Vivendo e Aprendendo!

Por mais que tenhamos litragem e anos nas costas, a vida é um eterno aprendizado e este encontro com o Jean Claude Cara e os vinhos da Cavisteria , hora disponíveis on-line na Vinho Clic e fisicamente (alguns) na Vino & Sapore, foi um desses momentos.

Tenho que confessar que não sou um expert em Borgonha, região que sempre achei muito complicada e onde já tomei os maiores tombos, já que nem tudo que brilha é ouro, devido aos preços tradicionalmente na estratosfera e o que cabe no bolso da maioria de nós pobres mortais na maior parte das vezes deixa a desejar. Não existe, pelo menos nunca passou por minha taça, Borgonha bom e barato, especialmente por aqui com nossa dolorosa realidade de preços. Se falarmos de premier Cru e Grand Cru então, aí haja bolso!! Entre outras coisas fiquei feliz porque provei, em minha humilde opinião, alguns muito bons vinhos com preços, dentro da realidade borgonhesa tupiniquim, bem razoáveis apesar de ainda seguirem não sendo para todos os bolsos, mas já dá para eventuais escapadas ao orçamento! rs Dica para quem não tem o bolso tão gordo assim, divida uma meia dúzia de rótulos com confrades, eu vou nessa.

O Jean Claude é um especialista em vinhos antigos, especialmente nos da Borgonha onde vive a maior parte do tempo. Como um bom Caviste, busca vinhos tradicionais, de pequenos produtores fora do main stream e possui uma vasta coleção de vinhos centenários e raros em sua cave em Beaune. Neste projeto, trouxe alguns dos vinhos mais acessíveis, uns para guardar outros prontos a tomar de alguns desses pequenos produtores. De R$140 a 1900,00 e algo mais, uma seleção de vinhos dos quais tive o privilégio, junto com alguns poucos amigos convidados, de provar numa agradável noite no Loma Casa & Café lá em Moema. Por sinal, lindo o lugar, um misto de; antiquário, objetos de decoração,acessórios e obviamente café e quitutes!

Na prova;  um Aligoté mais jovem, dois Borgonhas tintos e finalizamos com um Mersault que mexeu comigo, tinha que ser branco!! rs Para encerrar uma noite muito educativa, foi servido um delicioso Bouef-Bourguignon acompanhado de outra de suas criações, um Elephant Rouge sobre o qual já comentei aqui e é um projeto local com a Villaggio Grando em Santa Catarina. Antes de falar dos vinhos, bem resumidamente porque há coisas difíceis de descrever, deixa eu compartilhar um pouco desta experiência e aula dada pelo Jean Claude

> Vinhos elaborados pelo método ancestral, velha guarda, tradicionalista, vinhos de longa guarda. Colheita manual, longa maceração (4 a 5 semanas) , fermentação malolática em barricas novas com estágio de 18 a 24 meses com battonage, engarrafados sem filtrar. Os mais velhos, tomar a 18ºC, nada de refrescar. Na prática fez todo o sentido.

> Brancos encorpados, longevos, prensagem mecânica e não pneumática, para tomar a 12ºC e os mais encorpados e antigos a 16º. Os vinhos mais tecnológicos, modernos, “mexidos” para agradar se degradam com 8 a 10 anos, já estes tradicionais seguem evoluindo por muitos mais anos. Provamos um 2001 divino!

> Leveduras indígenas são de uso padrão.

> Borgonha é ano, não rótulo. O mesmo produtor, com as mesmas uvas, com o mesmo processo de produção, elaborará vinhos diferentes ano após devido às mudanças climáticas entre os anos que alteram sobremaneira os vinhos e que, por sua vez, evoluirão de forma diferente ao longo de suas longas vidas. Não deixa de ser uma verdade genérica para regiões onde as mudanças climáticas podem mudar radicalmente de ano para ano, algo menos comum por aqui na Argentina e Chile, porém é algo a se pensar. O método tradicional, ou ancestral como o Jean Claude gosta de o chamar, intensifica essas diferenças pois não possuem “maquiagem”.

Domaine Remoriquet Gilles Aligoté 2016, este foi o primeiro vinho provado, uva branca pouco conhecida entre nós e que sempre que provo me surpreendo muito positivamente. Imperceptíveis 12 meses de barrica, boa estrutura de boca, notas sutis herbáceas, bom volume e de uma persistência incrível. Para beber já e guardar, porque vai evoluir.

Jayer-Gilles Cotes de Nuit Village 2011, cereja nos aromas, acidez bem presente, complexo meio de boca, taninos finos e um longo final. Vinho que deverá evoluir muito nos próximos três a quatro anos, já extremamente sedutor.

Vincent Bouzerau Beaune 1er Cru les Pertuzoits 1999, um jovem adulto de 20 anos vendendo saúde! Envolvente, sua entrada é arrebatadora toma conta da boca e de nossos sentidos, framboesa, sous bois, algo de couro, vinho para mais 10, 20 anos e de acordo com o Jean Claude, muito mais. Como tenho 65 anos, tomo agora e em 5!! rs

Guy Boucard Meursault Charmes 1er Cru 2001, soberbo para terminar a prova e comprovar a fama de grandes Chardonnays da AOC e eu, para variar, gamei. “Só” um adolescente atingindo a maioridade e com uma vida pela frente com seus 24 messes de barrica francesa nova, servido a 16ºC, foi exuberante. Algo salino, alguma untuosidade, parece doce (mel/caramelo) mas não é (pode isso Arnaldo?), nutty, cítrico mostrando notas de limão siciliano bem presente, ótima textura, final de boca algo mineral que não termina nunca, um vinho literalmente egoístico, daqueles para tomar solo (máximo mais um! rs) e com calma, apreciando cada gota do néctar e descobrindo sensações no “decorrer” da garrafa enquanto pensamos em quanto a vida pode ser bela!

Esses e outros vinhos, uma bela seleção imagino só pela mostra provada, já estão disponíveis na Vinho Clic e eu já armei uma degustação de cinco deles na Confraria Saca Rolha com os vinhos que estão na Vino & Sapore, uma boa forma de descobrir esse mundo “novo” de uma Borgonha ancestral, que são vinhos diferenciados, pelo menos do que estou habituado a tomar da região, disso não me restam duvidas. Gostei do que vi e provei, faça você seu próprio juízo de valor provando e comparando alguns desses rótulos, eu vou fazer isso! rs Melhor ainda, coloque junto um vinho similar de marca mais conhecida de grande produtor (tecnológico?), prove tudo ás cegas e sinta, ou não, as diferenças entre eles.

Kanimambo pela visita, saúde e aproveitem o fim de semana tomando bons vinhos em boa companhia. Se faltar bom vinho posso ajudar, já a companhia, bem essa você terá que se virar ou me chama!! rs

Cheers, prosit, salud, salute