Preconceito no Vinho

               È muito comum ouvir alguém falando que não gosta de vinhos Merlot, Cabernet Sauvignon, de vinho branco, de vinho Italiano e por aí vai. Esta talvez seja a maior gafe que um iniciante no mundo vinhos pode cometer já que, nada pode ser generalizado. Como diz Raul Fagundes, não existem verdades absolutas no mundo dos vinhos! Um Cabernet Sauvignon da África do Sul apresenta características diferentes do Chileno, que por sua vez, é diferente do Francês. Um grande Cabernet Sauvignon de guarda é diferente daquele produzido para ser tomado jovem e assim por diante. Do mesmo país, o vinho de uma mesma cepa, produzido por diferentes vinícolas e de diferentes regiões, produz vinhos totalmente diferentes. Ou mesmo, dizer que não gosta de vinhos de corte, sejam eles bi-varietais (somente duas uvas) ou de três cepas, como a grande maioria dos vinhos de Bordeaux ou, como em vinhos Portugueses, com até 12 cepas diferentes, preferindo os varietais, vinhos elaborados com uma só uva. Teve um tempo em que eu dizia que não gostava de vinhos brancos de sobremesa, só que, um dia, provei um vinho de qualidade e minha cabeça virou. Hoje, quando me perguntam de que tipo de vinhos mais gosto, minha resposta é categórica, dos bons!         

             Aprendi que um apreciador de vinhos que queira curtir o mundo de vinhos de forma mais intensa tem que ter mente aberta e provar de tudo, fazer cursos, ler e se manter atualizado com a dinâmica existente neste mundo. Participar de degustações enfim, se deixar envolver pela mística e cultura do vinho. Muitas vezes acabamos comprando um vinho caro sem a devida pesquisa, ou, por limitações financeiras, optamos pelo mais barato. Da mesma forma que não devemos mergulhar de cabeça num vinho somente porque é caro, deduzindo que conseqüentemente ele seja bom e nos agrade, devemos tomar o mesmo cuidado com os vinhos baratos, pois existe muita coisa ruim por aí, tanto numa ponta como na outra. Lembrem-se, nem tudo o que brilha é ouro!

                 Temos que quebrar paradigmas, como tão na moda no mundo empresarial. Na verdade, as chances de você acertar na faixa mais alta de preços, pelo menos do ponto de vista técnico, é sempre maior, assim como a de você errar nos vinhos mais baratos, em função do pouco que se comenta deles. O que não podemos é nos deixar levar por estes erros, gerando rótulos de opinião sobre determinados tipos de vinho, seja por faixa de preço ou por cepa ou por corte. Existe um bom número de rótulos de qualidade, em qualquer faixa de preços, elaborados com diversas variedades de uvas e, é este conceito de diversidade, que quero convidá-los a explorar junto comigo. Importante ter em conta que nem todos os vinhos baratos são ruins e nem todos os caros são bons, apesar destes últimos terem obrigação de o ser, ou lhe agradam. O fato de você, eventualmente, ter a impressão de que não gosta de determinado tipo de vinho pode muito bem ter sido gerado, simplesmente, por ainda não ter provado um bom vinho de determinada região ou cepa.

               Obvio que cada um tem suas preferências, cada um pode achar um vinho melhor que outro, lhe agradar mais algumas características básicas de uma cepa especifica, gostar mais de vinhos maduros do que vinhos jovens e por ai vai, até porque a definição do que é melhor é uma questão de gosto, mas dê-se uma chance, aventure-se e ouse, prove mais. Descobrir novos produtos, novos sabores, novas experiências e registrá-las em anotações para consulta futura, este é o grande barato do mundo de vinhos. O mesmo vinho, de safras distintas pode ser totalmente diferente, nada é estático, tudo se renova!

                Por outro lado, há que se desafiar conceitos enraizados, de forma equivocada em minha opinião, de que vinho barato é ruim e vinho caro é bom. As probabilidades são de que esta “verdade” seja real, mas, é incrível como a prática insiste em mostrar que existem, sim, exceções como em todas as regras. Este deve ser um mundo sem preconceitos, então, mantenha sua mente aberta, explore novos horizontes e deixe-se surpreender, pois nada se compara ao prazer da descoberta. Saúde!

O Enólogo é aquele que, diante do vinho, toma decisões já o Enófilo é aquele que, diante das decisões, toma o vinho!

         Adolfo Lona, enólogo e produtor de vinhos.