Encontro Mistral 2010 – Uma Experiência Ímpar

          Dois dias são pouco para tantos néctares num evento que poderia se chamar; Mistral Wine Experience! Há poucos encontros de grandes produtores como este e a equipe toda da Mistral e sua assessoria de imprensa estão de parabéns pela organização, simpatia e eficiência. Uma pena que não pude estar presente na Terça, pois a cobertura do evento estaria mais completa, porém a Fispal me chamou e, mesmo sem o mesmo glamour, tive que comparecer. Tinha uma lista de 19 produtores a visitar o que obviamente se tornou impossível de fazer tendo, a muito custo, encarado nove!

Quinta da Pellada – Já começo por aquele que mais me surpreendeu e encheu olhos, olfato e palato de enorme satisfação fazendo aflorar emoções, muitas emoções! Para quem conhece, os meus amigos portugueses certamente sabem do que estou falando, uma coleção de néctares que deveria ser servida acompanhada de uma almofada para tomar de joelhos!

 

Vinhos espetaculares, um dos grandes produtores que fazem e honram o nome do Dão com galhardia. Entre os mais tradicionais vinhos de gama de entrada, os Quinta de Saes, muito bem feitos e com preço, no nosso triste contexto, bom, e os de topo de gama como Pape, Carrocel e Doda (corte do Dão e Douro), veio uma novidade, um estupendo branco tendo como protagonista a uva encruzado, o Primus 2009. Delicia, comprovando o fato de que esta cepa é origem de alguns dos melhores brancos produzidos em terras lusas. Todos vinhos excepcionais, mas provar vinhos de extrema elegância, riqueza de sabores, harmônicos, equilibrados e frescos mostrando sua aptidão gastronômica como o Carrocel, Doda e Quinta da Pellada Touriga Nacional elaborados com leveduras indígenas, é uma honra que, por si só, já valia a entrada. Tiro meu chapéu para o prorietário e enólogo Álvaro Castro e já coloquei mais alguns rótulos em meu wish list.

Pazo de Senorans, a albariño tratada com maestria e de forma diferenciada. Na Espanha o tradicional da elaboração com vinhos desta cepa, tende a ser feita com um bom estágio em barricas que lhe dá uma característica muito particular, mas não é o caso aqui. Neste caso falamos de uma apologia da fruta com o mais “básico” dos vinhos, Pazo de Señorans 2008, um vinho para ser consumido jovem, preferencialmente entre dois a três anos, passando por 20 dias “sur lie” e o resto o inox faz. Muito vibrante e alegre, cítrico, maçã verde, balanceado, muito bom. Já o Pazo Seleccíon de Anada 2002, é um vinho que tanto pode ser tomado jovem, quando apresentará uma determinada característica de maior frescor, ou em até 10 anos quando seus aromas terciários mostrarão uma outra faceta do vinho. Gente, 38 meses “Sur Lie”, engarrafado com estágio em bodega entre 12 a 18 meses antes de sair ao mercado! É de uma complexidade incrível com um frutado mais maduro (pêssegos, nectarina), guloso, certamente um dos melhores vinhos desta cepa que já tive o prazer de provar. Este 2002 vai para o pódio, um grande vinho branco.

Dr. Burklin-Wolff, um dos mais importantes produtores da região de Pfalz, vinícola familiar que detém algumas das melhores áreas de vinhedos de Riesling. Uma linha extremamente gratificante de se levar á boca e eu me encantei por três rótulos em especial.  O Riesling Qba Trocken 2006 que custa ao redor dos R$75,00 é um belo exemplo do estilo de Riesling que me seduz; boa intensidade aromática, mineral no ponto, sutil e delicado com um final de boca algo especiado e longo. Como gama de entrada, me surpreendeu! O Bohlig Premier Cru Trocken 2007 é muito bom, nariz mais tímido, porém cresce muito na boca mostrando-se muito balanceado. Agora, o Ruppertberger Gaisböhl Auslese 2002 (vinho de sobremesa) é de lamber os beiços e pedir bis em função de seu incrível equilíbrio de doçura e acidez com uma riqueza de sabores que encanta, maravilha!

Quinta do Vale Meão, um dos grandes produtores do Douro, colecionador de prêmios e pontuações altíssimas dadas pelos maiores experts em nossa vinosfera. Vinhos tradicionalmente mais encorpados e densos que precisam de tempo para mostrar todas as suas qualidades. Dizem que o Quinta Vale Meão 2000, seu primeiro vinho, está agora no topo de sua exuberância. Eu não sei, nunca o provei, mas tenho uma garrafa de 2001 que pretendo abrir no ano que vem, agora o 2007 está estupendo mostrando que esta safra no Douro é mesmo excepcional. Como nos Vinhos do Porto, o clima desta safra traz harmonia e elegância aos vinhos tornando-os mais amistosos desde já sem inibir a capacidade de evolução. Grande vinho e seu segundo rótulo, Meandro 2007, mostrou as mesmas características e custa um terço do preço. Podendo, compre e guarde o Quinta Vale Meão por uns quatro a cinco anos, mas aproveite o Meandro desde já!

Bollinger, um produtor de Champagne que dispensa apresentações, mas que minha boca não conhecia, eheh. São champagnes de outra categoria do que estamos habituados a ver por aí na faixa dos R$180 a 200,00. Muito mais complexos e envolventes, bom corpo com um volume de boca pouco comum, são mais caros, mas são especiais e até certo ponto exclusivos já que a produção é pequena para os parâmetros da região. Estupendo o Bollinger Special Cuvée, mas o Bollinger Grande Anné Vintage 1999 mexe com a gente de uma forma difícil de explicar, deixando marcas na memória que demorarão a sumir. Para ocasiões muito especiais e inesquecíveis, como ele!

Cazes, um produtor francês biodinâmico do Languedoc que voltou a casa depois de um breve período perambulando por outros lugares. Sou fã de seu Canon du Marechal , um muito agradável assemblage de syrah com merlot, mas o que me seduziu mesmo nesta prova foi seu Ambré 1996 um vinho doce fortificado com 15% de teor alcoólico que passa 7 anos em tonéis de 10.000 ltrs e parece um Porto Tawny envelhecido, um vinho que arrebata corações e finaliza uma refeição como poucos. Belissímo vinho!

Nativa, estava curioso por conhecer esta novidade da Mistral. Pertence ao grupo Santa Rita (Sta. Rita / Dona Paula e Carmen entre outros) e é um projeto totalmente orgânico com produção nas diversas regiões produtoras no Chile. O projeto é tocado pelo enólogo chefe Felipe Ramirez que aportou toda a sua experiência obtida na França trabalhando com um dos papas da Biodinâmica, Marcel Deiss. Gostei bastante do que vi e provei, os preços poderiam ser um pouco melhores até para poder divulgar mais este estilo de produção, em especial do Gewurztraminer 2008 que possui uma personalidade diferenciada, menos floral,nariz mais sutil, boca seca , mais voltado para comida do que para aperitivo. Um outro branco muito bom é o Chardonnay Gran Reserva 2006, surpreendentemente fresco para a idade. Passa 12 meses em barrica francesa, 20% novas, mas o vinho se mostra leve, sutil, bem frutado mostrando que madeira bem usada pode sim exaltar em vez de encobrir as qualidades de um vinho. O Cabernet Reserva é bastante interessante, mas seu grande vinho é o Nativa Gran Reserva Cabernet Sauvignon 2006 muito equilibrado, macio, boa textura, um vinho que agrada sobremaneira.

Isole e Olena, uma vinícola italiana de fina estirpe, um dos mais importantes nomes da Toscana e um verdadeiro terremoto de sensações. Não sobra pedra sobre pedra, após provar seus seis vinhos, todos de grande qualidade.  Só o Chardonnay não me encantou, no resto, todos teriam amplo espaço em minha adega! A safra de 2006 na Toscana, tem muitas das características da de 2007 no Douro ou seja, vinhos muito elegantes fruto de um clima muito propicio para a produção nos vinhedos. O Chianti Classico com 12 meses em barricas de 4º e 5º uso tendo como protagonista a Sangiovese devidamente coadjuvada por 15% de canaiollo e o restante com diversas outras cepas autorizadas, é sofisticado, fino, rico e macio na boca, porém o Ceparello com 100% de Sangiovese e 18 meses de barrica é de cair o queixo, um lorde de fraque e cartola, boa estrutura, rico, complexo e imensamente longo. Espetáculo, escrevo e babo! rsrs. Na linha Colezione de Marchi, nome da família, um bom e agradável Syrah, mas o Cabernet Sauvignon rouba a cena com seu ótimo corpo, muito expressivo de seu terroir tanto que essa personalidade muito própria corria solta na boca dos convidas presentes que o haviam provado. Um grande vinho. De babar mesmo, o Vin Santo 2000 elaborado com trebbiano e Malvasia passando 7 anos em barrica. Para completar minha alegria e entrar em êxtase, só faltou um queijo Bleu de Bresse!

 

Livio Felluga, o Friulli em sua quinta essência! Magnificos vinhos brancos, um deleite para quem, como eu, é apaixonado por este estilo de vinhos. Todos muito frescos, equilibrados e ricos, tendo adorado o Friullano 2008 que possui uma paleta olfativa cativante e é vibrante na boca, seduzindo ao primeiro gole. Estupendo o Illivio Pinot Bianco 2007, 10 meses de barrica imperceptíveis, untuoso, equilibrado, fino e o maravilhoso Terre Alte 2007, blend de Sauvignon Blanc, Friulano e Pinot Bianco, complexo, grande finesse, balanceado, longo, inesquecível. Pena que não tenho bolso para estes vinhos, adoraria tê-los na adega e poder me deliciar com esses verdadeiros néctares de vez em quando. Baita experiência, somente viável num encontro destes!

           Magníficos, saborosos e marcantes momentos passados nestes dois dias em que pude comparecer. Vão aqui duas dicas; enviem o programa com guia de produtores antes pois isso ajuda na organização da visita e comecem umas duas hora antes. É muita coisa para pouco tempo, mesmo que se possa comparecer os três dias! Meus agradecimentos e parabéns à Mistral, Ciro e equipe, Sofia Carvalhosa  e Hyatt que se supera a cada evento desses.

Salute e kanimambo, agora é esperar 2012!