Chateau Palmer

Deuses do Olimpo 2011

  Antes de começar a listar meus melhores de 2011 e destaques por país neste ano que passou, gostaria de compartilhar com os amigos os néctares que invadiram minha vinosfera particular e se aninharam, ainda bem, na minha taça. São vinhos de grande qualidade que me deixaram, assim como quem compartilhou essas garrafas comigo, um pouco mais felizes pois, como já dizia o mestre Saul Galvão, “vinho só existe para dar prazer” e estes cumpriram sua missão com enorme galhardia. Foi um ano de muitos vinhos mais antigos e uma seleção de vinhos de sobremesa que beiraram a perfeição em seus mais diversos estilos.

Da esquerda para a direita:

Cune Inperial Gran Reserva 1999 – ainda muito vivo e vibrante. Absolutamente sedutor assim como a companhia no dia, a Confraria das Enoladies.

Chateau Palmer 1984 – gentilmente partilhado pelo amigo César e que, na união com o prato e pessoas presentes, mostrou o real significado da harmonização perfeita. Maravilha que já comentei aqui em post recente.

Angelica Zapata Estiba Reservada 2005 – 100% Cabernet Sauvignon e um dos melhores vinhos argentinos que já tive o prazer de tomar mostrando que nesta sub-região de Mendoza o Cabernet reina. Tomado com as amigas Enoladies, foi um vinho marcante que virou a cabeça até de quem não é lá tão chegada na taça!

Poggio di Sotto Brunello di Montalcino 2006 – o vinho que mudou meu conceito e impressão sobre os famosos vinhos desta região da Toscana. Provei, este lamentavelmente não tomei, num encontro do Consorzio de Brunello e sacudiu minha estrutura sensorial como poucos fizeram neste ano que passou. Divino!

Vina Tondonia Branco 91 – sempre uma experiência única tomar estes vinhos de Rioja que são extremamente marcantes com sabores diferenciados, uma complexidade ímpar, difícil encontrar brancos velhos desta envergadura. Para os apreciadores deste estilo, imperdível e este foi tomado na companhia dos amigos da confraria Valor du Vin.

Vega Sicilia Único 1999 – meu post sobre esta lenda em minha taça é bem recente então não falo mais nada. Uma outra experiência maravilhosa  fruto do desapego e generosidade enófila do amigo Fernando. Bão demais!

Bollinger Special Cuvée – não é á toa que é conhecido como um dos melhores, se não o melhor, champagne não safrado. Um exemplo de elegância e perfeita harmonia gerando enorme prazer numa explosão de estrelas na boca! Mais um vez uma dádiva na taça compartilhada com as Enoladies que este ano tomaram belos vinhos na confraria.

Dalva Porto branco velho 1963 – este provei na Expovinis e caí de joelhos, aliás nestes vinhos de sobremesa o fiz por diversas vezes, agradecendo a Baco por este verdadeiro elixir do deuses. Uma raridade do qual tive o privilégio de trazer um quarto da garrafa de volta para loja onde 10 participantes do curso de vinhos tiveram oportunidade de bicar e se embasbacar com os aromas e sabores na taça. Inesquecível e quem for comigo na viagem a Portugal terá o prazer de também o provar.

Caratello 2001 – um Vin Santo de lamber os beiços. Este tomei, com a benção e companhia do amigo Beto Duarte, por duas vezes e me lambuzei todinho!!!

Tokaji 6 Puttonyos 2004 da Pendits – o supra sumo dos vinhos de sobremesa, um vinho soberbo que gera emoções diferenciadas e únicas tendo sido compartilhado conosco pelo amigo César.

Moscatel de Setubal, Roxo Superior 1971 – Este comprei em Portugal para o amigo Alexandre comemorar seus 40 anos em 2010. Ele celebrou com outros rótulos e guardou este até que o vinho completasse seus 40 aninhos e, em mais um exercício de generosidade enófila , o compartilhou comigo e com o Cristiano num almoço de inicio de ano memorável! Ao ser aberto encheu a sala de aromas absolutamente sedutores que se comprovaram na boca de uma forma impossível de descrever. Este só tomando para saber! Talvez meu principal vinho do ano junto com o Brunello, o Dalva, o…….deixa pra lá!

S. Leonardo Porto Tawny 20 anos – Tinha esquecido como este vinho é excepcional e a meu ver, o melhor Tawny 20 anos que já tive oportunidade de provar. Absolutamente divino e só lamentei o fato de que quando o comprei não ter tido a disponibilidade financeira de comprar uma meia dúzia. Por aqui no Brasil não sei se alguém o está trazendo, mas os amigos de Portugal podem se esbaldar com este imperdível néctar, m grande Porto e uma vinho absolutamente maravilhoso que tomado na boa companhia do Ale e Cris, acompanhados de suas bonitas e simpáticas esposas, ganhou em muito na harmonização.

          Bem, esses saõ os doze que sentam no altar de Baco, mas sempre cabe um décimo terceiro que neste ano foi muito especial pois é mais um daqueles vinhos raros que poucos conhecem.

Quo Vadis Fondillon Solera 72, um vinho raro e excepcional tomado numa degustação especial com diversos outros surpreendentes rótulos deste produtor (Francisco Gomez) de Alicante na Espanha. Juntos nessa degustação promovida na Vino & Sapore pela Vinhos do Mundo e com a presença dos amigos Didu e Walter Tommasi que, tanto quanto eu, ficaram de queixo caído! Ainda não postei nada sobre ele porque queria estudar um pouco mais sobre este estilo de vinho antes de me aventurar a falar dele, mas me faltou tempo. Com mais de dez anos de amadurecimento em barrica, no nariz parece um Jerez, pelo estilo produtivo em processo oxidativo de solera, mas na boca mostra seu caráter doce, ótima acidez mostrando um tremendo equilíbrio, uma experiência e tanto que nos marcou a todos. Maravilha!

       Semana que vem apresentarei alguns dos destaques de 2011 a começar por Brancos e Rosés marcantes independentemente de preços. Depois, os Achados de 2011 por faixas de preço ou seja, Janeiro vai ser o mês das listas que, espero, irão lhe ajudar na escolha de seus vinhos neste ano de 2012. Salute e kanimambo!

Bons Pratos, Grandes Vinhos, Ótimos Companheiros!

 Todo o grande momento enogastronomico tem seu “foreplay” que é o preparo do espirito e de nossas aptidões hedonísticas para algo maior que está por vir. Quanto maior for o êxtase a ser alcançado, melhor deve ser o foreplay! Pois desta feita os amigos desta confraria sem nome (ainda) chutaram o balde e mandaram ver legal tendo sido uma honra e um privilégio ter em minha casa, a Vino & Sapore, gente desta estirpe com seus néctares abençoados por Baco! Falarei deste momento em dois tempos, um agora com a preparação para o momento de maior gozo e um segundo quando me dedicarei a tentar transmitir algo da torrente de emoções que se apossaram de mim. Para começar a preparar a boca, depois de um rosé meio morto que dispensarei de apresentações, abrimos um vinho que descobri há um tempo atrás e segue sendo uma enorme surpresa quando o apresento, Tannat/Viognier da bodega Alto de la Ballena, um vinho diferenciado de uma região e bodega pouco conhecida dos seguidores de Baco tupiniquins e até algums do próprio Uruguai. A grande maioria das bodegas produz seus vinhos em Canelones, próximo a Montevideu, mas esta bodega está próximo a Punta, aliás uma região a ser olhada já que por ali perto também temos a Dominio Cassis que elabora um Tannat de primeira, o Abraxas. Neste caso o Tannat é cortado pelo Viognier que lhe aporta um perfil aromático mais floral e uma acidez muito legal enquanto também doma algo de seus taninos que aqui se apresentam muito finos e elegantes num corpo de boa estrutura. Um vinho que vale a pena conhecer e esta garrafa agradeço ao amigo Mario que me trouxe de Montevideu.

          Para iniciar os trabalhos, um dos amigos nos trouxe um delicioso exemplar de Moet Chandon Brut Imperial 1995 que estava divino e se entrosou maravilhosamente bem com as caudas de lagosta gratinadas acompanhadas de um igualmente delicado risoto de limão siciliano e queijo brie! Minuto para enxugar a boca, espera aí! rs Voltei, mas continuo aguando!! Champagne safrada com idade ganha uma complexidade danada e este ainda se mostrou vibrante com uma acidez muito presente que encantou a todos e harmonizou á perfeição!

         É de conhecimento geral da maioria, que 1984 não foi uma safra lá muito boa para vinhos, exceção feita à Califórnia, porém para pessoas tenho a certeza que sim, pelo menos para um que é o amigo César, um jovem aficionado por bons vinhos e bons pratos! Encontrar-lhe vinhos de 84, todavia, é trabalho árduo e não sabíamos o que esperar deste Chateau Palmer 84 que havia recém chegado ao Brasil. Tinha tudo para estar moribundo , mas…….não foi bem isso que encontramos na taça. Para acompanhar o vinho, um Filé Mignon na Mostarda e Foie Grass! Hoje está difícil escrever, espera aí que vou pegar uma toalha!! rs Voltei e agora, com a toalha, acho que não teremos mais interrupções não. Onde estávamos mesmo, ah, o vinho pseudamente moribundo e seu acompanhante da noite, o Filé. Madre de dios, que coisa!!! Primeiramente o vinho surpreendeu a todos, já que pela safra pouco prometia, porém mostrou-se ainda muito digno, um vinho de muita elegância e complexidade, com aquela classe que um vinho de fina estirpe só adquire com a idade e anos bem acomodados, lembrei-me do amigo Silvestre e sua paixão por vinhos velhos. Toques animais, alguma fruta ainda presente porém de forma muito sutil, mata molhada, algumas notas de torrefação, taninos extremamente elegantes e acidez ainda presentes formam um conjunto que, se não exuberante, demonstrou um equilíbrio bem presente num final de boca macio e algo curto que, no entanto, deixa claro que estamos diante de um digno representante de Margaux e que os bons produtores se conhecem mesmo é nestas safras adversas. Um vinho sedutor que poderia ser “só” isso caso não existisse um prato a lhe fazer companhia e aí o pato virou ganso mostrando que uma boa harmonização pode operar milagres especialmente quando a terceira e quarta partes dessa equação estão presentes; momento e pessoas certas! Como dizem os hermanos, maridaje perfeita e literalmente de lamber os beiços, momento de grande persistência que ficará na memória por muito tempo e não posso deixar de agradecer ao César por isso. A foto, tomados que estávamos pela emoção, não é aquelas coisas e não faz jus ao prato, mas não podia deixar de publicar.

         Para finalizar veio para a mesa um Vega Sicilia Único 1999 e aí eu, que tinha separado uma outra garrafa surpresa para encerrarmos a noite, optei por guardar a viola no saco e sair de mansinho! Gente, há quem pense que só porque militamos nesse meio que temos acesso a tudo o que é grande vinho, ledo engano. Para alguns isso pode ser muito corriqueiro, porém para a maioria de nós isso é sempre um enorme privilégio! Mas espera aí, já falei demais por um post e minha toalha já encharcou, então deixemos esse Vega Sicilia Único para amanhã já que tenho causo para contar e o vinho merece vênia e um post só para ele! Antes de ir-me no entanto, tenho que tirar o chapéu para o mestre cuca da turma que junto com sua parceira fizeram deste encontro e degustação uma verdadeira explosão de sabores e sensações ímpares. Obrigado meu amigo Odair Marcelo, participante ativo e fomentador desta confraria, e Nega pelo verdadeiro show de cozinha que só veio comprovar minha tese de que, em qualquer atividade, só quem tem o dom consegue real destaque e que só suor, apesar de válido e essencial, não leva ninguém ao pódium! Agora precisam é montar vosso serviço de Chef in House, porque capacidade vocês têm e muita então este espaço está aberto para divulgar esse dom especial que vocês possuem.

          Salute, kanimambo e amanhã tem mais um capítulo sobre essa odisseia que foi a semana retrasada. É nestas horas, não só, que me lembro do amigo Didu que sempre nos lembra que chato mesmo, com todo o respeito aos profissionais do ramo, deve ser vender parafusos! Fui.