Região Vinícola de Bordeaux – II

               Como prometido, eis a segunda parte da matéria sobre a região de Bordeaux. Aqui, damos uma passada pelas principais classificações aplicadas à vinicultura da região.

AOC Bordeaux, é o Bordeaux básico elaborado com uvas de qualquer parte da região de Bordeaux, seguindo as normas da AOC, e que não tenha sido agraciado com alguma outra classificação especifica. Devem ter um rendimento máximo de 55 hectolitros por hectare e entre 10 e 13º de teor alcoólico. Alguns vinhos de boa qualidade com preços relativamente acessíveis que devem ser tomados relativamente jovens, entre três a quatro anos.

AOC Bordeaux Superieur, é a classificação um degrau acima, que cobre vinhos da mesma região, mas com maior exigência de qualidade, com redução no rendimento máximo para 50 hectolitros por hectare, mesma norma de teor de álcool e exigência de envelhecer por pelo menos 9 meses antes de ser colocado no mercado. Vinhos, normalmente, de maior qualidade, mais estruturados e concentrados, fechados quando jovens podendo ser guardados por cerca de 6 a 7 anos. Vinhos de bons a ótimos com uma enorme variação de preços, mas que ainda dá para bancar.

AOC Regional, gera vinhos normalmente melhores que o Bordeaux Superieur. Por exemplo, um vinho que contenha no rótulo a indicação de Appellation MEDOC Controllée, ou simplesmente Medoc e a denominação Appellation d’Origen Controllée  abaixo, será como um Bordeaux básico, porém produzido dentro das normas do Medoc com uvas de qualquer parte daquela região especifica que, tradicionalmente são bem mais rigidas que a genérica. Estes são os principais sistemas de classificação de AOC’s Regionais com sua escala de qualidade:

        No Medoc, sistema Cru Bourgeois de 2003 em que foram auditados 490 chateaus e classificados 247 em ordem de qualidade baseado no terroir, vinificação e outros quesitos técnicos. Ou seja, se você vir um rótulo em que conste Cru Bourgeois, já saberá que; este vinho é produzido no Medoc, que fica na margem esquerda e, conseqüentemente, tem como cepa preponderante a Cabernet Sauvignon.

  • Cru Bourgueois Excepcionnel – 9 Chateaus
  • Cru Bourgeois Superieur – 87 Chateaus
  • Cru Bourgeois – 151 Chateaus

Existe também uma nova classificação criada por Decreto Ministerial em Janeiro de 2006, chamada “Crus Artisans” que contempla 44 vinícolas familiares que cuidam de tudo, desde o plantio, passando pela vinificação até à venda de seus próprios vinhos.

             Em Graves, somente um nível de classificação, Cru Classé dividido por produtores de excelência produtores de tintos, brancos e aqueles que produzem ambos.

  • Tintos – 7 Chateaus
  • Branco – 3 Chateaus
  • Tintos & Brancos – 6 Chateaus

               Saint Emilion, depois da revisão de 2006, 61 vinhos foram classificados como Cru Classé, mas numa metodologia diferente da usada em Graves. Aqui se dividiram como segue:

  • Premier Grand Cru Classé A – 2 Chateaus
  • Premier Grand Cru Classé B – 14 Chateaus
  • Grand Cru Classé – 47 Chateaus

Nestes segmentos de vinhos classificados nas normas especificas de AOC’s Regionais e Comunais, o vinho melhora bastante e os preços aumentam consideravelmente. Dependendo da classificação dentro da AOC, são vinho para poucos, pois os do topo da pirâmide rivalizam, em preço e qualidade, com os da Classificação de 1855.

AOC Comunal, é quando dentro de uma região de AOC, uma cidade ou vinhedo especifico é AOC, por exemplo Margaux (Medoc) e Montagne (St. Emilion) entre outros. Nem todos são excepcionais, muitos se aproveitam da fama de seus vizinhos bem classificados e da reputação que estes trouxeram para a comuna, mas na maioria são vinhos de boa para ótima qualidade.

Classificação de 1855, crém de la crém da produção mundial, são uma classe especial de vinhos que se encontram na elite das elites, custam uma fortuna e poucos lhe têm acesso. São um total de 61 vinhos tintos e 27 brancos, divididos em 5 níveis, chamados de Crus, sendo que no topo da pirâmide, Premier Crus,  estão os Chateaus; Haut-Brion, Latour, Margaux, Lafite Rotschild e Mouton Rotschild tendo este ultimo entrado neste “clube” na única revisão efetuada em 1973. Todos estão situados em AOCs da margem esquerda, fundamentalmente nas AOC regionais de Medoc e Graves. Nos brancos são somente 3 níveis, e o único Premier Cru Superieur, sozinho no topo, é o famoso Chateau D’Yquem. Todos ficam situados nas AOCs de Sautern e Barsac. São vinhos para tomar com mais de 8 anos e por mais 20, 30 ou 40, quando não mais.

Para ver as listas completas dos Chateaus contemplados nas diversas classificações, acesse o site oficial de vinhos de Bordeaux clicando aqui.

            Aí você me pergunta, e o Chateau Petrus, um dos vinhos mais caros do mundo, como ele se encaixa nessas classificações? Esta vinícola está situada na AOC Pomerol, que não tem nenhuma classificação especifica então ele é, “simplesmente” um AOC Pomerol. Na prática, é considerado como um sexto Premier Cru, um verdadeiro ícone no mundo do vinho. Ou seja, tudo isso para que você tenha uma idéia do que é o mundo de Bordeaux. Os grandes experts de vinhos de Bordeaux, são pessoas altamente qualificadas, com décadas de estudos e que vivenciam esse mundo quase que diariamente. Arrisco dizer, que é um culto, um projeto de vida!

            Para finalizar, eis uma lista das grandes safras de Bordeaux nos últimos 15 anos. Marcado com um asterisco as consideradas excepcionais. – 90*, 95, 96*, 98, 00*, 01, 03*, 04 e 05*.

Bibliografia – Para quem tiver interesse em se aprofundar no assunto, sugiro a leitura do livro Tintos & Brancos de Saul Galvão, o livro Os Segredos do Vinho de José Osvaldo Amarante e o Larousse do Vinho todos com uma boa cobertura da região de Bordeaux e muito mais informações detalhadas sobre a França e o restante do mundo produtor de vinhos. Uma boa opção para estudar os vinhos da França, incluindo Bordeaux, sem gastar, são os sites http://www.vins-bordeaux.fr e www.terroir-france.com. Boa parte do que está nestes posts, foi pesquisado nessas fontes.