Pode-se Congelar Vinho?

Eu pensava que não, mas aí começo a ler uma matérias e vejo que, para minha enorme surpresa,  sim essa possibilidade existe e pouco ou nada altera o caldo de baco! Pesquisando na net me deparei com esta matéria (http://gourmetbrasilia.blogspot.com.br/2010/11/voce-ja-congelou-um-vinho.html) de 2010 publicada por Rodrigo Leitão em seu blog Gourmet Brasilia, mostrando que esse tema não é nem assim tão recente. A prova desse método de preservação de vinho, no entanto, foi feita de forma exemplar pelo respeitado jornalista Luiz Horta, um de meus exemplos nesta vinosfera que habito, numa extensa matéria publicada no Caderno Paladar do jornal O Estado de São Paulo mais recentemente, há cerca de uns 60 dias, sob o titulo: “Vinho Amanhecido Não é Vinagre”. Pelo didatismo do tema, tomei a liberdade de o reproduzir parcialmente, aqui. Caso queira ler a matéria por inteiro (deve), sugiro acessar este link.

“Selecionei quatro estilos de vinho – branco, tinto, espumante e doce fortificado –, escolhi um rótulo de cada estilo e comprei três garrafas de cada rótulo. Poderia (e farei depois, pois esse negócio de testar coisas vicia) ter usado um tinto mais jovem, um espumante nacional, ou um porto. Mas elegi vinhos que considerei com capacidade de resistir mais dias, para que a experiência durasse mais. A temperatura na noite da abertura das 12 garrafas, na minha cozinha, era 22°C. Os brancos estavam a 11°, os champanhes a 6°, os tintos a 14° e os jerezes a 16°. Tirei as rolhas, provei cada garrafa e anotei, numa ficha de degustação, para ter um padrão de avaliação para os dias subsequentes.

            De cada um dos tipos retirei uma taça, que congelei em quatro garrafinhas pet de água mineral, deixando um bom espaço para que não explodissem no congelador. Uma garrafa de cada tipo foi fechada com vacuvin e uma de cada tipo com a rolha original; as oito foram para a geladeira, que estava numa temperatura de 4°, na porta. As quatro remanescentes permaneceram abertas sobre a pia.

            Todos os dias que durou o teste retirei cerca de 50 ml de cada garrafa e provei. A cada abertura das garrafas, o volume de líquido diminuía (com a degustação) e o de oxigênio aumentava. No fechamento com vacuvin e rolha, claro, se não houvesse tal exposição diária ao ar, o resultado seria melhor. As garrafas da pia decaíram mais rapidamente.

           Pensava que iria apenas constatar o que já sabia: que o champanhe e o branco morreriam rápido, o tinto duraria bastante e o fortificado seria o campeão de longevidade. Estava certo só em parte. O champanhe (fechado com vacuvin, com rolha ou deixado aberto na pia) surpreendeu duplamente. Durou mais que o esperado e até ganhou sabor e complexidade.

            Mas a parte mais divertida e reveladora foram as garrafinhas pet. Retirei-as do freezer no domingo à tarde. Estavam como pedras. Deixei que descongelassem naturalmente, na mesa da cozinha, a 24°C. Quando estavam líquidas e por volta dos 10°, provei-as. Foi uma epifania. Já tinha congelado tintos antes, e o processo é bem eficaz para salvar esses vinhos, embora haja uma pequena alteração na textura pela formação de cristais de tártaro. O sabor permanece quase inalterado.

            Os demais vinhos, eu estava congelando pela primeira vez. O branco perdeu um pouco da acidez, ficou menos fresco, mas sobreviveu. O jerez ficou idêntico, mesmo vinho, sabor, aroma.

            O inesperado foi o champanhe descongelado. Fez fizz quando abri, manteve a perlagem, continuou fresco e ficou assim a noite inteira, perdendo só um pouco das borbulhas. A conclusão é que vinhos abertos podem ser congelados, com alguma perda na qualidade, mas mínima perto do que seria sem o congelamento.”

Agora resta-me uma duvida, para quê tudo isso? Somente no sentido de conhecimento acadêmico creio eu, porque de prático mesmo não vejo vantagem nenhuma e ainda há o perigo da garrafa estourar! Agora, que serve para animar o bate papo entre enófilos, lá isso serve e certamente será causa de vários elogios a seu vasto conhecimento enófilo, porque vinho bom mesmo é o que acaba rápido sem sobras para guardar! Salute, kanimambo e uma ótima semana para todos.