Filoxera – o que é isto?

             O Antonio Santos, amigo leitor, me perguntou o que era filoxera. Como já tinha recebido a mesma indagação por parte de um amigo que me ligou, achei que seria melhor fazer um post sobre o assunto. Este bichinho, devastador e temido pelos vinicultores, é um inseto hemíptero que responde pelo nome de Phylloxera Daktulosphaira Vitifoliae. Sacanagem né? Vamos no popular; este é um inseto pequeno com cerca de 3 milímetros, do tipo que pica e suga (hemíptero) com apetite as vitis viníferas ou seja, as videiras que produzem uvas usadas na produção de vinho fino. Filoxera é o nome, em Português, usado para designar tanto o inseto quanto a doença em si.

           De origem Norte-americana, a filoxera está hoje presente em todos os continentes, sendo um dos exemplos mais marcantes do efeito humano sobre a dispersão das espécies, já que, em poucas décadas, esta espécie evoluiu de um habitat localizado para uma distribuição global, com uma rapidez que, ainda hoje, não deixa de surpreender. Este tipo de pulgão é totalmente dependente da vinha, única planta em que pode desenvolver-se, e ataca, essencialmente, as raízes da planta. A distribuição geográfica desta espécie está hoje expandida a quase todas as zonas produtoras de vinho. A exceção mais significativa é o Chile onde a praga ainda não se instalou em função de suas características geográficas e barreiras naturais.

         As vinhas infestadas perdem rapidamente capacidade produtiva, com a morte de muitas videiras, e em geral não podem ser recuperadas sem o arranque e replantio com plantas resistentes, operação dispendiosa e que implica perda de rendimento durante vários anos. Na França, em 1863, a filoxera destruiu grande parte dos vinhedos, tendo dizimado cerca de 40% deles, ao longo de 15 anos, e se espalhado rapidamente pelo restante da Europa. Foram mais de 40 anos de trabalho árduo, para recuperar a produção e os vinhedos em toda a Europa.

            A origem desta praga se deu com a importação Francesa de videiras Americanas (Vitis Labrusca) que eram portadoras da doença. Uma característica da variedade de vinhas Americanas, não Vinis Viníferas, é que elas são portadoras, mas menos susceptíveis a desenvolver a doença. A solução do problema, desta forma, encontrava-se em sua própria origem. Para evitar o surgimento da filoxera, se usa a raiz e caule da videira Americana e se enxerta a Vitis Vinífera. O que surgirá é uma videira resistente à filoxera produzindo uvas saudáveis. Isto em nada altera a qualidade da uva, ou do vinho, já que as características do vinho são geradas pela uva, o fruto, servindo as raízes de mero canal alimentador e de sustentação da planta nova. Existem ainda alguns pequenos lotes de produção com uvas não enxertadas na Europa, mas o volume é cada vez menor devido aos altos riscos envolvidos. Nestes casos, as videiras são produzidas em “pé franco” que é a designação da Vitis Vinífera sendo produzida sem enxerto. Um dos mais famosos vinhos produzidos desta forma é o Quinta do Ribeirinho Pé Franco, um vinho meio cult e caro, produzido na região das Beiras, em Portugal, pelo excelente produtor e mago da Bairrada, Luis Pato.

            O interessante deste assunto, nos trazendo de volta ao Chile, é que os Chilenos importaram suas mudas da Europa antes do ataque da filoxera, lá pelos idos de 1850. Quando os vinhedos Europeus iniciaram seu processo de recuperação, foi no Chile aonde boa parte dos produtores vieram buscar suas mudas. Com isto, o Chile iniciou suas atividades exportadoras tanto de mudas como de vinhos, já em 1877!