Vinhos de Espanha I – Señorio de Sarría

Já disse e repito, se pudesse ter uma loja só com produtos enogastronomicos Ibéricos, viveria nas estrelas. No entanto, isso é um pouco mais complicado do que parece e requer uma especialização e caixa que estão longes de minhas posses. Fico então, como “mero” consumidor me deliciando com a rica e diversa gastronomia assim como sorvendo os bons caldos hoje disponíveis no mercado.

                De Portugal, há muito que nos deparamos com bons rótulos de preços bem acessíveis e algumas verdadeiras estrelas de nossa vinosfera, inclusive alguns grandes vinhos brancos que poucos ainda conhecem.  Da Espanha era um pouco diferente. Primeiramente, os produtores espanhóis sempre eram muito bem vendidos especialmente nos mercados de maior consumo como Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha, entre outros, ficando o Brasil como um mercado de menor interesse e de menor investimento. Segundo, as importadoras não davam muita bola e eram poucos os rótulos que aqui chegavam, na maioria de vinhos mais caros o que deu a estes vinhos, uma áurea de vinhos de elite e, por último, creio que o mercado por falta de conhecimento e disponibilidade, também não se interessava muito.

                  Tudo isto vem mudando rapidamente depois que a crise tomou conta dos mercados internacionais, havendo a necessidade de os produtores buscarem novos nichos no mercado mundial e o importadores viram nisso uma oportunidade tendo aumentado em muito o número de rótulos espanhóis em seu portfólio. Antigamente restrito a Rioja e Ribera Del Duero com os eventuais brancos de Rueda e Rias baixas na Galícia e rosados de Navarra, agora se encontram vinhos de boa qualidade e bom preço de todas as regiões. Toro, Bierzo, Cigales, Penédes, Priorato, Navarra, Jumilla enfim, uma imensidão de rótulos e origens para tudo o que é preço e gosto. Estive em uma degustação divina da Viña Sastre (Ribera Del Duero) realizada nas bonitas instalações da Ville du Vin em Moema com o apoio do Juan e Javier da Peninsula, a qual comentarei na semana que vem, mas hoje quero falar de algo absolutamente novo no mercado; a Import Gourmet e os Vinos da Señorio de Sarria.

              Esta empresa recentemente instalada por aqui, nos traz vinhos e produtos gastronômicos espanhóis, tendo sido uma grata descoberta em meus garimpos para compor portfólio da Vino & Sapore. Possui diversos vinhos, outros estão por chegar, em diversas gamas de qualidade. Eu tive oportunidade de degustar diversos, entre eles três rótulos de que gostei bastante com um, em especial, que me encantou. Da linha mais básica, com preço em lojas que deve chegar ao redor de R$50, o Señorio de Sarria Rosado e o Crianza, assim como da linha mais alta, o Viñedo 7 que é um varietal de Graciano.

Señorio de Sarría Rosado 2008 – eles possuem um premiadíssimo rosado (Viñedo 5) que é considerado como um dos melhores de Espanha na atualidade, mas eu gostei bastante deste chamado básico. Foge um pouco daqueles aromas mais comuns de morango e cereja frescos, leves e meio adocicados, mostrando alguma evolução tanto no nariz como na boca, mostrando-se mais complexo e interessante, cremoso, saboroso e muito agradável. Sua ótima acidez o faz uma boa companhia para pratos mais ligeiros, saladas, frutos do mar grelhados, paella, salmão e até um peru á califórnia acho que casaria legal. Por vinhos como este é que a região ganhou fama de produtor de belos rosés.

Señorio de Sarría Crianza 2006 – incrível que já se encontrem crianzas no mercado nesta faixa de preços, lembrando que um vinho crianza passa por 18 a 24 meses de envelhecimento entre barricas e garrafa. Neste caso, um vinho bastante interessante fruto de um corte de Tempranillo e Cabernet Sauvignon que passa por doze de barrica e seis em garrafa com um resultado muito agradável mostrando uma paleta olfativa de frutos do bosque negros (mirtillo/framboesa) com toques balsâmicos e algo herbáceo de fundo. Na boca a fruta aparece mais, de forma muita fresca apoiada numa acidez gastronômica que deixa um final de boca muito apetitoso e chamativo à próxima garfada. Bom volume de boca, taninos aveludados, um vinho que, se não é nenhum  blockbuster, certamente faz bonito á mesa e é fácil de se gostar.

Viñedo Nº 7 2005 – pulamos alguns degraus e provamos um vinho que, tenho que confessar, jamais tinha provado em varietal. A Graciano é comumente usada nos cortes das diversas regiões espanholas assim como a Garnacha, mas um 100% Graciano, foi minha primeira vez e adorei! Tem o estilo de vinho que me seduz; riqueza de aromas e sabores, taninos finos, equilíbrio e uma tremenda elegância, um vinho que deveria vir vestido de fraque e cartola.  Nariz de boa intensidade em que sobressai uma fruta vermelha fresca, algum alcaçuz e nuances de terra molhada que convidam a levar a taça à boca. De boa estrutura e volume de boca, possui taninos suaves e sedosos, rico, frutado, harmonioso, longo e muito delicado com um final mineral com toques de baunilha muito sutis, um vinho absolutamente sedutor que deverá estar nas lojas por volta dos R$100.

                Eles possuem diversos outros rótulos, alguns dos quais fiquei curioso de provar, sendo um produtor para se ficar de olho. Vinhos de Espanha, certamente vinhos a serem provados e apreciados, tenho gostado muito do que tenho visto e degustado, então este será o primeiro de uma série de posts com vinhos deste importante país produtor quando comentarei alguns dos frutos do garimpo. Por hoje é só, salute, kanimambo e tenham um ótimo fim de semana.