Champagne (40% Chardonnay, 40% Pinot Noir e 20% Pinot Meunier), é um dos únicos 17 produtores que recebe a classificação ” Grand Crú” e também o único nesta seleção que levou a uva Pinot Meunier no blend. Na taça apresenta uma cor palha dourada com intensa pérlage, remetendo imediatamente ao clima festivo de grandes comemorações! Aromas sutis de brioches, flores e frutas. Na boca é intenso e ao mesmo tempo macio, pela quantidade de borbulhas finíssimas e delicadas. Boa acidez com um toque de mineralidade. Muito fresco, elegante, equilibrado e gastronômico. Final longo, demonstrando potencial para evoluir ainda mais! Preço: R$ 240,00

Encerramos com ” chave de ouro”! Um grande Champagne, para uma grande noite!

         Foi uma oportunidade única que mesmo numa situação de análise dos vinhos em que nos encontrávamos, (confraria) que é sempre diferente de quando estamos bebendo, comendo e conversando por puro deleite, fomos levado para uma viagem onde pudemos conhecer 8 tipos de espumantes, sendo 7 safrados ( 2004, 2006, 2008, 2009 ), 1 espanhol, 2 portugueses, 2 brasileiros, 1 italiano e 2 franceses. E o melhor foi que “o deleite” que falei acima, não ficou fora da viagem! Ainda tivemos comidinhas para fazer um contraponto de sabores entre um vinho e outro. Além de muita conversa, risadas, enfim………um clima alto astral que só as borbulhas dos espumantes podem proporcionar. Afinal, acho que é exatamente isso que as pessoas procuram quando pensam em espumantes. E esses mostraram a que vieram!

Fui dormir feliz e mesmo na cama, ainda podia sentir as famosas estrelas no céu da boca!