Adega Alentejana

Tapada do Fidalgo Reserva, Um Vinho – Dois Momentos

Começou na Sábado á noite. Ao fechar a loja após um dia bem puxado, me lembrei deste vinho que recebi para prova e o trouxe para casa. Papo vem, papo vai, queijinho na mesa, abri a garrafa e servi duas taças deixando-as descansar por uns 10 a 15 minutos antes de proceder à prova. Interessante vinho que, aparentemente, foi elaborado somente para o Brasil o que, a meu ver, já é algo que me incomoda, pois mostra bem a visão mercadológica do produtor que produz de acordo com a cara do cliente. Sei, este mundo do vinho também é business, mas  …… sei lá, não me cai bem, fazer o quê? Enfim, mas o propósito era o de degustar o vinho e tecer minha opinião sobre ele, então vamos seguir com o ritual e nos ateremos ao caldo.

              Como já disse, um vinho interessante elaborado com blend caracteristico alentejano (Aragonez/Alicante Bouschet/Trincadeira) que traz um primeiro impacto olfativo muito frutado, ameixa compotada, uva passa, seguido de nuances de tostado provavelmente advindas de seus 12 meses de barrica , porém o álcool (14%) insistia em se sobrepor incomodando um pouco. Na boca mostrou boa textura, taninos finos, maduros e sedosos já bem equacionados sem qualquer agressividade, corpo médio para encorpado, acidez no ponto, finalizando com especiarias, formando um conjunto interessante, porém com algumas arestas já que lhe faltava equilíbrio, descendo algo quente. Um vinho que não me chegou a empolgar, não tendo, num primeiro instante, me dado razões para concordar com a Gula que o premiou como melhor tinto do ano em recente edição da revista, tendo criado uma expectativa que o vinho, a meu ver, não alcançou.

Todavia, como já diz o amigo Álvaro Galvão, um vinho tem que sempre ter uma segunda chance e, considerando-se seus taninos já bem equacionados e seu teor alcoólico um pouco desbalanceado, achei que o vinho merecia ser provado, devendo melhorar bastante, com um serviço  a temperaturas algo mais baixas, já que o estava tomando em torno dos 18º e, por outro lado, a pizza de calabresa não harmonizou legal. Vacu-vin na garrafa e geladeira nele já que domingo iria preparar um bombom de búfalo que meu amigo Eduardo me recomendou.

Sequência, Domingo ao lado da churrasqueira. Carne devidamente preparada, peguei a garrafa para a segunda etapa desta degustação. Vinho na taça e cerca de quinze minutos depois o vinho chegou a uma temperatura que achei poderia ser ideal, algo ao redor de 15º e o vinho se houve maravilhosamente bem nessa faixa, encontrando seu equilíbrio sem perder a boa fruta, mantendo uma acidez correta , tendo seu corpo médio harmonizado muito bem com a carne bem delicada e sequinha, sem excessos de gordura. O álcool que insistia em se manifestar no Sábado, agora estava contido, harmonizado no todo de forma muito agradável e imperceptível. Segunda chance dada e entendi o resultado da Gula, pois o vinho mostrou ser realmente uma bela pedida numa faixa de preços ao redor de R$60,00, (ótimo a R$45/49 como pesquisei na net) só não seria o meu tinto do ano! No meu modo de pensar, para ser vinho do ano este ou qualquer outro caldo precisa ser aquilo que este não é, nem penso que seja essa sua pretensão, um grande vinho. Aí, no entanto, depende do que cada um provou para chegar nessa conclusão e dos degustadores participantes das provas, certo?! Por mais que queiram negar, existe uma enorme carga de subjetividade pessoal nessas avaliações.

       Agora, que o vinho é realmente saboroso, bom e bem feito não há sombra de duvida,  porém acho que há que se prestar bem atenção na temperatura de serviço pois fez uma tremenda diferença tomá-lo a 15/16º, contrariamente ao que o produtor recomenda, certamente um vinho que eu repetiria, já a 18º ou mais, não sei não. Bem pessoal, faz tempo que meus smiles não davam as caras por aqui então, só para matar saudades aqui vai meu I.S.P. para este vinho >    . Importação Adega Alentejana.

Salute e kanimambo. Uma ótima semana para todos e seguimos nos encontrando por aqui.

Alentejo x Douro. Resultados de um Páreo Difícil.

Maravilha este Derby português. Parece o nosso campeonato brasileiro atual, todo mundo parellho com uma diferença muito pequena de pontuação entre os lideres deste embate. Foram doze vinhos de muita qualidade e algumas supresas tendo o gostoso Santa Julia Brut (Ravin) como abre alas para um embate dos mais saborosos.

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Dentro os alentejanos, tinha uma especial predileção pelo Vila Santa, Herdade do Pinheiro e Cortes de Cima, mas acabei descobrindo o delicioso Herdade Paços do Conde Reserva que balançou meu coreto. Dos Douros, um monte de pontos de interrogação e uma certeza, o saboroso e fresco Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, que confirmou minhas expectativas, mas me surpreendi com outros. No geral, a comprovação de que vinhos despe porte precisam de tempo para se mostrar e os aprecio melhor quando com quatro a cinco anos de vida, momento em que desabrocham e mostram todo o seu potencial.

Por outro lado, tenho que tirar o chapéu e agradecer pelo grande número de amigos que tem composto a banca de degustadores destes Desafios de Vinhos. Colaboradores importantíssimos destes embates que realizamos mensalmente. Tenho a certeza que se divertem tanto quanto eu, pelo menos assim espero, enquanto desvendamos um pouco mais dos segredos de nossa vinosfera. Agora falemos dos vinhos provados, de suas notas e das sensações que nos despertaram, lembrando que os comentários são um apanhado das anotações de cada um. Obviamente que cada degustador tem suas opiniões particulares, parte das quais nossos colegas blogueiros presentes certamente exporão em seus blogs, mas na prova o que conta é a média de opiniões que é o relatado abaixo.  A ordem comentada, é a mesma do serviço dos vinhos.

DSC01619Alentejo – Corte de Cima 2007 (Adega Alentejana) – um vinho ainda muito novo que precisa de tempo para se mostrar. Creio que se tivéssemos aqui o 2005, que está em seu apogeu, certamente a história poderia ser outra.  Mesmo assim, o vinho não decepcionou não, tendo mostrado muita fruta vermelha no nariz com algumas nuances de baunilha e algum álcool aprecendo, mas sem incomodar. Na boca, apesar da uma hora de decantação que lhe foi dada, o vinho ainda buscava uma maior harmonia. Taninos doces, macio, médio corpo, média persistência e um leve amargor de final de boca. Um bom vinho que vai melhorar muito com mais algum tempo de garrafa. Obteve a média de 84,95 pontos e que, na Revista de Vinhos, oscila entre os 16 a 17 pontos. Preço, ao redor de R$90,00.

DSC01614Alentejo – Herdade Paços do Conde Reserva 2005 (Lusitana de Vinhos & Azeites) – mostra que a idade faz diferença nestes vinhos. Paleta olfativa complexa e de boa intensidade em que se destaca a fruta madura, nota lácteas e algo adocicado. Na boca encanta ao primeiro gole, mostrando bom volume, taninos aveludados, redondo, pleno de sabor com frutas e especiarias inebriando o palato num conjunto muito equilibrado e muito apetitoso com um final algo mineral de boa persistência. Veio com um belo “palmarés” e confirmou que era um sério candidato a levar o premio individual de melhor Vinho da Noite. Destaque especial para o design de garrafa e rótulo que dignificam o vinho. Obteve a média de 87,75 pontos e custa em torno de R$98,00, somente para os leitores deste blog.

DSC01620Alentejo – Monte da Cal Reserva 2004 (Winebrands) – para uns o vinho estava prejudicado com um nariz que denotava indícios de bouchoné, para outros nem tanto. No palato não se sentia tanto, desta forma possibilitando que lhe fosse dado uma nota. Muito mentolado e herbáceo, taninos ásperos, um vinho difícil que nitidamente precisa de uma nova avaliação. Por não termos parâmetros, mas levando-se em consideração que é um vinho com 17/20 pontos na Revista de Vinhos,  acho que o grupo terá que rever o vinho em uma outra ocasião. Mesmo assim, conseguiu obter uma média de 80,75 pontos e custa ao redor de R$65,00.

DSC01615Alentejo – Vila Santa 2007 (Casa Flora) – um vinho que marcou presença e, não por acaso, um dos meus preferidos que fiz questão de de ter presente nesta prova. Nariz marcante, frutas vermelhas (cerejas) com toques florais (violeta) muito atraentes e convidativos. Na boca mostra-se novo com taninos ainda bem presentes, porém finos e sem qualquer agressividade, boa acidez implorando por um bom prato, boa textura, rico, um vinho muito apetecível e mais um que veio para brigar pela liderança. Obteve a média de 88 pontos contra os 91 que a Wine Enthusiast lhe deu. Preço ao redor de R$85,00.

DSC01608Douro – Casa Ferreirinha Vinha Grande 2003 (Zahil) – talvez o vinho mais pronto de todos que pouco ou nada mais ganhará com maior guarda. Desta casa sai o mítico Barca velha o que, por si só, já é razão bastante para nos aventurarmos em seu portfólio de bons rótulos, a começar por este que está absolutamente macio, sedoso e sedutor. Ótima entrada de boca de muita finesse, macio, redondo, saboroso, uma acidez no ponto, equilibrado um vinho muito equilibrado e sem arestas. Muita fruta vermelha do bosque em perfeita harmonia entre olfato e palato, com um final com algo de especiarias. Levantou suspiros e adjetivos como estupendo, sensacional, etc. Mais um candidato que obteve a média de 88,70 pontos e custa R$88,00 na importadora.

DSC01616Alentejo – Herdade da Sobreira 2004 (Interfood) – notas de chocolate e fruta madura no nariz. No palato encontramos taninos potentes bem trabalhados mostrando estarmos frente a frente a um vinho mais encorpado e robusto, de grande estrutura que ainda poderá gerar grande satisfação por mais uns bons quatro a cinco anos pela frente. Uma estilo um pouco mais tradicional, é um vinho que pede um prato de boa consistência e “sustança” para o acompanhar. Muito saboroso e equilibrado, um belo vinho. Obteve a média de 86,10 pontos e custa ao redor de R$90 na importadora.

Alentejo x Douro Quinta-do-fredo 3Douro – Quinta do Fredo 2007 (BR Bebidas) – um vinho muito novo recém saído das fraldas, que precisa de tempo para se estabilizar. A garrafa usada foi de mostra da barrica, sendo que a primeira importação está prevista para chegar até ao final do ano, talvez final de Novembro. Mesmo assim mostrou-se bem, com aromas frutados misturados a nuances de farmácia (acetona) e alguma especiaria. Na boca é intrigante, evolui na taça e mostra taninos de qualidade, final com alcaçuz/anis, um vinho diferenciado que precisa, neste momento, mais do que a uma hora que lhe demos de aeração. Deve evoluir muito bem pelos próximos dois a três anos. Obteve a média de 82,45 pontos e deverá custar algo ao redor dos R$80,00, mais ou menos 10%.

DSC01611Douro – Churchill Estate 2006 (Expand) – aromas bastante intensos de fruta compotada com nuances lácteas, próprio de uma boa aplicação de barrica. Na boca é cheio, complexo, equilibrado, taninos aveludados, boa estrutura, um vinho muito saboroso com um final agradável e de boa persistência que pede por mais uma taça. Obteve a média de 85,55 pontos contra os 90 que lhe foram dados pela Wine Spectator e custa R$88,00 nas lojas da importadora.

DSC01617Alentejo – Herdade do Pinheiro Reserva 2003 (Beirão da Serra) – aromas bastante complexos em que se sobressai muita fruta madura e toques de couro. Apesar do avançado halo aquoso e cor já mais atijolada, o vinho segue vibrante com boa presença de taninos finos e maduros, complexo, algo de fruta seca na boca, rico e mesmo que sem o brilho de sua primeira passada por nossos Desafios, mostrou-se um conjunto bastante harmônico e equilibrado demonstrando ser um dos bons rótulos alentejanos hoje disponíveis no mercado. Obteve a boa média de 88,25 pontos e custa algo ao redor de R$75,00.

DSC01610Douro – Duorum 2007 (Casa Flora) – de aromas ainda tímidos e fechados com nuances de cassis e algo terroso. Mostra-se melhor em boca com bom volume, corpo médio de boa estrutura, elegante, de taninos firmes finos e sedosos, carnoso sem nunca ser “over”, bem equilibrado, evoluindo bem em taça  o que sugere que poderia ter sido decantado por um período algo maior, minha sugestão é de 45 minutos a uma hora quando ele deve se abrir mais e mostrar todo o seu potencial. Muito gostoso e fácil de agradar sendo um vinho bastante gastronômico e fresco com um final algo mineral. Um belo vinho que obteve uma média de 84,90 pontos e custa ao redor de R$60,00.

DSC01612Douro – Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo 2004 (Vinea) – ao conrário do restante dos Desafiantes, este não passa por madeira preservando a fruta e frescor. Mostra-se bem evoluído e frutado nos aromas com leves e sutis toques florais. No palato ainda mostra saúde, bom corpo, intenso e complexo, taninos doces e sedosos com um final de boca gostoso porém um pouco curto. Vinho correto, bem feito, sem adereços nem arestas, bastante franco e agradável. Obteve a média de 84,60 pontos e custa R$75,00 na importadora.

DSC01613Douro – Lavradores da Feitoria 3 Bagos 2005 (Mistral) – fruta em geleia, herbáceo, algo de salumeria e boa presença mineral no nariz que demosntra uma certa complexidade. No palato mostra-se ainda bem firme, boa textura, concentrado, equilibrado com uma acidez gostosa que chama comida, num estilo muito próprio e um final algo especiado. Obteve a média de 85,10 pontos e custa em torno de R$75,00 na importadora.

Desafio terminado, tivemos o interessante fato de que, apesar de o Alentejo ter levado este derby com um total de 5158 pontos contra os 5112 pontos do Douro, o grande campeão da noite, a melhor performance individual ficando com o título de Melhor Vinho, foi o Casa Ferreirinha Vinha Grande 2003, do Douro. Na sequência, Herdade do Pinheiro Reserva, Vila Santa, Herdade Paços do Conde Reserva e finalizando o podium o Herdade da Sobreira, todos do Alentejo. Entre o primeiro e o quarto classificado, uma diferença de menos de um ponto o que poderíamos considerar ser um empate técnico. Uma bela seleção de vinhos com esta quina um degrau acima dos demais num desafio definido pelo fotochart!

O Melhor Custo x Beneficio ficou com o Duorum 2007 e a Melhor Compra o Herdade do Pinheiro Reserva, este último por voto direto. Agora vejamos o vinho preferido de cada degustador e sua pontuação:

  • Ralph Schaffa – Vila Santa – 89 pontos
  • Claudio Werneck – Paços do Conde reserva – 91,5 pontos
  • Breno Raigorodsky – Vila Santa – 90 pontos
  • Francisco Stredel – Herdade do Pinheiro Reserva – 91 pontos
  • Alexandre Frias – Paços do Conde Reserva – 87 pontos
  • Evandro Silva – Vinha Grande – 90 pontos
  • Luis Fernando Leite de Barros – Herdade do Pinheiro Reserva – 91 pontos
  • Fabio Gimenes – Vinha Grande – 96 pontos
  • Zé Roberto Pedreira – Vinha Grande – 91,5 pontos
  • Simon Knittel – Vinha Grande – 89 pontos
  • Daniel Perches – Paços do Conde Reserva – 93 pontos
  • João Filipe Clemente – depois de meia hora de indecisão e por meio ponto sobre o Paços, o Vila Santa – 88,5 pontos.

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Caso queira localizar uma loja próximo a você onde possa comprar um ou mais dos rótulos acima, contate o importador ou produtor acessando Onde Comprar.

Salute e kanimambo. Mês que vem tem mais!

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