Hoje Comemoro 40 anos de Brasil

Na verdade, se considerarmos que já por cá tinha andado em 62 e 63 (Colégio Oswaldo Cruz), uma eternidade (rs), são mais, porém conto mesmo do dia em que cheguei por escolha própria e em definitivo.

LH BadgeAos 18 anos finalizei meu colegial na Lowveld High School (Matric of 73), em Nelspruit província de Mapulalang, África do Sul, e me deparei com três opções de caminhos a seguir; me apresentar para cumprir meu serviço militar no norte de Moçambique lutando na selva contra os pseudo terroristas da época (Frelimo), ficar na África do Sul com emprego prometido num escritório de contabilidade e a vaga garantida na Witwatersrand University em Johannesburg, ou me mandar para o Brasil (para o qual necessitava que minha mãe viesse junto), um sonho algo mais distante.

Fui surpreendido em Setembro de 1973 por minha mãe me comunicando que se dispunha, junto com meu padrasto, a me seguir no meu sonho.  Resultado, dia 07 de Janeiro de 1974, um capiau nascido em Nampula no interior de Moçambique, residente em Maputo (ex- Lourenço Marques) e estudante na África do Sul  desembarcou por aqui na busca de seu futuro e não me dei mal não, apesar de um primeiro ano difícil em Sampa pois a maior cidade em que tinha vivido tinha cerca de 200 mil habitantes e nem televisão tínhamos. Difícil foi entender este povo que num papo informal diziam que não iam contar nada do que acontecera na noite passada e daí contavam tudinho! rs Eta povo complicado que não sabe o que quer, pensava eu.

Aqui finalizei meus estudos, aqui conheci minha loira, aqui criei meus filhos,  aqui me realizei profissionalmente com mais de 30 de atividade em comércio exterior levando o Brasil ao mundo, mas não deixei de ser português. A principio por interesse, já que vivendo debaixo da ditadura e filho de pai comunista (ativo militante do partido português no Brasil), aqui exilado há mais de uma dezena de anos, era melhor seguir sendo estrangeiro que me arriscar a eventual sumiço em alguma masmorra, coisa não tão incomum naquela época, e depois por razões profissionais pois era mais fácil viajar o mundo com passaporte português do que com brasileiro. Mais tarde, porque aprendi a amar a terrinha (influência de minha saudosa Mãe) sem perder o carinho por esta terra brasilis. Aliás, até hoje me considero um blend cosmopolita com as mais variadas influências.

Mesmo com 40 de estradas brasilis, ainda sigo tentando entender este povo e, acima de tudo, sua peculiar forma de se expressar na língua mãe, o português! Vejam só se não é de dar nó em qualquer um?!

Meia – Coisa de Louco Sô!

– Por favor, gostaria de fazer minha inscrição neste Congresso.

– Pelo seu sotaque vejo que o senhor não é brasileiro. O senhor é de onde?

– Sou de Maputo, Moçambique.

– Da África?

– Sim, sim, da África.

– Aqui está cheio de africanos, vindos de toda parte do mundo.

– O mundo está cheio de africanos.

– É verdade.

– Se pensar bem, veremos que todos somos de certa forma afro descendentes, pois a África é o berço antropológico da humanidade …

– Pronto, inscrição feita e já agora tem a primeira palestra na sala meia oito.

– Desculpe, qual sala?!

– Meia oito.

– Podes escrever?

– Não sabe o que é meia oito, sessenta e oito, assim, veja: 68

– Ah, entendi, meia é seis.question-mark[1]

– Isso mesmo, meia é seis. Mas não vá embora, só mais uma informação: a organização do Congresso está cobrando uma pequena taxa para quem quiser ficar com o material, DVD, apostilas, etc., gostaria de encomendar?

– Quanto tenho que pagar?

– Dez reais, mas estrangeiros e estudantes pagam meia.

– Hummm… que bom. Ai está, seis reais.

– Não, o senhor paga meia. Só cinco, entende?

– Pago meia? Só cinco? Meia é cinco?

– Isso, meia é cinco.

– Tá bom, meia é cinco.

– Cuidado para não se atrasar, a palestra começa às nove e meia.

– Então já começou faz quinze minutos, são nove e vinte.

– Não, ainda faltam dez minutos. Como falei, só começa às nove e meia.

– Você pode escrever aqui a hora que começa?

– Nove e meia, assim, veja: 9h30min.

– Ah, entendi, meia é trinta.

– Isso, mesmo, nove e trinta. Mais uma coisa senhor, tenho aqui um folder de um hotel que está fazendo um preço especial para os congressistas, o senhor já está hospedado?

– Sim, já estou na casa de um amigo.

– Em que bairro.

– Nas trinta bocas.

– Trinta bocas? Não existe esse bairro em Fortaleza, não seria nas seis bocas?

– Isso mesmo, no bairro meia boca.

– Não é meia boca, é um bairro nobre.

– Então deve ser cinco bocas.

– Não, seis bocas, entende, seis bocas. Chamam assim porque há um encontro de seis ruas, por isso seis bocas. Entendeu?

– E há quem possa entender?

Autor: Jansen Viana extraído do livro PROSANDO publicado pela editora Reflexão

       Salute, por um país melhor e kanimambo por terem me tratado tão bem nestes últimos 40 anos! Que venham mais alguns, mas hoje celebrarei com algo especial e também de um quase brasileiro, hoje abrirei minha última garrafa de Orus Rosé Pas Dosé, uma obra prima do enólogo Adolfo Lona. A partir de hoje e somente no face, uma foto por dia por 40 dias, representando os mais importantes eventos de cada um desses anos e que gostaria de compartilhar com os amigos.