Uvas & Vinhos – Tannat

tannat2Apesar das alegações e grande probabilidade de que a cepa tenha origem Basca, é na região francesa do Madiran, ao pé dos Pirineus, onde ela criou raízes profundas. Diversos estudos mostram que esta cepa é campeã de polifenóis e, consequentemente, gera vinhos com mais quantidade de resvesterol e de grande “tanicidade”, tanto que o próprio nome da cepa é derivado da palavra; taninos.  Retinto na cor, muita fruta negra, algo defumado, chocolate, especiarias, tradicionalmente geram vinhos de boa complexidade aromática, mostrando-se no palato muito rico, um vinho de grande estrutura e poderoso com grande capacidade de guarda. Tudo vero e uma cepa que, até pouco mais de uma década atrás possuía poucos admiradores e, mesmo na França, era considerada uma uva secundária de baixa penetração no mercado internacional se restringindo a um consumo mais regionalizado. Foi com a chegada do Uruguai ao mercado, que os vinhos desta cepa ganharam espaço e se revigoraram mundialmente.   

              Os emigrantes bascos trouxeram as cepas em sua viagem para o Uruguai nos idos de 1870 onde virou um ícone da vitivinicultura local assim como a malbec o é para a Argentina. Os uruguaios trabalharam muito bem esta cepa conseguindo “domá-la” e com isso gerando vinhos mais amistosos que os destacaram em nossa vinosfera. Essa “doma” feita através de micro-oxigenação durante a fermentação, e a extração dos caroços (grainhas) assim como a aplicação adequada de madeira, tende a amansar a fera produzindo taninos mais redondos tornando o vinho mais amistoso.  A adição de merlot no corte, uma tradição uruguaia, tem o objetivo de amansar o tannat tornando-o mais palatável. No Mandiran é comum a adição de Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon com o mesmo intuito. Como a natureza é sábia, a cepa também possui uma acidez bastante acentuada que ajuda a equilibrar os fortes taninos e alimenta a longevidade dos vinhos.

            São vinhos de que gosto muito, mas não tenho provado tanto quanto gostaria. Para mim, apesar da fama dosTannat4 Malbec, são os Tannats o perfeito acompanhamento para um churrasco e produzem vinhos com uma variedade bastante grande de estilos, dos mais simples e suaves aos de extrema complexidade e capacidade de guarda. Eis o que o amigo Álvaro Galvão (Divino Guia) especialista em harmonização fala sobre esta cepa; “Carnes gordurosas em geral vão bem por causa dos taninos, e podem ser levadas à cocção do mesmo modo que o Barolo em reduções lentas e demoradas, para amaciar as carnes :”brasato “é isso, por que não usar a Tannat? Carnes de caça, mesmo as aves, dependendo da cocção,(preferencialmente em molhos, pois o tanino ajuda a enxugar a suculência, assim como o álcool é hidrófilo) ficam muito bem.Ex Galinha D’angola, Pato, Cabrito ao molho (carnes fortes, partes mais suculentas). Alguns queijos de mofo branco, que hoje se usam colocar geléias as mais variadas, como os Brie e os Camembert, ficam excelentes, claro que em porções pequenas, aperitivo e sem exagero das geléias, preferencialmente as de frutas vermelhas maduras.

Como se vê, harmonizar não é tão difícil, basta pensar um pouco, correlacionar a gastronomia milenar usada com uvas semelhantes, e ousar um bocadinho!

              Em corte ou varietal, dos mais suaves e fáceis introduções á cepa até aos mais complexos e de guarda, vejamos alguns bons vinhos que recomendo aos amigos, com preços aproximados em Novembro/09. Rótulos quase que totalmente do Uruguai, mas há um francesinho de tirar o fôlego pelo preço. São vinhos provados e aprovados, vinhos que compro, alguns só provei, e que espero também vos agradem:

  • Pattio Sur Tannat/Merlot – Decanter – R$21,00
  • Cisplatino Tannat/Merlot 2008 – Mistral – R$26,00
  • Recuerdos 2007 (corte de Tannat/Cab. Franc e Syrah) – Dominio Cassis – R$28,00
  • Don Pascual Tannat 2007 – Expand – R$28,00
  • Dal Pizzol Tannat 2006 (gostei muito do 05) – R$32,00
  • Rio de Los Pajaros Tannat/Merlot – Mistral – R$33,00
  • Pisano RPF Tannat – Mistral – R$44,00
  • Oceanico Tannat Reserva 2006 – Dominio Cassis – R$45,00
  • Alain Brumont Tannat/Merlot VdP Côtes de Gascogne – Decanter – R$48,00
  • Carrau Tannat de Reserva 2006 – Zahil – R$52,00
  • Cordilheira de Santa’Ana 2004 – (leva um pouco de Merlot)– Eivin – R$57,00
  • Bouza Tannat – Decanter – R$62,00
  • Filgueira Enigma 2004 – Decanter – R$69,00
  • Carrau Pujol Grand Tradicción 2004 (corte Tannat/Cab. Sauvignon e Cab. Franc) – Zahil – R$82,00
  • Bouza Tannat/Merlot – Decanter – R$85,00
  • Pisano Arretxea Tannat/Petit Verdot 2004 – Mistral – R$92,00
  • Abraxas 2002 – Dominio Cassis – R$98,00
  • Bouza Tempranillo/Tannat – Decanter – R$104,00
  • Amat  Tannat – Zahil – R$122,00
  • Luis Gimenez Tannat Super Premium 2006 – Hannover – R$155,00
  • Familia Deicas 1er Cru Garage 2002 – Expand – R$280,00

           Para finalizar, recomendo provarem os licores de Tannat produzidos no Uruguai. Muito saborosos, são ótimas companhias para sobremesas à base de chocolate. Minha dica; O Licor de Tannat da Dominio Cassis por cerca de R$38,00, um achado!

           Li algures, que a região do Mandiran possui a maior incidência de pessoas com mais de 90 anos na França. Dado interessante que gera uma pergunta; acaso ou será que que a alta concentração de  resvesterol nos vinhos da região tem algo a ver? 

           Para ver como contatar os importadores/produtores e checar onde, mais próximo de você, o rótulo está disponível, dê uma olhada em Onde Comprar, post em que constam os dados dos importadores e lojistas assim como de produtores brasileiros.

Salute e kanimambo

Carrau na Zahil

                 Andei participando de algumas interessantes degustações as quais gostaria de compartilhar com os amigos. Para dar inicio a Carrau0001esta seqüência, quero começar pela Carrau, um dos bons produtores uruguaios que recentemente nomeou como seu exclusivo importador a Zahil. A Carrau é repleta de história sendo fundada em 1930 por emigrantes catalães vindos de Barcelona onde a família já produzia vinhos desde 1752. No Uruguai, produzem em duas regiões; Em Canelones (Lãs Violetas) e em Cerro Chapéu (fronteira com o Brasil) de onde vem um dos mais conhecidos e laureados rótulos de tannat uruguaio, o Amat; elaborado com cepas vindas de vinhas de baixo rendimento com apenas 5.000kgs por hectare. Dos cerca de um milhão de garrafas produzidas, 75% é de tannat. Alguns projetos interessantes são; o da nova bodega em Cerro Chapéu com um eventual novo vinho binacional e um Merlot Reserva.

         Da linha Cepas Nobles, gama de entrada, são vinhos simples fáceis de beber sem grande complexidade, nem se propõem a isso. Melhor o Tannat 2006 que passa 9 meses em barril, e é uma boa introdução aos outros rótulos do produtor. Saboroso, equilibrado, amistoso um vinho correto sem arestas e fácil de gostar.

         O Tannat de Reserva 2006 é um vinho que passa por 18 meses de carvalho e ainda se mostra um pouco fechado, de boa estrutura mostrando a tipicidade muito característica dos bons tannats da região. Para quem não quiser gastar muito e tomar um bom tannat uruguaio, esta é uma das boas opções no mercado por cerca de R$52,00. Eles não estão trazendo o Cabernet Sauvignon, mas tive o prazer de o tomar em viagem que fiz a Colônia de Sacramento e  também foi um vinho que me agradou bastante.

         O Amat 2004 é um vinho ainda criança apesar de seus já cinco anos e não é a toa que é um dos mais premiados vinhos uruguaios. Um grande vinho que mostra bem a qualidade da tannat assim como a capacidade dos produtores uruguaios em trabalhar esta uva. Foi, no entanto, pelo Carrau carrau pujolPujol Grand Tradicción 2004, um soberbo corte de tannat/cabernet sauvignon e cabernet franc, que me encantei. Algo resinoso no nariz é na boca que mostra todo o seu esplendor e elegância. Complexo, equilibrado, taninos finos e boa acidez compõem um dos melhores assemblage elaborados no Uruguai e, a partir de agora, sério candidato à minha lista de melhores deste ano. Ainda por cima possui uma tremenda relação Qualidade x Preço x Satisfação. Grande pedida por R$82,00 e a minha principal recomendação dos vinhos da Carrau. Quer conhecer mais da história deste grupo familiar (10º geração), acesse seu site clicando aqui.

Salute e kanimambo.