Um Passo Atrás?

È um passo atrás na evolução comercial, no desenvolvimento da qualidade, na abertura de mercados, no desenvolvimento do mercado do vinho Brasileiro. É uma visão retrograda, ultrapassada, velha e típica das sociedades ineficientes e políticas nacionalistas míopes, que protegem os medíocres e penalizam os consumidores. O porquê deste desabafo, porque mais uma vez estão trabalhando contra nós consumidores, na calada da noite, no sentido de, em nome da falácia de proteção da industria nacional e de empregos no campo, tratar de encher um pouco mais os bolsos do estado às nossas custas. Como se já não pagássemos um montão! Mas vamos aos fatos.

Desde uma passeata que ocorreu em Porto Alegre há cerca de seis meses, na pseudo defesa da uva e dos vinhos, mas que na verdade se tratava mesmo de proteger interesses dos produtores, que venho aguardando o momento certo para me manifestar e creio que chegou a hora. Todos que me lêem, sabem de minha algeriza a preços exorbitantes, margens absurdas praticadas por algumas importadoras, alguns lojistas e alguns produtores nacionais. Digo alguns, porque já há muita gente que acordou para a vida e não quero generalizar, porém ainda há poucos meses deixei clara esta minha posição nas criticas construtivas feitas aos produtores nacionais e suas ineficiências que, obviamente, têm como únicos bodes expiatórios os impostos e as importações. Não que estes não tenham lá sua parcela de culpa, especialmente quanto aos impostos, mas não são as unicas razões porquê os estoques estão altos e as vendas não decolam.

Não nego a existência de dificuldades, só sugiro que o tema seja tratado em seu âmago, desprovido de corporativismo ou ações paliativas, tratando o cerne da questão de forma objetiva e concisa sem jamais deixar de levar em conta o lado de quem, invariavelmente, paga a conta, o consumidor. Que se corrijam distorções, porém esconder-se atrás de barreiras é buscar protecionismo para encobrir as eventuais ineficiências de um setor apresentando a conta aos consumidores, não muito obrigado! Acredito que o caminho passa por ações que busquem uma redução de impostos adequando-os aos níveis médios internacionais, a mudança do status-quo do vinho tornando-o passível de ser classificado como alimento e sendo beneficiado por taxação diferenciada, projetos de modernização e profissionalização dos produtores na busca de maior eficiência, redução de custos, aumento de produtividade, campanhas conjuntas e institucionais visando difundir o consumo consciente do vinho, melhoria da cadeia distribuidora e estratégias comerciais que viabilizem a chegada de melhores vinhos a melhores preços ao mercado consumidor. Do pouco que sabemos, estes estudos sendo elaborados pela Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Viticultura, Vinhos e Derivados, são um remendo protecionista inibindo importações de forma genérica, algo que não agrega nada à industria nacional, engorda os cofres já gordos do governo federal e prejudica o consumidor que terá de pagar mais caro por produto de qualidade inferior. E olha que os vinhos, e o suco de uva, a nível geral, já estão com os preços pela hora da morte tornando o garimpo cada vez mais dificil!

Atitudes protecionistas, como estas, não são boas para ninguém e provocam, tradicionalmente, efeitos colaterais historicamente comprovados como; estagnação técnica, aumento de preços, mediocrização do produto, redução de consumo, etc. num rol de efeitos todos eles muito mais prejudiciais a longo prazo do que qualquer eventual potencial ganho imediato até porque, da mesma forma que existe um efeito no campo, também o há em toda a cadeia comercial que emprega bem mais gente. É a livre competição que faz com que haja evolução e o próprio desenvolvimento qualitativo já encontrado em boa parte dos produtores nacionais ao longo dos últimos 10 anos é prova irrefutável disso. Cana para os contrabandistas e seus canais de venda, mas deixem as importações como estão já que é ela a grande mola propulsora para o crescimento do consumo e melhorias na produção nacional. 

Abaixo, cópia da carta  que copiei do blog do Didu, alertado que fui por post do Luiz Horta, onde li a matéria que me motivou a este desabafo. Parece-me que o José Augusto é um dos sócios da Vitisvinifera, importadora do Rio de Janeiro, e as inclusões em azul são comentários de cunho pessoal meu.

 

Prezados amigos do vinho.

 

Os tambores de guerra soam também por aqui. Em sua recente reunião do dia 12 de dezembro, a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Viticultura, Vinhos e Derivados revelou uma estratégia comum de produtores de vinho e orgãos governamentais que coloca em sério risco a oferta e os preços de vinhos importados no Brasil. Vejam a seguir um resumo das propostas apresentadas:

 

A) Impostos

1. Desejam estabelecer uma taxa de aproximadamente R$ 5,00 por garrafa de vinho importado para substituir a cobrança do Imposto de Importação. Durante a discussão do tema, circulou a informação de que “alguns ministros não gostam ou não aceitam a idéia” e preferem manter a cobrança de um percentual, indicando que o mesmo deveria ser aumentado dos atuais 27% para 55% (isso mesmo, mais de 100% de aumento no Imposto de Importação). (para benefício de quem? Nosso é que não é!)

2.  Que não seja aprovada a proposta do Ministerio da Agricultura de abolir a retirada de garrafas para amostra, de acordo com um novo procedimento que viria a ser implantado visando a simplificação dos procedimentos de análise do vinho. (para quê facilitar se podemos dificultar?)

 

B) Burocracia, além de outras propostas, querem que:

 

1.os rótulos de vinhos importados contenham, em português, a classificação do vinho (por exemplo “vinho tinto seco”). Informação essa que já é obrigatória no contra-rótulo. Isso seria um desastre pois os pequenos produtores de vinhos extraordinários jamais poderiam criar um rótulo diferente para vendas de pequenas quantidades.  (E viva a burocracia. Qual o fundamento para repetir uma informação já existente?!)

2. as garrafas ganhem um selo fiscal. Outra providência exorbitante uma vez que os impostos são cobrados enquanto as mercadorias encontram-se sob a guarda da Receita Federal. Isso obrigaria a que cada caixa fosse aberta no porto e os selos fossem aplicados individualmente. Podem imaginar o custo dessa operação?? Conhecendo a agilidade dos portos brasileiros, imaginam o tempo que isso ia exigir? (sem comentários, pois corro o risco de faltar com respeito a alguém!)

 

            Como podem ver, nenhuma das propostas favorece o consumidor. Todas implicam em aumento de custos, seja por via direta de impostos ou indireta de custos operacionais.

 Creio de devemos levantar a voz contra essas mudanças. Com a palavra, os consumidores.

 Abraços

José Augusto Saraiva

 

Deixo este espaço aberto apara que essa Câmara Setorial nos informe das ações positivas para transformar nossa vitivinícultura numa fonte de renda turistica, na transformação da classificação do vinho como alimento, na redução de impostos tanto nos insumos como nos custos financeiros, nos eventuais projetos de melhorias técnica e de manejo que propiciem maior produtividade, dos controles sobre produção excessiva, etc. que resultem em melhorias efetivas e de longo prazo para o setor, levando em conta os interesses também dos consumidores. Disponibilizem-nos um site em que possamos acompanhar o que efetivamente está sendo tratado nesse estudo e possibilitem nossa interatividade no processo, de forma aberta e democrática. Toda a moeda tem duas faces e toda o dilema tem, pelo menos, duas versões, então somos todos ouvidos!