Juanicó

                É, por este nome do produtor, poucos saberão de que vinhos falarei hoje. Juanicó é nome da vinícola que produz os famosos vinhos Don Pascual, Prelude e Família Deicas, agora está mais fácil não? Já deu para se situar? Pois bem, a Juanicó talvez seja o maior produtor Uruguaio de vinhos finos, exportando cerca de 20% de sua produção e detendo algo ao redor de 35% do mercado Uruguaio com uma produção total de cerca de cinco milhões de garrafas anuais. Apesar de já conhecer alguns de seus produtos como o ótimo Prelude e o excepcional Família Deicas 1er Cru Garage, desta vez tive o privilégio de, não só voltar a tomar estas preciosidades, mas também conhecer a linha básica e uns lançamentos.

  • Don Pascual Viognier Reserva 2005, eis aqui um vinho branco muito agradável, de boa concentração e frescor. Trinta por cento dele passa por barris de carvalho Francês por seis meses. No nariz muito cativante com os aromas de pêssego tendendo a se sobressair. Na boca é cremosos, de corpo médio, acidez controlada e muito saboroso. O preço normal é de R$39,00, mas neste mês de Julho está em promoção por R$32,00.
  • Don Pascual Tannat Roble 2006, uma parte passa por carvalho Francês e outra por Americano dando-lhe características muito interessantes. Um Tannat muito equilibrado, redondo e macio, absolutamente pronto para beber. O Preço normal é de R$45,00, porém nesta promoção de Julho, está por R$39,00.
  • Prelúdio Barrel Select Branco 2004. Lançamento do primeiro Prelúdio branco e um senhor vinho que vem para dividir atenções com seu irmão mais velho, o tinto. Um corte de 90% de Chardonnay, 8% de Viognier e 2% de Sauvignon Blanc. De 9 a 11 meses de barrica de carvalho Francês, elaborado de forma quase artesanal que resulta em somente umas 2500 garrafas disponíveis para todo o mercado. No nariz não desperta, pelo menos para min, grandes euforias. Na boca, no entanto, é bem mais evoluído, complexo, um vinho que clama por comida. Elegante, rico é um vinho de grandes qualidades. Preço R$88,00.
  • Prelúdio Barrel Select Tinto 2002, um corte de Tannat, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Petit Verdot e um tico de Marselan. Vinho de guarda com ótima estrutura. Este 2002 apresentou aromas complexos, taninos firmes sem qualquer agressividade na boca, fruta madura, boa acidez, muito equilíbrio num conjunto que preza pela elegância. Já muito bom e, certamente, melhorará ainda mais com mais um ano de garrafa. De R$115,00 por R$99,00.
  • Don Pascual Tannat/Merlot, o célebre corte Uruguaio que vai excepcionalmente bem com uma carne na brasa. Este corte produz um equilíbrio e harmonia tal no vinho, que explica o sucesso que o faz ser um campeão de vendas. Redondo, fácil de beber, um vinho para quem não quer errar. Nos restaurantes, uma escolha certeira.
  • Família Deicas 1er Cru Garage 2000. Produzido em associação entre a Juanicó e a família Magrez, dona de diversos Chateaus em Bordeaux, em especial o Chateau Pape Clement, com uvas de vinhedos de baixíssima produção de onde se extrai algo como meio quilo de uvas por planta o que significa que, para elaborar uma garrafa deste néctar, se usam uvas de três plantas! Já tinha me apaixonado pelo vinho quando de uma degustação de aniversário da Expand e, repetir a experiência foi um enorme privilégio já que este vinho me encanta, é exuberante! Repito o que já tinha comentado antes, uma paleta aromática absolutamente maravilhosa, intensa e complexa. Na boca é potente, mas elegante com taninos finos presentes e boa acidez com um longo final de boca. Não mais uma enorme surpresa e sim, a confirmação de estar perante um grande vinho! Preço especial na promoção. De R$285,00 está por R$248,00. Para quem tem essa grana, não deixe de comprar, não se arrependerá.
  • Licor de Tannat 2004. Um licor produzido à base de Tannat com adição de álcool viníco ao estilo dos vinhos do porto. Bom para tomar  acompanhando uma sobremesa de chocolate ou em vôo solo. Preço R$78,00.

Estes vinhos são de importação exclusiva da Expand. Procure-os em qualquer uma de suas 33 lojas espalhadas por este Brasil afora. Veja telefones e endereços em http://www.expand.com.br/ .

 

Salute e kanimambo.

 

Uruguai – Regiões & Uvas

O Uruguai é um país de pequenas proporções, pouca população, mas riquíssimo em cultura e desenvolvimento de seu potencial vinícola. Sim, para quem ainda não sabia, aqui se fazem muito bons e saborosos vinhos. Com apenas cerca de quatro milhões de habitantes, tem cerca de 280 vinícolas produzindo e aproximadamente umas 120 exportando regularmente, porém só cerca de 30 com vinhos finos (VCP) engarrafados sendo o restante de vinhos de mesa a granel. São cerca de oito mil e quinhentos hectares de vinhas gerando um total de cerca de cem milhões de litros de vinho, dos quais somente cerca de trinta por cento, de acordo com o INAVI, são de vinhos finos e o restante de mesa. O Brasil é seu grande mercado exportador, para vinhos finos engarrafados com cerca de 33% do total de suas exportações, através de vinte diferentes bodegas. A Rússia é seu maior importador, porém essencialmente de vinhos de mesa a granel (97%). O consumo per capita é de cerca de 29 litros, a grande parte de vinhos de mesa produzidos com vitis-vinífera, principalmente a Moscatel de Hamburgo que gera vinhos ligeiros e meio adocicados, porém a preços muito acessíveis. È um consumo per capita maior que o do Chile, mas inferior ao do vizinho Argentina e consideravelmente maior que o Brasil com seus míseros 2 a 3 litros anuais.

Apesar de produzirem vinho a mais de 250 anos, foi realmente a partir de 1874 com a aposta na uva Tannat por parte de Pascual Harriage, que o a vinicultura começa a ganhar corpo. A moderna vinicultura, todavia, somente começa a ganhar corpo a partir do inicio dos anos de 1980 culminando com a criação do INAVI (Instituto Nacional de Vitivinicultura), uma entidade publica que vem regendo o presente e o futuro do vinho Uruguaio. Em 1992 foi feito um estudo de regionalização da produção do vinho em que se definiram oito grandes regiões de potencial de desenvolvimento baseado em parâmetros climáticos assim como da geologia encontrada. Sua marca registrada é o Tannat e sua chegada ao cenário mundial é bem recente, mas ganhando espaço com bastante velocidade apesar de ainda ter suas exportações muito concentradas, com 87%, em dois países.

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Algumas importantes normas foram definidas para a industria. Começando pelo fato de que qualquer varietal declarado no rótulo deverá ter, obrigatoriamente, um mínimo de 85% dessa variedade. Por outro, se instituiu a VCP (Vino de Calidad Preferente) que é o verdadeiro vinho fino como nós o conhecemos. Ter a chancela VCP impressa no rótulo significa dizer que o vinho foi produzido dentro das normas, região e condições estabelecidas.  Não é chancela de qualidade, ou seja, pode-se ter um bom vinho sem VCP como ter um péssimo com VCP. Na verdade, ter VCP é uma indicação de que o vinho deve ter qualidade, mas não uma verdade absoluta.

Por outro lado, o mestre Saul Galvão, em seu livro Tintos & Brancos, nos informa que as safras no Uruguai são muito importantes, tanto quanto nas regiões Francesas de Bordeaux e Borgogne então preste atenção quando for comprar. As melhores safras mais recentes são as de 2001, 2002, 2004 e 2005. Como já mencionei em meu post anterior sobre Safras, isto não quer dizer que vinhos de outras safras sejam ruins, somente de que os elaborados nestes bons anos serão potencialmente melhores. A concentração da produção ainda é muito grande sendo que 89% advém da Região Sul. Gradualmente as fronteiras se ampliam, e existem diversos bons projetos em andamento fora dessa região. Um desses destaques é a Domínio Cassis com um projeto pioneiro na Região Sudeste mais precisamente em Rocha.

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             Os vinhos Uruguaios apresentam características bem diferentes dos vinhos a que estamos habituados a tomar de origem Argentina e Chilena. Pelas próprias diferenças climáticas com temperaturas mais amenas e condições geológicas bem distintas às encontradas nestes outros paises. São vinhos com personalidade própria, elaborados por gente que tem um jeito diferente de fazer vinho e que, neste sentido, nos parecem vinhos mais parecidos ao estilo do Velho Mundo. Com menos potência, teores alcoólicos mais controlados, boa estrutura, mais elegância e sabores diferentes já que a base de sua vinicultura é a uva Tannat, originalmente da região de Mandiran na França, que encontrou aqui seu habitat perfeito. A Tannat no Uruguai é elaborada tanto em vinhos varietais como em cortes em que seu forte potencial tânico costuma ser suavizado pelo acréscimo de Cabernet Franc e Merlo assim como já vi com Tempranillo, Pinot Noir e Viognier, uma uva branca. Mas não é somente de Tannat que é feita a reputação dos vinhos Uruguaios. Bons varietais de Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot, também são encontrados. Nos brancos, as presenças da Sauvignon Blanc e da Torrontés se fazem presentes no portfolio da maioria dos principais produtores.

A Tannat, especialmente rica em polifenóis, tendo o maior contéudo de Resveratrol (forte poder antioxidante) entre todas as cepas Vitís Viniferas conhecidas, quando mal trabalhada, é extremamente adstringente (tannat vem de taninos) e gera vinhos muito rústicos. Afortunadamente, a maioria do que vem sendo exportado para o Brasil são de vinhos de qualidade,  bem elaborados e de boa estrutura. Mesmo assim, é aconselhável dar aos varietais desta cepa, especialmente quando 100%,  um pouco de tempo em garrafa para que possa usufruir-se de toda a sua complexidade de aromas e sabores e para que os taninos amadureçam.

No ano de 2007, mais que dobraram as importações Brasileiras de vinhos Uruguaios, demonstrando o grande interesse do consumidor Brasileiro por estes produtos, que já conquistaram 2% do mercado considerando-se volume, mas 4% no que se refere a valor. A grande parte da produção está nas mãos de empreendimentos familiares com produções relativamente pequenas, porém em franco desenvolvimento com projetos muito bem cuidados. Prove estes vinhos, têm um quê do jeito de ser Uruguaio, um quê do Velho Mundo. Os críticos sérios e grandes conhecedores, como o mestre Luiz Horta e o Didu entre outros, são unânimes em declarar que os vinhos Uruguaios estão em franco desenvolvimento e muito ainda se irá falar sobre eles. Comece desde já a descobrir, se é que ainda não o fez, os vinhos desta terra simpática e hospitaleira que é o Uruguai. São, realmente, produtos diferenciados e com um nível geral de qualidade muito bom, aproveitem.

Abril é o mês do Uruguai e, a partir da próxima semana, publicarei os destaques que nossos parceiros estarão disponibilizando, tanto de vinhos Uruguaios como outras boas indicações, e listando os vinhos Uruguaios que tive o privilégio de provar e aprovar. Veja em Tomei e Recomendo também ao longo deste mês, que para nós enófilos e amantes do vinho é especial já que é mês de Expovinis, os vinhos que provei e aprovei em cada uma das faixas de preços pré-estabelecidas (até R$30, 30 a 50, 50 a 80 e 80 a 120) .  Salute e Kanimambo!

Uruguai – Dominio Cassis, uma agradável surpresa

                Recentemente tive uma agradável surpresa ao participar da apresentação de uma vinícola recém chegada ao País. Pioneira, de uma região de colinas, próximo a La Pedrera e La Paloma ao norte de Punta Del Este e a cerca de 250kms de Montevideo, denominada Rochas. Foi nesta região de solo pedregoso, baixa fertilidade, pouca chuva e boa drenagem, que o enólogo Juan Ferreri se uniu a Carlos Tomasi para, em 1999, plantarem o primeiro vinhedo e a base do que é hoje a Bodega Domínio Cassis. Distante apenas 10 kms do do Atlântico, se beneficiam das brisas marinhas constantes, para amenizar temperaturas refrescando as noites e ajudando na manutenção da saúde do vinhedo que tem manejo orgânico.  Aqui se plantaram mudas de cepas com clones especialmente estudadas, selecionadas e totalmente adequadas ao tipo de solo existente na área. Resultado, um mix de parreirais de Cabernet Franc, Tannat, Cabernet Sauvignon e Syrah.

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             Seus vinhos são muito bem elaborados, com um claro projeto de qualidade no lugar de quantidade, o que se vem comprovar na boca ao provar seus saborosos e diferenciados vinhos. A primeira coisa que se pensa ao ser convidado para degustar vinhos Uruguaios, é que se vai provar basicamente Tannat e o tradicional corte de Tannat/Merlot,varietais de Cabernet Sauvignon, Petit Verdot ou Syrah, um Torrontés enfim, variações dessa linha de tendência. Pois bem, eis que nos deparamos com a primeira grata surpresa desta degustação. A criativa diversificação de cortes e o uso forte da Cabernet Franc na elaboração dos vinhos desta vinícola e, mesmo quando nos deparamos com um Tannat, não é aquela mesmice a que estamos habituados a provar. A segunda surpresa se deve á qualidade provada nos vinhos que comento abaixo e a terceira, que a meu ver é a cereja no chantilly, a estratégia comercial adequada com uma politica de preços sensata e adequada. Vão longe estes nossos amigos, mas vamos aos vinhos!

              De entrada, temos o Eclipse 2006 (12.8º), vinho elaborado com 100% de Cabernet Franc vinificado pela Bodega Tomasi, elaborado com as uvas retiradas da parte mais baixa do vinhedo. Sem barrica e baixa filtragem, é um vinho simples, mas muito interessante com aromas de frutos negros e algo de tostado que se comprova na boca. Vinho bem equilibrado com uma acidez média para baixa, taninos doces e um pouco curto. Vinho básico que entrega muito mais do que os previstos R$17,00 a que deverá estar sendo vendido nas lojas.

              O segundo vinho provado foi o Recuerdo 2005 (13º), um criativo corte de Tannat (50%), Cabernet Franc (47%) e Syrah (3%) com seis meses de barrica produzido com as uvas da região intermediária do vinhedo. No nariz, o primeiro impacto olfativo é meio alcoólico, porém rápidamente dissipado na taça quando sobressai um frutado agradável, sem exageros, com toques de chocolate provavelmente advindos do tempo em barrica. Na boca, não se sente em nada o álcool  que está muito bem integrado e equilibrado, acidez um pouco baixa, persistência média, redondo, formando um conjunto saboroso de se tomar e fácil de agradar. Por cerca de R$23,00, pode variar de loja para loja, é campeão.

                O terceiro vinho foi o Oceánico 2005 (13.5º), um corte de Tannat (50%), Cabernet Franc (40%), Cabernet Sauvignon (6%) e Syrah (4%) elaborado com as uvas mais nobres da parte mais alta das colinas do vinhedo. Sem filtragem e sem clareamento, o vinho é negro opaco e brilhante de corpo médio para encorpado. Taninos finos, acidez muito boa, aromas e sabores complexos, boa persistência, um vinho de muito boa qualidade que entusiasma. Ainda um pouco jovem, certamente evoluirá bem por mais um ou dois anos. Por apenas R$39 a 40,00 é uma verdadeira pechincha, para comprar de caixa! Certamente o campeão da noite no quesito custo X beneficio.

               Para finalizar, um belíssimo vinho, o Abraxas 2002 (13.8º) um 100% Tannat com 18 meses de barrica Francesa de primeiro uso, elaborado com o que de melhor o vinhedo produz e que, somente em ótimas safras será engarrafado. Por enquanto é a uncia Safra disponível.  É um vinho suntuoso, negro, tinge a taça e precisa respirar. Ao final de uma hora de decanter e taça, ainda estava se abrindo, é vinho para alguns anos de guarda, apesar que já pronto para beber, e que valerá a pena conferir em mais um ou dois anos pois terá muito a evoluir ainda. Muito harmônico, taninos finos ainda firmes, aromas complexos, fresco, encorpado, elegante, realmente um vinho do qual se orgulhar e com características diferentes dos outros Tannats 100% que já tomei. Brisa marinha? Solo? É o famoso Terroir em plena atividade! Somente 600 garrafas foram produzidas nesta excelente safra e o preço condiz com tanto requinte e complexidade, em torno de R$120,00. No Portal dos Vinhos, o preço está com uma promoção especial de lançamento, R$95,00, e vale cada gota! Um boa compra a este preço e, como existem poucas garrafas disponiveis, não dá para bobear. Vinho de grande personalidade.

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               São vinhos que me agradaram bastante e que recomendo. Um jeito diferente de fazer vinho, fugindo da obviedade e de modernismos, com preços adequados que podemos pagar. Decididamente não são vinhos comuns. A boa parte da linha de produtos da Dominio Cassis, está disponível na excelente Portal dos Vinhos e na eclética BR Bebidas. Veja endereço e telefone em “Onde Comprar”