ABC do Vinho

O Valor dos Pontos No Vinho!

Semana passada um cliente novo pediu para ver vinhos com 90 pontos ou mais, daí eu voltar a este tema! Já comentei este tema por aqui e repito, são interessantes indicadores de qualidade a serem digeridos com uma boa dose de parcimônia! São muitos os críticos que dão notas a suas avaliações, alguns até por aqui, já eu somente pratico pontuação quando participo de concursos ou bancas degustadoras e isto se torna absolutamente necessário. No blog não o faço por uma questão filosófica! Já tomei vinho de 100 pontos e ….. nada. Nesse mesmo dia tomei um outro de 94 e UAU!! Mas tem gente que compra vinho por ponto, fazer o quê, cada um com sua neura e tudo bem, há espaço para todos e para todas as tendências, mesmo que eu não seja simpatizante da causa. Nesse caso, lembro que um vinho de 86/87 pontos é um muito bom vinho, pelo menos na minha avaliação, não se pode ficar restrito aos vinhos acima de 90. Eu, por exemplo, sou munheca dando nota, tem que ser um grande vinho para eu dar mais de 90 pontos!

Há críticos bons e outros nem tanto, há os que confio e outros nem tanto, tudo é uma questão de confiança e conceito. Uma vez mudaram os críticos convidados num importante evento de vinhos no Chile. Anualmente eram os críticos americanos os convidados e nesse ano foram europeus, para variar um pouco. O que se viu foi uma reviravolta geral nas premiações dadas! Uns preferem um estilo (maior extração e potência) e outros buscam um outro (maior elegância e complexidade), tudo acaba se resumindo numa questão de preferências individuais e por isso essa notas são tão relativas.

Pior é que uns dão notas de uma forma e outros de outras, então como entender e compará-las? Um dos críticos que acompanho, especialmente quando se trata de Espanha, é Penin  que, por uma questão didática, adotou desde 1992 a pontuação americana como seu padrão e não a europeia que segue a tendência de pontuar de 0 a 20. Neste padrão americano a pontuação começa em 50 e é a que mais comumente usamos por aqui em nossa vinosfera tupiniquim. Veja o que significam estes pontos:

50 a 59 é um vinho defeituoso/ruim

60 a 69 não recomendável

70 a 79 um vinho correto/honesto

80 a 84 um vinho bom

85 a 89 um vinho muito bom

90 a 94 excelente

95 a 100, vinhos excepcionais lembrando que a perfeição não existe então, em meu conceito, 100 pontos não dou para nenhum vinho! rs Aliás, vinhos desse calibre (próximo dos 100 pontos) não são para serem pontuados e sim apreciados e contemplados preferencialmente de joelhos agradecendo a Baco pela oportunidade! Na tabela (elaborada pela www.delongwine.com) abaixo, uma equiparação das principais formas de pontuação. A imagem pode ser vista ampliada aqui > http://srv.delongwine.com/how_we_rate_wines.pdf .

wine-ratingsMinha dica; use com cuidado pois tem muito vinho que não participa de concursos e a pontuação é muito relativa. Muitos destes concursos são de qualidade e reputação duvidosa, outros não possuem qualquer relevância, então devagar com o andor e, especialmente, cuidado com os tais vinhos “melhores do mundo” engodo marqueteiro!! Podem até ser bons, mas longe do que afirmam até porque tal coisa inexiste.

Saúde e kanimambo pela visita, ótima semana para todos.

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Taças de Vinho, Redescobrindo Sabores e Aromas.

Mesmo não sendo um xiita sobre o assunto, já deixei claro por aqui que uma boa taça pode sim fazer uma diferença enorme sobre o vinho nela tomado. Lógico que há momentos para tudo, já me diverti à beça tomando vinho num copo de requeijão numa tasca em Portugal ou de plástico na praia em Floripa, so what, como disse numa gravação há época, tudo vale a pena quando a alma não é pequena ! Agora, um bom vinho na temperatura e taça certa fazem toda a diferença e não há como negar!

Clipboard Riedel Tasting 2016

Semana passada realizei a terceira edição da Riedel Tasting Experience em parceria com ela mesma, a Mistral e minha amiga Nazaré, chef e proprietária do restaurante Vedhanta aqui no centrinho da Granja Viana, quando degustamos alguns bons vinhos em taças especificas para quatro varietais. É uma degustação de taças onde exercitamos nossa capacidade sensorial através de um exercício em que o vinho vai mudando de taça e, no processo, sabores e aromas, vão e vêm como mágica! Só que não é mágica não, é pura engenharia, que faz com que possamos tirar ao máximo tudo aquilo que um vinho varietal de qualidade pode nos oferecer e não só.

Clipboard Riedel tasting GlassesA Riedel estudou isso a fundo e como tal se tornaram ao longo dos anos especialistas em tirar o máximo de cada caldo em suas taças. Do vinho, ao café, passando pela Coca-Cola e Malt Whisky ou Cognac, para cada caldo uma taça para realçar todo o potencial que cada um tem. Tá, sei que pode ser exagero e preciosíssimo excessivo, mas que funciona, funciona. Tenho vários amigos que não acreditavam, inclusive alguns engenheiros professores que vieram conferir e comprovaram o fato. O mais legal é que agora, no caso de dúvida se pode usar um app que eles disponibilizam que possibilita que você possa tirar dúvidas na hora que precisar com relação à taça mais indicada para o vinho que vai servir, clique aqui e baixe.

Campeão nesse tipo de evento é sempre a taça de Chardonnay para vinhos com passagem por barrica, em que conforme você troca de taça o vinho vai literalmente sumindo, tanto no nariz quanto na boca, morre e ao voltar para sua taça ressuscita retomando todas as suas características, algo que normalmente deixa as pessoas boquiabertas! Desta feita, no entanto, me surpreendi muito positivamente com um vinho que há poucas semanas Porcupine ridge syrah-viogniertinha usado numa confraria, um Syrah/Viognier Sul-africano, o Porcupine Ridge. Em taças comuns de degustação, o vinho estava bom, porém apresentou pouca fruta, aromas animais intensos e baixa percepção das características notas de especiarias. Na Riedel Tasting Experience usando a taça própria para Syrah, a Hermitage, o vinho estava exuberante com a fruta bem presente, nuances animais idem porém de forma bem mais integrada ao conjunto e o final claramente especiado com notas de pimenta. Era um vinho de outro patamar de qualidade e caso não soubesse, diria que se tratava de outro vinho, show!

Enfim, sem exageros, porém de nada adianta comprar um ótimo vinho de 200, 300, 500 ou 900,00 Reais e tomá-lo numa taça “comum”, certamente boa parte do que você pretensamente comprou não estará em sua taça e você não irá usufruir de tudo o que o vinho teria a lhe oferecer, grana jogada fora. Ah, mas eu não compro vinhos desse valor! Argumento aceite, porém o vinho de que falei, o Porcupine Ridge ou o Catena Chardonnay tomados são vinhos na casa dos 100 a 120 Reais! É, deixei você pensativo sobre o tema né? Pois bem, vá fazendo seus testes e comprove por conta própria pois sei bem o que é ser “São Tomé”, porém certamente os 35 participantes que estiveram lá nessa noite não me deixarão mentir! Grato aos amigos que lá estiveram, à Nazaré, à Cristina Geremias, brand manager da Riedel para o Brasil e uma maestra no assunto, à Mistral e à Riedel. Kanimambo, saúde e desculpem pela ausência semana passada, mas o trampo está bravo! rs Uma ótima semana para todos.

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Processo de Elaboração – Vinho Tinto

Já postei aqui, arquivados sob a Categoria “ABC do Vinho”, diversos diagramas didáticos e fáceis de entender sobre os diversos processos de elaboração de vinho passando por brancos, rosés e espumantes. Ao falar sobre tintos, quero deixar claro que estes posts não visam entrar em detalhes técnicos nem aprofundar o assunto, a idéia é desmistificar e descomplicar, facilitando o entendimento básico de como os vinhos são, de forma genérica, elaborados. Lógico que existem enormes variáveis no processo (tanques de inox, cimento, barricas de carvalho, tipos de leveduras, etc.), mas a grosso modo é assim que os vinhos são elaborados.

Neste exemplo, de origem espanhola, há que entender o que é vinho de “crianza” o que muitos entendem como vinhos jovens e, não, não é vinho para criança!!! rs Crianza aqui tem o significado de criar, de maturação. Existem os vinhos jovens que são engarrafados e colocados no mercado no ano da própria safra, sem nenhum processo de afinamento e “maturação” e existem aqueles que passam um tempo (estágio) em garrafa ou em tanques, barricas, etc. ou numa composição dessas diversas variáveis o que lhe dá um maior o tempo de “crianza” . Quanto maior for esse tempo,não só porém é um fator preponderante, mais complexo e mais caro se torna o vinho ganhando uma estrutura que permitirá sua guarda por tempo mais longo.

Processo elaboração de tintosSaúde, kanimambo pela visita e durante a semana voltamos a nos encontrar por aqui ou em alguma outra esquina de nossa vinosfera. Uma ótima semana para todos.

Processo de Elaboração – Espumantes

Uau, o tema de espumantes é meu campeão de visitas e me sinto à vontade para falar dele,pois não só o estudei tendo iniciado meus escritos falando deles lá nos idos de 2007, como sou um apreciador já tendo pesquisado (provado/bebido) muiiito! Um de meus primeiros posts mostra bem o que é espumante, deixa claro que lambrusco não o é, fala das diferenças entre brut, nature, demi sec, doce, fala dos vários nomes que um espumante pode ter (Champagne, Prosecco, Sekt, Sparkling, Mosseaux, Cava, Franciacorta ou bollettino, Cremant) e explica o que são os métodos de produção, Charmat, Tradicional (champenoise) e Asti, mas faltavam lá esses dois gráficos que torna a leitura mais clara e facilmente entendível. O Asti é na verdade um “Charmat” de uma única fermentação em tanque, então para todos os efeitos e do ponto de vista mais simplista, são apenas dois os processos a considerar. O Charmat com duas fermentações em tanque (exceção feita ao Asti) autoclave e o Tradicional que passa pela segunda fermentação em garrafa.

Método Charmat

Diagrama de vinificação espumantes pelo método charmat

 Método Tradicional (Champenoise)

Poster sobre elaboração de Espumantes II

 Por legislação, somente três DOCs exigem o método tradicional e tem mais uma a caminho (ainda por definir) que deverá ser em Pinto Bandeira no Rio Grande do Sul; Champagne, Franciacorta (Itália) e Cava (Espanha), sendo que este último é o único DOC não regional pois abrange sete diferentes regiões produtoras. Tem dúvidas, sugestões, correções, não deixe de me contatar que responderei na medida do possível.

Kanimambo  pela visita, saúde e e lembre-se que não há necessidade alguma de esperar uma data especial para abrir um espumante. A abertura de um torna qualquer momento especial então curta, pois espumante é vida, é festa, é alto astral!

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Processos de Elaboração – Vinhos Rosé

Para elaboração de vinhos rosés existem basicamente três variáveis; Prensagem direta, Sangria e Blend de Tinto com Branco. As duas primeiras podem ser vistas no diagrama abaixo, porém o blend é algo proibido quase que no mundo inteiro com uma exceção oficial que é na elaboração de espumantes.

A cor e taninos do vinho está na película (casca) da uva então o que se busca é o menor contato desta com o mosto, obviamente dependendo do que o enólogo tem como objetivo. quanto mais tempo de contato, mais cor e mais taninos. Uma fila de diferentes rosés é um colírio para os olhos, uma infinita variação de tons de rosa!!

Tons de rosé - wine Folly

Prensagem direta como nos vinhos brancos. O vinho rosado de prensa é feito de uvas tintas esmagadas e a seguir prensadas com uma parcela dos pigmentos da casca sendo dissolvida no mosto. Neste caso, a intensidade da cor dependerá da intensidade da prensagem utilizada. O mosto rosado é então fermentado sob as mesmas condições do mosto de uvas brancas a baixas temperaturas e bem protegido de oxidação. Gera norlalmente vinhos de cor mais clara, maior acidez e aromas mais frescos.

Sangria – de maceração rápida ou curta, método em que se obtém vinhos de maior estrutura, de cor mais escura e eventualmente com alguma presença tânica, mesmo que leve. Neste caso, a maceração (contato do mosto com as cascas das uvas) é restrita a um curto período de tempo, de cerca de 10 a 18 horas podendo chegar até 24 horas, até atingir a extração de cor, corpo e sabores que o enólogo deseja. Após esse tempo, o tanque é “sangrado” para remover de um terço a um quarto de seu conteúdo para elaboração do rosé, e o restante segue para a produção de vinho tinto.

Produzindo Rosé - Vins de LoireVinhos rosés podem ser elaborados com uma infinidade de uvas tintas, tanto como varietais como em cortes, depende da criatividade de cada enólogo e região produtora. Lá se vão os tempos de vinhos fracos, desiquilibrados e mal feitos. Hoje os vinhos rosados estão na moda em função do grande aumento de qualidade havendo diversos ótimos vinhos no mercado seja para um aperitivo descompromissado com os amigos num happy hour, ou vinhos mais elaborados e requintados que acompanham muito bem uma refeição e são bastante gastronômicos. Harmonizam bem com saladas, frutos do mar, paella (obrigatório), carnes brancas (frango e peru), comida chinesa (especialmente com molhos agridoces), Ceviche, salmão grelhado, grande parceiro à culinária japonesa, lanches, etc.. Opte por buscar vinhos de menor teor alcoólico e boa acidez, tomando-os jovens (entre um a dois anos de garrafa), e bem refrescados entre 6 a 10º muito como você faria com um branco. Salute e kanimambo, explore todas as tonalidades, as opções são muitas!!

diversos 010

 

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Processos de Elaboração – Vinhos Brancos

Numa imagem podemos encontrar um monte de respostas! Andei pesquisando para um curso que estou montando e me deparei com algumas imagens muito bacanas sobre o o processo de elaboração de diversos estilos de vinho, didáticas e auto explicativas, que decidi compartilhar com os amigos durante as próximas duas semanas intercalando com comentários sobre alguns vinhos provados e noticias do mundo do vinho. Afinal, o objetivo é sempre de simplificar e desmistificar nossa vinosfera, então espero que curtam e os diagramas vos ajudem com algumas respostas a dúvidas que possam ter.

Para quem tem curiosidade como é a elaboração de vinhos brancos, veja abaixo.

poster sobre elaboração de vinhos brancos

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No Vinho, Infidelidade É Tudo

Neste fim de semana acabei me deparando no face (onde compartilhei) com um artigo que gostaria de ter escrito pois há muito que bato nessa mesma tecla, que a infidelidade no vinho é essencial! Sair da mesmice, diversificar, descobrir novos sabores e histórias, isso é o que seduz nesse mundo colorido do vinho. O título é sugestivo, “Sejam Infiéis aos Vinhos de Costume” (vinhos de sempre, os mesmos!) e foi escrito pelo jornalista Edgardo Pacheco no jornal português Correio da Manhã há poucos dias. Esqueçam  a menção aos portugueses, porque o tema tem a ver com todos os que se auto proclamam enófilos, não existe vinosfera enófila sem navegantes e viajar é preciso! Agora, se atenham a suas colocações sobre a diversidade dos vinhos portugueses, uma mar em si!

Destaco aqui alguns trechos de seu texto, que adoraria ter escrito, mas o todo só poderá ser lido clicando no link que passei acima.

“Um dos inimigos do vinho é a fidelidade esquisita que muitos consumidores devotam prolongadamente a determinadas marcas. Todos os dias nascem novos brancos, tintos, rosés, espumantes ou colheitas tardias (por vezes em excesso, verdade se diga), pelo que se compreende mal a falta de interesse dos portugueses pela experimentação de novos aromas ou sabores e, acima de tudo, de novas regiões.”

“Nesse sentido, as pequenas garrafeiras de bairro fazem diferença porque é aqui que encontramos vinhos resultantes de pequenas produções do Dão, da Península de Setúbal ou de Trás-os-Montes. E se o dono da garrafeira for competente, seguramente contará histórias sobre esses vinhos que, depois, replicaremos à mesa.” 
A frase que entra para meu rol das clássicas sobre o vinho “Não há nada mais chato do que levar um vinho sem história para a casa de um amigo” Edgardo Pacheco  Leia o texto completo aqui.
Boa semana a todos e lembrem-se de, nessa viagem, fazerem uma parada na Vino & Sapore (rs) para reabastecimento e levar um pouco mais de história à mesa neste final de ano. Kanimambo pela visita aqui e espero vê-los por aí nas estradas de nossa vinosfera, cheers!

Vinho da Madeira, Um Vinho Aquecido! Parte I

O que acontece a um vinho fino se você o estocar em temperaturas de 45ºC, tchau né?! Pois bem, se for um Vinho da Madeira não, muito pelo caravela1contrário, essa é sua essência e seu maior segredo! A maioria só pensa em Vinho da Madeira quando vai fazer molho (rs), então, depois de ter participado de uma inspiradora e deliciosa apresentação da Blandy’s Madeira que ainda possui vinhos de 1920 por engarrafar, achei que estava passado da hora de abordar com mais detalhes o que está por trás destes caldos de Baco. Não existe muita coisa publicada sobre o tema, então decidi compartilhar com os amigos minha viagem de descobrimentos por esses mistérios através de diversos posts como já fiz com os Vinhos do Porto.

O Vinho Madeira tem esse nome porque vem do arquipélago composto pelas ilhas da Madeira e Porto Santo no oceano atlântico próximo a Marrocos. Sua única similaridade com os Vinhos do Porto, é que sãoMadeira - localização também fortificados, porém isso é tudo, porque as uvas são diferentes, o terroir e a forma como ele é envelhecido também, e nisso ele é único em nossa vinosfera.

Na época dos descobrimentos, a localização do arquipélago servia como porto de parada para reabastecimento e o vinho local era carregado para consumo e lastro. Numa dessas paradas, uma barrica cheia retornou e o vinho se mostrou bem melhor do que quando embarcado na ida. Essa melhora, se concluiu, deveu-se ao fato de que na rota das Índias ida e volta, passava-se quatro vezes pela Linha do Equador resultando num processo de aquecimento natural do vinho. Baseado nisso começaram a realizar viagens com barricas somente com esse propósito, eram os “vinhos da Roda ou Torna Viagem”.

Impossível manter esse processo por muito tempo devido ao custo e longo tempo de viagens, então se procurou uma nova forma de realiza-lo de forma mais rápida e barata, nascia o envelhecimento em “Estufas” e “Canteiros” onde esse aquecimento é forçado. Como me disse o representante da Blandy’s, o vinho é tão judiado durante o processo de elaboração que ele não tem muito mais o que sofrer depois de engarrafado tornando-se quase que eternos. Por isso mesmo é reconhecido como um dos vinhos mais longevos do mundo e aqui não falo de anos mas sim de muitas décadas e, em alguns casos,séculos! Bem, mas como esta é a parte I de alguns posts sobre o tema, vejamos as castas usadas na lista das principais uvas usadas (cinco brancas e uma tinta) e no próximo post falaremos um pouco mais destes incríveis vinhos tentando conhece-los para melhor conseguirmos comprá-los e apreciá-los já que, afinal, os Vinhos da Madeira não são todos iguais (como os Portos) existindo Madeiras; Secos, Meio Secos, Meio Doces e Doces! Kanimambo e espero que curtam esta série aprendendo juntos. Clique nas listas para ampliá-las.

Madeira Castas 1Madeira Castas 2

O Poder das Leveduras

O alquimista tentou transformar metais comuns em ouro. A levedura faz algo mais interessante: transforma o suco de uva em vinho. O enólogo pode usar a alquimia da levedura para desenvolver diretamente um estilo, ou pode ter a visão alternativa de que a variação natural da levedura indígena é parte essencial do caráter de seu vinho”. Esta introdução é só parte do excelente artigo escrito pelo  Master of Wine Benjamin Lewin traduzido e publicado no site do amigo Arthur Azevedo (Artwine) por um estudioso e profundo connoisseur do ramo, o professor Leveduras inoculacao na sograpeMarcello Borges.

Muitas vezes ficamos nos perguntando; afinal de onde veem os aromas dos vinhos, para que servem as leveduras, leveduras selecionadas ou indígenas? O artigo elucida muito sobre o tema porém ainda deixa algumas controvérsias no ar, adoro isto pois aprendi e acredito que em nossa vinosfera não existem verdades absolutas, que aguçam a curiosidade.

O efeito das leveduras perdura depois delas: durante o processo conhecido como autólise, quando o vinho está amadurecendo sobre as borras, os remanescentes da levedura liberam compostos no vinho que contribuem para a sensação de boca. Então, não há muito sobre o caráter de vinho que não seja influenciado pela levedura. Uma grande dúvida na produção de vinhos é se se deve deixar a fermentação acontecer naturalmente pelas leveduras indígenas da adega, ou se se deve adicionar leveduras cultivadas para controlar o processo.” Veja o artigo completo clicando aqui.

A esta altura você já deve estar se Levedurasperguntando, afinal que diabos são essas leveduras?! rs As leveduras são microorganismos vivos não visíveis a olho nu, havendo a necessidade de uso de microscópio para tal. Na ausência de oxigênio e em contato com açúcar, fermentam produzindo gás carbônico e álcool. Existem dois tipos, os cultivados e os indígenas (ou selvagens) presentes no próprio mosto e o uso de uma ou de outra é papo para mais de metro entre enófilos, enólogos e outros apaixonados pelo vinho. Eis dois pontos de vista de quem põe a mão na massa:

  • O francês Jean-Luc Thunevin > “Essa é uma questão difícil, que move paixões, muitas vezes irracionais. Mas sendo bem honesto, nas grandes safras, não precisamos de nada além das leveduras indígenas. Afinal de contas, a natureza fez a parte dela, no entanto, nas safras difíceis é preciso usar determinadas leveduras para manter a qualidade do vinho
  • Nicolas Jolly o guru da biodinâmica > “Você pode obter quase qualquer sabor com essas leveduras aromáticas. A ‘refermentação’, como ele chama, apaga o caráter local e a variação de safra. A refermentação é a consequência de uma série de erros”.

Para finalizar, sugiro que leiam também o excelente texto sobre o tema publicado pela revista Adega clicando aqui.  Dilemas à parte, as leveduras são essenciais ao vinho, sem elas você teria apenas suco na taça e na minha opinião nem tanto ao céu nem tanto à terra. Se leveduras indígenas forem usadas e gerarem um vinho bom, maravilha, creio que esse é o objetivo. Como, no entanto, já provei diversos vinhos elaborados com estas mesmas leveduras dentro de filosofias biodinâmicas que não me agradaram de forma alguma, creio que o foco é na qualidade, num caldo que seja acima de tudo palatável e de seu agrado. Enfim, pano para manga, leia, pesquise, prove e tire suas próprias conclusões, mas pelo menos agora você já sabe o que são leveduras e como estas podem ter influenciado o vinho que você tomou ontem!

Kanimambo pela visita, é ela o combustível que mantém este nosso ponto de encontro vivo, cheers!

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Rolha ou Rosca?

MiguelMeu amigo Miguel Angelo de Almeida é um jovem e talentoso enólogo, luso que nem eu, que trabalha na Miolo onde vem desenvolvendo seu trabalho com competência há anos. Já tive a oportunidade de aqui publicar alguns de seus textos e este, que recente recebi dele, me pareceu especialmente interessante, razão pela qual pedi autorização para compartilhá-lo com os amigos aqui hoje. Kanimambo Miguel!

A meu ver existem algumas razões práticas e técnicas para uso de fechamento de rosca (screw-cap) e algumas estéticas e comerciais. Como enófilo e amante de bons vinhos, não me atenho a isso e sim ao conteúdo da garrafa. Aliás, uma prova da diferença entre enólogo e enófilo; o Enólogo (Miguel) diante do vinho toma decisões já o Enófilo (JFC), diante de decisões toma o vinho! rs O que tenho visto até agora, e obviamente provado, me diz que não existem alterações consideráveis no vinho e ultimamente provei vinhos com até 12 anos de idade com rosca e estavam ótimos, em perfeito estado de preservação e vida compatíveis com outros de igual idade e origem fechados com rolha de cortiça. Vejam o que o Miguel, com maior experiência e conhecimento de causa, tem a nos dizer sobre o tema.

“Sabemos que perante um vinho fechado com rolha natural, o consumidor tem uma grande expectativa em comparação com os outros tipos de fechamento. Mas o tempo é o grande modelador das nossas convicções, a história da rolha de cortiça natural com o vinho tem cerca de 400 anos e a história do screw-cap com o vinho tem cerca de 60 screw-vs-corkanos. Como disse a Baronesa Philippine de Rothschild: “Produzir vinho é relativamente simples, só os primeiros duzentos anos são difíceis.”.Aqui, no Grupo Miolo, a opção de vedar um vinho com rolha natural ou screw-cap é uma decisão técnica.

Hoje, para proceder o fechamento de uma garrafa de vinho, o enólogo possui várias soluções: rolha de cortiça natural, rolha sintética, rolha de vidro (vino-lok) e screw-cap de alumínio. Contudo, as duas principais soluções são a rolha de cortiça natural e o screw-cap de alumínio.

Se o objetivo for entregar ao consumidor um vinho próximo daquilo que o enólogo obteve na fermentação e/ou estágio de amadurecimento, o vedante mais indicado para este efeito é o screw-cap, que proporciona um fechamento hermético, bloqueando a evolução oxidativa do vinho. Por outro lado, se o objetivo for permitir evolução, a decisão será vedá-lo com uma rolha de cortiça natural que permite uma mudança positiva no tempo. O screw-cap é uma redoma, a rolha de cortiça natural representa transformação.

SobreiroA cortiça é composta por células de suberina com a forma de um minúsculo prisma pentagonai ou hexagonal, um ácido gordo complexo, e preenchida com um gás semelhante ao ar, que ocupa cerca de 90% do seu volume. Portanto, a cortiça contém oxigênio que migra para o vinho, ajudando este a se polimerizar, a se arredondar, mudando irremediavelmente a sua vida e as suas histórias. Estudos recentes demonstram que os diferentes tipos de vedantes diferem na sua permeabilidade ao oxigênio atmosférico. Os sintéticos são os que apresentam maiores taxas de entrada de ar, oxidação prematura, seguidos das rolhas de cortiça natural, evolução equilibrada, enquanto screw-cap é o que permite menores taxas de entrada de oxigênio, evolução lenta.

Num vedante sintético o ar migra, através de si, de fora da garrafa para dentro do vinho. Numa rolha de cortiça natural o oxigênio migra do interior da rolha para o vinho. Num screw-cap sarantin, o do disco interno prateado, não existe migração de oxigênio (screw-cap saranex é o do disco interno branco).

A rolha de cortiça é um elemento 100% natural, 100% biodegradável, proveniente diretamente da casca de uma árvore da família dos carvalhos, o sobreiro. A sua retirada é feita a cada nove anos, sem que nenhuma árvore seja cortada durante este processo. A cortiça dá origem a uma infinidade de produtos, e o principal é a rolha. Cada sobreiro demora 25 anos até poder ser descortiçado pela primeira vez e só, a partir do terceiro descortiçamento (aos 43 anos), a cortiça tem a qualidade exigida para a produção de rolhas. O sobreiro é a única árvore cuja casca se autorregenera, adquirindo uma textura mais lisa após cada extração. Pode ser descortiçado cerca de 17 vezes ao longo de uma longevidade que é, em média, de 200 anos, e não está em extinção, sendo a árvore símbolo de Portugal. Eu me curvo em deferência perante este elemento natural.

O primeiro screw-cap para vinho foi criado pela empresa Stelvin, em meados da década de 60, sob o comando do diretor de produção da vinícola australiana Yalumba, em parceria com uma empresa francesa. O screw-cap ganhou espaço no mundo dos vinhos à custa da imprudência dos corticeiros portugueses, os quais no final da década de 90 (boom mundial da produção de vinhos) inundaram o mercado com cortiça de má qualidade, cortiça com problemas de tricloroanisóis, vulgo TCA, composto químico com cheiro a mofo, cartão úmido. No inicio do novo milénio, os britânicos firmaram a sobrevivência do screw-cap no fechamento de garrafas de vinho. No Reino Unido, a aceitação dos vinhos vedados com screw-cap foi de 41% em 2003 e 85% em 2011.

No Grupo Miolo utilizamos ambos como vedantes de nossos vinhos:

  • O screw-cap para vinhos básicos de características jovens (Almadén, Miolo Seleção e Miolo Gamay) até vinhos de qualidade premium, a grande novidade da vindima 2015 (Miolo Reserva Chardonnay, Pinot Grigio, Sauvignon Blanc e Pinot Noir). Podem reparar que o Miolo Reserva Sauvignon Blanc 2015 está todo ele fechado com um screw-cap sarantin. Este tipo de screw-cap apresenta os menores valores de oxigénio total aquando do engarrafamento, de 0,0001 a 0,0007 ml O2/dia;
  • A rolha de cortiça natural para vinhos premium (Miolo Reserva Cabernet Sauvignon, Merlot, Tempranillo e Tannat) até vinhos de qualidade ícone, vinhos altamente estruturados (Miolo Cuvée Giuseppe, Quinta do Seival Cabernet Sauvignon, Quinta do Seival Castas P ortuguesas, Testardi Syrah, Vinhas Velhas Tannat, Miolo Merlot Terroir, Miolo Lote 43 e o Sesmarias).

Os produtores de vinho decidem o tipo de vedação com base em experiências passadas, na filosofia atual, em questões técnicas, custos e as exigências do mercado. Em suma; a rolha é vinha e o screw-cap é homem. Os quatro são complementares

Agora, nada como sua própria experiência, então vai aqui uma sugestão; monte uma degustação entre amigos e abra dois com rosca e dois com rolha, preferencialmente da mesma uva e região produtora, melhor ainda se puderem ser do mesmo produtor, e tire suas próprias conclusões. Aí vão me perguntar; e o charme?! Bem, aos sessenta a maturidade me faz prestar mais atenção no conteúdo que na aparência, não bebo charme e sim vinho, então….! rs Kanimambo amigos e espero ver alguns de vocês neste Sábado no meu evento de FOOD TRUCK GOURMET (clique para ver detalhes) harmonizando pratos e vinhos franceses. Cheers e até!