Vinho do Porto – Uma Incrível e Rara Experiência

            Quantas vezes na vida se tem o privilégio de tomar um vinho com 36 anos de idade? E se esse vinho for um Porto branco?! Eu, apesar de ser gamado num Porto, nem sabia que havia brancos tão antigos! Pois bem, essas e outras foram palco de uma incrível degustação com harmonização realizada pelo IVDP (Instituto do Vinho do Douro e Porto) há alguns meses em São Paulo e repetida no Rio e Brasilia. A apresentação, esta ficou a cargo de José Maria Santana, representante do Solar do Vinho do Porto no Brasil junto com o “inventor” de delicados e saborosos docinhos, que harmonizavam com cada estilo de Vinho do Porto degustado, o Chef Pastissiére Henri Schaeffer do Le Vin Boulangerie . Como dizem que também comemos com os olhos, eis uma foto que mostra bem o que nos esperava!

 Porto e doces

Foram apresentados cinco estilos de Vinho do Porto, um deles uma verdadeira raridade, que marcaram este meu caminho de aprendizado pelos caminhos de nossa vinosfera. Adoro Vinho do Porto, dos Tawnies envelhecidos, passando pelos LBV até chegar aos maravilhosos Vintages e esta degustação foi um verdadeiro privilégio. Cada vinho foi harmonizado com dois docinhos (foto) especialmente criados para este evento, mostrando toda a capacidade deste incrível Chef, numa experiência sensorial magnífica.

 1 – Porto Branco Envelhecido Santa Eufémia (vide baixo)

  • Bugnes Lyonnaise com Mel
  • Creme Brulée Catalane com Framboesa

 2 – Vallegre Porto Tawny 10 anos (Muito bom – Importadora NOR-Import. Prove também o LBV)

  • Praline de Avelã com Sal no copo e Biscoito com Limão Siciliano
  • Torta de Amêndoas

3 – Noval Porto Tawny 20 anos (Grande vinho. Importadora Grand Cru)

  • Speculoos de Canela com Frutas Secas e Mousse de Chocolate Branco
  • Macaron de Nozes com Damasco e Roquefort

4 – Graham´s Porto LBV 2003 (Um dos mais tradicionais e bons LBVs no mercado – Mistral)

  • Calisson D’Aix eu Provence
  • Éclair Romeu e Julieta

5 – Niepoort Porto Vintage 2005 (Muito bom Vintage, mas muito jovem, prefiro com mais de 15 anos. Vintage é para comprar, guardar e deixar envelhecer – Mistral – Prove também o LBV 2004, está divino)

  • Mil Folhas de Chocolate Amargo
  • Cone de Mousse de Cassis.

         Pois bem, todas as harmonizações deliciosas e ótimos portos muito bem escolhidos, mostrando toda a tipicidade de cada estilo. Os participantes desta degustação, no entanto, foram agraciados com o especial privilégio provar um Porto Branco envelhecido, datado de 1973, uma verdadeira raridade e o néctar mais marcante de toda esta degustação, até em função de ser algo inusitado. Por isso mesmo destaco o Santa Eufémia Branco 1973, um verdadeiro néctar dos Deuses, desde já candidato a um dos assentos disponíveis no meu “Deuses do Olimpo” anual.

         Os Vinhos do Porto brancos, são tradicionalmente vinhos mais leves, secos ou doces, próprios para serem tomados jovens. Este Santa Eufémia 1973, foi obra do acaso e até hoje é a única safra engarrafada. Apesar de não ser muito comum, aparentemente começa a existir, de forma tímida ainda, um segmento de Vinhos do Porto brancos envelhecidos ainda por ser regulamentado pelo IVDP. Isto, no entanto, não é razão para que não nos esbaldemos nas delicias deste verdadeiro caudal de emoções que é este vinho. Certamente, a degustação como um todo ficou meio que ofuscada por este néctar, até porque foi o primeiro a ser servido, então vou me permitir expor minhas sensaçõesvinhos-eufemia e contar um pouco da história por trás do vinho que possui o nome correto de Reserva Especial Branco da Casa Santa Eufémia. Nas palavras do enólogo e proprietário, Pedro Carvalho; “Pois bem, este vinho é da colheita de 1973, não é um vinho datado porque o meu Pai deixou caducar o seu registro, na altura a Quinta de Santa Eufêmia só produzia vinho mas não comercializava, pois só estavamos sediados no DOURO (e não em Gaia), como tal vendíamos parte das colheitas para a casa Exportadora que melhor nos pagasse. Normalmente o meu Pai ia para Vila Nova de Gaia vender os vinhos entre Março e Maio e foi ai que no ano de 1974 houve a revolução Portuguesa de 25 de Abril (Revolução dos Cravos) e como tal o meu Pai nesse ano não vendeu nada. A partir daí, esse vinho branco começou a ficar mais louro deixando de ter interesse para os exportadores, pois eles só queriam brancos jovens, e foi ficando.”

             Foi dessa “sobra” que acidentalmente nasceu este grande vinho. Um Vinho com história, com V maiscúlo, caráter e personalidade. Um vinho que deixa rastros por onde passa tendo-me marcado a memória, daqueles vinhos de exceção que quando provados jamais são esquecidos. Uma obra, até hoje, única e rara, mas certamente ainda veremos novidades num futuro próximo. Quanto ao vinho, difícil descrevê-lo e mais ainda todas as emoções sentidas, é um vinho que mexe com a gente. De extrema complexidade tanto no nariz quanto na boca, possui, antes de mais nada, uma perfeita harmonia em que nada se destaca a não ser o conjunto. A cor é âmbar, mostrando sua idade, linda e convidativa. Nos aromas, algo de pêssego, frutos secos, damasco tudo muito sedutor e delicado. Na boca demonstra mais uma vez todo o seu equilíbrio de uma forma untuosa, gorda e macia num ótimo volume de boca lembrando um tawny envelhecido, enorme riqueza de sabores, complexo, muito equilibrado com a acidez ainda bem presente e balanceada, final muito longo em que as amêndoas, mel e frutos secos se apresentam muito presentes e com enorme persistência. Surpreendente e arrebatador!

          Mandarei vir umas garrafas, mas quem quiser comprar por aqui, a importação é da World Wine e é um daqueles néctares que não devemos deixar de provar, especialmente se acompanhando doces conventuais portugueses á base de ovos e amêndoas, algo para não esquecer fácilmente e para fazer de qualquer momento, algo muito especial! Preço aqui está ao redor de R$300.

Salute e kanimambo