Vinhos do Dão – Quinta Mendes Pereira, um Achado.

panorama-mendes-pereira3Há cerca de 50 anos, o Comendador José Mendes Pereira aporta no Brasil onde se estabeleceu profissionalmente e onde teve seus filhos. No contra-fluxo, Raquel, sua filha, volta a Portugal com Carlos, seu marido e parceiro, com desejos de revitalizar uma velha e histórica quinta da família. Nascida em Campinas, ela deu inicio a esse processo de renovação a começar com a mudança do nome da quinta de “Quinta da Sobreira” para “Quinta Mendes Pereira” em homenagem ao nome de seus ancestrais.

Apaixonada pela Quinta, onde já se plantavam vinhas desde o século XVII, sua dedicação e ambição de produzir vinhos de qualidade na região do Dão já dá grandes resultados apesar dos seus parcos cinco anos, já tendo sido premiada quatro vezes pela Comissão de Vinhos do Dão. Em 2006, e sob a insígnia “A Arte do Vinho”, dois dos seus vinhos tintos de 2003 – o Garrafeira e o Colheita DOC – foram incluídos na lista dos 160 melhores vinhos de Portugal. Em 2007 o Garrafeira 2003 foi reconhecido pela Revista de Vinhos como o melhor tinto do Dão desse ano de produção, num alargado painel dedicado a esta região demarcada. Não é pouca coisa, para quem há pouco aportou nestas coisas de fazer vinho. Pois bem, no limiar do ano de 2008, tive o enorme prazer e privilégio de bater um papo informal com ela e conhecer seus vinhos.

O que mais me surpreendeu, foi a opção por produzir vinhos sem madeira e por um vinho de quinta, artesanal, susceptível a precipitação e depósito natural na garrafa, vinhos como antigamente num lagar de pedra granítica com pisa a pé, de quatro a cinco dias. A propriedade possui 25 hectares dos quais 15 com vinhas em que as videiras foram parcialmente renovadas de forma a garantir a homogeneidade da produção e de acordo com as castas tintas selecionadas Touriga Nacional, Tinta Roriz (Aragonês) e Alfrocheiro, bem como as castas brancas Encruzado, Cerceal e Bical. Um lago com um hectare de extensão,assegura continuamente a riqueza de água do solo de profundidade, evitando a necessidade da rega e eliminando as doenças de podridão das plantas. Mantendo a tradição da região, a fermentação processa-se em cubas metálicas revestidas, sendo o estágio assegurado em cubas tradicionais de cerâmica. O vinho estabiliza com uma graduação alcoólica próxima a 13,5º, não estando previsto o estágio prolongado em madeiras de carvalho, por não ser julgado aconselhável para este tipo de vinho. O descanso mínimo dos vinhos é de 24 meses, o Garrafeira descansa por 36, sono este perturbado apenas pela recolha de amostras para análise e controle.

Muito simpática, Raquel, nos recebeu de forma simples e aconchegante, bom papo, bons vinhos e …. um azeite muito interessante que a Raquel trouxe da propriedade. Agora falemos dos vinhos.

Quinta Mendes Pereira Branco 2005, um vinho que já não é novo, mas segue com uma acidez muito boa, bem balanceado e muito saboroso. Tenho verificado que os vinhos à base de Encruzado tem uma capacidade de envelhecer muito bem preservando seu frescor. Uma boa introdução aos bons vinhos desta vinícola e aos brancos do Dão. Um saboroso corte de 50% Encruzado e o restante uma composição de Bical e Cerceal, que está com um preço em torno de R$ 52,00.

Quinta Mendes Pereira Rosé 07. Uma enorme e grata surpresa mendes-pereira-rose1porque foram apenas algumas garrafas que a Raquel trouxe consigo. Nem sei se a Lusitana já tem esse vinho em seu portfolio, mas este rosé de Touriga Nacional tem tudo a ver. Muito aromático, um delicioso vinho, com alguma estrutura e ótima acidez que lhe permite fazer frente a diversos pratos afora ser um agradável aperitivo. Deste primeiro lote engarrafaram somente 3.000 garrafas então. Um vinho cativante, de teor alcoólico comedido e muito frescor, como um rosé deve ser, porém acho que não virá ao Brasil em função da baixa produção.

Quinta Mendes Pereira Tinto Colheita 04, elaborado com um blend de uvas regionais como Touriga Nacional, Jaen, Tinta Roriz e Alfrocheiro, permaneceu descansando por dois anos antes de ser engarrafado em Fevereiro de 2007. Um belo vinho algo herbáceo no nariz em que também aparece fruta madura em abundância e de boa intensidade, que se confirmam na boca com bastante elegância e equilibrio. Mostra boa estrutura com final de média persistência e taninos aveludados já equacionados. Bom preço pela qualidade, algo em torno de R$52,00.

mendes-pereira-garrafeiraQuinta Mendes Pereira Garrafeira 2003, engarrafado em 2006, foi, a meu ver, o melhor vinho provado neste agradável encontro e, certamente, um achado pelo preço, melhor relação Qualidade x Preço x Prazer, tanto que constou de minha lista de Melhores de 2008 em sua faixa de preços. Um vinho complexo, muito rico e denso, de ótima estrutura, untuoso e pronto a beber apesar de ainda poder evoluir algo com mais um par de anos em garrafa. Para mim, no entanto, eu traço agora em 2009, eheheh. Bom demais, um vinho vibrante, de boa paleta olfativa em que se destacam frutos vermelhos maduros com nuances florais, na boca é muito saboroso, boa acidez, grande harmonia, corpo médio, bom volume de boca, taninos finos, saboroso e looongo final de boca que deixa aquele gostinho de quero mais. A protagonista aqui é a Touriga Nacional com 80% do corte e o restante uma composição de Alfrocheiro e Tinta Roriz, talvez por isso o vinho tenha me encantado tanto. Para quem queira conhecer os vinhos do Dão, este é imperdível e por cerca de R$84,00 (espero que não tenha mudado) é uma excelente compra.

Duas observações finais. A primeira quanto à renovação da marca e rótulos que deram uma outra cara mais simpática, moderna e convidativa aos vinhos. A segunda, que fiquei com água na boca para provar os Touriga Nacional de vinificação em extreme (varietais). Produtor para ficar de olho, e na taça preferencialmente, com mais assiduidade, pois prometem muito. Para quem os quiser conhecer melhor clique aqui, ou melhor ainda, coloque um vinho deles na taça e sorva seus recados, imagens e sabores. A importação e distribuição no Brasil é de exclusividade da Malbec do Brasil.

Salute e kanimambo.