A - Viaje Comigo

Dia 3 em Mendoza – Na Garagem de Don Carmelo

Não a van não pifou e a garagem não era qualquer uma, era a de Don Carmelo Patti e sua El Lagar! Nem todos morreram de amores pelo local ou por seus vinhos enquanto outros amaram, é um estilo diferente de ser e de fazer e, até por isso, algo cult e controverso. Pessoalmente gostei muito desse estilo despojado, onde tudo é feito em casa por quatro pessoas, etiquetagem à mão e vinhos com pouquíssima influência de madeira, cerca de 65.000 garrafas anuais! Sem consultores estrangeiros, modas viníficas e exóticas, sem compromisso de agradar ninguém mais que a si mesmo e seus clientes. Fazendo vinhos há mais de 40 anos, desde 98 montou sua própria bodega onde basicamente produz três vinhos e um espumante em minúsculas quantidades. Os protocolos de produção estão em sua mente e seu palato, vai provando e quando acha que está no ponto engarrafa, simples assim! O verdadeiro vinho de autor, artesanal e minimalista feito por um homem que vive o vinho como poucos e, mesmo com toda sua humildade, se orgulha de nunca ter tido que fazer um telefonema para vender vinho. Isso é reconhecimento!

Carmelo Full Clipboard

A garagem é na verdade um galpão com uma saleta onde ele nos recebeu, passou dicas (uma delas já conhecia bem, sobre a temperatura no uso do decanter, e compartilhei aqui há alguns anos), bateu papo e nos deu a degustar um Malbec, Um Cabernet Sauvignon e um Assemblage, não me lembro ao certo as safras já que a esta altura do campeonato eu já estava algo cansado e, tenho que confessar, me deixei tomar por uma certa emoção. Nem fotos tirei durante a degustação, só depois do interior da cantina. São vinhos diferenciados com uma personalidade marcante e única, disso não restam duvidas sendo um complemento interessante à diversidade de estilos, um vinho artesanal se contrapondo a tudo o que já tínhamos visitado. Prensas hidráulicas, tanques de cimento antigos, etiquetagem manual, um museu em pleno funcionamento! Provamos três rótulos

O Malbec, para mim o menos empolgante de seus rótulos mesmo que muito bom. Moderado no teor alcoólico, médio corpo, alguma especiaria, taninos finos com madeira bem integrada sem exageros de extração, fruta madura sem doçura, bom volume de boca, um vinho algo rude mas sem aparas, redondo e longo. Um degrau um pouco abaixo dos outros dois, em minha opinião, mas como a escala é alta….!

O Cabernet Sauvignon, este já “falou” mais comigo com uma estrutura de boca muito boa, intenso, marcante, frutos negros, rico meio de boca e final longo, elegante, um senhor vinho elaborado por um senhor enólogo demonstrando que os cabernets da região também podem gerar grandes vinhos!

O Gran Assemblage, desde muito tempo o meu preferido e mais marcante de seus rótulos é elaborado com Cabernet Sauvignon, Malbec, Cabernet Franc e Merlot variado os porcentuais anualmente dependendo da qualidade das uvas em cada safra. Um vinho de forte personalidade, sofisticada textura, complexo, para beber com calma tentando descobrir todos os seus segredos.

Não resisti e trouxe dois rótulos, o Gran Assemblage 2002 e o Cabernet Sauvignon 2004 que, mesmo com tão pouca produção e tão antigos, possuem preços na cantina, muito acessíveis o que também surpreende! Está vindo para o Brasil via importador de Santa Catarina, porém com os impostos a serem adicionados por quem pretende revender em Sampa, 48%, fica quase que inviável.

Bem, última bodega do dia visitada era hora de voltar á base. Já no hotel, um tempo para descanso e um leve tremor de terra (forte no Chile) que deixou alguns de nós algo tontos (como se precisasse disso a estas alturas) e estranho ver a parede se mexer! Para os locais, algo normal, então se era normal, porquê não retomar o caminho!

Maria Antonieta vinhos bebidos 1

Loja de vinhos, compra de cinco rótulos diferentes que levamos para o jantar no gostoso Maria Antonieta. Ótimos vinhos, porém com alguns destaques especiais para o Ricitelli, Casarena Pedriel Malbec e para o Siesta Syrah que até agora não entendi porquê a Mistral o deixou de trazer ao Brasil!Uma bela seleção e de abertura o Carlão ainda nos presenteou com algumas gotas do Colomé Torrontés!

Maria Antonieta Clipboard

Maria Antonieta, um restaurante muito gostoso, atendimento algo complicado ao inicio (sair fora do script por aqui é quase igual a tentar fazer isso na Alemanha!) mas que que gradativamente se acertou. Pratos diversos e muito gostosos, ótimos risotos, pastas e uma carne muito saborosa de acordo com alguns, porque eu fui mesmo é de risoto. Preços bacanas e honestos, um pão feito na casa que era de lamber os beiços e lá fomos nós ara mais uma noite de descanso e preparação ara o nosso último dia em Mendoza com almoço de despedida na Domínio del Plata, realmente um Gran Finale para uma viagem para lá de legal até agora, cheio de novos sabores e novas emoções.

Salute, kanimambo e esta semana termino meus posts sobre esta gostosa viagem a Mendoza; intensa, rica, diversa, tudo aquilo que me encanta em nossa vinosfera. Uma ótima semana para todos e aguardem o novo

Logo NOVO Falando de Vinhos

 

Salvar

Como Trazer Vinhos de Viagem

Bem, a primeira premissa é saber quantas garrafas! Pela presente legislação cada passageiro pode trazer até 16 garrafas de vinho de 750ml (igual a 12 litros) desde que dentro de sua cota de USD500. Mais detalhes você pode ver aqui e aqui. Eis algumas dicas boas e baratas.

Se for trazer umas duas ou três garrafas, mais fácil é colocar na mala mesmo e bem condicionadas no meio dela, bem aninhada. Pode quebrar, mas é difícil. Para evitar maiores danos há duas opções; a primeira é optar por uns envelopes próprios para isso e fechados com zíper (veja fotos abaixo). Caso ocorram acidentes fica tudo dentro do saco e evitam-se maiores danos, porém não é fácil de encontrar por aqui sendo mais comum nos Estados Unidos e também encontrei em Mendoza. Como um quebra galho barato, uma sugestão é envolver a garrafa em bastante plástico bolha ou numa fralda infantil colocando-a dentro de um saco plástico. Pode não ser tão bonito, mas por relatos recebidos funciona e o ditado já diz; “quem não tem cachorro caça com gato”! Afinal, vivemos ou não no país da criatividade e da improvisação? rs (clique nas imagens para ampliá-las)

Clipboard wine skins

Ah, mas vai trazer um número maior de garrafas! Bem, nesse caso a melhor opção são as malas especialmente desenvolvidas para isso e no Brasil, que eu saiba, há pelo menos duas empresas que as produzem, mas aí já falamos em um investimento mínimo de 1.000 reais então, ou você viaja bastante para compensar o investimento, ou fica cara a brincadeira!! Uma outra opção bem mais em conta é comprar, caso já não tenha, uma mala de tamanho médio e pedir ao seu fornecedor habitual de vinhos a gentileza de lhe conseguir umas caixas de vinhos horizontais de papelão mesmo. Se for um bom cliente da loja ela certamente lhe conseguirá uma ou duas que possuem o tamanho certo para colocar na mala, veja as fotos abaixo. Embrulhe as garrafas em plástico bolha, rede ou meias e acondicione as garrafas na mala. Forre o fundo da mala com camisetas, malhas, coloque sapatos e chinelos nas pontas, termine com mais roupa por cima e pronto! Essa eu usei já por diversas vezes e nunca tive um acidente sequer, sem contar que a mala fica bem pesada o que não permite que o operário no aeroporto “catapulte” a mala nas esteiras! rs

Clipboard Mala vinhos

Não pensou que iria comprar muitas garrafas, mas se empolgou né? Pior, não estava preparado! Nesses casos é ver se a loja tem caixas especiais para despacho aéreo com nichos de isopor, basta passar plástico shrink na caixa e despacharOLYMPUS DIGITAL CAMERA, também funciona bem. Há companhias aéreas mais chatas que outras então, de qualquer forma, é sempre melhor conferir com a que estará viajando para ver se há alguma limitação imposta por eles e qual o custo por quilo de excesso de bagagem (cada garrafa pesa em tono de 1,3kg). Evite aquelas garrafas muito pesadas, há ótimos vinhos em garrafas comuns, de resto aproveite para trazer bons vinhos, aqueles que aqui são bem mais caros ou aqueles rótulos que aqui não estejam disponíveis já que todo esse trabalho para economizar centavos não vale a pena né?! Ah, nada de vinho a bordo exceto o comprado no free shop de saída, conforme regulamentação internacional, apesar de já ter visto autoridades em aeroportos fazendo vistas grossas para isso!

É isso, ao longo da semana finalizo os posts sobre a viagem a Mendoza e já deixo aqui um “Save the Date” para quem esteja interessado em ir lá comigo. Já estamos por finalizar os detalhes e vos avisaremos, porém as datas já estão confirmadas, sairemos dia 21 com volta dia 26 Janeiro

Dia 3 em Mendoza – Mais Duas visitas para Terminarmos o dia.

Depois da bela degustação na Achaval, foi hora de subirmos a montanha a 1200 metros de altitude para nossa segunda escala do dia no Vale do Uco em Tupungato, a Bodega Atamisque. Mais vinhos, obviamente, e almoço no Rincon Atamisque onde mais uma vez vimos a diversidade em ação; Chardonnay, Viognier, Pinot, Blends e, já que estamos por aqui, Malbec! (clique nas imagens para ampliá-las)

Atamisque clipboard Bodega
John du Monceau é um francês que se apaixonou pelo lugar e decidiu montar sua bodega por aqui em companhia de sua esposa Chantal, ela neta de vinhateiro borgonhês. Lugar idílico , 1.000 hectares de matas, rios e campo de golf, é muito mais que uma vinícola, é um marco sem marco! Explico, a bodega fica a uns dois ou três quilômetros do Rincon (restaurante e da sede da empresa) numa entrada sem sinalização. Quem não conhece passa batido, assim como nosso motorista! rs Enfim, chegamos e nos deparamos com uma construção bem diferente do que tínhamos visto até o momento, toda em concreto aparente e com telhados de pedra. Em 2007 lançou seu primeiro vinho elaborado nas novas instalações com um projeto bastante avançado todo focado na movimentação por gravidade sem uso de bombas, onde possuem capacidade para elaboração de cerca de 1 milhão de litros anuais e quatro diferentes linhas de produtos muito bem conceituados pela critica internacional. Produzem, no entanto, algo ao redor de 450.000 litros anuais com vinhedos localizados a 1300 metros de altitude. Força argentina com a alma e sutileza francesa, a conferir almoçando as trutas do lugar, uma pena a chuva!

Atamisque Clipboard Bodega interior
Fomos muito bem recebidos pela Ana Laura para uma curta porém interessante visita à Bodega. Após algumas visitas, passar pelo interior das Bodegas vira repetitivo e cansa, a turma quer mais é conhecer os vinhos, mas a Ana tirou de letra, curto porém educativo! A Bodega é toda bem clean e funcional, um projeto bem moderno elaborado com o que de melhor a tecnologia tem disponível na atualidade e rapidamente chegamos à bela sala de degustação repleta de vidro, tanto para a sala de barricas quanto para a paisagem da região que nesse dia pouco se via, uma pena. Primeiro nos debruçamos sobre uma diversa linha de produtos e depois iriamos para o Rincon para almoçar. A Atamisque possui basicamente três linhas de vinhos tranquilos começando pela Serbal que matura seus vinhos entre 6 a 8 meses em tanques de inox ou barrica (esta só com os tintos), a Catalpa que é a linha intermediária com passagem de 10 a 12 meses de barrica de 2ºuso e inox e a Atamisque que tem 14 a 16 meses de barricas de 1º uso e os usa uvas dos vinhedos mais antigos. Possui também uma interessante gama de espumantes.

atamisque vinhos degustados
Iniciamos a degustação como gosto, com um espumante para preparar o palato para o que estava por vir. Cave Extreme é um corte majoritario de Chardonnay com Pinot Noir com 12 meses de contato com as leveduras, método champenoise e muito equilibrado, com notas de brioche e cítrico, boa perlage e persistente, uma bela forma de abrir a degustação.

Iniciamos os vinhos tranquilos pela linha Catalpa. O primeiro, o qual estava muito curioso de conhecer, foi o Catalpa Chardonnay e gostei demais! Um vinho que prima pelo equilíbrio, barrica muito sutil e bem integrada, muito fresco, um vinho que dá vontade de tomar a garrafa, não uma taça. A altitude mostra seu serviço ao vinho aportando uma boa acidez, aliás algo que se mostrou marca dos vinhos deste produtor.

Catalpa Pinot Noir foi nosso segundo vinho e mostrou boa tipicidade da uva com menos extração, num estilo mais europeu, mas sem perder as raízes do terroir. Um vinho mais difícil de agradar os amigos presentes, Pinot não é uma uva tão popular assim e a maioria estava com a boca mais pendente para os vinhos de maior potência. Um bom vinho que chama a atenção!

Catalpa Assemblage, um vinho que mescla muito bem a Cabernet Franc e a Merlot em partes iguais (35%) mais a Malbec e Cabernet Sauvignon (15% cada) perfazendo um conjunto muito saboroso, nariz algo floral, taninos macios, corpo médio, suculento, elegante e com um rótulo que nos atrai. Sim, esse fator também ajuda nossa percepção quanto ao conteúdo e o vinho na taça confirma a atração provocada pela garrafa, muito elegante.

Atamisque é a linha top do produtor quase que na sua totalidade composta de uvas de vinhedos velhos com mais de 90 anos, provamos dois rótulos e ambos algo novos ainda. Atamisque Malbec 2011, realmente mostrou na taça toda a sua juventude. Bastante concentrado na cor, aromas ainda fechado mostrando algo de frutos secos como figo e uva passa, madeira bem integrada com grande estrutura, mas sem exageros de extração, final longo com notas de mocha e frutos negros, um vinho que merece ser revisitado daqui a uns dois ou três anos.

Atamisque Assemblage, para mim o melhor vinho da degustação elaborado com 50% Malbec e complementado com partes iguais de Cabernet Sauvignon e Merlot. Algum floral de nariz que demora a evoluir na taça onde também nos traz algumas notas mais terrosas. Mesmo sendo um 2009, demora a abrir mostrando que ainda tem muitos anos de evolução pela frente. Longo, complexo, taninos aveludados, boa estrutura, denso, notas tostadas, alguma especiaria, mas tudo colocado com um toque de elegância que deixa o conjunto muito apetitoso pedindo comida, um vinho que certamente crescerá muito se bem acompanhado por um prato untuoso. Belo vinho!

Bem, degustação terminada era hora de agradecer a Ana e dizer adeus porque a fome apertava. Fomos ao Rincon, onde o almoço seria servido com duas opções; trutas de produção própria ou, obviamente, carne e os vinhos servidos foram os de gama de entrada, os Serbal. O Serbal Malbec não me entusiasmou não, mas o Serbal Viognier me surpreendeu e uma pena que a World Wine, que importa os produtos da vinícola, não o traga! (fotos dos vinhos não disponíveis, sorry!)

O nosso amigo Paulão, fiscal da natureza e colaborador com algumas das fotos de hoje, se animou e pediu um Espumante Extréme, o top da casa, que estava excelente e complexo sem perder o frescor. Passou 18 meses sob as leveduras e foi elaborado também pelo método champenoise. Essas caves acho que teria sido interessante visitar, fica para uma próxima oportunidade. Mais uma grata surpresa que gostaria de ver num Desafio ás Cegas com alguns de nossos bons espumantes nacionais. O local é simples e despojado, porém a comida é bem saborosa em especial a truta, eis nosso menu nas fotos abaixo.

Atamisque Lucnh Clipboard

Bem, hora de puxar o carro (digo van)  porque ainda falta mais um, o garagista e cult Carmelo Patti, mas isso fica para amanhã com o encerramento de mais um dia de descobertas e novas sensações! Até lá, salute e kanimambo pela visita.

Dia 3 em Mendoza– Começando Cedo Para Aproveitar o Dia Cheio

Olá amigos, hoje temos três vinícolas na parada e um tempinho de van em função das distâncias, então toca a começar cedo até porque as papilas gustativas, de acordo com o Professor Emile Peynaud, falecido professor de enologia na Universidade de Bordeaux e mestre nas minúcias de elaboração e prova de vinhos, estão em seu apogeu entre as 11 e as 13 horas. Existem, no entanto, vozes contrárias que alegam que esse espaço de tempo é algo maior começando ás dez! Tendo a concordar com esses últimos (rs), e se esse encontro for com os vinhos da Achaval-Ferrer, mais ainda!!

Achaval Ferrer é uma daquelas pequenas vinícolas que nasceram fadadas ao sucesso com poucos rótulos e uma incrível história de premiações e altas pontuações. Jovem, nascida em 1998 e a bodega concluída em 2006, é fruto de um projeto dedicado à elaboração de grandes vinhos e a efetivação de um sonho entre cinco amigos argentinos e italianos, um deles o Roberto Cipresso o enólogo do grupo com vasta experiência na elaboração de grandes vinhos de baixo volume de produção, especialmente em Brunello de Montalcino.

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Com vinhedos datados de 1925, e cinco fincas com pouco mais de 40 hectares próprios plantados em pé franco mais 45 alugados, a produção não alcança as 250 mil garrafas ano apesar de capacidade para 2 milhóes! Há vinhos no portfolio em que se necessita de uvas de 4 plantas para se obter uma garrafa! Entre os 10 mais pontuados vinhos argentinos da Wine Spectator, cinco são Achaval Ferrer, um produtor a ser conhecido e apreciado. Para mim, um dos melhores produtores de Malbec na Argentina não sendo á toa que, mesmo eu não seguindo cartilha de pontos nem de critico algum, nenhum de seus vinhos jamais tira menos de 90 pontos ou equivalente, safra após safra. Não é de um critico, é de da grande maioria, então algo existe de mágico aí! Entre os meus top 5 Malbecs argentinos que já tive oportunidade de provar, certamente o Mirador 2006 marcou minha memória tendo feito parte da minha seleção anual de vinhos “meus deuses do Olimpo 2008”,  e tenho paixão por seu Quimera, o único blend por eles produzidos, de qualquer safra!

De 2010 para cá, vêm gradualmente trocando o tamanho padrão de suas barricas de 225lts por menores, de 160lts. Raleio de 50% de seus vinhedos, para os vinhos mais top (Mirador, Bela Vista e Altamira) chega 80%, colheita manual, fermentação só em tanques de cimento a temperaturas altas e mais rápidas de 4 a 10 dias máximo, sem filtração e barrica neles! O resultado pudemos sentir na pele ao degustar os seguintes vinhos.

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Achaval-Ferrer Mendoza Malbec 2012 – O gama de entrada deles que já alcança níveis de qualidade muito altos. Ótima e intensa paleta olfativa com a fruta bem presente e leve toque amadeirado. Ainda novo, porém na boca já se apresenta muito elegante, especiarias, taninos finos e aveludados com um frescor que convida á próxima taça! Em Sampa na casa dos R$95 a 100,00.

Quimera 2011 – Para mim o meu vinho predileto da Achaval, que eu posso pagar de vez em quando, mostrando que o sonho virou realidade. Trouxe uma garrafa para a Degustação de Assemblages Argentinos que, mais uma vez, não negou fogo, um vinho que transpira equilíbrio por todos os poros e muito rico de boca. Leia mais nos links em anexo, não vou cansar vocês repetindo o que sempre falo desse vinho que tento, dentro das possibilidades, sempre ter uma garrafinha na adega! Por aqui anda na casa dos R$200 a 210,00.

Temporis Malbec 2012 – este vinho não conhecia sendo vendido somente na vinícola. É um blend dos três vinhos top da casa – Altamira, Mirador e Belavista – dos quais se separa uma barrica de cada o que resulta em meras 800 gfas produzidas. Na foto aparece a garrafa do 2009, porém provamos uma mostra de barrica do 2012 que ainda precisa de cerca de um a dois meses até ser engarrafado então ainda está muito “cru”, porém já se mostra muito perfumado e complexo mostrando que estaremos com um grande vinho na taça dentro de algum tempo de garrafa.

Achaval Ferrer Bella VistaBella Vista Malbec 2012 – o vinho que, não me lembro ao certo a safra, teve a proeza de ganhar 98 pontos da Wine Advocate (Parker) e para o qual se necessitam de 4 plantas para gerar uma única garrafa de uvas colhidas em vinhedos de mais de 110 anos, só isso já traz um empecilho para a maioria de nós pobres mortais, o preço. Afinal, é um vinho de pouca produção e alto custo de elaboração e não dá para vender uma Ferrari a preço de Honda Civic, certo?! Para quem pode, um tremendo vinho ainda muito fechado e com uma vida pela frente, um privilégio que entrou para o meu hall de grandes vinhos! Por aqui anda na casa dos R$450 a 500,00.

Achaval-Ferrer Dolce – a meu pedido e para encerrar uma bela manhã de degustação, este vinhoAchaval Passito que afora na Bodega você consegue achar tão somente em umas duas ou três lojas especializadas, entre elas a Lo de Joaquin Alberdi em Buenos Aires. Para quem gosta de vinhos de sobremesa, um vinho muito especial elaborado da forma tradicional italiana de passificação das uvas em esteiras, neste caso de uvas malbec. Adoro esse vinho que é uma experiência hedonística única especialmente quando bem harmonizado como por exemplo com chocolate ao leite com capa de amêndoas caramelizadas. Se produzem somente umas 1500 garrafas anualmente, então é para comprar logo algumas garrafas, como fiz, e tomar a conta gotas! Por lá custa em torno dos 300 pesos.

Ah, tem os azeites também, mas mais uma vez o correr atrás das coisas não permitiu prestar a atenção devida. Teve gente que provou e gostou bastante tendo levado algumas garrafas então, caso esteja por lá, vale experimentar. Tem também uma pequena coleção de preciosidades com mais idade que, para quem tem bala na agulha, é bastante interessante. Eu conheço seus vinhos desde 2007 e desde 2008 que volta e meio os comento por aqui então, digamos, sou algo suspeito para falar deles, mas…….

Chuva em Mendoza    Mais uma vez fomos muito bem recebidos e agradeço ao Santiago Achaval e ao Roberto Cipresso pela gentileza assim como ao Felipe  Sibilla que nos guiou pela visita à vinícola e pela degustação, bom de papo o garoto! rs Tudo muito profissional e exemplar, mas com um toque a mais, só que tínhamos que sair, ainda tínhamos mais duas bodegas visitar e um almoço, tudo com hora marcada! Só perdemos mesmo foi a bela vista, pois mesmo Agosto sendo o mês mais seco do ano e só chovendo na região algo como 250mms anuais, neste dia estávamos escoltados por São Pedro que abriu a torneira para que pudéssemos respirar algo melhor.

Gente, este terceiro dia de viagem virá também com mais posts porque se não ninguém aguenta ler até o fim! Espero que estejam curtindo este diário e lhes abrindo o apetite, por que recordar e escrever abre!!! Salute e até Segunda. Ótimo fim de semana e kanimambo pela visita.

Dia 2 em Mendoza – Finalizando o Dia em Grande Estilo

A Bodega Lagarde como é hoje, sob a batuta da família Pescarmona, existe desde 1969 porém sua origem data de 1897. A Bodega é capitaneada pelas irmãs Sofia e Lucila, terceira geração da família e produz alguns vinhos que me encantam e já comentei aqui mesmo no blog, como o Primeras Vinas Malbec e o Malbec Rosado que eles chamam de Blanc de Noir e que até agora não entendi do porquê! Rs A Bodega fica encostada no vinhedo mais antigo datado de 1906 mantém ainda sua estrutura externa como antes, bem antiga. É dentro que a modernidade e tecnologia tomam conta, misturando tradição e inovação num projeto produtivo com capacidade para 2 milhões de litros que se mantém, por razões de qualidade, restrita a 1.2 milhões. São quatro os vinhedos espalhados por diversas sub regiões de Lujan de Cuyo e Tupungato o que lhe dá uma diversidade de terroirs muito interessante para trabalhar. (clique nas imagens para ampliá-las)

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Para completar esta visita sensorial, uma experiência gastronômica nas mãos do Chef Lucas Bustos e sua equipe. Com atenção personalizada e um menu de quatro passos casados com uma seleção especial de vinhos, é uma excelente opção para aproveitar antes ou depois de uma visita à Bodega e seus vinhedos. O conceito do restaurante, localizado no casarão do século XIX, baseia-se na cozinha de fogos, na qual se combinam técnicas e ingredientes autóctones casados com os melhores vinhos de Lagarde. Todos os pratos são elaborados à vista dos visitantes, no pátio colonial da Bodega, com o objetivo de que a experiência Lagarde abrace aos cinco sentidos.

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A meu pedido, alguns rótulos adicionais seriam incluídos numa degustação á parte, porém com nosso atraso ficou tudo para o almoço o que bagunçou um pouco as harmonizações e o serviço. Mea culpa, porém creio que a excelência dos vinhos compensou e em vez dos quatro rótulos que estavam programados houve um up grade e três adições que nos levaram a “ter” que degustar sete rótulos! Rs

Lagarde vinhos bebidos
Lagarde Viognier – Uma uva pouco conhecida da maioria e que surpreendeu uma boa parte do grupo. Leve floral nos aromas com nuances citricos que se confirmam em boca. Ótima textura, corpo médio, ótima acidez, alguma coisa deLagarde almoço Paso 1 nectarina e um final com um toque mineral e de muito boa acidez. Acompanhou um creme de cenouras com cítricos e azeite. Numa harmonização bastante interessante.
Lagarde Blanc de Noir – veio como vinho adicional e não tinha o objetivo de harmonizar com nada a não ser alegria e prazer. Esse é um vinho que atrai muito e que cresce com comida. Já o comentei aqui  e nesse post o harmonizei com uma salsa cubana (a música), porém com comida tenho-o recomendado com camarão empanado, à grega, ou camarão na moranga, dá um samba legal e gosto muito!

Lagarde almoço Paso 2Lagarde Cabernet Franc 2011 – uma uva que começa a alçar voos solo, conforme já mencionei aqui no blog, ganhando cada vez mais espaço e importância na vinosfera mendocina com quase todas as principais bodegas produzindo o seu varietal afora os usarem nos excelentes blends. Este mostrou algumas notas terrosas e algo de violeta porém a fruta madura se sobrepõe ao final. Alguma especiaria, médio corpo e boa acidez, mas me pareceu ainda algo jovem necessitando de um pouco mais de tempo para integrar o conjunto, porém se moldou bem ao muito interessante Queijo de Cabra caramelizado (textura muito interessante) com Grão de Bico.

 

Lagarde Cabernet Sauvinon Primeras Viñas 2011 – elaborado com uvas Lagarde almoço Paso 3dos vinhedos mais antigos da bodega, 1906 e 1930, é um vinho potente e encorpado recém lançado no mercado argentino em sua primeira edição com uma produção limitada a 4.000 garrafas e que chega ao Brasil agora em Setembro! Como o Cabernet Franc, o achei muito novo, mas é um vinho que promete muito e com longa vida pela frente. Bastante fruta (cerejas maduras?), ervas e especiarias, na boca é encorpado porém de taninos finos, denso, muito boa textura, um belo vinho mas que na harmonização penou e passou por cima do porco braseado. É um garboso jovem que necessita de tempo!

Lagarde Malbec Primeras Viñas 2011 (extra) – menos potência e estrutura do que o Cabernet e absolutamente divino, porém tenho que reconhecer que sou suspeito para falar pois tenho uma queda por este vinho que confirmou tudo o que já falei aqui tendo sido melhor parceiro, a meu ver, com o prato servido.

Lagarde almoço Paso 4Henry Gran Guarda 1 2009 – um vinhaço na taça! Já o comentei aqui na degustação de Assemblages Argentinos então não vou cansá-los com mais detalhes que podem ser lidos clicando no link. Deste ano foram produzidas somente 12.900 garrafas e o interessante é que a cada ano o corte é diferente, pois o objetivo principal é obter o melhor vinho que eles consigam fazer nessa safra independente do corte! Este está muito frutado, rico, com ótima acidez e, apesar de ter estrutura para muitos anos, já está super gostoso de se tomar. Fiquei com uma vontade danada de contratar uma vertical deste vinho numa próxima visita! O medalhão de filé assado acabou sendo coadjuvante, porém se portou bem com o prato criando uma saborosa maridage.

Lagarde Extra Brut – um bom espumante elaborado pelo método champenoise, blend mezzo a mezzo de ChardonnayLagarde almoço Paso 5 sobremesa com Pinot com um mínimo de 18 meses sur lie antes do degorgement. Gostei bastante, curto espumantes como sabem, porém a sobremesa é tradicionalmente harmonizada com o Moscatel deles, então ficou meio estranho, mas ao mesmo tempo interessante porque a maçã quebrava um pouco a diçura da obremesa que estava divina. Os Argentinos vendem quase toda a sua produção de espumantes localmente e não têm preço para competir com os nossos, porém tenho provado alguns exemplares que dariam um belo Desafio de Espumantes ás cegas contra alguns dos nossos premiados exemplares, a começar por este!

 

DSC04406Os azeites acabei não prestando muita atenção, porém o de Arauco, a azeitona regional deles, me pareceu bem melhor que o blend. Não chegaram a me encantar, mas na próxima viagem quero ter um tempinho só para eles. Com isso, mais uma parte do roteiro estava completa e era hora de deixar a Lagarde para trás, o que é sempre difícil depois de tanta gentileza dos anfitriões.

Hoje foi um dia especial, mais um, com ótimos vinhos e dois grandes vinhaços (Henry e Meritage) um privilégio “inolvidable” . Não deu para jantar não, depois de um passeio pela Peatonal Samiento (lindo e limpo calçadão onde até degustação ao ar livre tinha) agora só umas tábuas de queijos e frios e mais alguns vinhos para arrematar o dia lá mesmo no bistrozinho do hotel, isso nós não perdoamos não, teve até El Grand Enemigo na taça! Salute e, tudo dando certo,  Sexta tem mais, kanimambo e seguimos nos vendo por aqui!

Ps.  Fotos dos pratos são contribuição do amigo Paulão, fiscal da natureza! Saúde amigo.

2º Dia em Mendoza – Deus Escreve Certo por Linhas Tortas

Pelo menos esse é o dito popular e constatamos isso na pele nesta saborosa viajem! Depois de um primeiro dia maravilhoso em que a sinergia integrou o grupo vindo de Minas, Rio, Bahia, Sampa e Granja Viana fomos informados que por falta de água na Dominio del Plata nossa visita agendada para as 10:30 não poderia ser realizada, e agora José, ou melhor, e agora João!! Foi aí que o anjo que nos acompanhou, (seria a Inês?), e protegeu nessa viagem deu suas caras. Telefone na mão e em 15 minutos estávamos a caminho da Benegas, bodega que não estava no programa inicial e agora não sai mais, onde a Susana em tempo recorde nos preparou uma recepção maravilhosa e “inolvidabile”, ao ponto de alguns dos amigos presentes a terem apontado como a melhor visita, e olha que o roteiro foi muito bom! Eta frase longa!!! rs Bem, falemos da Benegas.

A Benegas-Lynch é um verdadeiro mergulho na história do vinho em Mendoza e em belíssimos rótulos que faz com que essa visita seja um “must” numa passagem por esta linda região produtora. Começa em 1883 com o bisavô de Federico Benegas-Lych (atual proprietário), o Don Tiburcio Benegas que há época fundou a Trapiche que em 1970 foi vendida. Em 1998 Federico compra um vinhedo plantado por seu bisavô (Finca Libertad) e compra uma antiga bodega em Lujan de Cuyo que reforma inteira mantendo as características da mesma datada do século XIX, porém incorporando a mais moderna tecnologia na produção de vinho no sentido de produzir vinhos de excelência . Em 2000, lança seu primeiro vinho.

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O prédio de entrada é lindíssimo e as caves subterrâneas (8 metros de profundidade) onde descansam cerca de 400 barricas de carvalho francês são de tirar o fôlego, tendo sido lá embaixo, numa antiga “pileta” de concreto para fermentação dos vinhos (hoje desativadas), que a Susana nos recebeu para uma deliciosa e inês-quecível degustação de alguns de seus rótulos, entre eles seu top de gama Meritage! Em outras “piletas” (tanques) desativadas repousam cerca de 120.000 garrafas a temperaturas que variam ente 13 e 17ºC mantendo uma humidade entre 60 a 70% e uma penumbra que são fatores de grande valia para que possamos, na hora certa, provar os bons vinhos que aqui amadurecem aguardando seu momento de nos fazerem felizes. Lugar sedutor!!

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Numa seleção feita a quatro mãos, a Susana nos trouxe á taça quatro vinhos um branco de gama de entrada e três tintos cativantes entre eles seu vinho ícone, com produção limitada a apenas 3.000 garrafas das quais já tive o prazer de provar duas vezes, o Meritage! Como sempre falo demais, então chega de lero e vamos aos vinhos degustados:

Benegas Clipboard 3
Clara Benegas Chardonnay com Sauvignon Blanc 2012 – um dos mais surpreendentes rótulos provados nesta viagem, até porque ninguém esperava muito dos vinhos brancos e este surpreendeu a grande maioria dos presentes. Sem madeira, o Sauvignon Blanc aporta um frescor gostoso ao já bom chardonnay compondo um conjunto de grande balanço e harmonia que agrada sobremaneira. Em tono dos R$55 por terras paulistas, é uma pedida para esta primavera / verão que se aproxima.
Benegas Estate Sangiovese 2008 – para quem queria exatamente trabalhar a diversidade nesta viagem, este vinho foi um prato, digo, taça cheia! Leve floral, folha de tabaco, na boca mostrou-se todo muito elegante com taninos sedosos e muito marcante pedindo um belo risoto para acompanhar. Acidez marcante típica da cepa. Por ser algo estranho ao ninho e de baixa produção, o preço é algo mais elevado o que não o faz tão comercial, mas é uma experiência no mínimo interessante e gostei bastante do vinho. Por aqui anda na casa dos R$135,00.

Benegas Estate Finca Libertad 2009 – um belo e fino assemblage sem Malbec na terra do malbecs! Partes iguais de Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot formam um conjunto de fina estirpe em perfeita harmonia. Cada varietal passa por separadamente por barrica francesa por cerca de 8 a 10 meses quando se faz o blend final que passa mais 6 a 8 meses em barricas de primeiro uso. Um vinho sedoso que no nariz traz uma certa complexidade e notas herbáceas que me fizeram lembrar tapenade de azeitona, viajei?! Bom volume de boca, taninos bem integrados, algo especiado e notas terrosas de final de boca com boa persistência. O estilo de vinho de que gosto. Preço em São Paulo na casa dos R$135,00.
Benegas-Lynch Meritage 2007 – esta linha abrange também um Cabernet Franc de vinhedos com cerca de 120 anos (uma garrafa na adega para abrir nos meus 60º aniversário no ano que vem!), Um Malbec e este divino assemblage com somente 3.000 garrafas produzidas. O Meritage é fruto de um blend majoritariamente composto de Cabernet Franc de vinhedos de 120 anos, com Cabernet Sauvignon, Merlot e um toque de Petit Verdot para arredondar. Como no Finca libertad, os varietais são elaborados em separado e amadurecem em barrica francesa de 1º uso por cerca de 12 meses quando é feito o blend voltando para a barrica por mais 6 meses. O afinamento do vinho após engarrafamento se faz por 5 anos nas caves subterrâneas ou seja, este exemplar acabou de sair para o mercado e tem pelo menos mais dez belos anos de evolução pela frente. Estamos diante de um exemplar de fina estirpe para ser aberto em datas especiais até porque com um preço, justo em função do todo, em torno de R$270 a 300,00 não é para qualquer momento. Voltei a degustá-lo recentemente na degustação de Blends Argentinos (veja lá meus comentários sobre o vinho) que trouxe de viagem e quem esteve presente confirmou como este vinho é marcante, vinhaço!

Caímos na Benegas por mero acaso, mas não poderíamos ter melhor inicio do dia que esse. Uma visita marcante que encantou a todos e, se há bens que vêm por mal, esta visita foi uma benção só que tínhamos que seguir em frente! Já estávamos atrasados, como de praxe, para nossa próxima visita com almoço na Lagarde, outra bodega que aguardávamos, pelo menos eu, ansiosamente já que seus vinhos são excelentes e seu restaurante também bastante premiado servindo uma comida típica da região com elaboração sob brasas num fogo de chão. Curioso estava, também, para provar seus azeites outra de minhas paixões. Só que o dia foi cheio e este post, que já está longo, ficaria enorme então deixo a Lagarde para Quarta-feira e fico por aqui. Uma ótima semana para todos, salute e kanimambo. Para a Susana um “muchas gracias muy especial”!

1º Dia em Mendoza – Day One In Mendoza

Ao escrever este texto me deu saudades e certamente voltarei em breve pois tem gente já querendo agendar uma nova viagem para lá comigo. Tudo dando certo, terceira semana de Janeiro, me aguarde Mendoza! Bem, mas vamos ao que interessa, hoje primeiro post de quatro no formato de um diário da viagem, espero que curtam”

Chegamos de madrugada e logo fizemos check in no hotel para um breve descanso e café da manhã. Após algumas horas e um pouco mais descansados, saímos para o inicio de nossas atividades do dia; visita com almoço harmonizado na Melipal, uma Bodega que em breve espero ver por aqui em Sampa, porém já anda pelos lados de Curitiba e Minas Gerais onde possui importador/distribuidor regional. Desde os idos de 2009 que conheço e aprecio os vinhos deste produtor de pequeno para médio porte considerando-se o tamanho de algumas vinícolas na região e que sempre teve uma politica de preços bem ponderada. Ainda busca importador para São Paulo então por enquanto por aqui vai ser difícil achar e espero que isto se solucione logo (mantendo os preços camaradas) para poder curtir seus vinhos mais amiúde.

Clipboard Melipal
Localizada na zona de Agrelo, Lujan de Cuyo, a vinícola se estende entre as vinhas e rende culto à paisagem que a rodeia as “acequias” (pequenos canais), salgueiros e a Cordilheira dos Andes, uma fusão de solidão, espaço e tempo. A produção beira os 550.000 litros anuais, distribuídos em tanques de aço inoxidável com capacidade de 5.000lts. a 25.000lts. assim como uma sala de barricas concebida para a maturação dos vinhos premium da casa. Os vinhedos têm idades variadas, desde os mais jovens com 11 anos de idade, passando por vinhedos de 30 até chegar aos mais antigos jáExtras Melipal Rosé passando dos 90 anos do qual se elabora o Las Nazarenas Single Vineyard que tivemos o prazer de degustar.
O restaurante é premiado e muito bem avaliado, sendo um belo começo para nossas atividades pois mostrou que toda essa fama não veio á toa, não! Antes, no entanto, uma passagem pela bodega para conhecer um pouco sobre a elaboração do vinho com um delicioso Melipal Rosé de Malbec o qual há tempos não andava por minha taça e comprovou todos os seus predicados.

De volta ao Restaurante, um menu criativo sendo que a entrada foi uma das gratas surpresas gastronômicas desta viagem, a sopa de cogumelo muito peculiar e criativa…que foi muito bem harmonizado com o Ikella Merlot. O vinho em Melipal Menu 1si é bem feito e muito agradável, ainda prefiro seu cabernet, porém com a sopa a maridage foi perfeita e ambos, vinho e prato cresceram maravilhosamente bem provando que neste mundo da harmonização a aritmética fica por terra quando tal perfeição é encontrada. Na foto não parece grande coisa, mas na boca!!!!!!  Um belo começo para o que estava por vir.

  Ikella Merlot
Sopa de hongos y puerros asados, crema de vainilla y gotas de oliva perfumados con tomillo.
Wild mushrooms and leeks cream, perfumed with vanilla and olive oil.

 

Melipal Malbec – não adianta, sei que o reserva é o mais pontuado e preferido dos críticos, porém é com este vinho que me delicio. Um belo malbec de gama média com muita fruta e especiarias em perfeito balanço, um vinho como, a meu ver, todo o Malbec deveria ser. Sem excessos, rico, com taninos finos e aveludados, carnoso, médio corpo, boa textura, muito equilibrado e um longo e saboroso final de boca com alguma mineralidade presente. Se chegar aqui em Sampa na casa dos R$70 a 80,00 certamente irá valer muito a pena!

Melipal Malbec
100% Malbec 12 meses en barricas de roble francés. 12 months in French oak barrels.
Cerdo confitado en malbec y maíz cremoso – Malbec marinated pork tenderloin over sweet corn cream.

 

Melipal  Nazarenas Malbec – O vinho Top da vinícola elaborado com uvas de seu vinhedo mais antigo, com mais deMelipal Menu 2 90 anos, vinho que não conhecia e mostrou ser um vinho de grande intensidade aromática e concentração. Vinho potente mostrando bom corpo e acidez balanceada que mostram que estamos com um vinho de guarda na taça, ainda muito novo mas que já mostra a que veio. Um belo companheiro para uma boa e suculenta carne

Melipal Nazarenas Vineyard Malbec
100% Malbec de la finca Las Nazarenas (plantada en 1923).18 meses en barricas de roble francés.

100% Malbec from Las Nazarenas vineyard (planted in 1923) 18 months in French oak barrels.
Medallón de filet a la plancha, pesto rojo y risotto de hierbas – Grilled beef tenderloin, sun dry tomatoes pesto, and green risotto

Melipal blend – já falei dele quando da degustação de Blends e foi mais uma grata surpresa nesta visita que juntou a saudade de alguns rótulos com a descoberta de novos. Um vinho muito fino e equilibrado, taninos sedosos e um longo final que não cansa. Espero vê-lo nas minha taça mais vezes, um vinho sedutor!

Melipal Menu 3Melipal Malbec Late Harvest – Descobri que tem muita gente explorando este segmento de vinhos de sobremesa e este vinho deles se mostrou muito interessante com bom equilíbrio e doçura controlada.

 

 

  Melipal Malbec Late Harvest
100% Malbec. Dulce natural / 100% Malbec. Sweet wine
Cremoso de chocolate amargo sobre panna cotta de naranjas y salsa toffee.
Creamy bitter chocolate, orange panna cotta and toffee sauce.

Melipal Vinhos

Difícil ir embora depois de tudo isso e da forma como fomos recebidos, uma rede teria sido uma boa pedida (rs), mas depois de um cafezinho e algumas compras, era hora de voltar para a van e nos pormos a caminho de mais uma bodega, desta feita a pirâmide de Catena Wines.

 

Clipboard Catena

Há pouco mais de 110 anos, Nicolás Catena (o bisavô) plantou sua primeira videira e deu o pontapé de partida para o que hoje é um dos maiores, se não o maior, grupo vitivinícola argentino. Nos últimos 20 anos, boa parte da revolução pelo qual passou a vinosfera mendocina tem raízes na personalidade desafiante e tenaz desse que é hoje o comandante em chefe do grupo, Nicolás Catena, o neto! O que mais aprecio nele é a busca por limites e por apostar na Cabernet e nos blends em vez dos single vineyards como caminho para ganhar complexidade nos vinhos. Hoje seus filhos (Laura, Adrianna e Ernesto) tocam projetos satélites e outros independentes seguindo o trajeto inicialmente pavimentados por seus antecessores. Um dos maiores conglomerados produtores de vinho na Argentina, não se sabe ao certo o quão grande é devido à falta de dados disponíveis, com seus vinhos espalhados pelo mundo e sempre muito bem avaliado pelos crítica internacional em geral, faz com que seja uma das bodegas mais visitadas em Mendoza. Aqui provamos três vinhos da linha Angelica Zapata que é, salvo engano, somente vendida na Argentina e no Brasil:

Angelica Zapata Chardonnay – um dos bons chardonnays argentinos que precisa de um tempinho em garrafa para se mostrar e deve ser tomado com dois ou três anos de garrafa para se tirar dele tudo o que ele tem a oferecer. Bom em jovem, mas melhor mais maduro como este que tomamos (2011), já com três aninhos nas costas. Fermenta em barricas de 225 ltrs e depois repousa em garrafa por cerca de um ano e meio antes de sair ao mercado. Madeira muito bem colocada, nuances de baunilha e frutos tropicais no nariz, boa entrada de boca mostrando um frescor típico dos brancos de maior altitude, algum mineral num final de boca de muita expressão e persistência, um belo vinho.

Angelica Zapata Malbec 2010 – um clássico que faz a cabeça da maioria dos brasileiros. Frutos vermelhos, algumas notas de cânfora no nariz, álcool e madeira ainda por integrar mostrando que o vinho ainda está novo para ser apreciado em toda a sua plenitude, porém há quem goste de seus vinhos mais novos e este é um bom exemplar de malbec elaborado com uvas de três diferentes vinhedos; Pirâmide, Adriana e Nicasia.

Angelica Zapata Cabernet Franc 2009 – para mim o que mais se destacou em conjunto com o Chardonnay. A Cabernet Franc mostra aqui a qualidade que está fazendo com que ela comece a deixar de ser coadjuvante na maioria dos bons assemblages argentinos (como comentado na degustação que fiz recentemente), partindo para assumir um papel de protagonista em diversos bons exemplares varietais. Fruta muito presente, algo de violeta no ar e na boca muita especiaria, taninos sedosos, madeira bem integrada e absolutamente pronto a beber com muito prazer.

 

Final do Day One? Nããão! Rs terminamos com as visitas ás bodegas, mas ainda tinha o Jantar que, na falta do Azafrán que estava em reforma, acabamos no La Barra Carnes & Vino  que foi divino. Ambiente rustico, descompromissado e aconchegante, belas carnes, um presunto cru local cortado em fatias grossas e muito saboroso, gostosas saladas e uma boa seleção de vinhos para acompanhar. Um lugar muito aprazível que recomendo, só precisa relaxar quanto ao serviço, é algo lento porém simpático.

Clipboard La Barra

Semana que vem tem mais! Bom fim de semana, salute e kanimambo

Mendoza Um Oasis com Mais de 930 Vinícolas

Mendoza logo
Um deserto é uma zona geográfica com menos de 400ml de chuva ano e grande amplitude térmica entre dia e noite podendo ser áridos (até 250ml), semi-áridos (250 a 500ml) e gelados (desertos polares com menos de 5ml. O Sahara recebe algo como 250ml anuais / Atacama, o mais seco, algo ao redor de 1ml a cada 5 ou dez anos / Gobi recebe aproximadamente 180ml ano e Mendoza entre 200 a 250ml! A proximidade dos Andes e sua águas de degelo junto com as famosas acéquias (canais) inicialmente construídos pelos índios Huarpes, posteriormente desenvolvidos pelos espanhóis que por lá aportaram, complementam as necessidades hídricas e faz com que a água, mais do que a terra, seja o mais valioso bem da região.

Acéquias Clipboard
A partir de 1890, começa um trabalho de construção de diques que represam as águas de degelo possibilitando um maior crescimento e desenvolvimento de toda a região e da indústria do vinho. O Departamento de Irrigação é que controla a abertura das comportas que libera a água para as diversas vinícolas espalhadas pela região. Algumas terras também possuem poços o que faz com que sejam incrivelmente valorizadas, já que terra barata por estas bandas, quer dizer terra seca!

Clipboard Diques
Atrás deste terroir que produz aproximadamente 70% do vinho argentino, veio gente de todos os cantos do mundo; franceses, italianos, portugueses, americanos, espanhol e com eles uma rica gastronomia num complexo e diverso caleidoscópio de sabores e aromas que vale muito a pena ser conhecido, até porque toda essa riqueza está bem próxima da gente e possui preços bem acessíveis. Difícil é escolher entre essa imensidão de vinícolas e grandes vinhos, as que visitar em tão curto espaço de tempo. Fazer três ou quatro viagens destas com 6 a 9 vinicolas sem repetir nenhuma é algo não só viável como desejável! Ficaram de fora um monte de lugares a visitar e certamente outras viagens serão necessárias, até porque devemos ter provado uns 56 a 60 rótulos porém meu chute é que hajam disponíveis em Mendoza mais de 13.000 ou seja, mal raspamos a superfície desse mar de vinho abençoado por Baco.

Clipboard visits

Eu estive por lá mais uma vez, desta feita com a WFTE (Wine  Food Travel Experience) um projeto que retomei depois de um longo hiato, levando um grupo de 13 amigos e leitores numa viajem de descobrimentos que durou quatro saborosos e intensos dias que já deixam saudades do lugar, dos vinhos, dos pratos e especialmente dos agradáveis momentos passados com um grupo de pessoas especiais. Aqui no blog vou relatar e compartilhar com os amigos que não puderam nos acompanhar e ficaram curiosos, nossas visitas e jantares o que não deixa, também, de ser uma forma de reviver esses  momentos e matar saudades. Acompanhe nossas atividades e meus comentários sobre os locais, vinhos e comida nos próximos dias. Salute e kanimambo

Tour Enogastrocultural pela Itália – Parte II

   Está confirmado sairemos dia 12 de Setembro pois dia 13 no final do dia já começamos com nossa programação em Florença. Aliás, na parte I deste curto resumo da programação desenvolvida falei da Toscana, por onde nosso tour se iniciará, porém agora dou sequência ao roteiro, vejam como ficou:

wine&food Logo

   Depois da Toscana disparamos rumo ao Veneto, mais especificamente a Verona onde montamos nossa base para alguns dias deliciosos! A caminho, já que passamos por Modena, não poderíamos deixar de dar uma passada no Museu da Ferrari e admirar uma das outras paixões italianas. No trajeto e tendo em mente nosso compromisso com o movimento Slow Food, pararemos em Rubiera, entre Reggio Emilia e Modena, para almoçar em um restaurante considerado um templo da cozinha Emiliana, gastronomia regional com um menu composto por entrada, prato principal, sobremesa e vinhos tudo no pacote!

   O Veneto e região são de uma riqueza vitivinícola ímpar com enorme diversidade sendo hoje o maior produtor de vinhos na Itália e Verona, Treviso, Padova e Veneza respiram história e cultura. Nós vamos atrás de tudo isso. Valpolicella, Bardolino, Soave, Recioto, Amarone, Prosecco, Grapas, a diversidade é enorme e começaremos nosso roteiro pelas vinícolas visitando a Cesari onde também teremos o prazer de almoçar após degustação e já está no cardápio o seu incrível Amarone Bosan!

   No dia seguinte sairemos para a região de Conegliano – Valdobiadenne, terra dos Proseccos onde conheceremos mais a fundo a elaboração desses espumantes festivos elaborados com a uva Glera, na Mioneto que produz espumantes há mais de 125 anos. Depois, um passeio por Treviso e em seguida vamos descobrir porquê a Pieropan já conquistou por 17 vezes, os 3 “bicchieri” do respeitado guia italiano Gambero Rosso com seus Soaves super especiais elaborados com a uva Garganega.

    Para descansar do Vinho e nos embriagarmos com cultura e história, um dia somente para descobrir a incrível Veneza. Para quem não tenha se satisfeito no dia, temos programados um segundo dia por lá ou, quem preferir, pode passar o dia descansando e descobrindo Verona. Como, no entanto, haverá gente com sede de conhecer mais vinícolas, preparamos um passeio opcional deveras interessante pois visitaremos a região mais saxônica da Itália, o Alto-adige e Trento. Afora conhecer a linda Bolzano cercada pelos Alpes e Trento origem de muitos de nossos patrícios italianos, teremos o prazer de almoçar e conhecer os divinos vinhos da premiadíssima Elena Walch elaborados com uvas diferentes como a Lagrein, Blauburgunder e Muller-Thurgau.

Clipboard Piemonte

    Depois de alguns dias por estas paradas, é hora de partir para o Piemonte e mais um trecho de experiências enogastronomicas de tirar o chapéu! Nosso primeiro destino será o restaurante L’Osteria dell’Arco, fundado em 1986,é o segundo do circuito do Slow Food Osteria, a cozinha inconfundível do restaurante segue as tradições de Langa e Roero com os gostos do paladar atual. O almoço será à base de pratos regionais e Fortalezas Slow Food (produtos que estiveram em risco de extinção que o movimento apoia). Seguimos depois para a Feira Artesanal de Queijos (pouco mais de 3000 metros quadrados com queijos de 12 países) promovida pelo movimento Slow Food em Bra a cada dois anos.

    No dia seguinte, visita à cidade de Alba e ao mítico Pio Cesare, um produtor que é pura história já que produz seus vinhos a poucos metros da praça central desde 1881, e que vinhos! Almoço e visita a um pequeno (somente 45 mil garrafas ano) e marcante produtor Piero Buso.

    Pela manhã do dia seguinte, uma visita com provas na Banca del Vino antes de nos aventurarmos na companhia de um Trifulau numa caçada ás raras e famosas trufas brancas da região sendo que o almoço será á base de pratos com esta iguaria. Para finalizar mais um grande dia, uma visita com degustação à famosa e premiada vinícola de Renato Ratti. Dia cheio esse!

    Finalizaremos nosso roteiro em Turin famosa por seu acervo histórico, cafés antigos e chocolates ímpares e que, obviamente, provaremos. Nosso jantar de despedida se dará no Restaurante Solferino no centro histórico da cidade.

Clipboard Torino

    Chegamos na parte triste desta viagem, a volta! Sim, tudo o que é bom acaba mais rapidamente do que gostaríamos, porém as lembranças, como um bom vinho, certamente ficarão persistentes em nossas memórias! Para quem quiser detalhes da viagem, fico ao dispor, basta me enviar uma solicitação.

   Por hoje é “só”, mas com esta segunda e última parte do roteiro, certamente a semana já será de muito pensar! Salute, kanimambo e esta semana ainda falarei de alguns vinhos e eventos de que participei e valem sua “conferida”!

Slow Food – Viagem Enogastrocultural à Itália

        Neste roteiro de viagem pela Itália, nosso foco gastronômico, sempre que possível, foi acompanhar os restaurantes e eventos ligados ao Movimento Slow Food. Para quem não conhece, o Slow Food é uma associação internacional sem fins lucrativos fundada em 1989 como resposta aos efeitos padronizantes do fast food; ao ritmo frenético da vida atual; ao  desaparecimento das tradições culinárias regionais; ao decrescente interesse das pessoas na sua alimentação, na procedência e sabor dos alimentos e em como nossa escolha alimentar pode afetar o mundo. O Slow Food segue o conceito da ecogastronomia, conjugando o prazer e a alimentação com consciência e responsabilidade, reconhecendo as fortes conexões entre o prato e o planeta. Hoje conta com mais de 100.000 associados, em todo o mundo, que formam e mantêm o movimento.

       As Fortalezas são projetos concretos de desenvolvimento da qualidade dos produtos nos territórios, envolvendo diretamente os pequenos produtores, técnicos e entidades locais. São pequenos projetos dedicados a auxiliar grupos de produtores artesanais e preservar os produtos artesanais de qualidade. No nosso roteiro iremos fazer várias refeições em restaurantes indicados pelo Slow Food no seu guia de restaurantes, e iremos provar vários produtos que são Fortalezas Slow Food como o evento em Bra (sede da Slow Food), a Feira de Queijos Artesanais.

Feira de queijos

Salute e kanimambo