Cosecha Histórica 2007.

Foi com essa chamada que fui gentilmente recebido pelo pessoal da Concha Y Toro que apresentou seus vinhos da Casillero Del Diablo 2007 ao mercado. Vinhos já conhecidos de boa parte do consumidor Brasileiro, que chegam pela primeira vez pelas mãos do próprio produtor depois de muito passear por mão de terceiros  e já chega arrebentando a boca do balão, coisa do capeta mesmo, pois os vinhos estão realmente muito bons. Grandes safras necessitam de pouca chuva, especialmente na época da colheita, temperaturas mais apenas e mais homogêneas sem grandes picos e baixa produtividade gerando uvas de maior concentração. Pois bem, os astros se juntaram em 2007 e produziram no Chile uma das melhores safras de todos os tempos e, “para variar”, num ano impar!

Uma primavera fria conteve o entusiasmo das plantas em produzir excessivamente, chuva no verão refrescando os vinhedos e um outono cálido que permitiu um melhor amadurecimento das uvas. Resultado final; quase 30 por cento de redução de volume de uvas produzidas, temperaturade cerca de 10 por cento abaixo da média e 25  por cento menos de chuva na época da colheita gerando vinhos Premium de grande concentração, teor alcoólico mais baixo, muito suaves, de taninos finos e maduros mostrando muita elegância. Os varietais tintos da Casillero del Diablo, mostram tudo isso com muita personalidade e foram especialmente abençoados.  Nós consumidores idem, porque podemos desfrutar desses bons vinhos sem que para isso precisemos estourar nossos orçamentos já que estarão no mercado por preços que variam de R$30 a 35,00 dependendo do local de compra.

São cinco os varietais que nos chegam ao mercado e que tive a oportunidade de degustar; Merlot, Malbec, Carmenére, Syrah e o Cabernet Sauvignon. Todos muito bons, mas a meu ver três se destacam e me chamaram a atenção.

Merlot, sou um amante dos nacionais e sempre tive alguma dificuldade em encontrar rótulos chilenos que me agradassem. Pois bem, minha busca cessou, achei! Este Merlot está muito bom, muito suave e elegante, bem frutado com boa paleta aromática, fresco, daquelas garrafas que certamente acabarão rápido demais deixando aquele gostinho de quero mais na boca. Rubi intenso, opaco, denso, rico e muito harmônico com um saboroso final de boca de taninos maduros e sedosos. Um vinho sedutor, fácil de agradar e ablutamente pronto a beber.

  • Malbec foi uma enorme e grata surpresa, até porque é novidade por estas bandas. Prima pelo equilíbrio, boa textura, nariz de boa intensidade em que a fruta, madeira e especiarias se mesclam em perfeita harmonia. Na boca é rico, de taninos finos e aveludados, corpo médio, suave, muito elegante apresentando uma boa e agradável persistência com algo de caramelo ao final. Muito bom, pronto para beber, mas mais um aninho de garrafa só lhe fará bem.
  • Syrah é um vinho de mais corpo, maior estrutura e só vem confirmar o que venho falando sobre as qualidades dos vinhos chilenos produzidos com esta cepa. No nariz apresenta fruta madura com algo de especiarias mostrando boa tipicidade. Na boca ainda está um pouco fechado, muito rico de sabores, taninos firmes, porém finos e bastante sedosos mostrando boa integração sem qualquer agressividade. Um vinho cativante, de boa complexidade, longo que certamente escoltará maravilhosamente bem um belo pedaço de picanha. Um vinho que já está bom, mas crescerá muito ainda por pelo menos mais uns dois anos quando a elegância deverá se sobrepor a uma certa virilidade jovial do momento. Uma verdadeira pechincha pelo preço e um dos grandes achados do ano.

         Não é da Cosecha Histórica e sim de 2008, então teoricamente não deveria estar por aqui, mas não resisti. Provei o Sauvignon Blanc 2008 com screw cap, fechamento usado por eles nos vinhos aromáticos, de que gostei muito. Muito intenso no nariz e muito fino na boca onde apresenta bastante frescor, algo cítrico e uma certa mineralidade que me agradou muito. Na mesma faixa de preços dos tintos, mais um que certamente visitará minha mesa com uma certa assiduidade.

           Para quem, como eu, gosta de conhecer um pouco mais da história por trás do vinho, a Concha Y Toro é o maior grupo produtor de vinho no Chile, com vendas, somente da linha do Casillero del Diablo, de cerca de 3 milhõres de caixas, dos quais aproximadamente 18% é de brancos. Com 95% da produção exportada, só o Cabernet Sauvignon, que é a grande mola propulsora de toda a linha, responde por um total de 33% da produção e vendas. Está entre os dez maiores grupos vinicultores mundiais, com uma vasta e ampla linha de produtos sempre muito bem posicioanda do ponto de vista da relação Qualidade x Preço x Prazer. Números impressionantes e incrível  como conseguem manter este padrão de qualidade com tamanho volume de produção! Mas de onde vem um nome tão incomum para um vinho? Diz a lenda, que foi Don Melchor, fundador do grupo, que nos idos do século 19 no intuíto de coibir roubos de suas mais preciosas garrafas que alí envelheciam, lançou o boato de que em suas caves mais profundas habitava o demo. Aparentemente funcionou, tanto que os roubos cessaram e até hoje seus melhores vinhos envelhecem nessas caves. Casillero del Diablo ou “Cave do Diabo”, na verdade, tornou-se foi uma benção para nós consumidores àvidos de bons vinhos por bons preços. Gracias Don Melchor

Salute e Kanimambo!