janeiro 2010

Reflexões do Fundo do Copo – Propaganda do Vinho, o Desafio da Hora.

breno3Escrevi um artigo sinuoso e pouco afirmativo em dois tempos sobre a propaganda de produtos supérfluos e ligados ao prazer para a revista “Free Time”. Reproduzo, reviso e complemento o segundo tempo dela, neste generoso espaço do “Falando de Vinhos”, por supor que são dois veículos dirigidos a públicos diferentes, por mais que haja coincidências de leitores. Aviso que é um texto que mais parece um rascunho, que provavelmente mereceria apenas a atenção dos ratos e das traças, se fosse ele de papel e não um material assim tão etéreo como o do navegador virtual que lhe carrega de passagem.

Pois bem, sem mais firulas, no primeiro tempo, depois de fazer um arrazoado mais ou menos longo sobre as dificuldades que sofre um ícone aristocrático para anunciar-se como produto de mercado, escrevi o que vem abaixo:

 A Propaganda do vinho

          Acabei o artigo anterior refletindo sobre as dificuldades que o mundo da comunicação tem para anunciar produtos que saem do nicho restrito a produtos de elegância e excelência para cair na real do consumo diário. Chamei a atenção para o vinho, por ser, no meu entender, o desafio da hora.

         O vinho é um produto fora de padrão por várias razões que merecem uma pequena história – junto com a cerveja, é fruto de fermentação conhecida há mais de cinco milênios. É produzido e consumido por diferentes culturas de diferentes origens. Está na restrita família dos produtos bíblicos que se manteve até os nossos dias. É fruto da terra e do trabalho do homem, como o azeite da oliveira, o pão do trigo e cerveja de cereais. Qualquer amassamento de uva seguido de um processo de fermentação natural ou induzido, proposital ou acidental, pode ser chamado de vinho, o que lhe dá uma grandeza desmedida – queiram ou não os seguidores de algumas seitas protestantes e fundamentalistas, que não sabem como impedir o consumo do álcool entre os seus seguidores, na medida em que ela está presente em tantas referências do Velho Testamento Biblíco. É verdade que este vinho bíblico não era um produto comum, mas “casher”, diferenciado na manipulação, na vinificação e no uso sagrado, como me explicou Anete R. Ring, importadora de vinhos e azeite de Israel no Brasil. O vinho era cozido, ganhando, aos olhos dos responsáveis pelos antigos mandamentos, sua divinificação, pois manipulado de modo a destacar-se do vinho feito acidentalmente e sem qualquer ritual… Ou seja, o vinho tribal, pagão.

          É conhecido enquanto produto por todo o mundo ocidental, sendo que boa parte desta população tem em seu DNA algum parentesco – mesmo que distante no tempo e no espaço – com algum produtor de uvas e vinho. É, portanto, um produto assimilado, fácil de determinar, com o uso bem definido?! Sim, quando se pretende apenas falar do vinho em geral. Não, quando se pretende definir um nicho e menos ainda quando se quer lançar um produto específico. Pois o vinho é um produto manhoso que se esconde sobre esta capa de simplicidade. Há circulando no Brasil, mais de 20 mil rótulos diferentes, dos quais ao menos 2/3 foram produzidos na América Latina, quase 1/3 nos países do Velho Mundo e a pequena parcela restante vieram da Austrália, Nova Zelândia, África do Sul e América do Norte, além de alguma coisa vinda do Oriente Médio. Entre estes 20 mil rótulos, se encontra produtos que custam para o consumidor final, menos de R$10,00 e há outros que custam mais de R$10.000,00, todos carregando o título de vinho, por mais que alguns deles sejam frutos de procedimentos, que não passariam (como não passam) por controle de qualidade mais rigoroso, como o da Comunidade Européia.

        Dito isso, o briefing criativo para a agência de publicidade que pretende apresentar um deles ao consumidor, começa a se fechar com informações que localizam o produto no mercado restrito dos vinhos. Cada um está numa posição diferente entre mesmos produtores. Pesquemos um exemplo concreto: o respeitado vinicultor das rendondezas de Alba no Piemonte italiano, Pio Cesare, produz Barolos e Barbarescos de grande qualidade, orgulhosos com os 42 meses que passam em madeira muito superior às exigências da legislação que controla o uso de suas denominações, ou seja, ao menos 36 meses para o primeiro e 30 meses para o segundo em madeira, além de dois anos em garrafa antes de ser comercializado. Com a uva Nebiollo, a mesma utilizada para fazer os mesmos vinhos nobres citados acima, ele faz um vinho catalogado como Langhe Nebiollo, mais despretensioso e competitivo.

         Como sua comunicação deve se comportar, desde o rótulo até o anúncio? Deve pegar carona na história e tradição da casa centenária e, com isso, eventualmente tirar a nobreza daquele ou deve – ao contrário – mostrar uma face mais moderna e mercadológica, como um agiornamento que permite o consumidor a usufruir de um Pio Cesare num almoço normal de dia de semana, coisa inviável até então, visto que o grande vinho piemontês exige ao menos uma hora e meia de respiração, o que faz com que ele seja pouco consumido por entendidos em restaurantes, sem contar, é óbvio, que seu preço, por si, inviabiliza o seu acesso aos mortais mais comuns. Poderíamos dizer então que o Pio Cesare deveria fazer então um empréstimo de prestígio dentro de sua própria casa. Deveria dizer “Langhe Nebiollo. Finalmente um Pio Cesare para o seu almoço”. Nada melhor, um produto que sai da linha da nobreza e entra com grande estilo no mundo das mercadorias pós-aristocratas. Um vinho moderno, com know-how e sisuda seriedade. Um vinho que tem linhagem, estirpe, sem ter que se cercar de artifícios visuais que criem esta imaginação.

        Evidentemente, este argumento serve a centenas de grandes vinhos modernizados. Serve mais ainda, para aqueles que precisam revitalizar a imagem por mil razões. O Chianti Classico fugiu de sua embalagem de cestinha, quando quis ampliar seu mercado para além das cantinas e das macarronadas de Domingo. Ele mesmo, aliás, criou uma restrição visualmente reconhecível como certificado de qualidade, o “Galo Nero”, prova de espaço geográfico restrito e condições de vinificação estabelecidas. Mas o produtor que não tem uma tradição própria para se apegar, uma base material conquistada e definida como ponto de partida, se vê obrigado a procurar outros valores para levar o seu público-alvo ao consumo por impulso, ou seja, a fazer com que a comunicação leve o consumidor à experimentação.

         Então, como fazer? Para quem não tem grandes tradições e já divulga sua marca há muito tempo, um novo produto deve ser tratado com a sua especificidade, atingindo camadas inferiores ou superiores do target a que ele se dirige. No caso citado acima do Pio Cesare, certamente a comunicação deveria ser mais jovial, com traços de modernidade. O caso contrário também é possível. Empresas como as brasileiras, que nasceram produzindo vinhos simples, podem aspirar legitimamente a ter um produto de classe. É o caso, só para citar o que primeiro me ocorre, da Salton, que resolveu investir nos produtos Desejo, Talento e linha Volpi para ganhar uma segunda dimensão que se sobrepôs na cabeça do consumidor, por mais que isso não seja tão fácil assim, como seu recentemente falecido presidente sabia reconhecer, com inteligência e humildade; pois para este consumidor, será sempre mais fácil assimilar um produto mais barato numa linha de produtos de uma marca Top, do que aceitar um produto mais caro numa linha de produtos com poucas pretensões. Como o produtor do produto mais popular e acessível do mercado – o Chalise – pode, ao mesmo tempo, ser o produtor do produto mais nobre – o Talento – perguntar-se-á o consumidor desconfiado… Uma solução tem sido agregar valor à marca por associação de tecnologia, arte e prestígio. Alguns gigantes da Europa e dos EUA como a Robert Mondavi e o Chateau Rotschild, saíram de seus países de origem para transformar, por exemplo, a Concha Y Toro – um conglomerado chileno que produzia apenas vinhos simples – em produtor de ícones como são Don Melchor e Almaviva, sem entrar no mérito da qualidade indiscutível destes produtos.

              Isto fica evidente quando o mercado saúda um automóvel como o Smart ou o Classe A e os reconhece como Mercedes Benz. E no sentido contrário, fica mais patente ainda, quando a VolksWagen – um carro que se notabilizou como barato, econômico, simples e durável – esporadicamente lança um Top de linha para concorrer com seus adversários alemães BMW e Audi. Por conta da sua imagem, a VW é penalizada, obrigada que é, a competir com preço abaixo dos adversários diretos e com isso, perder lucratividade, quase sempre não encontrando solução de continuidade para o projeto, até porque é sócia responsável de sua concorrente Audi.

            Um artifício de péssimo gosto, mas muito utilizado é o de usar de elementos muito similares ao dos usados pelo produto que serve de exemplo daquela faixa de consumo. Rótulos que praticamente imitam, nomes que lembram e se associam, títulos que enganam os incautos. Por aqui, ingenuamente e não por acaso, os primeiros produtores de vinho em garrafa de 750ml davam nomes franceses a seus vinhos. Era um tal de Chateau, de Condes e condados, que pareciam vinhos importados da França e não de Bento Gonçalves e arredores. Sem personalidade própria formada, usando de uvas européias de pouca qualidade, pretendiam induzir o consumidor a satisfazer-se com sua origem imaginada.

          Os australianos saltaram fora da tradição ritualística do vinho e racionalizaram sua comunicação é apresentação de maneira radical por mais que torçamos o nariz para as tampas de rosca de metal (screw cap) e rolhas sintéticas, fugindo dos preços cada vez mais exorbitantes das rolhas. Com isso, puderam atrair um público em nada ligado às tradições do vinho, pois eram estes principalmente neófitos que davam seus primeiros passos para ingressar neste novo mundo. E esta proposta invadiu os rótulos e contra-rótulos, os nomes de cada proposta de vinho, os anúncios e promoções. Hoje em dia, é fácil encontrar produtos do mundo inteiro com propostas de modernidade. Vinhos da África do Sul com rótulos que lembram bichos autóctones, rótulos de uma elegante simplicidade vindos da Itália ou da Espanha, propostas modernas que estão a milhas de distância da sisuda apresentação dos vinhos de Bordeaux.

         Para finalizar este artigo que parece não ter fim, é preciso sempre lembrar os rótulos dos Rothschild – mais uma vez citados aqui – que desde a década de 40 entregam seus rótulos anuais para um artista plástico consagrado por ano, como Picasso ou Niki de Saintfale. Será que este ineditismo tem a ver com o fato de ser este o único vinho que passo da categoria de segundo vinho para primeiro na qualificação dos Bordeaux que se mantém imutável desde 1855, sendo esta a única exceção. Parece não de todo despropositado pensar que é também esta marca pertencente a uma família que, melhor do que reis, condes e princesas, soube passar do mundo da aristocracia para o olhar concreto do capitalismo.

Mais um texto do amigo e colaborador, agora com participação quinzenal aos sábados, Breno Raigorodsky; 59, filósofo, publicitário, cronista, gourmet, juiz de vinho internacional e sommelier pela FISAR. Para acessar seus textos anteriores, clique em Crônicas do Breno, aqui do lado.

Desafio Wine Society de “Aussie Whites”

       Pensavam que tinha esquecido né? Esqueci não e, se não deu para retomar os Desafios de Vinhos ainda em Janeiro, começaremos cedo em Fevereiro. Para quem não é tão familiarizado com o idioma Inglês, tudo em eu explico. Aussies são como os australianos são chamados nos Estados Unidos e Inglaterra, um apelido carinhoso para o povo de “down under” (da parte de baixo do globo) adotado pelo povo local, ou vice-versa! Interessante coincidência, ou não, que as cores símbolo dos escretes nacionais tanta da Austrália quanto da África do Sul e Brasil são todos verde e amarelo.

        Com este baita calor,pensei num desafio de vinhos brancos e porquê não da Austrália, país mais conhecido por seus tintos à base de shiraz. Como pensar em vinhos australianos em terras brasilis é falar de Ken Marshall, me lembrei que há pouco tive a oportunidade de conhecer os Wine  Gardens da Wine Society e propus ao Brendan (Diretor Comercial) um Desafio In House só com vinhos brancos da casa seguido de um jantar onde, obviamente, não poderia faltar um Shiraz. Desta forma, o Brendan e sua equipe nos prepararam uma prova ás cegas que promete ser muito interessante, até em função das regiões e estilos de vinhos envolvidos, porque os rótulos escolhidos possuem uma faixa de preços bastante ampla provando que há vinhos australianos de bom preço no mercado e poderemos testar, pela enésima vez, qual a verdadeira relação preço x qualidade. Vejam os desafiantes a melhor Vinho da Noite, Melhor Compra e Melhor Relação Custo x Beneficio. Entre eles, um de meus Melhores de 2009 e parte integrante dos 200 Grandes Vinhos de 2009 pela Revista Gula, edição especial de vinhos na banca faz uma semana, o delicioso Leasingham  Bin 7, um pedido meu gentilmente atendido pelo Brendan. Todos vinhos varietais com 100% da uva citada.

  • Banrock Station Suvignon Blanc 2008 com preço de R$43,00
  • Bridgewater Mill Sauvignon Blanc 2008 com preço de R$78,00 e 89 pontos de James Halliday.
  • Smithbrook Pemberton Sauvignon Blanc 2007 com preço de R$63,00 e 92 pontos de James Halliday.
  • Preece Chardonnay 2007 com preço de R$49,00 e 88 pontos de James Halliday
  • Bridgewater Mill Chardonnay 2007 com preço de R$87,00 e 92 pontos de James Halliday
  • Knappstein Ackland Riesling 2008 com preço de R$93,00 e 90 pontos de James Halliday
  • Leasingham  BIN 7 Riesling 2007 com preço de R$110,00 e 93 pontos de James Halliday

           Para quem não conhece, James Halliday é o principal crítico de vinhos da Austrália, assim como John Platter é para a África do Sul e José Penin para a Espanha. É isso gente, querem arriscar palpite? Eu vou chutar baseado no coração, BIN 7 na cabeça! Não pelo preço, não pela pontuação e sim pela emoção pois é um vinho que sempre mexeu comigo quando o tomei. Repetirá ás cegas?! Saberemos muito em breve e logo compartilho com vocês. Quer fuçar na Wine Society, então clique aqui.

           Amanhã é dia da crônica inteligente do Breno e na Segunda uma geral sobre os vinhos tomados entre o Natal e Ano Novo. Nos vemos por aqui. Salute e kanimambo.

Vinho do Porto Garrafeira e Demijon?

          Você que já sabe tudo, já tinha ouvido falar em pelo menos um dos dois? Bem, eu que sigo sendo um eterno “gafanhoto” nesse caminho de aprendizado das coisas de nossa vinosfera confesso que não e aprendi mais uma ontem ao abrir o blog Copo de 3 do amigo João Pedro de Carvalho. Um dos melhores enobloguers de Portugal, com o Pingas no Copo os meus preferidos, nos traz um matéria muito legal sobre mais uma preciosidade saída das encostas do Douro, o Niepoort Garrafeira!  Eis parte do post, o restante você terá que clicar no Copo de 3 para apreciá-lo em sua totalidade.

Situadas na Rua Serpa Pinto, Vila Nova de Gaia, as caves da Niepoort servem de ginásio a todos os vinhos do porto deste produtor, é ali que os vinhos se colocam em forma até estarem prontos a sair para o mercado. As máquinas à disposição naquele espaço variam desde as madeiras, garrafas ou os peculiares demijons, sob batuta atenta do Masterblender, Sr. José Nogueira, cuja ligação familiar à Niepoort remonta já ao seu pai, e estendeu-se em 2006 ao seu filho. É neste mesmo local que a magia acontece, uma autêntica fábrica de sonhos engarrafados, seja no formato Ruby, Tawny ou Garrafeira.

Nos dias que correm, o estilo de Porto, Garrafeira, é um exclusivo da Niepoort, e pelos preços que atingem tendo em conta a raridade dos mesmos, tornam-se objecto de culto e poucos são aqueles que lhes têm acesso. Comprova a sua raridade as poucas vezes em que foi feito e se apontei correctamente todos os anos (caso falte algum é favor indicarem): 1931, 1933, 1938, 1940, 1948, 1950, 1952, 1964, 1967 e 1977 (este último ainda por sair para o mercado).

O Garrafeira Niepoort é sempre de um ano específico, tal como os Colheita, onde após um estágio em madeira que poderá variar entre os 3 e os 6 anos, o vinho é transferido para demijons. Um demijon ou “demijohns”, é uma espécie de balão de vidro que varia entre os 7 e os 11 litros de capacidade. Foram comprados pelo bisavô de Dirk Niepoort no séc. 19, tendo sido produzidos na Alemanha em Flensburg no século 18.”

             Sei que ao terminar de ler o post fiquei com uma água na boca e me perguntei, será que esse elixir ainda passará por minha taça e minha boca? Não sei, mas que vai para o topo de meu wish list, lá isso vai!!!

Salute e kanimambo

Quarta-feira, Dia do Leitor

                Esta é para meus amigos e fiéis leitores que têm contribuído com seus cliques para tornar este espaço um dos mais visitados em nossa vinosfera virtual. Para o amigo que gostaria de compartilhar suas experiências, seus goles marcantes, suas decepções, alegrias com o restante dos leitores, mas não quer ter o trabalho de manter um blog e a “obrigatoriedade” de mantê-lo atualizado, esta é uma oportunidade para dar asas à sua verbe literária cada vez que lhe der na veneta, sem compromissos! 

                O conceito é um só. Envie um e-mail com seu texto “arquivo Word” em  fonte Garamond ou Batang tamanho 12 com no máximo 25 linhas e uma foto se desejar (jpeg ou Gif) para o e-mail: Não teve ibope, e-mail descontinuado. Toda a Quarta-feira farei uma seleção, caso receba mais que quatro, e publicarei o post com os devidos créditos. É a forma que encontrei de retribuir o carinho que tenho recebido dos amigos. Fico no aguardo e não se acanhe. A primeira leva de textos será postada no próximo dia 3 de Fevereiro. Vale quase tudo; comentar um vinho, relatar uma experiência (boa ou má, aprendemos com ambas), dar alguma noticia legal de nossa vinosfera (especialmente aquela que seja furo), dicas de restaurantes amigos do enófilo com bons vinhos e preços justos, aquela harmonização que deu super certo ou aquela que foi um fiasco, enfim, você é o repórter. Salute e kanimambo.

Vistoriando a Vistoria Veicular

          Ontem fui fazer a vistoria veicular obrigatória que, para quem não conhece, aqui em São Paulo começou pelos carros mais novos. Sim, um carro zero bala que sai da fábrica para a sua casa, com catalisador e tudo o que a lei determina, tem que passar por esta vistoria atestando que o carro está de acordo com as normas ambientais, e te cobram, afora o imposto anual sobre o carro (IPVA) uma taxa de R$50,00 que iam devolver, mas agora parece que não vão mais. Enquanto isso, a cidade está infestada de carros velhos caindo aos pedaços sem manutenção, soltando fumaça e sei lá mais o quê ajudando a poluir esta megalópole. Estes, bem estes, de acordo com as “otoridades”, serão vistoriados mais para a frente. Depois fazem piada com os portugueses!!!!

         Interessante, no entanto, é que nossa gasolina e diesel, dos mais caros do mundo após termos obtido a tão propagandeada auto suficiência, segue sendo de péssimo nível e o congresso ainda deu mais uma postergada na lei que determinava enorme redução nos níveis de enxofre até 2009 (e ainda fizeram pose de protecionistas do meio ambiente em Kopenhaguen!).  Aí eu fico fazendo contas; a frota em São Paulo deve rondar os 3.5 milhões de carros, sendo que cerca de 2 milhões devem ter no máximo cinco anos e, consequentemente, passam pela vistoria. Mais motos, veículos de transporte e caminhões, chuto uns quatro milhões de veículos anuais, hoje, o que, vezes R$50,00 por cabeça = uma dinheirama!!!

               Enfim, tem que ser feito, goste ou não, então lá vou eu para o local de vistoria no Jaguaré. Bem, maior buraco para instalar esse ponto de vistoria impossível e nem placas indicativas existem, ou seja chegar já não é fácil! O lugar fica literalmente onde Judas perdeu as meias, porque os sapatos há muito já tinham ido. Apesar disso, o recinto mostra modernidade mesmo com uma série de obras pesadas em andamento. Numa área coberta, quatro baias de inspeção (uma demorou a pegar) e entre elas, ilhas onde estão os aparelhos e técnicos todos usando máscaras. Quando pegam seu carro, o instruem a sentar-se numas cadeiras localizadas no meio dessas ilhas. Achei estranho ser convidado a me sentar numa área onde todos os funcionários usavam máscaras, mas os clientes não. Pouco fiquei por lá e me retirei para uma área externa

             Decidi que seria legal tirar uma foto panorâmica do local, quando fui abordado pelo Vergilio, imagino que seja um supervisor, me proibindo, de forma muito educada, a atividade. É vedada qualquer foto do local a não ser com ordens superiores da central a quem eu devia contatar e esperar autorização, agendamento e possível acompanhamento. Gente, viajei muito por países de cunho socialista ou comunista e me senti voltando alguns anos na história! China, Iran, Venezuela, Rússia, em qual destes países “democráticos” estamos vivendo? Que segredo de estado está sendo guardado ali (serviço publico, terceirizado ou não). Os equipamentos ali presentes estão disponíveis em qualquer oficina particular que presta serviços semelhantes, então imagino que medo de espionagem industrial não seja! Mera burrocracia? Será que o nome da empresa, Controlar, é mera coincidência?

           Aproveitei a abordagem para indagar do porquê os clientes terem que se sentar numa área em que todos estão obrigados ao uso de máscaras protetoras, sem que nos fossem disponibilizados equipamento similar. De acordo com Vergilio, não havia porquê já que aquilo é só precaução pois de acordo com os níveis de poluição e contato,  blá, blá, blá …….. não havia essa necessidade. Entendi, para nós, reles povo que paga a conta, não precisa, mas para eles é obrigatório apesar de não ser necessário. Enfim, mais um descalabro daqueles que assolam este país e com o qual temos que conviver, pois nossas instituições estão falidas e os ‘caras’ fazem o que bem entendem acobertados que estão pelos mais diversos conchavos que resultam, como sempre, numa tremenda conta para nós pagarmos.

           Sorry, nada a ver com vinhos, mas tem coisa que nem com Chateau Petrus dá para engolir e tinha que desopilar o fígado. Mais tarde tem mais post.

Salute e kanimambo

Valor na Taça 2009

               Dois amigos e um primo me fizeram algumas perguntas que, sintetizadas, chegam no mesmo resultado; afinal quais são meus grandes vinhos no sentido de relação custo x beneficio de 2009. Bem, minha equação é algo diferente e sempre penso numa relação mais ampla e hedonística, Qualidade x Preço x Satisfação, mas na sua maioria estes rótulos estão relacionados no Achados de 2009. Entendi, no entanto, que a pergunta era um pouco mais direta e objetiva, na verdade o que eles procuravam era saber, dentro os vinhos que provei, quais aqueles que eu destacaria como vinhos de Valor na Taça, vinhos que encantem por preços que eles pudessem pagar. Pois bem, para dar encerramento a esse negócio de melhores de 2009 e suas infindáveis listas, decidi relacionar 40 vinhos que, pelo prazer e enorme satisfação que me deram ao tomar assim como pelo preço e sua relação com a qualidade, tiveram a capacidade de me encantar sem gastar muito.  Com exceção a dois ou três rótulos, todos estão abaixo de R$100,00 com a grande maioria abaixo de R$80,00 mostrando claramente que preço não é tudo e pode-se ter enorme prazer com rótulos bem acessíveis.

  • Varanda do Conde vinho verde branco (Portugal – Minho)
  • Alain Brumont Tannat/Merlot la Gascogne 2004 (França – Mandiran)
  • Quinta do Casal Branco 2006 (Portugal – Ribatejo)
  • Herdade do Pinheiro Reserva 2003 (Portugal – Alentejo)
  • Chateau Piron 2005 (França – esgotado)
  • Minimus Anima 2005 (Brasil – esgotado)
  • Altano Biologico 2007 (Portugal – Douro)
  • Casa Silva Gran Reserva Los Lingues Petit Verdot 06 (Chile)
  • Azienda Cocconato Libera Barbera D’Asti 2007 (Itália – Piemonte)
  • Loios tinto 2008 (Portugal –Alentejo)
  • Lindemann’s Cawarra Semillon/Chardonnay 2007 (Austrália)
  • Melipal Rosé 2007 (Argentina)
  • Terrazas D’Isula Rosé 2008 (França – Córsega)
  • La Celia Cabernet Franc 2004 (Argentina)
  • Crios Torrontés 2008 (Argentina)
  • Marco Luigi Malbec 2007(Brasil)
  • Terranoble Carmenére 2008 (Chile)
  • Lauca Reserva Pinot Noir 2007 (Chile)
  • Cordier Collection Privée Graves branco 2007 (França – Bordeaux)
  • Dehesa la Granja Selección 2001 (Espanha)
  • Losada 2007 (Espanha)
  • Niepoort Porto LBV 2004 (Portugal – Douro)
  • E-Minor Shiraz 2006 (Austrália)
  • Pombal do Vesúvio 2007 (Portugal – Douro)
  • Erasmo 2001 (Chile)
  • Raquel Mendes Pereira Touriga Nacional 2005 (Portugal – Dão)
  • Da Vinci Chianti Classico 2006 (Itália – Toscana)
  • Mayu Reserva Syrah 2006 (Chile)
  • Valdivieso Single Vineyard Reserva Malbec 2007 (Chile)
  • Catena Semillon Doux 2006 (Argentina)
  • Chateau La Guerinniére 2005 (França – Bordeaux)
  • Garibaldi Espumante Moscatel (Brasil)
  • Espumante Toso Brut (Argentina)
  • Aurora Pinot Noir Brut (Brasil)
  • Brédif Vouvray Brut (França – Loire)
  • Incontri Spumante Rosé (Itália)
  • Trapiche Extra-brut (Argentina)
  • Ponto Nero Extra-brut (Brasil)
  • Cave Geisse Nature (Brasil)
  • Alvarinho Soalheiro 2007 (Portugal – Minho)

Salute e kanimambo

Dicas da Semana

          Este primeira Dicas da Semana ainda está meio devagar e fora de seu dia costumeiro, mas vamos do jeito que dá. Afora algumas dicas, seguem também algumas noticias importantes. Agenda do ano em mãos, eis algumas dicas de eventos importantes que valem a pena não serem esquecidos. Dois deles no interior, coisas do incansável Luis Otávio e nosso maior evento anual, a Expovinis. Uma baita dica de Chateau Petrus na Speciale que o Giovanini me enviou e eu fui conferir. um jantar de Chablis no Philippe Bistrot, enfim, no final o post nem ficou assim tão pobre!

Expovinis 2010 – nosso imperdível encontro anual com o que de melhor existe em nossa vinosfera já está com data e local marcados. Os organizadores lá devem ter suas razões, mas não sei se a troca para o Expo Center Norte pavilhão vermelho foi lá uma grande sacada. De qualquer forma será lá, nos dias 27; 28 e 29 de Abril. Nessa data já estarei com a loja a full, então minhas visitas terão que ser menos garimpadoras e mais objetivas, porém impossível não estar presente. Três dias de descobertas e revisita a uma série de produtores. Tanto internacionais como brasileiros.

 

Enopira – lá em Piracicaba,  o incansável Luis Otávio não pára de bolar novos eventos que servem como importantes momentos de descoberta e conhecimento. Os dois abaixo são de primeiríssimo nível e deveras interessantes. Estivesse eu mais próximo e certamente não perderia.

Degustação ás cegas no dia 08 de Abril

TOPS Chilenos

Casa Rivas Gran Reserva Carménère 2006

Manso de Velasco 2006

 El Principal 2006

 De Martino Familia 2005

Montes Alpha M 2005

Caballo Loco nº 9

Domus Aurea 1999

Viu 1 1999

APÓS A DEGUSTAÇÃO SERÁ SERVIDO: Short Rack de Cordeiro. Preço: R$160,00 p/pessoa

Tesouros Espanhóis – Um Momento Único

O suprasumo de Castilla y Leon

Protos Gran Reserva 2001- R$ 399,00

Viña Sastre Pago de Santa Cruz 2004- R$ 407,00

Aalto PS 2005- R$ 728,00

Pago de los Capellanes El Picón 2004- R$ 825,00

Abadia Retuerta Pago Negralada 2003 -R$ 1.032,00

Pago de Carraovejas Cuesta de Las Liebres 2004- R$ 1.090,00

Finca Villacreces Nebro 2006- R$ 1.320,00

APÓS A DEGUSTAÇÃO SERÁ SERVIDO: Lechazo Asado. Preço: R$350,00 p/pessoa

 

Ainda tem mais um de grandes vinhos da Rioja em Março! Quer saber mais e fazer a sua reserva, então entre em contato com o Luis Otávio pelos telefones: (019 ) 3424-1583 ou ( 19 ) 8204-0406. Se preferir via e-mail:  luizotaviol@uol.com.br

 

Speciale – Aquele recanto de vinhos e de produtos importados que o Makro possui em algumas de suas lojas, volta e meia tem umas promoções muito especiais. Eu estive por lá e aproveitei para garimpar e peneirei algumas babas que merecem entrar em sua adega!

  • Esporão Touriga Nacional 2006 por R$69,90
  • Villa Francioni  2005 por R$89,90
  • Vertice Brut Rosé por R$41,90
  • Xisto 2005 por R$199,00 (talvez a melhor pepita de todas)
  • Herdade do Esporão Late Harvest 2007 por R$42,90 (imperdível)
  • Quinta da Alorna 2007 por R$29,90
  • Terrazas Reserva Cabernet Sauvignon e Syrah ambos 2006, por R$49,00
  • Chateau Duhart-Milon 2004 Grand Cru Classé por R$399,00
  • Chateau Camensac haut Medóc Grand Cru Classé por R$115,00
  • E a Jóia da Coroa (uma só mesmo!), uma garrafa bem cuidada de Chateau Petrus 1996 por apenas R$9.900,00.

Para guardar esses caldos, uma adega Eletrolux de 34 garrafas com prateleiras deslizantes por R$1290,00. Quer mais? Então passe lá e faça seu próprio garimpo. Tinham alguns outros rótulos, mas esses, sorry, já estão em minha adega! Esta pesquisa fiz aqui na loja do Butantã.

 

Melhores de 2009 em Portugal – a Revista Wine, Essência do Vinho (ex-Blue Wine), sai para as bancas em Portugal, lamentavelmente só veremos essa edição por aqui daqui a três ou quatro meses já que parece que vem de barco a remo, com sua lista de Melhores do Ano realçando as personalidades que mais se distinguiram em Portugal, nos setores do vinho e da gastronomia, durante o ano 2009. Os “Melhores Vinhos do Ano” foram o “Fonseca Vintage 2007” e o “Dow’s Vintage 2007”, dois vinhos do Porto lançados em 2009 e que obtiveram, em prova, a classificação de 19,5 pontos em 20 possíveis. Fico feliz quando alguns de meus escolhidos também se dão bem em listas editadas por “especialistas” consagrados que indica que não ando tão mal assim em minhas avaliações. Do Dow’s, não compartilho da mesma opinião, mesmo sendo estupendo, e preferi na prova de Vinhos do Porto Vintage 2007 que fizemos em Novembro, o Quinta do Vesuvio e o Graham´s. Quanto ao Fonseca, já está na minha listinha e, para quem quiser por aqui, recebi informação de que está disponível na Vinho Seleto por R$350,00. Ótimo hoje, mas certamente estará divino daqui a 30 anos, quem viver verá! Foto do Fonseca na minha taça, não é de babar?

 

Art des Caves – um dos maiores e melhores produtores nacionais de adegas climatizadas entrou com uma promoção irresistível para quem está a fins de comprar uma. Preços com até 40% de desconto, vale conferir!

 

Venda de Vinhos brasileiros cresce 12% em 2009 – A comercialização de vinhos elaborados no Rio Grande do Sul – responsável por cerca de 90% da produção nacional – alcançou um crescimento de 12% em 2009 no Brasil. Conforme levantamento do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) divulgado nesta quarta-feira (20), foram vendidos 240 milhões de litros de vinhos finos e de mesa de janeiro a dezembro do ano passado, ante 214,5 milhões de litros colocados nos 12 meses de 2008. O incremento nos vinhos finos tintos foi maior ainda, de 14,6%, com a colocação de 13 milhões de litros – o segundo maior volume da década, inclusive maior do que o emblemático 2005, ano em que ocorreu o recorde na venda de vinhos finos e de mesa. O maior volume de vinhos tintos finos da década foi de 2006, quando foram colocados 13,5 milhões de litros.

            Segundo o diretor-executivo do Ibravin, Carlos Raimundo Paviani, o ano passado representa uma virada positiva para o setor vitivinícola brasileiro. “No início do ano, a nossa meta era estancar o ritmo de queda nas vendas que vínhamos sofrendo desde 2005”, recorda. “Encerrar o ano com resultados de dois dígitos, em um ano marcado pela crise econômica, foi uma vitória importante”, observa. “Os resultados positivos são animadores e mostram que o setor deve continuar investindo na promoção de vendas e no convencimento dos consumidores de que a qualidade dos vinhos nacionais está em constante evolução”, avalia.

            Paviani, contudo, pondera que, apesar das boas vendas de 2009, o setor ainda amarga um déficit de 5% em relação à comercialização de vinhos de 2004 a 2008, cuja média ficou em 252,9 milhões de litros. Em 2007, por exemplo, foram colocados 246 milhões de litros de vinho; em 2006, 267 milhões de litros; e em 2005, o maior volume, com 293 milhões de litros vendidos. “Estamos recuperando espaços de mercado, mas ainda estamos 18% inferior ao volume comercializado em 2005”, alerta.

Espumante sobe 18,25%

A comercialização de vinhos espumantes elaborados no Rio Grande do Sul cresceu 18,25% em 2009, na comparação com 2008. Foram colocados no mercado 11,2 milhões de litros de espumantes de janeiro a dezembro, ante 9,5 milhões de litros em 2008. Os espumantes moscatéis tiveram um incremento nas vendas ainda mais expressivo, de 31%. Os vinhos frisantes cresceram 127%.

 

Mata-mata. Ojo! – algumas importadores e lojas começam o ano queimando estoques. Época para aproveitar e repor nossos estoques mas com os devidos cuidados lembrando que a maior parte dessas empresas não aceitam trocas. Cuidado com as safras e, especialmente, com a idade dos brancos. Da mesma forma como há muitos rótulos interessantes, há também muita armadilha. Olho Vivo!!

 

Vinícola Garibaldi começa a receber safra 2010 – A vinícola iniciou na quarta-feira, 13 de janeiro, o recebimento da produção da safra 2010. Associados de Santa Tereza e Monte Belo do Sul foram os primeiros a realizarem a entrega de uvas que serão destinadas à produção de suco. Os produtores estão apreensivos devido ao alto índice de chuvas desde a brotação das videiras. De acordo com o técnico da empresa, Tiago Ferranti, esse fenômeno diminuirá a produção desta safra. Porém, espera que possa haver mais dias ensolarados até o final da colheita para que as variedades finas não sejam afetadas em sua qualidade. Outro técnico da empresa, Evandro Bosa, destaca que variedades como a Chardonnay, utilizada para espumantes, terá sua quantidade reduzida mas, apesar das dificuldades enfrentadas, deverá manter-se nos mesmos padrões de qualidade de 2009.

A Cooperativa Garibaldi encerrou o ano com uma produção de 1,2 milhão de garrafas de espumantes finos e espera ultrapassar esta marca em 2010. Ainda no ano passado, uma bela performance dos espumantes deste produtor em competições internacionais tendo sido o grande destaque e campeão de meu Desafio de Espumantas Moscatel. Uma empresa para ficar de olho, eu estou!

 

Degustação de Chablis com jantar no gostoso Philippe Bistrot –  O Ricardo Bohn Gonçalves informa que estará promovendo este delicioso encontro na próxima Quarta dia 27.

Vinhos a serem degustados:

  • Louis Latour Chablis 2007
  • Joseph Drouhin Chablis 2007
  • Frédéric Magnien Chablis Vieilles Vignes 2007
  • Laroche Chablis 2007
  • Jean-Marc Brocard Chablis 2008
  • Domaine William Févre Chablis 2007

Menu

  • Entrada: Salada verde com vol au vent de cogumelos
  • Principal: Fettuccine com camarão e ervas frescas
  • Sobremesa: Crêpe Suzette com sorvete de vanilla

Local: Philippe Bistrô – Rua Normandia 103 Moema, 20:30

Valor: R$ 150,00 (incluídos jantar, vinhos, água, café e serviço). Para reservas e mais informações, wineschool@wineschool.com.br ou pelos telefones; 3676-1781 / 9677-1899

Salute, kanimambo e uma ótima semana para todos, que para os Paulistanos já começa com feriado. Nos vemos por aqui.

Uvas & Vinhos – Touriga Nacional

       Este primeiro post do ano sobre as mais diversas castas de nossa vinosfera, traz a estréia de um novo parceiro que muito me honra e que tem tudo a ver, pois daremos enfoque ás uvas autóctones durante os próximos meses. Alguns poucos o conhecem, mas a grande maioria não, então deixem-me lhes apresentar o Miguel Ângelo Vicente Almeida , jovem enólogo português formado no instituto Superior de Agronomia em Lisboa, berço de alguns dos mais conceituados enólogos portugueses, com licenciatura Agro-industrial em Enologia. Antes de chegar ao Brasil e à Miolo, andou por terras germânicas, Douro e Alentejo, tendo assumido o projeto da Fortaleza do Seival em 2008 e agora também da Almadén. É uma grande honra para mim, e acredito que para os amigos leitores, ter o amigo Miguel a escrever sobre as uvas autóctones portuguesas, começando pela mais famosa delas. apresentação feita, fico por aqui. Deixemos quem sabe das coisas, quem elabora os vinhos falar sobre esta emblemática cepa portuguesa, a Touriga Nacional.

“Tanta parra para tão pouca uva” – A Touriga Nacional

           Como enólogo, sempre achei nesta frase uma consequência técnica positiva, a tão moderna e famosa concentração. Mas se falar com o agrônomo, este já é capaz de lembrar a falta de equilíbrio entre parte vegetativa e parte produtiva, mais, avisa-nos do cuidado e assistência que é preciso entregar à gestão e manejo da copada. O viticultor tem a prima e primária tendência de se sentir burlado e foi este sentimento de fraude que levou a melhor casta tinta portuguesa e provavelmente a melhor do mundo – para o ser faltou-lhe a origem gaulesa – à quase extinção. Veio depois o seu massivo ressurgimento nos rótulos dos vinhos e só agora e em resultado de investigação massal e clonal é que muito tem aparecido nas vinhas.

              Em Portugal é a casta mais difundida por todo o território continental, daí o termo Nacional como complemento democrático-geográfico a esta surpreendente Touriga. Estados Unidos da América, Austrália, África do Sul, Argentina, Chile, Brasil são países que a naturalizaram porque dupla-cidadania, como um Shiraz australiano, um Malbec argentino, um Carménère chileno, um Tannat uruguaio ou o mais recente Merlot brasileiro, ainda ninguém lhe conferiu.

               Com natural singeleza, elegância, potência e monstra polivalência a Touriga Nacional pode aparecer na forma de:

  • – vinho espumante, como por exemplo os Murganheira Blanc de Blancs Touriga Nacional e do Luis Pato na Bairrada;
  • – vinho tinto seco fino, aqui prefiro a delicadeza dos Tourigas do Dão em detrimento dos Tourigas do Douro porque são fruto de solos de origem granítica e sedimentar e de amenas temperaturas bem típicas de um qualquer verão beirão;
  • – vinho licoroso, seja qual for Vinho do Porto Vintage ou Late Bottled Vintage originário dos melhores patamares de um bardo da mais antiga Região Demarcada do Mundo.

         Por característica, a Touriga Nacional é uma variedade muito fértil, isto é, todas as gemas deixadas à poda brotam e brotam também muitas feminelas que adensam a copada, embora seja pouco produtiva porque é propícia ao desavinho (acidente fisiológico em que não ocorre a transformação das flores em fruto) e à bagoinha (acidente fisiológico em que no mesmo cacho aparecem, além de bagas normais, bagas de dimensões reduzidas, bagas que não são bagas). Possui, no entanto,  baixa produtividade geralmente decorrente do seu elevado vigor e do seu carácter retumbante que juntos dificultam o ótimo arejamento da flor, impedindo assim o correto desenvolvimento da fecundação, resultando menos cachos. Portanto, esta é uma casta muito exigente quanto à forma de ser conduzida.

Como virtudes ela revela:

– estar bem adaptada a uma grande diversidade de solos;

– ser satisfatoriamente rústica, suportando condições médias de stress hídrico;

– ser muito resistente às doenças e pragas habituais da vinha;

– ter uma maturação intermediária, originando cachos pequenos a médios, ligeiramente compactos, de baga pequena com película espessa e cor negro-azulada.

Comportamento enológico

           A Touriga Nacional é uma casta muito consistente em termos de qualidade dos vinhos originados ao longo dos anos. Os mostos apresentam um teor alcoólico médio a elevado e uma acidez total titulável média a elevada, ou seja, gerando equilíbrio.  Os vinhos têm cor retinta intensa, com forte presença de tonalidades violáceas. O aroma é igualmente intenso desde os frutos pretos maduros (amoras, framboesas) às perfumadas flores (violetas, rosas), lembrando por vezes também algo mais silvestre, rosmaninho, alfazema, esteva, etc. Muito rico em substâncias fenólicas, na boca é volumoso, estruturado e persistente, possuindo um elevado potencial para envelhecimentos prolongados.

        Portanto, vinificada em varietal, por si, sem carvalho, a tendência é gerar vinhos intensamente corados, frescos, bem equilibrados em álcool e ácidos, de taninos macios. A passagem por barrica aumenta a sua complexidade aromática e tende a melhor estruturá-los. Quando usada em cortes, porta-se como o nariz, o perfume do vinho. 

            Em suma, que raio de casta tinta é esta que produz poucos cachos, cachos pequenos, de bagas pequenas, intensamente coradas, plenas de precursores aromáticos, espessas e bem resistentes a pragas e doenças e ótimas para suaves e longos processos de maceração?! A Touriga Nacional Portuguesa é com certeza uma grande casta a nível internacional. Para findar lembro e como bom português puxo a brasa à minha sardinha: quem tiver oportunidade não deixe de ser surpreendido pelo brasileiro Sesmarias 2008! E com isto não afirmo que a Touriga Nacional é uma das seis variedades deste lindo vinho. Mas posso estar enganado!

Harmonização

Agora é a vez do amigo Álvaro Galvão (Divino Guia) dar seus pitacos sobre a harmonização dos vinhos elaborados com esta cepa muito especial que é a Touriga Nacional, que ainda espero ver  adotar seu nome de direito “Touriga Portuguesa” .

Falar da Touriga Nacional no quesito harmonização é muito fácil, pois ela abrange vários pratos, cocções e paladares. A ´Touriga Nacional, uva “símbolo” de Portugal, tem uma característica multifacetada em aromas e paladar, o que contribui muito para facilitar a harmonização. 

Com seu toque frutado, me vejo degustando uma lebre(coelho) ao molho, e leitão assado, as partes mais gordas. Suas especiarias me seduzem a fazê-lo com comida Indiana, que leva coco, especiarias diversas, que ao contrário do que muitos possam imaginar, é uma gastronomia leve, complexa, mas leve. Caças em geral vão bem com a Touriga Nacional, em várias cocções, tanta assadas, como cozidas em molhos, e quando falo de caça penso também em aves, apesar destas não terem tanta gordura para amaciá-las, e fazerem contraponto com o bom nível de acidez desta uva.

Quem nunca experimentou um marreco ao molho de damascos e uma taça de Touriga, não sabe o que está perdendo. Carneiro fica ótimo, mas na minha preferência a paleta e pernil ficam melhor, o lombo e carré(com o ossinho), são mais delicados. Pelo seu tradicional toque floral de violetas, me vejo em plena ousadia, degustando uma entrada fria com figos maduros, alcachofras(não aquelas curtidas em azeite ou vinagre), e Cream Chese(esta entrada eu já testemunhei).

Saladas de palmito Pupunha, com tomates cereja e especiarias, também creio que a Touriga não faria feio. Se não for para ousar, basta ler o que os tradicionais manuais que falam das harmonizações descrevem, não acham?

Os Vinhos

Bem, agora chegamos na minha praia com a difícil tarefa, de enumerar alguns bons rótulos para vocês conhecerem, ou para quem já conhece eventualmente curtir um ou outro rótulo que provei e recomendo.  Tenho uma predileção muito especial por vinhos elaborados com esta cepa e existem alguns grandes vinhos no mercado. Tenho que compartilhar uma curta estórinha com os amigos; no Desafio de merlots do Mundo, tinha um português entre os cerca de 14 rótulos degustados ás cegas. Um dos vinhos da taça, encantador por sinal, dava demonstrações aromáticas que nos transportavam aos Vinhos do Porto, tendo a maior parte da banca apontado esse vinho como o português. Ao descobrir as garrafas, a enorme surpresa de ver que era o Wente Merlot Crane Ridge, da Califórnia. Aí, pesquisamos e verificamos que a cada ano esse vinho passa por um corte diferente tendo nesse ano recebido um aporte de 2% de Touriga Nacional! A conclusão tire você.

Rótulos 100% Touriga Nacional de satisfação garantida

  • Quinta da Cortezia/CVR Lisboa (Casa Flora)
  • Adega de Borba/Alentejo (Adega Alentejana)
  • Dal Pizzol/Brasil – Vale dos Vinhedos
  • Angheben/Brasil – Encruzilhada
  • Quinta do Cachão/Douro – (Casa Flora)
  • Raquel Mendes Pereira/Dão (Malbec do Brasil)
  • Quinta dos Roques/Dão (Decanter)
  • Cortes de Cima/Alentejo (Adega Alentejana)
  • Só Touriga Nacional (Portuscale)
  • Quinta dos Carvalhais/Dão (Zahil)
  • Quinta do Crasto/Douro (Qualimpor)
  • Quinta do Vallado/Douro

Saindo fora dos primeiros cinco rótulos, dê tempo aos outros néctares que só desabrocham mesmo a partir do quarto ou quinto ano devido a sua complexidade. Por sinal, a Raquel Mendes Pereira tem um Rosé de Touriga que é uma delicia. Uma pena que a produção é muito pequena e não chega ao Brasil.

Cortes com Touriga Nacional – aqui a lista seria imensa, já que a maior parte dos vinhos do Douro, do Porto e cada vez mais do restante das regiões produtoras portuguesas, têm algum porcentual desta cepa. Do Brasil, um bom exemplo de um vinho desse estilo é o Quinta do Seival Castas Portuguesas 2005, vinho que destaquei em uma de minhas listas de Melhores do de 2009, elaborado pela Miolo sob a batuta do amigo Miguel de Almeida.

Quer mais? Então sugiro que tome alguns desses bons vinhos acima e tire suas próprias conclusões. Por hoje é só.

Salute e kanimambo

Esbórnia Enófila

              Juntar sete blogueiros do vinho em volta de uma mesa só podia dar nisso, uma esbórnia enófila! Das boas, diga-se por sinal, regada a um clima de amizade digna da comemoração em pauta, o final de mais um ano. Vitórias, derrotas, alegrias, tristezas, mas a certeza de lutas bem travadas e vislumbre de novos desafios tanto pessoais como profissionais, tudo motivo para regojizo e desculpa para trazer à mesa alguns néctares muito especiais. Antes de falar sobre os caldos no entanto, dizem que uma imagem fala mais do que mil palavras, ei-las!  

               No total foram treze as vitimas, começando pelo delicioso Cremant do Loire Brédif Vouvray Brut (Vinci) que a Vinci gentilmente nos cedeu para comemorarmos esta data. Este espumante, campeão do Grande Desafio de Espumantes em que competiram 42 borbulhantes caldos entre eles cinco champagnes bem mais caros, foi a overture do grande concerto que viria pela frente em que dez outros solistas de primeiro nível se apresentaram. Reunidos estavam; Paulo Queiroz (Nosso Vinho), Beto Duarte (Papo de Vinho), Daniel Perches (Vinhos de Corte), Alexandre Frias (Diario de Baco e genitor do Enoblogs), Cristiano Orlandi (Vivendo Vinhos), Claudio Werneck (Le Vin au Blog – RJ), este vosso humilde servo  e deram forfait por motivos profissionais, o Guilherme Lopes Mair (Um Papo Sobre Vinhos – Brasilia), André (Enodeco) e Álvaro Galvão (Divino Guia). O Álvaro, no entanto, deixou sua marca neste almoço de quase cinco horas no incrível restaurante Varanda Grill com a dica de darmos uma cortada nos tintos servindo uma das garrafas do Vouvray Brut (eram duas) entre eles.

            Dito e feito, iniciamos com o espumante, seguimos com dois tintos muito bons que nos foram oferecidos de última hora pela Cultvinho (nova importadora de vinhos espanhóis) o Prios Maximum Roble (já comentado aqui no blog) e o Abadia de San Quirce Crianza 2006  enquanto nos divertíamos com carne e lingüiça aperitivos, voltando para mais uma garrafa de Vouvray Brut acompanhando pedaços suculentos de uma imperdível picanha suína. Divina harmonização e uma grande entrada para uma tarde de atividades enogastronômicas absolutamente inesquecível! Depois desses dois tintos e duas garrafas de espumantes, hora para o prato principal e mais sete néctares dignos de vênia trazidos por cada um dos confrades. Erasmo 2005 (chileno), Juan Rojo 2005 (espanhol), Terrazas Afincado 2005 (argentino), Quinta da Leda 2003 (português), Farnese Primitivo di Manduria (italiano), Alain Brumont Montuz 2004 ( francês) e o John Duval Entity 2006 (australiano). Grande dia e, de lambuja, ainda tivemos a oportunidade de ver o Tiago Locatelli, um dos principais sommeliers brasileiros, em ação. Verdadeiro show que os milhares de auto intitulados sommeliers espalhados por aí deveriam ver pelo menos uma vez na vida para entender o verdadeiro significado da palavra.

         Tinha pensado em levar, afora o Quinta da Leda, um Porto LBV para encerramento, mas no final achei que era demais. É, pensei, não levei, mas o Paulão num ato destemido corrigiu o equivoco determinando que um concerto daqueles não podia ser encerrado sem um Grand Finale e nos presenteou com um magnífico Tignanello 2005, elixir que dispensa qualquer tipo de comentário (quem não conhece pode clicar aqui) e, nas palavras do Cláudio, fomos atropelados por uma Ferrari!

         Não vou aqui ficar falando dos vinhos, até porque o momento não era para isso,  prefiro exaltar o momento e as pessoas, porém elegemos os top 3 do dia com quase unanimidade para, sem ordem de preferência ou classificação e excluindo o Tignanello que é hors concour, Erasmo (uma grata surpresa, um chileno com cara de velho mundo), Quinta da Leda (especial, idade certa, elegante, um grande vinho) e John Duval Syrah Entity (um baita vinho, potente, encorpado, complexo e fino, classudo um belo exemplo do porquê a shiraz virou simbolo deste país). Interessante que todos pedimos o excelente bife ancho da casa, exceção feita ao Cristiano, sempre ele, que foi de bife de chorizo e a diferença de harmonização foi incrível. O Afincado que matou o bife ancho se deu maravilhosamente com o bife de chorizo enquanto os elegantes Quinta da Leda e Erasmo se encolheram timidamente perto dele! Já com o bife ancho, Erasmo e Quinta da Leda deram seu show particular numa perfeita harmonização seguidos de perto pelo estupendo Shiraz australiano de John Duval. No geral, uma coleção de grandes vinhos em diversos estilos, uma grande experiência de pessoas em perfeita harmonização. 

          Neste Sábado não perca, em Uvas & Vinhos a estréia do amigo e enólogo Miguel de Almeida falando da Touriga Nacional e, excepcionalmente, o primeiro Dicas da Semana de 2010 será nesta próxima Segunda-feira. Salute, kanimambo e aguardo o próximo encontro que, dizem, será no Rio de Janeiro!

Eta grupo de gente porreta e ainda saí com minha marmita!

Ano Novo, Vida Nova

             Éh, 2010 chegou e com ele uma série de novos desafios em minha vida. O blog dos Panas já deu, mas agora oficializo, em 2010 serei mais um profissional do ramo do vinho, especificamente um comerciante, já que recém acertei a compra das instalações e ponto da Assemblage Vinhos dos amigos Marcel e Bete. Ainda estou na fase de definições tanto de portfólio como de formato do negócio já que pretendo transformá-lo no sentido de tornar o local um point de encontro para os amantes do doce néctar e da enogastronomia em geral. Tentarei manter a independência do blog e seguir com as duas atividades em paralelo, porém neste momento devido à grande carga de trabalho, reuniões e afins programados, a sequência de posts pode ser algo afetada, mas espero, dentro em breve, poder aplicar uma gestão de tempo mais adequada rentabilizando cada minuto disponível e facilitando minha vida.

           Uma coisa é certa, a mesma filosofia do blog estará presente na loja. A relação Qualidade x Preço x Prazer seguirá sendo o meu guia e, pelas conversas que já tive com uma série de potenciais fornecedores, estou bastante otimista que esse objetivo possa ser alcançado. Depois conto mais e dentro em breve haverá um blog com o “Making Of” da loja, uma grande sacada, na minha opinião, do amigo Claudio Werneck do Le Vin au Blog e um dos sócios da C-brand no Rio de janeiro. Mais que uma loja de vinhos, esta pretenderá ser uma loja gourmet com um pequeno, informal e descontraído Wine Bar entre outros projetos que estão no forno.

         O nome, o logo, data de inicio de atividades e outras novidades informarei em breve, mas este é um sonho que se torna realidade num ano muito importante para mim pois em breve entrarei em uma nova fase de minha vida, uma nova era, a de avô, com a vida seguindo seu curso de renovação. O ano, consequentemente, começa muito bem e só espero poder realizar tudo o que tenho de idéias que, aliás, jorram! Colocar os pés no chão, manter o foco e transformar esses sonhos em uma realidade rentável, esse é um outro assunto e um verdadeiro desafio que tenho pela frente e para o qual conto com a assistência dos amigos que me vêm demonstrando grande apoio.

Salute, kanimambo e continuamos nos encontrando por aqui.

ps. sugestões sempre bem-vindas!