O. Fournier, Uma das Gratas Surpresas de 2014

José manuelNo ano passado tive a oportunidade de participar de uma degustação promovida pela Vinci Importadora para a imprensa e especialistas do setor, em que fomos apresentados ao José Manuel Ortega Fournier, proprietário dessa vinícola ou melhor, grupo vitivinícola já que possui vinícolas na Espanha (originalmente), Argentina (onde hoje reside) e ultimamente, Chile e a seus vinhos. Fazia tempo que buscava essa oportunidade e o que provei foi bem além do que previa, uma grata surpresa que comentarei em diversas etapas.

1 – A qualidade presente de forma uniforme em tudo o que provamos e não foi pouco. Depois ainda me aventurei por seus gama de entrada (linha Urban) que confirmaram as impressões dos vinhos de gama mais alta. Importante isso, porque fazer vinhos top todos fazem de uma forma ou de outra, melhores ou piores, mas com quantidades menores de produção e alto custo, fica mais fácil. Produzir um bom gama de entrada com preço justo não é para todos!

2 – O José Manuel, uma personalidade e tanto. Franco, direto, sem floreios e ciente do que faz sempre buscando o melhor e a imprimir a seus vinhos um estilo próprio. Sua bodega em Mendoza é um claro exemplo disso e sua gentileza ao nos oferecer um regalo de final de evento que me seduziu, uma prova de Magnum A-Crux 2001, adorei, ou melhor, adoramos!

3 – o uso de uvas ibéricas pouco usuais em Mendoza; a Tempranillo e, especialmente, a Touriga Nacional. Vinhos muito interessantes e diversos do main stream, vinhos com personalidade própria que me seduziram. Gosto dessa busca pela diversidade.

Foram nove os vinhos provados, um mais saboroso que o outro e alguns grandes vinhos que me fizeram ver o quão poucos produtores e vinhos conseguimos conhecer ao longo de nossas vidas e olha que eu provo bastante! Eis um resumo dos vinhos provados e seus preços em US Dólares já que a Vinci, como a Mistral, trabalham com taxa do dia.Celular 29-09-14 003

Começamos por dois Sauvignon Blanc, o B-Crux Sauvignon Blanc (USD40,00) de Mendoza e o Alfa Centauri (USD67) do Vale do Leyda no Chile com passagem por barricas de carvalho. Ainda não consegui provar um Sauvignon Blanc varietal com passagem por madeira que me agradasse e sigo dessa forma, pois o vinho ficou algo pesado, mas tem gente que se encantou. Preferi o de Mendoza que apresenta mais tipicidade da uva com bastante frescor e grama molhada presente, gostoso de beber.

B-Crux Blend 2009, um vinho que me encantou pois afora usar 50% de uvas ibéricas (Tempranillo e Touriga Nacional) no blend, o resto é Malbec, foi uma enorme surpresa saber que a Touriga também está em Mendoza! De gama média alta, frutado, sem excessos, boca de boa estrutura e complexa, taninos finos presentes, um vinho de muita personalidade com um preço condizente com a qualidade ofertada, USD50,00. Belo vinho e aquele que eu poderia pagar, então minha melhor relação Qualidade x Prazer x Preço entre os tintos provados.

Alfa Crux Blend 2006, um senhor vinho onde a Tempranillo é protagonista tendo a malbec (25%) como coadjuvante. Vinho de alta gama com 20 meses em barricas novas que apresentava chocolate logo á primeira fungada (rs)! Taninos finos, boca redonda sem arestas, muito diferente do que se espera de um vinho mendocino e adoro surpresas destas mesmo não sendo mais para meu bolso, USD86,00. Vinho denso na boca, cremoso, acidez bem balanceada, final apetitoso que pede bis.

Alfa Centauri Blend 2008 é do Maule, chile e combina cabernet Sauvignon, franc e merlot, este último com um porcentual menor. Excelente vinho que passa 18 meses em barricas novas francesas e já custa USD100,00. Entrada de boca deliciosa e sedutora, um vinhaço que ainda vai crescer muito nos próximos três ou quatro anos quando o gostaria de revisitar. Muito equilíbrio e complexidade num estilo bem europeu (tradicional) de ser!

O. Fournier Clipboard

O. Fournier 2008, também do Maule e agora já entramos na seara de vinhos top do produtor. O corte por si só já é inusitado, Cabernet Franc (80%) e partes iguais de Cabernet Sauvignon e Carignan com passagem de 17 meses em barricas novas francesas. Elaborado só com uvas de vinhedos entre 60 a 120 anos plantadas em pé franco. Perfumado, frutos negros, taninos finos (marca registrada pelos vistos), complexo, fresco e sedutor. O meio de boca é tão saboroso que você tende a o deixar lá por um tempo a mais que o normal para só depois o deixar escorregar pela garganta. Para quem tem USD189 para bancar uma garrafa destas, eu recomendo, gamei!!

O. Fournier Ribera del Duero 2005, chegamos na Espanha e em mais um vinho top da casa com outra pegada. Tinta del país (tempranillo) 100% e 20 messes de carvalho francês é um vinho que mesmo com nove anos de vida ainda mostra muita jovialidade e promete evoluir por mais anos a fio. Concentrado, escuro, meio de boca algo mineral, carnudo, um vinho que exala o terroir de Ribera del Duero e o menos pronto a tomar de todos mesmo sendo o mais velho, com preço também na casa dos USD 189.

Urban Carignan 2011 elaborado com uvas de vinhedos com 80 anos no Chile foi uma solicitação adicional do José Manuel para que provássemos também o outro extremo de sua gama de vinhos, o de entrada. Custa USD24 e o vinho é realmente uma enorme surpresa valendo cada centavo. Posteriormente provei um Urban Tempranillo/Malbec de Mendoza e foi outro vinho que me agradou muito. Penso que quem consegue produzir bons vinhos nesta faixa de preços, certamente produz bons vinhos nas gamas acima e o inverso nem sempre é verdadeiro. Se quiser conhecer o perfil de um produtor, prove seus vinhos de entrada!

Ainda tinha mais, uma surpresa e uma enorme gentileza de José Manuel para os jornalistas, colunistas e blogueiros de vinho presentes a esta deliciosa degustação, um delicioso, fino e elegante exemplar de Alfa Crux 2001 em garrafa magnum, seu primeiro vinho produzido em Mendoza do qual sobram poucas garrafas no mundo e que detem um Troféu de Melhor na Categoria na Wines of Argentina Awards. Tempranillo de 70 anos de idade, Malbec de 80 anos e Merlot de vinhedos mais jovens. Acidez bem presente ainda mostrando que ainda terá alguns anos pela frente, fino, sofisticado, daquele estilo de vinho que deveria vir á mesa de fraque e cartola. Um regalo e um privilégio que fazem os caminhos por nossa vinosfera valer a pena.

Alfa Crux Magnum 2001 Clipboard

Hoje compartilhei com vocês mais uma experiência que ficou marcada em minha memória, os verdadeiros vinhos de grande persistênca, e que me levou a combinar uma degustação especial com ele (salvo algum imprevisto) em sua bodega em Abril, feriado de Tiradentes, quando quem for comigo poderá confirmar, ou não, se meu entusiasmo tem fundamentos. Cheers, Kanimambo e seguimos nos encontrando pelos caminhos de Baco!

Feriado de Tiradentes em Mendoza Comigo, Topas? Join Me in Mendoza!

Amigos, mais um belo roteiro para Mendoza e das 14 vagas, já só restam 10 e só agora estou lançando mais este tour para amantes da boa enogastronomia! Negociei cada vinho que será tomado nessa viagem única por 9 diferentes e conceituadas bodegas mendocinas, todos caldos que já provei e assino em baixo. Veja abaixo um resumo do que a W.F.T.E (Wine & Food Travel Experience) está oferecendo neste roteiro que terá meu acompanhamento e gerenciamento operacional da Clube Turismo de Cotia capitaneada por meu amigo e confrade Rodrigo Loureiro.

  • Viagem de 5 dias e 4 noites – saindo Sábado (18) e voltando Quarta-feira (22) final do dia, chegando Quinta de madrugada dando tempo para ainda ir trabalhar!
  • Visita a 9 vinícolas de primeiro escalão com degustação de pelo menos uns 50 vinhos diferenciados. Passionate Wines / Decero / O. Fournier / Casarena / Achaval Ferrer / Catena / Dominio del Plata / El Enemigo e Finca Perdriel-Norton.
  • Serão 4 almoços harmonizados e mais 2 jantares em bodega com assados
  • Hotel 4 estrelas (NH Cordillera) com café da manhã próximo a tudo no centro de Mendoza
  • Passagem aérea, taxas, seguro saúde e transporte local em Mendoza inclusos.

Para ver o programa de viagem completo clique no link acima da W.F.T.E ou aqui, onde também consta o preço que inclui tudo o acima listado. Qualquer duvida, me envie um comentário que terei o maior prazer em solucionar quaisquer duvidas eventuais que possam vir a ter. Quem estiver em outro país, pode se unir a nós em Sampa, fale comigo.

Cheers, kanimambo e vem comigo vai?! Por enquanto desfrutem da imagem (cliquem para ampliar) abaixo com um flash dos lugares onde estaremos.

Mendoza 2 Poster

Sacando a Rolha de Mais Brancos!

Uncorking-Old-Sherry-GillrayNas confrarias estamos sempre na busca de novas experiências e sabores, sendo que desta feita, nossa reunião de Janeiro da Confraria Saca Rolha, decidimos explorar a diversidade dos vinhos brancos e finalizando com um clássico que surpreende pelo ótimo preço. Adoro vinhos brancos e a diversidade de uvas é imensa para só ficarmos provando sempre as mesmas cepas, “navegar é preciso” então lá vamos nós em mais uma viagem e a nossa porta voz, confrade sommelier e acima de tudo amiga Raquel Santos, nos relata sua visão de mais esse gostoso encontro de confrades amantes de vinho e seguidores de Baco!

“Muito se tem falado de vinhos brancos, que são perfeitos para o nosso clima tropical, já que são refrescantes e leves, certo? Pois bem, eu sou daquelas que defendem o vinho branco até no inverno. Alguns deles, além dessas características refrescantes, são densos, alcoólicos e nem tão leves assim como sempre imaginamos.
Mas como praxe é praxe, tenho acompanhado muitas degustações nesta época calorenta que estamos passando, de muitos vinhos brancos. A nossa confraria não foi diferente. No mês de Janeiro foi a chance de experimentarmos vinhos ainda desconhecidos por nós e constatarmos que apesar de tantas experimentações nesses anos todos, sempre terá alguma uva, alguma região ou produtor inédito para serem decifrados.Ferrari Perle

Para iniciarmos o ano, nada como um belo espumante italiano, da região do Trento: O Ferrari Perlé 2007, elaborado pelo método clássico é daqueles que enche a boca ( e a alma ). Muito cremoso, com aromas de fermento e acidez na medida. Uma alegria!

Foram escolhidos seis exemplares de uvas e regiões diferentes:

Beade Treixadura1. Bodegas A Portela – Beade Primaccia – Treixadura 2012.
No noroeste da Espanha, a Galícia ( D.O. Ribeiro )faz fronteira com Portugal na região do Minho. O clima tem grande influência do Atlântico onde os ventos marítimos criam um ambiente fresco e úmido e a vegetação é abundante. Isso é reconhecível nos seus vinhos brancos onde o frescor e a exuberância aromática aparece quase sempre. Esse, elaborado com a variedade Treixadura mostra bem essa característica, com aromas de frutas tropicais que se fundem com uma mineralidade (gasóleo). Com bom corpo, acidez que sustenta o seu frescor, porém no final, talvez por conta da temperatura, sobra um pouco de açúcar residual.

2. Quinta de Linhares – Branco Avesso 2012.Linhares Avesso
Da região do Minho, com as características climáticas semelhantes às da Galícia só que do lado de Portugal. A variedade Avesso é típica dessa região e compõe os vinhos verdes juntamente com a Alvarinho, Loureiro, Trajadura, entre outras. Esse, elaborado com 100% Avesso o que não é comum, tem ótima estrutura, bom corpo e uma acidez tendendo para o metálico. Muito delicado no nariz com aromas florais e cítricos.

Tunella Rjgialla3. La Tunella – Rjgialla 2012.
O nome do vinho faz um trocadilho com o nome da casta ( Ribola Gialla ), nativa do Colli italiano, que são as colinas localizadas no nordeste da Itália, na fronteira com a Eslovênia. Os vinhedos produzem na sua maioria, vinhos brancos secos e límpidos, com muito frescor e acidez acentuada devido ao clima de altitude, nos pés dos Alpes. Esse vinho não foge à regra: Muito fresco no nariz, com notas florais, baunilha e frutas cítricas. Ataque cremoso na boca sem perder a crocância. Sensação de morder uma maçã verde suculenta!

4. Valdesil – Godello – sobre lias 2009.Godello
Também da região da Galícia ( D.O. Valdeorras ), produzido com uvas Godello provenientes do mais antigo vinhedo plantado nas encostas de xisto. Depois da fermentação em inox, passa 5 meses em contato com as borras. Isso agrega nuances de aromas e sabores muito complexos a ele. À primeira vista mostra-se bem seco e duro. Mas dando-lhe tempo para evoluir na taça, aparecem todas as camadas de aromas florais de verão, sabores de frutas brancas e delicadas como pera, marmelo e um leve toque amendoado. Na boca tudo isso se confirma com muito equilíbrio e estrutura entre os pilares da acidez e corpo.

Kerner5. Abbazia di Novacella – Kerner 2012.
Esse vinho já havíamos provado numa outra ocasião, junto com Riesling. Este Kerner é uma uva plantada na Itália/Alto Adige, produto do cruzamento da Trollinger (Schiava ) e Riesling, e que se encontra mais presente na Alemanha de onde ela é originária. O resultado é como um Riesling mais encorpado, frutado , sem perder a típica mineralidade e frescor da casta. É sempre interessante comparar o mesmo vinho em contextos diferentes. Aqui neste caso estávamos buscando vinhos frescos que fossem agradáveis no verão. Já na outra degustação em que ele esteve presente, queríamos harmonizar vinhos Riesling com comida alemã (eisbein com chucrute). Ou seja, aquela comida pesada, com muita gordura, típica dos países frios. Em ambos os casos ele deu conta do recado com galhardia.

6. Domaine Servin – Vaillons Chablis Premier Cru 2011.Servin Chablis 1er cru
E para terminar não podíamos ficar sem aquele que é considerado o maior representante dos vinhos brancos mais secos, frescos e elegantes da nossa vinosfera. Notem que é o único deles que não mostra o nome da uva no rótulo. Os vinho da região demarcada de Chablis, fica à noroeste da Bourgogne onde todos os vinhos brancos são elaborados com a Chardonnay. O que os diferenciam é exatamente o terroir. O solo de Chablis é extremamente calcário e os vinhos ganham uma tipicidade única. Esse não fugiu à regra e mostrou-se seco, com uma acidez incrível, que deixou escapar apenas uma fruta tropical madura ( abacaxi ) que não é muito comum aparecer nestes vinhos.

Se queríamos conhecer coisas novas para o verão, essa seleção foi só uma amostra. Penso que uma bebida refrescante, que acompanhe bem um aperitivo num dia ensolarado, uma refeição leve ou mesmo sozinho, deve ter uma graduação alcoólica baixa. A sensação de calor que sentimos quando ingerimos o álcool depende da sua graduação. Portanto quanto mais baixa ela for, menos nos aquece e vice versa. Infelizmente essa informação nem sempre está explicitada no rótulo. Esses seis vinhos que provamos, apesar de serem bem refrescantes, apresentaram uma complexidade a mais, seja pela personalidade do seu terroir ou pelas características da própria uva. Neste caso, mais uma vez fomos surpreendidos.

O que fica claro é que o velho padrão conhecido: vinho branco que combina com climas quentes e vinho tinto que combina com o frio, foi por água abaixo! Vinho é vinho e ainda bem que são muitos! Quem sabe possamos fazer um dia, uma degustação de tintos para o verão? Quem viver, verá!”