Noticias do Front – Direto da Vinci
Desta vez direto das trincheiras armadas pela Vini Vinci no Hyatt em São Paulo. Uma coletânea de grandes nomes do vinho e seus grandes produtos. Trabalho duro definir o que conhecer nesse emaranhado de tentações. Na maior parte das vezes, tomo a decisão da rota a traçar em função dos objetivos deste blog, ou seja; garimpo por coisas novas, garimpo por boas relações custo x beneficio, prova de vinhos que venham completar meus estudos sobre determinadas regiões e somente por último provar aqueles que estão na minha “wish list”. Pois bem, desta vez decidi inverter o processo já que, invariavelmente, não chego nunca ao final e minha “wish list” segue aumentando. Desta forma, meti as caras logo à entrada, nos vinhos espanhóis da Viña Tondonia e da CVNE, sem deixar de antes dar uma passada pelo Champagne Henriot para preparar o palato para os saborosos vinhos que estavam por vir e apreciar esse doce néctar. Vamos lá, falemos desta experiência:
Tondonia – meu batismo nos tradicionais e clássicos vinhos de Lopes de Heredia e um enorme privilégio já que são vinhos de alto valor, o mais barato está acima de R$120,00 (pelo cambio de hoje), mas imperdíveis para o enófilo que se preze e algo que faltava em minha formação. Brancos incrivelmente longevos elaborados com a cepa viura que tem como característica a lenta evolução e capacidade de oxidação. Provei os brancos; Gravonia Crianza 96, amarelo ouro aroma complexo de jerez, casca de laranja algo resinoso que encanta na boca com notas especiadas e algo mineral e um Vina Tondonia Reserva 89 (20 aninhos!) de cor dourada mais clara como espigas de milho ao sol, nariz de menor intensidade apresentando aromas complexos algo terroso e floral. Na boca é de uma sutileza, complexidade e delicadeza ímpares mostrando uma acidez ainda presente e bem balanceada, mineral, final longo e saboroso, um baita vinho e um estilo de vinhos que requer um apreciador mais experiente para entender e digerir esse …….de sabores e aromas não usuais aos vinhos brancos com que estamos habituados.
Já nos tintos, a longevidade segue sendo uma marca da casa que começa desde o Viña Cubilo Crianza 2001, ótima opção para quem queira ter um gostinho destes tradicionais vinhos cheios de classe e história. Como nos brancos, difícil falar dessas verdadeiras obras de arte! Subindo a escada de complexidade o Viña Bosconia Reserva 99 e o Vina Tondonia Grande Reserva 87 que deveria ser servido com uma almofadinha para agradecermos de joelhos por tamanha dádiva que nos é oferecida por Julio César Lopez de Heredia. Vinhos de alto valor, mas nada caros se comparado ao que existe no mercado. Kanimambo.
Champagne Henriot – perlage prejudicada pela falta de taças adequadas e um estilo mais sério e austero, secos com forte presença de leveduras, brioche, bem clássico fugindo um pouco dos vinhos mais frescos de forte acidez. Os puristas que me perdoem, mas não me encantaram a não ser pelo Brut Millesimé 98 mostrou ser o grande destaque com bom corpo, nariz evoluído, grande equilíbrio, complexo e com uma acidez mais presente, um grande Champagne.
Domaine Pallus – diferente da maioria das sub-regiões do Loire que primam pelos brancos elaborados com Sauvignon Blanc e Chenin Blanc, Chinon é berço de tintos e da Cabernet Franc vinificada como varietal. Chinon Pensées de Pallus 06 um corte de cepas de 17 parcelas diferentes e o estupendo e impressionante Chinon le Pallus 05, fruto de corte de cepas de 4 parcelas, um vinho clássico de grande personalidade, finesse, taninos sedosos, boa acidez, certa mineralidade, longo com uma certa salinidade presente no final de boca. Uma verdadeira obra de arte que sai das mãos de Bertrand Sourdais. Talvez o vinho que mais me tenha surpreendido nessa mostra da Vini Vinci. Junto com os Tondonia, vinhos de grande classe e elegância que despertam nossos sentidos e deixam marcas.
Palácios Remondo, um a bodega que pertence ao famoso e talentoso Álvaro Palácios, esta é da Rioja e faz vinhos mais modernos e de maior concentração como o La Vendimia 06, saboroso, bom preço e fácil de gostar, Herencia Remondo Crianza 04, Propriedad H. Remondo 05 de grande potência e concentração e o que mais me encantou, o Herencia Remondo la Montesa Reserva 2000 um vinho que passa 24 meses em carvalho e já no nariz mostra a tipicidade dos vinhos clássicos da Rioja. Muita sutileza, finesse, um grande vinho de preço módico para o que entrega de sabor e sensações.
CVNE (Cia. Vinícola Del Norte de España), mais um dos grandes produtores da Rioja com história para contar. Sempre fui um fã de seu Viña Real Crianza, tempranillo com um pequeno corte de Grenacha, um vinho que mostra bem as características de Rioja por um preço bem camarada. Depois de provar, recomendo também o Cune Crianza 2005, Cune Reserva 2000, o Imperial Reserva 2001 é Rioja na veia, um grande vinho só superado na casa pelo estupendo Viña Real Gran Reserva 1998 uma dádiva dos Deuses que mostra que ano de safra fraca não é empecilho para quem sabe fazer vinho tirando o que de melhor a vinha produz e agregando conhecimento na correção das dificuldades recebidas.
Alemanha – dois produtores que visitei muito rapidamente. Da região de Rheingau a vinícola Hans Lang me encantei pelo vinho de sobremesa Hattenheimer Hassel Auslese 2003 muito equilibrado, delicado e sensual. Da região do Mosel a Selbach-Oster renomado produtor dos quais destaco o saboroso, suave e levemente doce Bereich Bernkastel Selbach Riesling Qba 06 para substituir o chá da tarde (rsrs) e no mesmo estilo porém com mais corpo e maior intensidade de aromas e sabores o Wehlener Sonnenhur Selbach Riesling Kabinett 04 e ainda o vinho doce de sobremesa o Wehlener Sonnemburg Selbach Riesling Spatlese (late harvest) 2004 muito bom, mineral e referescante todos com preços bem convidativos. Estrela da casa, um degrau acima em complexidade, harmonia, persistência e de grande expressão aromática é encantador na boca, Wehlener Sonnenuhr Selbach Oster Riesling Auslese 2003.
Quinta da Chocapalha , há tempos que queria provar o Quinta da Chocapalha tinto e o Chocapalha Reserva. O Reserva não estava mas pude confirmar a qualidade do Quinta “básico”. Realmente um bom vinho que me agradou bastante e que de básico não tem é nada. Corte de Tinta Roriz, Touriga Nacional e um leve têmpero de Alicante Boushet, é um vinho rico, concentrado, denso, carnudo, de bom equilibrio, taninos aveludados e um final longo e saboroso. Certamente uma garrafa a comprar num futuro muito próximo para poder aproveitar melhor todo o seu potencial.
Errazuriz, mais uma empresa do grupo Chadwick produtor de primeiro nível com vinícolas como Caliterra, Arboleda, Seña e Viñedo Chadwick. Max Reserva Cabernet Sauvignon 06 vinho potente, encorpado e denso, digno representante dos bons cabernets da região; The Blend 06, um vinho que me agradou mais, muito bom no nariz e equilibrado na boca com boa persistência e mostra que tem ainda alguns anos de evolução pela frente, mas é o Dom Maximiano Founder´s Reserva 06 o grande vinho da casa e o preço acompanha. Complexidade na paleta aromática que se repete na boca com um perfeito equilíbrio entre potência e elegância, taninos aveludados e um saborosissímo final de boca de grande persistência. Definitivamente um dos melhores vinhos chilenos e um dos grandes de nossa vinosfera. Bom também, o Late Harvest de Sauvignon Blanc, bastante refrescante e bom equilíbrio entre acidez e doçura.
Angheben – realmente o Barbera 2007 é um dos vinhos nacionais que mais me atraem, tanto pelo preço, apesar de já ter estado bem mais barato, como por, especialmente, a qualidade e grande harmonia conseguida num vinho leve, mas rico e muito agradável de tomar. Vinho que é uma constante em minha adega. Provei seu espumante Angheben Brut, bom dentro de um estilo mais clássico, sério e austero com aromas claros de brioche e leveduras bem presentes tanto na nariz como na boca, elaborado em partes iguais com Chardonnay e Pinot Noir de seus vinhedos de Encruzilhada do Sul. Provei e gostei do Teroldego 2005, um vinho de maior complexidade e estrutura que está em sua segunda safra, mostra taninos aveludados, equacionados, redondo e macio com bom volume de boca e final especiado de boa persistência. Gostei, mas achei o preço um pouco salgado.
Low Budget – do pouco que consegui garimpar, alguns poucos vinhos me chamaram a atenção. Entre eles os vinhos da: La Posta (Argentina), especialmente o Bonarda e o Cocina Blend (malbec/bonarda/syrah); Tília (Argentina) especialmente o Chardonnay e o corte de Malbec/Syrah; Piccini (Itália) Chianti DOCG 2006 e o Chianti Riserva DOCG 2004.
Best Buys – Tondonia Viña Cubilo Crianza 2001 e Viña Bosconia reserva 99 / Palacios Remondo Herencia Remondo La Montesa Reserva 2000 / CVNE Viña Real Crianza 2005 / Errazuriz The Blend 2006 / Selbach Ester Bereich Bernkastel QbA 2006 e Wehlener Sonnenuhr Spatlese 2004 / Domaine Pallus Pensées de Pallus 05 e Angheben Barbera 2007.
Tristezas – de não ter conseguido visitar ou provar mais a fundo : Masseria Li Veli e Argiano (Itália), Maison Champy e Chateau Saint Marie (França), Niña Nora e Bodegas Naia (Espanha), Monte da Ravasqueira (Portugal) e Hang Lang (Alemanha)
Era para ter ido na Terça-feira e não deu. Era para chegar nesta Quarta às 16 horas, abertura, e cheguei às 18. Era para sair às 22 horas, final, mas minha carona chegou às 21 porque não poderia perder o jogo do Corinthians! Já sei, não trabalhei direito, mas cada um tem o castigo que merece, no meu caso um filho mano!! rsrsrs Resultado final; de pelo menos 10 horas que previa ter para conhecer 40 produtores e mais de 180 rótulos, fiquei com cerca de 3, ou seja pouco pude ver e provar. O que mais me atraiu está listado aí acima e espero que lhes possa ser útil. O catálogo da Vinci é enorme e repleto de vinhos muito interessantes, dos produtores presentes poucos pude ver (passei por 20, mas realmente conheci uns 14 ou 15), então aventure-se você no garimpo de bons rótulos de mais esta bem sucedida empreitada de Ciro Lilla.
Salute e kanimambo.
Olá, João!
Tenho acompanhado o seu blog já há algum meses, e aproveitando que você citou o Viña Real, gostaria de pedir a sua opinião:
Entre o Viña Real Gran Reserva 2001 (CVNE) e o Viña Ardanza Reserva Especial 2001 (La Rioja Alta) – ambos vinhos da mesma safra – há algum que você considere melhor que o outro? De acordo com tudo o que eu li até agora, os dois são vinhos muito bons; a Wine Advocate (especificamente o Jay Miller) concedeu 94+ para o primeiro e 94 para o segundo. Mas não sei até que ponto é possível confiar nos críticos americanos…Sei também que houve um marketing pesado e uma grande badalação em torno do Ardanza 2001; de acordo com o site da vinícola, desde 1973 a bodega não lançava um Ardanza com a denominção “Especial”. Já o Gran Reserva da Viña Real teve um lançamento bem mais discreto.
Então eu gostaria saber: Você já chegou a experimentar algum desses vinhos? Sabe se há uma grande diferença de qualidade ou estilo entre os dois? Outra dúvida: O Ardanza estagia por 3 anos em barrica, e é classificado como Reserva. O Viña Real, ao que tudo indica, estagia por menos tempo que o Ardanza (o contra-rótulo da garrafa que eu tenho diz “um mínimo de 24 meses”), ou no máximo pelo mesmo tempo (a avaliação do Jay Miller diz que o vinho estagia por 3 anos); de todo jeito, não dá informações exatas, nem mesmo o site da CVNE especifica o tempo de barrica de cada vinho, o que eu achei bem estranho…Enfim, não sei muito bem em que fonte confiar mais…
Eu tenho duas garrafas deste Viña Real 2001 (foram trazidas de fora do país), mas ainda não tomei nenhum. E ainda gostaria de comprar o Ardanza, mas esta safra de 2001 não está disponível no Brasil. E as que estão (mesmo as recentes, como 99 ou 2000) são vendidas por preços meio exorbitantes aqui. enfim, gostaria de saber o que acha. Você considera o Ardanza 2001 um bom investimento? Será que é um vinho assim tão espetacular como se têm dito por aí?
E sobre o Viña Real, acha que vale a pena esperar mais alguns anos?
Abraço,
Rubão
Ah sim, esqueci de completar a pergunta:
Se o Viña Real estagia em barrica por no máximo o mesmo tempo que o Ardanza (talvez menos), então porquê ele chamado de “Gran Reserva” e o Ardanza apenas de “Reserva”?
Pelo que eu sei, na região da Rioja, o tempo mínimo em barrica para o vinho ser considerado Gran Reserva é de 2 anos (mais alguns em garrafa), correto? Então por esse critério, não seriam ambos Gran Reservas?
Caro Rubão, os estilos de ambos os vinhos são semelhantes, mas obviamente que cada um dos produtores tem lá seu toque particular. Eu tenho tomado o CVNE Imperial Gran Reserva 99 e está absolutamente delicioso, então, por tabela, acho que o Vina Real Gran Reserva ainda tem vida pela frente como o Imperial 99. Já essa coisa de reserva e grande reserva, guardadas as condições minimas de barrica e afinamento em cave exigidas pelas normas da DOC, pode ficar por mais tempo sem que haja a necessidade, discrição do produtor, de elevá-lo a um patamar mais alto, ainda por cima caso o produtor já tenha um Gran Reserva. O Vinha Ardanza é um outro grande vinho, porém do mesmo produtor, eu prefiro o Viña Arana que se me apresentou mais elegante e fino, mas isso é uma questão de opinião. Aqui no Brasil nenhum vinho vale ser comprado como investimento, pelo menos é o que eu acho, o que já não é verdade se comprado lá fora, especialmente na origem e também nos Estados Unidos que possui dos preços mais baixos no mundo. Os vinhos de 2001 são vinhos oriundos de uma safra excelente na Espanha então aproveite e curta uma garrafa agora e à outra dê-lhe mais dois ou três anos, paciência tem que ser inerente ao bom enófilo, e compare! Acho que vai ser um belo exercicio.
Obrigado pela dica, João! Vou fazer isso, sim.
Eu também já li em algumas matérias que a idéia da CVNE seria fazer do Imperial um vinho de estilo mais próximo aos Bordeaux, e do Viña Real um vinho mais próximo aos Borgonha; e que esta idéia estaria refletida no próprio formato da garrafa de cada vinho (bordalesa para o Imperial e do tipo borgonha para o Viña Real). Você acha que existe mesmo essa correspondência de estilos em cada um dos vinhos?
Oi Rubão, não sei dizer e não vejo nenhuma semelhança entre o Imperial Gran Reserva e os vinhos de Bordeaux. Aliás, o Imperial exala tipicidade e tradição riojana, mas …..esse é o barato do vinho do mundo, cada palato é diferente do outro então nada como provar vc mesmo para poder tirar suas conclusões. Pessoalmente acho que quem emitiu essas conclusões deve ter feito o caminho inverso, olhado a garrafa e interpretado essa versão, mas respeitemos as opiniões adversas, mesmo que não concordemos com elas! rs