Brasil, Regiões Produtoras – I

Bem, cá vamos nós para mais uma volta por nossa vinosfera nacional. Antes de iniciar falando sobre as regiões, vejam alguns números adicionais que consegui obter. Estamos hoje com cerca de 90 mil hectares de vinhas plantadas para elaboração de vinhos e derivados, gerando cerca de 570 milhões de quilos de uvas diversas. Deste volume, a Wines from Brazil estima que cerca de 10.000 hectares se destinam ao cultivo de Vitis Vinifera para produção de vinhos finos. Nestas vinhas, algumas cepas aparecem com destaque especialmente a Cabernet Sauvignon e Merlot. De qualquer forma, me absterei de falar muito mais de números porque as fontes são poucas e as informações muito pouco claras quando não incongruentes. Assim que der tentarei me aprofundar mais nessa pesquisa.

 

Rio Grande do Sul é a mais importante região produtora de vinhos no Brasil e a mais organizada do ponto de vista de daos e informações. O embrião de tudo e a mais antiga, sendo responsável por cerca de 90% do total de vinhos produzidos no país, apesar de que acho que este número deva estar defasado. São três sub-regiões; A Serra Gaúcha que inclui entre outras sub-regiões e mais conhecida, única com Indicação de Procedência, o Vale dos Vinhedos em Bento Gonçalves (Bento Gonçalves, Garibaldi, Monte Belo), a Campanha Gaúcha (Santana do Livramento, Lavras, Alegrete, São Miguel e Candiota) na fronteira com o Uruguai e Serras do Sudeste (Pinheiro Machado e Encruzilhada do Sul). Na Serra Gaúcha, afora o Vale dos Vinhedos, outras áreas estão em processo de avaliação para instituir a denominação de Indicação de Procedência. São elas, de acordo com o site do vinho brasileiro (link aqui do lado), Vinhos de Montanha (Pinto Bandeira), Altos Montes (Flores da Cunha e Nova Pádua) e Monte Belo do Sul.

A Serra Gaúcha detém algo ao redor de 310 produtores dos quais os mais importantes são a Miolo, Casa Valduga, Lídio Carraro, Marco Luigi, Pizzato, Dal Pizzol, Cordelier, Boscato, Don Laurindo, Salton, Marson e Don Candido entre outras. Na verdade, existem mesmo cerca de umas 40 a 50 que realmente possuem alguma presença significativa no mercado. Solo ácido e arenoso, alto índice pluviométrico que, ainda por cima, atinge as vinhas no período de amadurecimento e na época da colheita forçando o produtor, muitas vezes, a colher a uva antes do tempo, não são as melhores condições climáticas para produção de vinhos de qualidade. Por outro lado, esta alta acidez e baixo teor de álcool decorrentes da colheita antecipada, são ótimas para a produção de bons espumantes que requerem grande frescor. Saul Galvão destaca que essas são condições similares às encontradas em Champagne onde os vinhos tranqüilos não são grande coisa, mas geram maravilhosos espumantes.

As principais uvas são Merlot e Cabernet Sauvignon. Como coadjuvantes vemos Cabernet Franc (em declínio) sendo seguida por cepas que vêm ganhando bastante espaço como a Tannat, Egiodola, Ancelota, Marselan, Tempranillo e Malbec entre as tintas. Nas brancas, a Moscato é a principal e usada na elaboração de delicioso vinhos espumantes, a Chardonnay, Sauvignon Blanc, Riesling Itálico e Gewurtzraminer  com alguns pequenos lotes de diversas outras cepas. Apesar das dificuldades climáticas e de solo, os produtores vêm investindo forte nos vinhedos, em tecnologia, em conhecimento e desenvolvimento de novos produtos buscando seu lugar ao sol num mercado cada vez mais competitivo. Como poderemos ver mais á frente nos posts que virão com vinhos que Tomei e Recomendo, tanto em varietais como em cortes, a região tem produzido vinhos de muito boa qualidade com preços bastante competitivos exceção feita a alguns rótulos bastante caros. De qualquer forma, são ótimas opções a uma série de vinhos estrangeiros de origem afamada, porém de qualidade duvidosa.

É desta região também, que saem os melhores espumantes nacionais entre eles o Excelence de Chandon, Salton Evidence e Salton Ouro Brut, Miolo Millesime, Valduga 130, Valduga Premium Prosecco, Dal Pizzol Brut Champenoise e o Dal Pizzol Rosé, Pizzato Brut, Marco Luigi Reserva da Família Brut 06 e o excelente Moscatel, Marson Brut e outros muito conceituados, mas não provados, como os da Cave Geisse, Peterlongo, Don Candido, Aurora, etc. O que não faltam são rótulos de qualidade e adequados a cada momento e cada bolso, com mais ou menos complexidade. Pelo que tenho provado, lido e escutado, creio que posso afirmar que somos hoje a quarta maior força mundial na produção de espumantes de qualidade ficando atrás somente da França, Itália e Espanha.

A Campanha Gaúcha acompanha quase que toda a fronteira com o Uruguai e teve como pioneira a Vinícola Almadén em Santana de Livramento. Os investimentos que chegam para esta região são em grandes propriedades diferentemente da Serra Gaúcha que tem como peculiaridade as pequenas propriedades. É uma região mais fria com menor índice pluviométrico, apesar de ainda bem considerável para o cultivo de Vitis Vinífera. A topografia também ajuda na produtividade em função de ser plana, possibilitando a mecanização das lavouras. As uvas são todas nobres entre elas as principais são a Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat, Tempranillo e Touriga Nacional nas tintas e nas brancas a Chardonnay, Riesling, Sauvignon Blanc, Trebbiano, Semillon e Chenin Blanc. A Miolo com o projeto de Quintas do Seival e Fortaleza do Seival, é uma das principais vinícolas ativas na região. Eu gosto muito dos produtos da Cordilheira de Santa’Ana produzidos em Paloma na região de Santana do Livramento. Têm uma personalidade muito própria, creio que muito a ver com o terroir, produzindo dois brancos muito bons; o Gewurtzraminer e o Chardonnay assim como um bom Tannat que leva um corte de 15% de Merlot para amaciá-lo. O Cabernet Sauvignon também agrada bastante.

A Salton parece que também esta investindo na região que demonstra grande potencial de desenvolvimento. De acordo com Rosana Wagner, da Cordilheira, não existem números oficiais, porém aparentemente já são cerca de 1125 hectares de novos vinhedos. Uma região a ser acompanhada e provada de perto apesar do número de vinícolas ainda ser pequeno, algo ao redor de uma meia dúzia.

Serra do Sudeste, mais uma região nova de poucos players, ainda. Com condições climáticas similares ás de Campanha, mas mais ondulada e solo granítico. Lídio Carraro é um dos pioneiros da região, assim como o inventivo Tormentas. Angheben, Casa Valduga, Chandon, De Lantier e Aliança são outras vinícolas investindo nesta nova  e promissora região. Parece ser uma região aberta à experimentação com o plantio de cepas menos tradicionais como Teroldego, Castelão (piriquita), Barbera e Alicante Bouschet entre as já tradicionais castas tintas.  De acordo com o Saul Galvão, um dos melhores brancos nacionais que ele já tomou veio daqui e era um Gewurtzraminer, conseqüentemente vamos ficar de olho. Tenho ouvido falar muito do Barbera da Angheben, por exemplo, então há que provar os vinhos vindo destas novas fronteiras vinícolas.

Campos de Cima. Fiquei na duvida se mencionava esta sub-região já que a produção é pequena e praticamente se restringe a um projeto do empresário Raul Randon com a Miolo que gera o vinho RAR e algo de Marco Danielle, o mesmo do Tormentas, com a Vinha Solo. Pouco mais consegui encontrar sobre esta parte mais alta da Serra Gaúcha que inclui cidades como Muitos Capões, Vacaria, Cambará do Sul e Jaquirama a cerca de 1000 metros de altitude. Para efeito de localização, ali perto de Canela e Gramado. Bem como estava no mapa do Site do Vinho Brasileiro, agora está aqui o que consegui descobrir sobre este pedaço da Serra Gaúcha.

  Por enquanto é só meus amigos, na próximo post sobre as regiões produtoras, falarei sobre Santa Catarina e os vinhos de altitude originários de vinhedos plantados entre 900 a 1400 metros.

Salute e kanimambo.