Rhône e seus Vinhos na Confraria Saca Rolha

Mais uma vez a amiga e confreira Raquel Santos nos relata sua experiência em mais um agradável encontro desta nossa gostosa Confraria. Mais que os vinhos, a oportunidade de pelo menos uma vez por mês podermos desfrutar da companhia dos amigos. Desta feita “viajamos” para a região de Côtes-du-Rhône na França e, para variar, uma diversa e saborosa seleção de rótulos culminando com uma soberba surpresa! Vejamos o que a Raquel tem a nos dizer:

  “O vale do rio Rhône, está localizado entre os Alpes Suíços e o mar Mediterrâneo. Ao norte, está a cidade de Lyon, que além de ser um polo industrial, também possui um entorno rural que abastece toda a região com uma produção de excelente qualidade. Ao sul, está a cidade de Avignon, que se desenvolveu quando no século XIV o Papado mudou o Castelo de Roma para a região e começaram a cultivar as primeiras videiras.

Mapa do Rhone - Dobra Vinoteka

Percorrendo os vinhedos que margeiam o rio Rhône de norte a sul, pode-se perceber uma grande diferença de clima, solo, e variedade das uvas. Ao norte, (Rhône Setentrional), o clima é continental com verões bem quentes e invernos frios. As videiras são plantadas em penhascos pedregosos de granito, entremeados de florestas de carvalho que refrescam o ar pela neblina ao amanhecer. A uva predominante é a Syrah. Resultam em vinhos robustos, de cor escura e longevos. Para os brancos, destacam-se a Marsanne, Roussanne e Viognier.

 Desta região, degustamos um “ Brunel de la Gardine” – 2007 – da região de St-Joseph.

        Syrah 100%, aparentemente um pouco fechado, mas aos poucos foi mostrando uma riqueza de aromas e sabores que seduziu os mais incrédulos. Talvez pelo equilíbrio, ficou mais difícil identificar uma característica isolada. Aromas de frutas, frescor e um leve defumado, alternavam-se com com a textura macia na boca sem perder intensidade.

        Continuando o passeio, em direção ao sul, (Rhône Meridional), podemos notar que à partir de Montélimar as características da região se transformam. O clima passa a ser mediterrâneo, com influências do mar. Os verões são quentes e o inverno ameno, mas as vezes chega a 0 grau. Os ventos frios que vem do sul (Mistral) fazem as chuvas serem fortes e rápidas, baixando a temperatura rapidamente à noite. Os vinhedos se expõem ao sol forte durante o dia, que também aquecem as pedras que cobrem todo o solo, protegendo a videira do frio à noite. Aqui predomina a uva Grenache que junto com a Mourvèdre, Cinsault, e também a Syrah. Das variedades brancas, encontra-se a Marsanne, Roussanne, Viognier, Clairette, Bourboulenc, entre outras que são vinificadas para tintos, brancos e rosés.

Clipboard Rhone

            Além das diversidades de solo e clima, a região do Rhône meridional, é mais recortada no que diz respeito às apelações de origem. A mais comum delas é a de Côtes du Rhône, usada genericamente. As denominações que indicam o nome das comunas provenientes, representam um fator de maior qualificação. É o que acontece no caso dos Côtes du Rhône-Village, que representa 95 comunas qualificadas.

Degustamos o “Clos Petite Bellane“-Valreas –  Um Côtes du Rhône-Village de 2007.

Logo já percebemos um aroma bem frutado, característica das castas mediterrâneas (Grenache/Syrah). Boa acidez, taninos presentes, porém delicados. De médio corpo e mostrou muita evolução na taça. Aromas herbáceos com algumas especiarias (pimenta verde e anis).

De outras duas pequenas propriedades (Cru), incrustradas entre Côtes du Rhône e Côte du Rhône-Village, foram degustados:

“Château Saint Roch Brunel” – Lirac -2008.

Aromas florais e frutas vermelhas. Bom equilíbrio entre acidez, taninos e extrato. Madeira bem incorporada. Corte de Syrah/Grenache/Mourvèdre.

Domaine la Monardière Les 2 Monardes” – Vacqueyras -2006.                                                            

Ataque floral, sobrando um pouco de álcool. O mais austero deles. Acidez e taninos bem  incorporados que alternavam com um sabor picante e frutas doces e maduras. Aromas que evoluíram bem na taça.

          Ainda circundando a região do Rhône Meridional, não poderíamos deixar de conhecer a região icônica de Chateauneuf du Pape. Conhecida não só pela sua história, mas também pela qualidade, produz vinhos com até treze castas, embora, na prática, nunca se utilize todas elas. A Grenache domina nos tintos. Os brancos, produzidos em menor quantidade, são encorpados e estruturados, com aromas delicados e grande persistência gustativa. A região demarcada fica ao norte de Avignon, onde está localizado o Castelo Papal de verão em ruínas. O clima é muito árido, pedregoso, onde só os arbustos de lavanda e tomilho selvagem, sobrevivem ao vento e a grande amplitude térmica do dia. Foi com grande prazer que conhecemos dois exemplares desse terroir:

“Domaine Font de Michelle” – 2010–

Elaborado com 70% Grenache/10% Syrah/10% Mourvèdre/10% outras: Cinsault/Counoise/Terret/Muscardin. A primeira sensação no nariz, é de frescor, ervas  aromáticas (alecrim/tomilho) e florais. Na boca, revelou-se voluptuoso, apesar de ser jovem. Me pareceu um pouco tímido (sem ser um defeito), necessitando que déssemos mais tempo a ele. Elegante muito bem equilibrado, com vocação gastronômica pela acidez bem incorporada. Grande potencial de guarda.

“Château de Beaucastel” – 2001

Essa preciosa garrafa veio da adega dos amigos Luiz e Ana, que gentilmente nos presenteou. O Beaucastel, juntamente com o Clos des Papes, são os únicos que ainda usam as 13 variedades das castas permitidas em Chateauneuf du Pape. Diferentemente do anterior, já mostrou todo seu potencial de prazer! Muito aromático (flores, frutos vermelhos silvestres, fruta seca, amêndoas, baunilha, etc….etc….e etc….). Na boca confirmava todas essas qualidades com muita elegância, mostrando através da rica paleta gustativa, as cores, sabores, e cheiros daquela paisagem.

O vale do Rhône  tem a questão do clima muito presente. Através dos seus vinhos pode-se viajar, como num filme, que nos conta a história e ensina a cultura de uma civilização. E o melhor dessa historia é quando nos identificamos com ela e temos a impressão que também podemos pertencer um pouquinho à tudo aquilo.

 Basta descobrir o caminho das pedras. “.